Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 47

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Senhor da yoga - versículo 47
Senhor da yoga - versículo 47

47. Ó Arjuna, como ser manifesto e pensante somente tens direito à ação, nunca aos frutos do que crês fazer. Portanto, que tua ação jamais seja motivada pelos frutos. De outro lado, não te apegues à inação.

Vocês não podem criar nada que vai acontecer, pois tudo já está escrito e é realizado pelo faça-se (emanação) de Deus... Vocês só têm, portanto, o direito de agir agora dentro do que está pré-escrito...

Por isso quando agirem agora, não junte a esta ação nenhuma vontade (intenção) de que ela resulte em determinada coisa. Isto é perda de tempo, porque o futuro, ou seja, o que decorrerá da ação de agora, já está escrito. Você não vai criar o futuro agora...

Não falo apenas da ação física, mas também da sentimental... Não participe das ações esperando sentimentalmente receber alguma coisa... Jamais participe dos acontecimentos da vida com o sentimento de espera de receber alguma coisa ou com medo do que possa vir a acontecer. Ao contrário, participe do mundo de hoje, o agora, apenas de uma maneira perfeita e clara: amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é a única coisa que você pode fazer (amar ou não a Deus, amar ao próximo ou a si mesmo) e isso não altera os acontecimentos futuros, os seus carmas futuros...

Portanto, não se preocupe com o futuro: ele acontecerá dentro do seu plano carmático. Ao contrário, concentre-se em saber se está amando o próximo ou não. Preocupe-se em ver se está amando a Deus acima de todas as coisas ou não... Esqueça todo o resto, porque você não tem comando sobre as coisas que sucederão este momento...

Esta é uma coisa que você, ser universal humanizado, pode realizar: amar. Só que quando tem notícia de que o futuro está pré-escrito, faz exatamente ao contrário: imagina que deve cair na inação...

O que é inação? Não agir, não fazer nada, inércia... Quando um mestre fala nisso, o ser humanizado, que está preso à ilusória capacidade de agir acredita que ele está falando em não agir fisicamente. Mas, acontece que como o futuro está pré-escrito a ação acontecerá inexoravelmente e no sentido que tiver que acontecer...

Krishna, como nós já vimos neste estudo até aqui, sabia disso. Por que, então, ele orienta Arjuna a não se apegar à inação? Porque ele está falando da inação espiritual, do não agir espiritualmente...

O ser universal humanizado pode agir sentimentalmente. Como disse anteriormente, ele pode escolher entre amar a Deus e ao próximo ou amar a si mesmo. É sobre esta ação que Krishna está orientando aos buscadores de Deus que não se entreguem à inação: não deixem de estar sempre fazendo uma opção sentimental...

Ação é escolha sentimental através do livre arbítrio; a inação, ou inatividade espiritual, neste caso é não escolher a cada segundo entre amar a Deus ou amar a si. Agindo dentro desta inação, o ser humanizado entrega-se constantemente ao que o ego diz que é verdade...

Como já salientei em outras oportunidades, o ser humanizado deixou de racionar sentimentalmente. Ele sabe através dos ensinamentos dos mestres que deve amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas não se preocupa em realizar isto. Por isso se deixa levar pelas sensações que o ego cria. A personalidade humana cria, por exemplo, a idéia de que determinas pessoas são fofoqueiras. Cria, também, a sensação que não se deve gostar delas por este motivo. Neste momento o ser universal pode agir amando a Deus e ao próximo e, com isso, libertar-se desta sensação. Mas, ele não faz isso: entrega-se à inação, ou seja, não realiza a opção e segue placidamente o que o ego diz que tem que sentir...

Chegou à inação... O ser humanizado não age mais... Se a única coisa que ele pode agir é sentimentalmente, quando usa a sensação que o ego cria, não mais usou o seu livre arbítrio, não mais agiu...

Se alguém um dia lhe der uma pisada, nunca mais você será seu amigo, pois o ego criará sempre a sensação de desconfiança para este ser e você, que não realiza a única ação que pode, a vivencia... Isto é parar de raciocinar sentimentalmente... Isto é inatividade, inação...

O espírito, a coisa mais magnífica do Universo, nasceu para ação: para exercer o livre arbítrio... Quando se humaniza, se entrega às sensações criadas pelo ego, joga fora o grande dom que Deus lhe deu: a capacidade de optar pelo amor, ou seja, amar...

Nosso trabalho, que também é a yoga, o caminho da libertação, é ensinar aos seres humanizados a exercer o livre arbítrio novamente. É isso que Krishna fala no início deste texto quando diz que todos os livros védicos, ou seja, todo conhecimento trazido por ordem de Deus é no sentido voltar a utilizar o livre arbítrio. De mostrar a importância de optar entre vivenciar os acontecimentos do Universo amando ou se deixar ser guiado pelos gunas do ego...

Todos os mestres ensinaram isso. Cristo foi um mestre na arte de raciocinar espiritualmente, de optar pela entrega a Deus e ao próximo acima de si mesmo. Por isso, todos os que querem unir-se a Deus precisam retornar a esta atividade (exercer uma opção através do livre arbítrio sentimental) ao invés de entregar-se à inação, ou seja, viver a vida seguindo placidamente o que os gunas criam...

Falo em libertar-se da inação do raciocínio espiritual, porque do exercício do raciocínio material os seres humanizados não abrem mão. Apesar de todos os mestres ensinarem que Deus é a Causa primária de todas as coisas, os seres humanizados não abrem mão de dizer que são eles que escolhem se uma pessoa é bonita ou feia. Não abrem mão de realizar esta ação, mas por outro lado, não dão à mínima ao livre arbítrio espiritual...

Utilizar-se do livre arbítrio do ser universal é o grande bem que o espírito perdeu quando deixou de viver para Deus e entregou-se ao mundo material como independente do Universo... Por isso Cristo e todos os mestres vieram ensinar isso...