Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 21 a 24

Reproduzir todos os áudiosDownload
Senhor da yoga - versículo 24
Senhor da yoga - versículo 24
Senhor da yoga - versículo 24

21. Ó filho de Prithâ, como pode morrer ou causar a morte de outro aquele que sabe vivenciadamente que este ser é indestrutível e abandona seu velho corpo e faz-se outros novos.

22. Assim como alguém costuma deixar suas roupas gastas e bota outras novas, assim o ser corporificado e humanizado abandona seu velho corpo e se faz outros novos.

23. As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca.

24. A este ser não se lhe pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.

Temos que compreender que nada pode afetar ao ser, a não se que ele se afete. Nada pode lhe cortar, queimar, entristecer, preocupar, a não ser a preocupação, o corte, a queimadura ou o sofrimento que você mesmo crie para você.

Este é o ensinamento que Krishna traz: nada pode lhe atingir... Apesar disso, se eu pegar uma faca agora, corto o seu corpo físico, não é mesmo?

Participante: Sim...

Apesar desta sua resposta continuo insistindo no que Krishna falou: nada pode lhe atingir, nem mesmo nas coisas físicas... Vamos entender isso...

Mostre-me o seu braço... Este é o seu braço? Não, este não é o seu braço. Isto porque esta forma não é a menor partícula que compõe o que você chama de braço. Dentro desta forma que você está me mostrando e chamando de braço, há carne, osso, veia, sangue, músculos e terminais nervosos. Estes elementos são o braço...

O que você olha e vê, não é o seu braço, porque aquilo que chama de braço é um somatório de coisas. Todo seu corpo é um somatório das coisas que listamos, mas estas ainda são formadas por outras: as células...

Sendo assim o seu braço não é isso que você me mostrou, mas cada uma das células que compõem esta forma... A partir daqui podemos ir mais longe no ensinamento de Krishna. Se eu abrir um buraco no seu braço estarei cortando a célula dele? Não, estarei seccionando, separando elementos do braço, mas não o estarei cortando.

Eu não posso cortar o seu braço porque não posso cortar uma célula que compõe qualquer dos seus elementos... Eu posso separar moléculas, não cortá-las.

Então, não é só o espírito que não é cortado, mas o corpo também não...

Participante: Acho que o seu raciocínio não condiz com a realidade nossa...

Está certo: não condiz com a sua realidade... Por quê? Porque vocês não vão além do que vêem... Você está vendo um braço, mas dentro dele tem coisas. Este é o tema que quero abordar a partir deste ensinamento de Krishna...

Este não é um mundo real, mas sim um mundo de percepções. Na verdade, o braço não existe: ele é uma percepção que você tem ao olhar para um determinado grupo de células. Esta realidade serve tanto para o mundo espiritual como para o material, porque, na verdade, este membro é um conjunto de células que chama de braço.

Agora, se você tivesse uma visão mais aprofundada, se pudesse ver mais microscopicamente, chamaria outras coisas de braço e não o que chama hoje. Isso porque não veria esta forma, mas sim a carne, os músculos, as veias e o sangue correndo, da mesma forma que vê estes elementos no microscópio...

Participante: Apesar disso, ele não deixa de ser um braço...

Quando você não mais se prender a forma e compreender que ela é formada por outras coisas, terá que dar um novo nome a estas coisas, pois braço é o conjunto que percebem hoje e não o que está dentro...

Então, é a percepção, o seu olho que cria o braço... Na verdade ele é um conjunto de células que você chama de braço. Outro conjunto chama de perna. Para você, são dois elementos diferentes, mas se observamos o interior, veremos que eles são iguais. A perna e o braço são formados pelos mesmos elementos (células). Por que você distingue um do outro? Porque só consegue ver a perna e o braço pela sua forma compacta e não pelo que eles realmente são: as células...

Se você não visse o braço e a perna pelas suas formas compactas, diria que é tudo igual... Veria que na realidade os dois conjuntos são formados pelo mesmo elemento e, portanto, são iguais.

Disso nos sai a certeza de que a realidade do mundo, do Universo, é muito além do que as percepções que vocês têm. Por isso afirmo: tudo que o ser humanizado conhece é apenas uma percepção e não a realidade...

Além do que vocês vêem, sentem, provam o sabor, do que cheiram ou ouvem, existe muito mais coisa. Ou melhor: existem coisas que compõem o que vocês vêem e vocês não vêem estas coisas...

Participante: Uma forma de se desligar do macro seria a meditação?

Uma forma de se desligar do mundo das percepções é compreender que tudo é percepção...

Na hora que compreenderem que um braço é apenas uma percepção e não uma realidade, estarão buscando algo mais do que percebem. Mas, enquanto acreditarem que o que vêem é realidade, conviverão com a percepção como se ela fosse real...

Participante: Tenho tentado me desligar das percepções, mas não tenho conseguido. Tem como viver sem elas freqüentemente?

Não estou falando em viver sem percepções, mas estar acima dela. Deixe-me dar um exemplo...

Os orientais falam muito da terceira visão. Mas, o que é a terceira visão? Uma visão além da percepção do olho. Perceba que eles não falam em trocar uma visão por outra, mas em alcançar algo que veja além do olho humano. Sendo assim, quando você alcançar esta visão, que é dita como espiritual, continuará tendo as percepções que hoje tem pelo olho. O que acontecerá é que terá a consciência de que a sua visão de hoje é apenas uma percepção. Com esta consciência poderá, então, buscar através da meditação ou de qualquer outro trabalho de elevação espiritual superar o mundo perceptivo. Neste momento poderá receber de Deus a terceira visão, ou a compreensão de que existe algo que você não percebe, mas que está compondo o que vê...

Participante: Um desligamento das percepções?

Não um desligamento delas, mas a percepção além do sentido da carne...

Participante: A meditação pode ser um exercício para isso?

Na verdade não há um exercício para se receber esta consciência: ela será recebida de Deus... Pela busca espiritual, pelo trabalho da reforma íntima, você poderá merecer receber...

Participante: Então não é negar a percepção, mas negar que ela é a realidade...

Sim. Negar que a percepção é real. Gosto de laranja estragada, por exemplo. Não existe isso: existe um gosto que você chama de laranja estragada.

É preciso estar além do mundo perceptivo... Para isso é preciso ter a consciência de que não existe um gosto de laranja estragada, mas uma criação perceptiva que o ego chama desta forma. A partir desta consciência, você poderá ficar além do gosto criado pelo ego e poderá, então, receber de Deus o sabor universal.

Então, quando Krishna diz que o ser humanizado não pode ser cortado, é porque o ser humano se corta, se molha ou se queima.... Ou seja, tem a percepção de que isso acontece, mas na realidade isso não ocorre. Á partir deste ensinamento, aqueles que buscam entrar em unidade com Deus precisam compreender que este é um mundo de percepções. Além disso, precisam saber que um mundo perceptivo não é um mundo real, mas um mundo individual...

Este mundo, por ser perceptivo, é apenas o que você percebe e compreende restritamente. Por causa das suas restrições você acredita que a água molha, mas isso não é real, porque o sentir-se molhado é apenas uma percepção que está tendo.

O espírito precisa se desligar deste mundo perceptivo porque se ficar preso à percepção como realidade, viverá preso à reencarnação, ao processo reencarnatório ou de reidentificação. Isto porque as percepções estão presas às sensações de prazer e dor...

É por isso que Buda diz: você não pode ter paixão pelas suas percepções. Não adianta se apaixonar por uma percepção porque isso só lhe prende ao mundo do nasce e morre. Esta prisão acontece porque no Universo não existem estas percepções...

Quando falo em paixão, falo de positiva ou negativa: querer ou não querer.