Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 30 e 31

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Senhor da yoga - versículo 31
Senhor da yoga - versículo 31

30. Ó Bhârata, este ser que mora em todos os corpos é sempre indestrutível; portanto, não deverias afligir-te por nenhuma criatura.

31. Ainda que tivéssemos que encarar a tua existência desde o ponto de vista do dever moral que te rege, não deverias vacilar, pois não há nada mais elevado para um guerreiro do que uma guerra justa.

Vamos tentar entender este ensinamento de Krishna. Existem duas formas de se fazer coisas: a forma justa e a individualista, egoísta... Vamos explicar...

A forma justa é aquele que não traz conforto nem satisfação. É aquela que você exerce sem buscar auferir lucros pessoais. Esta é a forma justa de se participar de uma ação. Já a forma individualista é exatamente ao contrário: quando participa das coisas com paixão, positiva ou negativa. Quando você coloca paixão no que faz...

Então, o problema não é o que se faz, mas sim a intenção com que se vivenciam os acontecimentos.

Quando se fala em fazer alguma coisa, para vocês existem duas espécies de atos: os que podem ser feitos e os que não podem. Ao invés de separarem as ações pela intencionalidade, as separam por regras e normas que ditam o que pode e o que não pode ser feito.

Mas, Krishna, o sublime Senhor diz a Arjuna: não se aflija com a obrigação, mas se preocupe com a intencionalidade. Preocupe-se se a ação é justa. Preocupe-se em não levar vantagens individuais.

O ser humanizado não está acostumado a este tipo de separação das ações. Como vocês seguem normas, criam obrigações: a de fazer o que a norma diz que deve ser feito e a de não fazer o que norma diz que não deve ser feito. Seguir estas obrigações, no entanto, cria uma intencionalidade que acaba com a justiça de qualquer ação que participem...

É por isso que Cristo ensina que não é necessário nem praticar o ato: se houver o desejo, já aconteceu o pecado. Isto porque já houve uma intenção.

Sendo assim, não matar uma pessoa porque é proibido matar, é prender-se a uma intenção: não querer matar porque acha que não deve matar... Isto é individualismo, é egoísmo, gera um tipo de carma... Agora, se você mata e não sabe por que fez aquilo e nem se o outro ou você merecia passar por aquilo, está gerando um carma diferenciado – não quero falar em positivo ou negativo, por isso digo carma diferenciado.

É por isso que Krishna está incitando Arjuna a participar da batalha, mas que o faça sem intenção alguma... Ele faz isso porque sabe que o serviço devocional, o cumprimento da lei de Deus é vivenciado com intenções ou não. Quando um ser age preso a intencionalidades, recebe um tipo de carma; quando age liberto delas, recebe outro. Mas, a lei sempre se cumprirá...

É o caso, por exemplo, daqueles que precisam morrer assassinados nesta encarnação por causa de um planejamento carmático. Para que isto aconteça é necessário que haja alguém que cumpra este papel na peça. Este agente da lei só receberá um carma desmerecedor se vivenciar esta situação preso a intencionalidades geradas pelo ego...

Participante: Krishna fala em ser justo ao guerrear...

Você está pensando na justiça a partir do que? Da sua justiça?

Participante: Não, na justiça ensinada por Krishna...

Mas será que você pode ter Krishna sempre ao seu lado para lhe dizer quando é justo guerrear? Claro que não... Então, vamos entender a justiça de Krishna...

Ele diz assim: você é um guerreiro e a sua função neste mundo é guerrear... Para você entender a justiça de Krishna, precisa compreender que cada um tem um papel na divina comédia humana que precisa exercer.

Vou dar um exemplo: um advogado. Os profissionais que atuam na defesa dos direitos dos seres humanizados acham que deveriam vencer todas as causas em que atuam. No entanto, tem muitas vezes que eles não conseguem lograr êxito no desempenho de sua função.

Participante: Depende do infringir a lei ou não...

Errado. Têm muitos que não infringiram a lei que os advogados não conseguem tirar da cadeia, mas têm outros que com certeza a infringiram que nenhum advogado consegue prender...

Por que isso? Porque o papel do ser humanizado advogado é advogar e não prender ou soltar, o que faz parte da lei maior, do planejamento carmático da existência daquele outro ser. Portanto, cumpra o seu papel sem intencionalidade, ou seja, advogue sem esperar soltar ou prender ninguém... Faça o melhor de si, mas não espere resultados, ou seja, não tenha intencionalidades...

Se o advogado se prendesse às leis espirituais como conhecidas no planeta, ou seja, pela falsa benevolência, ele teria que ter a intenção de soltar quem ele acha inocente. Mas, agindo assim, apesar de o aspecto humano dizer que este é uma pessoa boa, ele teria sido injusto, porque colocou uma intencionalidade na ação, quando é um mero instrumento de uma história pré-escrita.

É isso que Krishna está dizendo a Arjuna: se você é guerreiro, lute, mas o faça sem intencionalidade de matar ou poupar alguém, para que a sua luta seja justa.

Lutar é a função de um guerreiro, por isso todos que vivenciam este papel precisam guerrear. Não querer participar das ações que são inerentes ao seu papel em nome de qualquer coisa, mesmo aquelas que humanamente são consideradas sublimes, é juntar vivenciar a situação com seu interesse pessoal.

Por isso Krishna ensina: não se prenda a palavras, não se prenda a leis, mas alcance a consciência de fazer sem intencionalidade. Isso se chama consciência amorosa...