Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 45

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Senhor da yoga - versículo 45
Senhor da yoga - versículo 45

45. Nossos Vedas tratam dos três gunas, que são Sattva, Rajas e Tamas. Ó Arjuna, liberta-te desses três gunas relativos, liberta-te dos pares de opostos e, sempre equilibrado, ficarás livre dos pensamentos de aquisição e posse, estabelecendo-te no ser (ou Atma).

NOTA: Sattva – qualidade da bondade; Rajas - qualidade da atividade e da paixão; Tamas – qualidade da inércia e do obscurantismo.

Antes de qualquer coisa vamos entender o que é guna: propriedades do pensamento... Gunas são direcionamentos que estão embutidos nos pensamentos humanos.

O primeiro guna que Krishna cita é o sattva. Este é o guna da bondade, ou seja, da sua forma de pensar as coisas com bondade. O que você acha que é bondade é formado pela ação do guna sattva presente no seu ego e não uma verdade por si mesmo.

Apesar deste guna parecer algo bom, porque humanamente se acha que pensar com bondade é bom, Krishna nos diz que o buscador de Deus precisa se libertar deste padrão. Isto porque, se você estiver preso (acreditar como real) nos padrões de bondade que existem na sua razão, automaticamente também acreditará nos padrões de maldade que existirão por causa do dualismo.

O Bendito Senhor ensina isso porque sabe que a prisão aos pensamentos formados pelo guna sattva prende o ser universal ao prazer, ou seja, condiciona a felicidade. Isso porque nasce o desejo de vivenciar o que é considerado bondoso e o desejo de não vivenciar o que não é assim considerado. Deste desejo de vivenciar o que se quer nasce o condicionamento à felicidade e, com isso, a desarmonia com o Universo.

Vou dar um exemplo: a mãe espera que o filho faça determinadas coisas (estude, trabalhe, cresça materialmente). Esta forma de pensar é considerada como bondosa pela humanidade. Por acreditar nisso, o ser que se humaniza como mãe vivencia esta criação da razão como real e certa. Mas, quando o filho, por seu próprio carma, não age assim, ela sofre... Esta desarmonia com o Universo (aquilo que ela vive) não lhe deixa alcançar a elevação espiritual...

Na verdade este ser não se elevou por culpa do filho – porque ele a fez sofrer – mas, por sua própria culpa. Deixou de unir-se a Deus (entrar no gozo da felicidade plena) não por culpa do filho, mas por sua própria, pois colocou a realização dos seus desejos como condicionamento à felicidade.

Segundo guna que Krishna cita: rajas. Esta é a propriedade da mente humana que insere nos pensamentos o gostar de alguém, do que deve ser feito, do que precisa ser realizado...

Esta é a qualidade do pensamento que cria as paixões. É a partir destas paixões, positivas (gostar, fazer) e negativas (não gostar, não fazer), que nascem os desejos que condicionam a felicidade...

Terceiro guna: tamas. Este é o guna que confere ao pensamento direcionamentos no sentido de omitir-se, de esperar as coisas realizarem por si só.

Um destes três direcionamentos está sempre presente em cada formação mental criada pelo ego. São eles que servem de base para a criação dos pensamentos. É por existirem estes três direcionamentos que nascem as suas paixões e delas surgem, então, os desejos que condicionam a felicidade, ou seja, lhe afasta da realização no ser...

Mas, estes direcionamentos jamais poderão deixar de existir... Enquanto você estiver preso a um ego humanizado estará sujeito as formações mentais e elas sempre estarão fundamentadas em um destes três gunas. Por isso Krishna diz: seja equânime, ou seja, trate com igualdade os três impulsos que a formação mental usar para decretar o que você tem que fazer ou deixar de realizar. Sendo assim, se ela lhe diz que você deve agir, não se prenda a isso como realidade; se ela disser que deve omitir-se, não acredite sentimentalmente nisso; se ela lhe disser que tal coisa é certa moralmente de ser feita, não creia nisso...

Na hora que o ser humanizado buscar a yoga, ou seja, o caminho da libertação, terá obrigatoriamente que abrir mão dos seus gunas. Se não abrir mão destes padrões que compõem o pensamento não conseguirá jamais a equanimidade necessária para que evolua.

Participante: É tão simples assim... Basta abrir mão destes impulsos?

Sim, a elevação espiritual é simples...

Mas, não pense que este ensinamento é primazia dos hindus. Cristo ensinou a mesma coisa: se o seu olho lhe faz pecar, arranque-o porque é melhor entrar no reino do céu sem um olho do que ir para o inferno com os dois. Ao ouvir isso os discípulos perguntaram ao mestre: o senhor está dizendo que somos pecadores? Cristo respondeu: se dizem que podem ver, são...

Na verdade este ensinamento cristão é a mesma coisa que acabamos de ver com palavras diferentes. Isso porque tudo que você percebe através da visão leva à formação de um pensamento onde estão presentes as características dos gunas.

 Portanto, se abrir mão de tratar o que vê como real estará eliminando a ação do guna...