Preparando-se para viver - texto

Convivendo com o ego

Participante: o carma gerado a partir de um ato ...

Desculpe lhe interromper, mas não existe carma gerado por um ato. O carma é gerado a partir da vivência interna dos acontecimentos.

No exemplo que acabou de ser dado, enfiar a mão na cara de outro, essa ação não gera carma. Agora, o ato interno de submissão à mente que diz que é justo, certo praticar essa ação porque aquela pessoa não presta, é uma safada, gera carma, pois não houve amor.

Participante: o que eu quero saber é sobre a consequência que aquele momento irá gerar.

O ato não irá gerar consequência nenhuma. Toda consequência desse momento será fruto da vivência interna. Acreditando no que a mente fala sobre aquele momento, o ser gera para si um carma, que é consequência do crer como real aquilo que a mente cria e não da ação que gerou.

O equívoco nesse momento não está no que foi feito, mas na vivência interna do momento. Isso gera o carma. Ele acontecerá através de uma nova ação onde o ser terá oportunidade de se redimir da vivência anterior.

Com relação a esse novo ato, deixe-me dizer uma coisa: ele não tem nada a ver com o que a cultura espírito coloca. Se você tirou o braço de uma pessoa num acontecimento, necessariamente não precisa perder um braço ou uma mão. Isso não existe. Essa combinação material na geração do carma não existe, pois se tudo acontece no mundo mental, o carma precisa ser gerado lá e não externamente.

Se o ato acontece na mente, o carma tem que existir no mesmo lugar. Por isso, a consequência de uma vivência não estaria vinculada a um determinado ato, mas a você ter uma criação mental, razão e emoção, que lhe proporcione uma nova oportunidade de se mudar.

O carma existe no mundo mental para ver como você convive com o que a mente cria.

Participante: se tudo acontece na mente, a minha dúvida torna-se mais importante ainda. Eu nunca sei quando sou eu ou a mente vivendo.

A mente é aquilo que lhe vem à consciência; você existe nas conversas que tem com as consciências que surgem.

Participante: eu não sei quando sou eu que estou conversando com o ego ou quando é ele que está fazendo isso.

Por favor, me responda: qual a cor da camisa dessa pessoa que está ao seu lado?

Participante: preto.

Quem me respondeu isso? O ego. O que você pode fazer agora? Pode achar que a informação que lhe veio a consciência está certa ou não. Se achar que está certa, terá se tornado o ego, pois aceitou o que ele fala como real.

Qual o seu nome?

Participante: João.

João é o nome do seu ego e não o seu.

A partir disso posso dizer que o João pensou que a camisa daquela pessoa é preta. Agora, você, tem que dizer ao João: ‘eu não sei se é’ ...

Participante: então, toda consciência que tiver é gerada pelo ego?

Exato. No entanto, torno a dizer: esqueçam essa questão, não se preocupem com ela, porque na prática é quase impossível você conseguir se separar da personalidade humana. O que pode fazer é na hora que a consciência é formada por pensamentos que criticam e acusam os outros, aja contra isso.

Agora, saber de onde vem o pensamento ou quem está falando através dele, é perda de tempo. Sei que vocês precisam sempre rotular as coisas, mas aconselho a esquecerem isso. Ao invés de ficar tentando rotular as coisas, simplesmente ajam contra tudo aquilo que pode lhe fazer sofrer.

A partir do que conversamos hoje, você sabe que não ajuda ninguém, mas que busca sempre a sua vitória. Frente a essa informação, ao invés de ficar buscando rótulos ou comprovações, apenas aja: pare de se deixar levar pela ideia de que é boazinha e está fazendo as coisas pelo amor ao próximo.

Pare de achar que age sem segundas intenções, porque se continuar achando isso continuará cobrando que o outro faça o que você orientou. Aí, quando ele não seguir, pois é diferente de você, certamente se contrariará.

O importante hoje não é saber quem é o ego ou quem é você, mas conscientizar-se de que é preciso estar preparado para vida e isso se faz quando existe a consciência de que não prega prego sem estopa. Não faz nada de coração aberto. Todas as ações que praticam tem sempre uma intencionalidade egoísta: conquistar uma vitória sobre o outro.

Vocês gostam disso? Acham que esse modo de viver é bom? Então, lutem contra isso. Parem de acreditar que são amorosos, que são as melhores pessoas do mundo e só querem o bem dos outros. Que são as pessoas mais sábias do mundo e por isso sempre sabem o que é o certo.

Vocês vivem o tempo inteiro cobrando-se um do outro. Isso acontece com todos. Acontece com aquele casal e com aquele outro. Por isso não estou falando com ninguém especificamente, mas com todos vocês. Podem imaginar que estou falando com alguém diretamente, mas isso é irreal. Possuem essa consciência apenas porque acham que a vida de um é diferente do outro. Não é: todos vivem iguais.

O tempo inteiro um ser humanizado está cobrando alguma coisa de alguém para poder se sentir o rei, a majestade, o vitorioso. Volto a dizer: não estou acusando ninguém de nada. Como disse no início, estou tentando chacoalhar, acordá-los.

Foi como falamos agora pouco quando abordamos a questão da infidelidade. Vocês não a aceitam porque consideram que ser vítima de uma infidelidade é uma derrota pessoal. Não há nenhum outro motivo pelo qual não aceitem.

Participante: eu até consigo visualizar que estou querendo vencer, mas fazer isso é cansativo, porque a intencionalidade está presente toda hora. Sendo assim, pergunto: qual a atitude para poder lutar contra todas as intencionalidades que temos?

A forma mais fácil é tendo a consciência de que essa consciência não está presente em alguns pensamentos, mas em todos.

Tudo que o ser humanizado faz, ato, traz consigo uma razão que tem como intenção derrotar o próximo. Sabe o que é tudo? Todas as coisas. Portanto, não há momento onde a razão humana não queira levar alguma vantagem. Mesmo que o assunto seja ir ao banheiro, o ser humano que não está indo quer dizer que é melhor do que o outro: ‘já vai ao banheiro de novo’?

Se você tiver essa consciência fica mais fácil, pois não precisa perder tempo ou gastar esforço para analisar o que é gerado pela mente. Não é preciso: tudo tem a intenção de ganhar de alguém. A partir do momento que conseguir essa consciência e se chocar com o seu egoísmo, não aceitará as contrariedades que surgirem naquele momento.

Tendo essa consciência, quando chamar a atenção do seu filho porque ele não arrumou o quarto, automaticamente irá parar e dizer: ‘opa, eu estou falando desse jeito não por causa do quarto, mas para ganhar’. Fazendo isso, a boca pode inclusive continuar cobrando a arrumação, mas se ela não acontecer, você não irá se contrariar. Agora, se ainda continuar achando que é uma pessoa santa, boa, que sabe o que é arrumado e desarrumado, o que ele fizer, seja até arrumar do jeito dele, lhe causará contrariedade.

O que não pode fazer é se colocar na posição de certo, porque na hora que isso acontecer fatalmente, pouco importando o que o outro faça, dará a ele a posição de errado. Digo isso porque se não der a ele essa posição não conseguirá uma vitória. Como a sua intenção é ter uma vitória, sofrerá.

Portanto, o trabalho que pode fazer é ter a consciência de que todas as coisas geradas pela sua mente não possuem santidade ou perfeição, mas são instrumentos para poder combater com os outros e obter uma vitória. Saber que nada do que é pensado está certo, mas tratam-se apenas de instrumentos que a personalidade humana usa para ganhar do outro, para obter uma vitória pessoa.

Quando falo que são egoístas, estou querendo dizer que querem tirar de todas as situações um lucro individual. Essa é a forma que vive um egoísta. Por isso quando reclama do outro, mostra o quanto sabe e com isso obtém uma vitória. ‘Viu como eu sei o certo de arrumar’.