Preparando-se para viver - texto

Tudo pode acontecer

Deixem-me fazer uma pergunta de forma geral: alguém aqui se acha imune a uma traição?

Participantes: não ...

Então, porque se chocam quando ela acontece? Se sabem que podem ser traídos a qualquer momento, porque sofrem quando a traição acontece? Porque não vivem a vida...

Os seres humanizados vivem uma coisa que eu chamo de ‘síndrome da princesa’: a ideia de que encontrarão um príncipe encantado que virá montado num cavalo branco e que o levará para o castelo encantado onde viverá uma vida de sonhos, rico e feliz para sempre. Quem vive assim não está vivendo essa vida, não está vivo: está dormindo vivendo um sonho.

Participante: é que achamos que nada acontecerá conosco, só com os outros ...

Isso.

Vocês acham que nada de mal lhes acontecerá. A essa forma de viver do ser humanizado eu chamo de ‘síndrome do filho de Deus’. É aquele que acha que é o preferido do universo, que Deus sempre o protegerá e tudo dará certo na sua vida.

Eu já encarnei algumas vezes, vocês sabem. Quando encarnado e com aproximadamente quatro anos também acreditava tanto numa quanto noutra síndrome. Depois dessa idade não mais ...

Falo assim porque só uma criança muito pequena, que não possui nenhum conhecimento sobre a realidade da vida pode acreditar que tudo em sua existência dará certo. Que sempre acontecerá o que quer. Aliás, acho que nem uma criança de quatro anos continua acreditando nisso. Ela já sabe que muitos dias o papai e a mamãe não compram o brinquedo que ela quer ...

Portanto, sabem que podem ser traídos a qualquer momento, mas sofrem quando acontece. Porque? Porque não se preparam a existência do que não gostam na vida. Vivem a vida inteira se preparando apenas para que as coisas aconteçam como quer.

Justamente por não estarem preparados, ou seja, por não viverem com a consciência de que existe a hipótese de tudo dar errado e que há uma grande possibilidade das coisas existirem assim, caem em contrariedade quando a vida vem.

Participante: nós temos que ser otimistas ...

Eu concordo, mas há alguma divergência entre o que acredito como ser otimista e o que vocês acreditam. Para vocês ser otimista é esperar o bom; para mim é fazer tudo o que acontece como bom, independente do que eu gosto ou quero.

Otimista é quando você ganha um pote de cocô de cavalo e quando alguém lhe pergunta sobre o seu presente diz: ‘ganhei um cavalo, cadê ele’? Esse é o otimista para mim.

Otimista não é aquele que espera ganhar o que quer, mas o que transforma o que recebe em bom.

Esse, portanto, é outro grande despreparo de vocês para a vida: achar que tudo sempre vai dar certo. Não se preparam para viver os desgostos e por isso sofrem quando eles aparecem.