Preparando-se para viver - texto

Gostar

A partir da constatação que os seres humanos possuem diferenças entre si, eu peço: digam-me uma diferença, por favor?

Participante: gostar ...

Sim, gostar é algo que é diferente entre os seres humanos. Cada um gosta de uma coisa diferente.

Vocês concordam com isso?

Participante: sim.

Então, porque não dizem isso para sua mente quando ela acusa os outros só porque eles não gostam do que vocês gostam? Porque acreditam que têm que se sentir contrariados quando as suas mentes mostram o gostar diferente que o outro possui?

Sabendo que todos possuem características diferentes, porque ao invés de se atirarem nesse mar de contrariedades, não param e dizem à sua mente que o outro é uma individualidade diferente e por isso tem um gostar diferente do seu? Porque não fazem isso ao invés de sentirem-se contrariados por conta das ideias geradas pela sua razão?

Porque vocês, que se intitulam seres racionais e dizem que não querem sofrer e sabem que as pessoas são diferentes entre si, não se libertam do que é afirmado pelo seu mundo mental? Porque não foram preparados para viver o momento onde os gostares diferentes se encontram. Porque não se preparam para viver este tipo de acontecimento.

A grande verdade é que vocês, mesmo acreditando que devem e possuindo argumentos para isso, não lutam contra a vida. Aceitam placidamente o que ela diz, apesar de possuírem os argumentos para lutarem contra as contrariedades que a mente cria.

Por isso, ao invés de reagirem às críticas feitas porque uma pessoa gosta de algo diferente, se deixam levar pelo que ela cria. Ao invés de dizerem que aquela pessoa não é mal caráter, safado ou apenas bobo por gostar de algo diferente, aceitam esses rótulos que a vida coloca neles e com isso vivem contrariados.

Para se libertarem dessa contrariedade a única coisa que precisariam fazer é reagir à ideia que diz que o outro está errado ou não presta. Para isso, basta se lembrarem que o outro é apenas uma individualidade que possui um conjunto de critérios diferentes e por isso tem todo direito de gostar de coisas diferentes do que você gosta.

Participante: se vivêssemos assim, não poderíamos morar três ou quatro pessoas sob o mesmo teto.

Claro que poderiam.

Se você respeitasse a individualidade do outro viveria feliz com ele. Agora, se não respeitar, viverá no mesmo lugar e do mesmo modo, mas em guerra.

Quem escolhe como viverá com o outro será você, mas a convivência continuará existindo até que a vida acabe com ela. Somente quando isso acontecer, não mais conviverá com ele. No entanto, enquanto a sua vida for conviver com aquela pessoa, continuará vivendo.

Participante: respeitar, inclusive quando o conjunto de características dele levá-lo a desrespeitar você ...

Sim, inclusive quando ele não respeita o seu gosto, já que estamos falando de gostar.

Se ele quer viver contrariedades com relação ao seu gostar, isso é problema dele. Você não quer viver assim, portanto, tem que dar o direito dele gostar diferente. Se não der, irá se contrariar com a contrariedade dele.

Posso lhe garantir uma coisa: você quer deixar de sentir-se contrariado, pois não está satisfeito com a vida que tem. Afirmo isso porque, se estivesse, não estaria aqui hoje. Para alcançar o que quer, tem que agir para não se sentir contrariado.

Essa ação, no entanto, não é sobre o outro, sobre o gosto dele obrigando-o a gostar do que você gosta, mas sim sobre si mesmo. Isso porque é da ideia de que o outro tem que gostar do que você gosta é que surge a contrariedade. A ideia de que o outro precisa mudar-se é a força da onda que lhe carrega para o mar alto dentro da figura que usei agora pouco.