Preparando-se para viver - texto

Ajudando os outros

Participante: o que o senhor disse sobre não falar com os outros quando estão em crise me causou desconforto. Se eu tenho uma amiga sofrendo porque tem um problema com o marido (traição), acredito que preciso ajuda-la. Como posso falar com ela?

Não vou lhe citar palavras, pois elas são atos e acontecem. O que estou fazendo aqui é mostrando como deve internamente encarar uma situação desse tipo.

Quando alguém lhe dá um conselho, como se sente, verdadeiramente?

Participante: depende do conselho.

Depende do que? Se é o que quer ouvir ou não.

Portanto, se eu fosse ser humano e alguém me disser que está com um problema com o marido, a primeira coisa que perguntaria seria: ‘o que você quer fazer’? Só ouvindo-a posso dar um conselho que não vai aumentar a dor dela com a contrariedade.

Participante: e se a pessoa disser que não sabe o que vai fazer da vida?

E ela lhe der essa resposta, diga: ‘a primeira coisa que você precisa saber é o que vai fazer da vida’.

Repare numa coisa: se é traição, existem diversas formas de abordagem na vivência desse tema. Tem pessoas que conseguem superar, há outras que não. Como você não pode decidir a vida do outro, é ela quem tem que saber o que pretende fazer da vida e não você.

Imagine que oriente a sua amiga a perdoar dessa vez e dar uma nova oportunidade para o marido. Vai que amanhã ele a traia novamente, quem será a culpada por esse novo sofrimento será você. Se a sua amiga tivesse se separado da primeira vez não sofreria agora. Mas, como você disse para ela perdoar, está sofrendo.

Imagine, agora, que seu conselho é para que ela abandone o marido por causa da traição de hoje. Se amanhã, quando a sua amiga sentir dor por estar sozinha, novamente será você a culpada pelo sofrimento dela.

Portanto, diga a ela o seguinte: ‘para preservar nossa amizade, primeiro decida o que quer fazer da sua vida. Depois que decidir, conte comigo, pois lhe ajudo a passar pelo resultado daquilo que decidiu’.

Vocês se apressam a meter o bedelho na vida dos outros, mas acreditam num ditado: se conselho fosse bom, não se dava; vendia-se. Não querem que ninguém se meta nas suas vidas, mas sentem-se obrigados a interferir na dos outros. Isso é hipocrisia e não amor!

Outra coisa que precisa levar em consideração: você jamais pode aconselhar uma pessoa sendo fiel ao que ela quer ou acredita. Porque? Porque você é uma individualidade e ela outra. Cada uma encara as coisas desse mundo de um jeito completamente diferente. Por isso, quando aconselhá-la estará presa à sua visão que não é a dela.

Tem um ditado que diz assim: macaco velho não mete a mão em cumbuca. Conhece a origem desse ditado? Vou explicar.

A cumbuca é um coco. Dentro dele há sementes que o macaco pega para comer. Só que quando enfia mão, ela está vazia e por isso aberta. Quando pega as sementes, a fecha e com isso a mão não passa mais no buraco do coco. Como é um animal irracional, não larga a semente. Acaba morrendo de fome segurando as sementes.

É por isso que macaco velho não mete a mão na cumbuca. Ao invés disso, joga o coco no chão e as sementes caem e aí ele come.

É baseado nisso que lhe digo: não se meta a resolver a vida de ninguém. Se fizer isso gerará contrariedades futuras para você e para ela. Na verdade, você não dá conta de resolver os problemas da sua vida, vai querer resolver a dos outros?

Lhe respondendo agora, afirmo que deve deixar a sua amiga tomar a decisão dela. Não estou falando em abandoná-la. Esteja por perto para ser um ombro para ela chorar as mágoas e desabafar, mas não diga sim ou não de jeito algum.

Essa é a forma que você pode ajudar. Deixe sua amiga viver a vida dela, tomar as decisões que precisa. Se não fizer isso, irá querer ser o Deus da vida dela e no final sobrará para você.

Um último detalhe: sua amiga não quer ajuda, nem você quando pede. Quando o ser humanizado pede ajuda a alguém externa é para que essa pessoa assuma a responsabilidade pelo que acontecerá. Se der errado, o ser tem a quem culpar que não seja a si mesmo.