Preparando-se para viver - texto

Ferir o próximo

Participante: eu tenho o direito de ferir outra pessoa?

Não. Você não tem o direito de ferir ninguém, nem o poder para isso.

Participante: falo da integridade física ...

Nem a integridade física, nem a moral. Como ferir a integridade física de alguém que não é físico?

Tudo que é físico é vida, e não você. Vocês mesmos dizem que não são o corpo, como agora quer imaginar que pode ferir fisicamente o outro? Como ferir a integridade física de alguém que não é corpo?

Portanto, se estiver batendo em alguém, não estará batendo nele, mas no corpo dele. Se o outro achar que é o corpo e sentir-se ferido pela agressão, ele que criou o ferimento e não você.

Participante: se ele morrer, então ...

Se você se diz espiritualista e ecumênico, aconselho a leitura do Bhagavad Gita. Nele, Krishna diz a Arjuna: se você é um guerreiro e está numa guerra, deve fazer o que tem que fazer, ou seja, lutar, ferir e matar o seu oponente.

Participante: sei que o senhor está evitando falar de coisas espirituais, mas se levarmos em conta esse aspecto, poderíamos dizer que ferir o outro é viver o carma dele.

Sim, isso é verdadeiro. Só que hoje dentro dessa conversa especificamente eu prefiro não entrar com esse argumento. Prefiro dizer que a vida foi ferir e ser ferido. Posso dizer isso porque vida e carma são a mesma coisa.

Participante: não posso matar alguém porque, dentro do sistema humano, se fizer isso serei punida e porque não será justo o que fiz.

Para poder se falar isso dentro do aspecto humano, eu apenas trocaria da sua pergunta a palavra justo pela legal. Você não deve fazer isso porque pode ser punida e não será legal.

Justiça é uma coisa, legalidade é outra. Nem toda lei é justa, mas é legal.

Respondendo, agora, se sabe que não é legal e não quer fazer, não faça. Faça o que achar que deve fazer, mas lembre-se sempre que não é você fazendo, mas a sua vida acontecendo.

Agora, vocês estão incomodados com a questão de matar alguém, mas quantas vezes acordaram felizes e alegres e logo depois vieram pessoas que falaram palavras que não gostou e entristeceu, minguou, morreu?

Participante: esse matou o outro tanto quanto quem atirou ou enfiou a faca.

Perfeito.

Na verdade, quando chega perto de alguém e diz que ele não resta, que não saber fazer nada, que está sempre errado, está matando-o. Se a vida só existe no presente, sempre que o usa para acusar o outro com a intenção de obter uma vitória, está matando-o.

Isso você faz todo dia, todo momento, mas agora está preocupado em não agredir alguém fisicamente. O que adianta essa sua preocupação, se não repara que está sempre agredindo o outro com a língua para que se considere o certo, para que o submeta àquilo que quer.

Em diz que faz isso por amor. ‘Eu chamo a atenção dele porque o amo’. Como já foi dito hoje: tem que fazer pelo menos o mínimo do que eu quero.

Vocês estão sempre preocupados com o matar, com o tirar a vida, mas se esquecem das suas próprias crenças. Se vocês acreditam que a vida é um dom de Deus, como podem crer que alguém seja capaz de acabar com ela ao seu bel prazer? Ou será que vocês acham que alguém é mais forte do que o Pai para tirar algo que ele deu?

A agressão física realmente é algo danoso, que machuca, mas tenham a certeza de que a moral é muito pior. Por isso, lembre-se sempre que a agressão moral não está apenas em desacatar alguém, mas como Cristo diz: se você apenas chamar seu irmão de bobo, corre o risco de ir para o inferno. Apenas chamar de bobo, já é ferir moralmente alguém.

Mas, o pior não é isso. O que quero é que se compenetrem é que por mais que achem o outro bobo, ele não é: isso é apenas a sua opinião sobre ele. Ele não é bobo: é você que acredita que seja. Só quando compreenderem que a sua opinião não é real, mas que é usada pela mente como tal para poder gerar uma vitória individual, poderão tentar libertarem-se do que é criado pela personalidade humana.