Senhor, Senhor

A vida humana e o futuro do espírito

Participante: nesse sentido, quando o senhor fala da vontade divina no exemplo de dar um tiro, alguém precisa dar esse tiro. Está certo. A imagem que me vem à cabeça é que como se fôssemos um bando de crianças colocadas numa sala com tinta e a porta está fechada. A nossa natureza é de pegar a tinta e jogar no outro. Isso significa que Deus espera que nós joguemos aquilo no outro.

Você só está esquecendo de uma coisa. Vocês não são crianças com o livre arbítrio de jogar ou não. O ser humano é uma marionete.

O ser humano tem que promover a prova do espírito. Tem que... Se não fizer isso, para que o espírito encarnou? Só pra ir pra cama com mulher, para comer e fazer cocô, para dirigir carros? Será que o espírito tem todo o desgaste energético apenas para viver a vida humana pelos seus aspectos materiais?

 Desculpa, mas o sentido da vida, o motivo porque estar vivo, precisa ser mudado para aqueles que acreditam ser algo além da matéria. A vida é uma encarnação, não simplesmente uma vida humana. Os seus acontecimentos não são momentos de uma vida, mas provas do espírito. Isso é real e pouco importa se o que está acontecendo fere ou não as suas regras humanas de bondade ou justiça.

Sei que vocês não imaginam dessa forma. Acham que aqui o ser humanizado precisa só viver o que para ele é bom, mas isso é um engano. Em O Livro dos Espíritos Allan Kardec pergunta: se o espírito pede as suas provas e com isso cria o seu destino, não seria lógico que pedisse para viver somente coisas boas? Ou seja, colocando dentro do que estamos conversando, não seria lógico que o espírito não pedisse para matar ninguém? A resposta do Espírito da Verdade a esta questão é a seguinte: humanamente falando isso é verdade, mas para o espírito não. Ele sabe o porquê precisa encarnar, sabe o que precisa realizar durante a encarnação, por isso pede tudo que for melhor para isso e não para o seu bem estar. Pede dessa forma porque antevê o que ganhará na eternidade como resultado do passar nas provas de agora.

Participante: é muito interessante quando se percebe que o livre arbítrio é do espírito. Todo mundo tem dificuldade de aceitar que nós humanos não temos livre arbítrio, que a vida vem programada. Acha que isso ocorre por causa do orgulho do ser humano, da necessidade de ter poder, de ser o organizador.

O que você falou é uma história que já ouvi muitas vezes: o ser humano não aceita perder o libre arbítrio porque quer ser o realizador das coisas. Me desculpe, mas isso é falso. Não é por isso que não aceita perder o livre arbítrio.

Sabe por que o ser humanizado não aceita a informação de que não possui o livre arbítrio? Porque se o perder não vai poder culpar mais ninguém de nada. Com o fim da liberdade de agir, acaba qualquer culpado pelo que acontece. Se não tiver culpado, como o ser humano vai se dizer o certo?

Na verdade o ser humano não aceita perder o livre arbítrio porque quer sempre que ele seja considerado o certo. Para que isso aconteça, é preciso que o outro esteja errado.

Estamos falando do ensinamento ‘As quatro âncoras’. Tudo que a mente produz está fundamentado nas quatro âncoras: a busca de ganhar e o medo de perder; a busca do prazer e o medo do desprazer; a busca da fama e o medo da infâmia; a busca do elogio e o medo da crítica. Tudo o que a mente humana cria está fundamentado nessas quatro âncoras.

A mente humana é egoísta por natureza e, mais que egoísta, ela quer vencer o outro. Aconselho a ler o livro ‘O Espiritualista e a Mente’ que transcreve uma palestra em São Paulo. Lá falamos muito disso...

Participante: a mente não quer só vencer. Ela quer que o outro perca.

Claro! Porque só se vence se tiver derrotado algo ou alguém. Se não tiver um derrotado, ninguém venceu.

O prazer, a satisfação de ser considerado o certo ou ter seus desejos e verdades atendidos, é alimento para o ser humanizado. Nenhum ser humano vive sem isso. Não consegue viver sem ter prazer, sem ter derrotado o outro, sem provar que está certo.

Sempre que o acontecido se dá diferente do que o outro prognosticou, você olha e diz logo: “eu não disse que não ia dar certo?”. Isso é ser humano.

O ser humano precisa ganhar do outro, precisar derrotar o outro, porque tem que ser melhor em tudo.

Participante: no processo de regeneração como se vive?

O processo de regeneração trata-se de aceitar a vida como fruto do amor de Deus. Dizer, “se perdi, perdi” ao invés de ficar se lamentando ou criticando o outro pelo que aconteceu.

Diferente de hoje, não? Hoje se você fala alguma coisa e o outro contesta, logo dá a tréplica. Quer ter sempre a última palavra. Esse é aquele que prioriza bem material.