Senhor, Senhor

Amar o outro do jeito que é

Participante: tenho uma irmã que acho que é quem mais amo nesse mundo. Amo-a mais que meu pai e minha mãe

Meus pêsames.

Participante: só que ela é a pessoa mais difícil de conviver. É uma pessoa extremamente complicada. Tem um propósito dela ser minha irmã?

Tem.

Um dos propósitos da existência dela é ser complicada para você. Com certeza é desse jeito para ver se você a ama mesmo sendo complicado conviver com ela.

Agora, quando falo em amá-la, não estou me referindo ao modo como ama hoje. Aliás, foi por isso que lhe dei os pêsames. O amor que leva à elevação espiritual é diferente desse que você conhece.

Vou lhe dizer uma coisa que talvez a choque: espírito não ama ninguém. Sabe porque isso acontece? Porque quem ama alguém, desama outro.

Quando me diz que ama a sua irmã de um jeito que é superior ao que sente por outras pessoas, você me prova que o seu amar ainda tem dois polos: o amor e o desamor ou menos amor. Sendo assim, para usar de suas crenças, posso lhe dizer que ainda não chegou no caminho do meio.

Espírito não ama ninguém; ele simplesmente ama. A única forma de amar a todos é amar sem individualismo. É impossível se amar a todos enquanto se ama um ou outro especificamente.

Portanto, falando a partir da questão da elevação espiritual, o seu problema nessa vida não está na sua irmã, mas sim na sua forma de amar. Você não ama indiscriminadamente nem mesmo a sua irmã, pois ainda quer que ela seja diferente do que é para que você possa amá-la totalmente.

Participante: esse é o ponto. Acho que já entendi que ela não vai me amar como eu quero que me ame. Mas, quando ela vai mudar?

Nunca.

Ela só mudará quando você não precisar mais que ela seja de um determinado jeito. Isso pode ser daqui a uma vida, cinco vidas, sete vidas. O tempo não importa.

Deixe-me lhe falar uma coisa. Se sentar um marido e depois a esposa para conversar comigo sobre o mesmo assunto, vou dizer a cada um que ele está errado. Se o marido reclamar da mulher vou dizer que ele está errado; se ela reclamar dele, vou dizer que ela está errada.

Não existe culpado de nada. O único culpado do que vive é você mesmo. Você precisa que o outro seja da forma que é para que tenha a sua prova. É você que precisa que os outros sejam do jeito que são para que possa provar que é capaz de amar acima do que quer para si, do que acha melhor.

Participante: a minha irmã é uma pessoa extremamente individualista e egoísta. Mas, ao mesmo tempo, ela é determinada. Esse extremo dela admiro. Só que sempre que encontro alguém que é individualista e egoísta isso me irrita profundamente.

Se você se irrita ao encontrar alguém que seja egoísta e individualista deve entender que nasceu para vencer a sua irritação com as pessoas que são individualistas. É simples assim.

Sabe porque você nasceu? Para viver tudo que vive, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Tudo que vive foi o que você pediu. Fez isso porque sabia que tinha que vencer aquela sua falha no amar. Só que quando chega na encarnação culpa o outro.

Além do mais, não percebeu que ao se irritar com individualistas e egoístas, você o fez porque também é do mesmo jeito. Se não fosse egoísta, não ia querer que os outros deixassem de ser.

Participante: nesse contexto, o que é o perdão em todo a sua fala?

Perdão é uma palavra muito difícil de ser compreendida, pois perdoar para vocês é um ato de soberba. “Você errou, mas como eu sou o gostosão não vou lhe culpar”. Só que o Cristo não ensinou o perdão dessa forma.

Cristo disse: “Pai, perdoa que eles não sabem o que fazem”. Quem não sabe o que faz, faz errado? Claro que não. Só age errado quem sabe muito bem o que está fazendo. Portanto, perdoar é mais do que não punir, é não ver erro.

Agora me diga uma coisa: se para perdoar é preciso não ver erro em nada, sem vê-lo, o que precisará ser perdoado? Nada ...

Por isso disse que o perdão é um assunto muito difícil para vocês seres humanos entenderem. Mesmo que perdoem, vocês não conseguem chegar ao ponto de não ver erro no que está acontecendo. O que fazem é: “Você é culpada, agiu errado, mas eu como uma pessoa sublime que sou vou lhe perdoar”.

Encerrando, então, essa nossa primeira parte da conversa, pergunto: ficou claro o que é amar ao próximo como a si mesmo? É dar a ele o direito de ser, estar e fazer o que quiser, mesmo que isso possa lhe ferir.

Lembro que uma vez que disse isso, uma pessoa me perguntou: “e se o outro não me respeitar”. Respondi: respeite o direito dele de lhe desrespeitar.

Amar o próximo é isso: viver feliz com ele não importando como seja, faça ou esteja.