Senhor, Senhor

Tudo é mental

Me desculpe, mas a única conclusão que podemos chegar quando Cristo diz que não falará por todos os que clamam Senhor, Senhor, é de que tudo o que estamos falando vai pesar na hora da seu julgamento final. Por causa disso é que estou dando esse alerta a vocês.

Também por conta disso, falo uma coisa agora: aqueles que compreendem o que estou dizendo, não aceitem essas palavras como culpa. Ser do jeito que conversamos é uma característica do ser humano e não algo errado que ele faz. O ser humano é assim, precisa ser assim, pois se não for, você, o espírito, não tem a sua prova.

Participante: e depois vai chegar lá em cima e vão cobrar dele, não é?

Com relação a isso, o assunto é um pouco diferente do que imaginam. Lá em cima, como você diz ninguém cobra nada de ninguém. Se vive uma verdadeira democracia: cada um faz o que quer e todo mundo respeita o outro.

Lá em cima só tem uma pessoa que cobra. Você já leu nos livros espíritas a informação de que quando o espírito sai da carne vai para uma sala e assiste a sua vida? Pois é, isso acontece. Neste momento você dirá a si mesmo: “olha lá o que eu vivi. Naquele momento devia ter amado a Deus e não amei. Que besta que eu fui!”.

Só você se acusa lá em cima; ninguém mais!

Participante: eu passei por uma grande prova. No momento não sabia que era uma prova.

Você está passando por uma prova agora.

Participante: mas, o que me aconteceu tem a ver com a minha mediunidade. Todos nós somos médiuns, mas a dimensão se abriu para mim. Ouvi toda essa egrégora num coral de anjos tocando harpas, como se estivessem batendo palmas, mas era uma coisa tão sublime, que não tenho palavras pra descrever. Eu senti que tinha uma música que eu canto e que tinha toda uma torcida do meu lado.

Vou lhe responder sobre a música dos anjos. Direi: no mundo dos espíritos não tem música.

Participante: sabe o que eu ouvi na música? Vão ampliar a sua mediunidade.

É o que venho falando: tudo é uma interpretação de uma realidade. A música que pensa ter ouvido pode ser uma vibração, uma energia.

Se no universo não existe som, não há música. Agora, uma energia pode ser decodificada pela sua mente como uma música. Acreditando que ouviu a música, estará priorizando o bem material.

Quem chega lá em cima imaginando que existe música dos anjos, chega perguntado: “cadê a música?”. Como não encontra, quer voltar para cá para poder continuar a ouvi-la. Por isso é preciso se libertar aqui da paixão pela música.

Deixe-me lhe contar uma história. Um ser humanizado me fez essa pergunta durante uma palestra: “Joaquim, você diz que nós temos que se libertar do mundo material, mas eu acho o canto dos passarinhos bonitos, o pôr do sol maravilhoso, as flores...” Eu respondi a ele: é por isso que você está encarnando e desencarnando há sete mil anos. Toda vez que chega lá em cima e não encontra a natureza, você quer voltar. Por isso lhe digo: enquanto não se libertar dessa paixão, não para o bate e volta.

Está vendo quanta coisa o ser humanizado precisa se libertar para amar a Deus sobre todas as coisas? Tudo o que conversamos aqui são coisas materiais. Por isso precisa se libertar delas. Não é só preocupar em se libertar do carro, mas também da existência de uma música mais pura ou mais bonita.

Não existe música no mundo espiritual. Lá, não há som.

Participante: o senhor explica que a mente faz essa interferência.

Não. O que digo é que a mente cria o que acontece aqui. Nunca disse que ela gera qualquer interferência.

O puxar a brasa para o lado material, valorizar as coisas da Terra, faz parte da programação da mente. Sendo assim, ela não interferiu em nada. Aliás, nem existe uma mente, um ser mente que aja com o espírito.

Na verdade, o que vocês chamam de mente é uma ideia que está dentro da mente primária do espírito. Todas as ideias que você tem não são geradas por uma mente, mas formam a própria.

Quem já amou uma pessoa? Esse amor não está dentro de você; o que existe é a ideia de amar. Da mesma forma, tudo o que o ser humano vive está dentro da mente do espírito como uma ideia e não uma realidade.

Participante: a mente funciona como interferência.

Não. Em que sentido está falando? O Espírito da Verdade diz que o sabor das coisas e o fato de ser veneno ou remédio depende da predisposição da mente, mas isso não quer dizer que ela interfira em qualquer coisa deste mundo, pois essa predisposição tem a ver com prova e não realidade.

Participante: se você tem um prazer por aquilo, isso é uma coisa que liga o espírito à questão do material, certo? O prazer vai ser sentido através dos cinco sentidos.

Não. O prazer não é sentido pelos cinco sentidos. Tudo é um processo mental.

Participante: como você vai separar a mente do espírito?

Você não separa a mente do espírito. Você espírito só pode dizer “não sou eu que quero, não sou eu que gosto, não sou eu que acho bonito, não sou eu que gostei disso”. Mais nada do que isso.

O trabalho de elevação espiritual não é mudar a mente, mas sim deixar de viver o que ela cria, sabendo que aquilo é apenas a mente. Ou seja, o ser humano, não seu, espírito.

Participante: nessa conversa, você está passando a ideia de que a mente é uma grande vilã.

Não. A mente não é vilã. Pelo contrário, ela é a melhor amiga que você tem. Digo isso porque se não criar a prova, ela não lhe ajuda.

A mente não é uma vilã; ela é um diabo. A ideia de que por causa disso é uma vilã surge porque diabo para vocês é coisa má. Isso não é verdade: diabo é apenas o tentador. Ela lhe gera uma tentação para que você, depois de quarenta dias e quarenta noites no deserto, dentro do processo de humanização, possa responder como Cristo: “nem só de pão vive o homem”. O problema não é da mente, mas de vocês que só querem pão.

Portanto, a mente é uma amiga, mas não no sentido de lhe dar o melhor. Ela é sua amiga no sentido de lhe dar a tentação necessária para que você tenha a oportunidade de se libertar das coisas deste mundo.

Participante: como é o processo de libertação da mente?

Libertar-se.

Que cor é essa camisa? A minha mente fala que é verde, mas eu não sei. Isso é o processo de libertação da mente. Digo isso porque se você souber que é verde e eu disser que é azul, vai querer me provar que eu estou errado. Com isso não cumpriu os mandamentos transmitidos por Cristo.

Portanto, você precisa responder “não sei” a tudo que a sua mente criar. Ela sempre lhe dirá que as coisas são dessa ou daquela cor, mas, se são realmente, você não pode saber. Isso é a libertação.

Repare que agindo desse jeito, você não mudou nada; apenas se libertou! Se libertou do que? Do certo.

Aproveitando o quer acabei de falar, pergunto: por que você encarnou? Por que qualquer espírito encarna? Porque comeu o fruto da árvore proibida.

Historinha da Bíblia. O espírito está lá no mundo espiritual e Deus diz: “não coma o fruto dessa árvore, senão vai para o mundo do nascer e morrer”. Como está nesse mundo, posso dizer que você comeu esse fruto!

Que fruto proibido é esse? O fruto da árvore do conhecimento. Qual é o fruto da árvore do conhecimento? Uma informação sobre qualquer coisa. Que fruto essa informação pode trazer para vocês?

Participante: julgamento?

Julgamento. Saber: “eu sei”.

O conhecimento é uma informação. Quando você pega uma informação e diz “eu sei que ela é verdadeira, certa, real”, acabou de comer a árvore do conhecimento.

Baseado nessa história, pergunto: qual é a sua maior imperfeição? Querer saber.