Senhor, Senhor

A vida humana a partir do prisma espiritual

Participante: então, a palavra é aceitação?

Não. Aceitação é “ele é uma droga, não presta, mas aceito ele porque não tem outro jeito. Eu preciso aceitar”. Não é disso que estou falando, mas sim de amar.

 Participante: sentir gratidão ao próximo?

Não! Não é gratidão nenhuma.

Aquela pessoa falou uma palavrinha interessante sobre os acontecimentos: eles são carmas. O que é carma? Lei de causa e efeito. Ou seja, tudo que você receber, você causou.

Por isso, não tem que agradecer nada a ninguém porque, se não tivesse merecido, não recebia.

Participante: Cristo chegou a tirar os mercadores. Então, quando ele decidiu tomar essa atitude, ele jogou...

Ele não decidiu: já estava programado na vida dele que aquilo aconteceria.

Imagine uma coisa. Haverá uma encarnação no planeta que servirá de modelo para todos as outras que vierem depois por milênios. Mesmo assim acha que os acontecimentos dela deverão depender só de decisões dos seres humanizados? Desculpe, mas o Deus de vocês é muito fraquinho. O meu Deus é o Senhor, é Supremo. Ele manda e desmanda. Ninguém O pega de calça curta.

Participante: Então, se eu der um tapa em alguém, tenho de defender que foi Deus quem me pediu...

Ele não te pediu. Deus não pede. Ele diz faça-se e a coisa se faz. Ninguém faz. É isso que está na Bíblia. É isso que está em O Livro dos Espíritos: Deus diz faça-se e a coisa se faz.

Sendo assim, não posso dizer que Ele usa você ou sua mão para bater no outro. Ele diz “aquele tem que apanhar” e com isso cria o bater e o apanhar.

Enquanto isso acontece no mundo invisível, você está pensando que foi decisão sua. Você está pensando que você bateu, quando o bater foi ciado por Deus.

Participante: não é isso. Eu estou querendo discutir a questão do julgamento.

Nós vamos chegar lá. Me dê só um tempo que vamos falar do amar a Deus e amar ao próximo e do julgamento, está certo? Vamos primeiro acabar esta conversa pois ela é fundamental para o que vamos conversar.

Participante: então, no caso, a gente não teria livre arbítrio. Se tudo acontece pela vontade de Deus ...

Quem teria o livre arbítrio que você está me perguntando?

Participante: Nós.

Nós, quem?

Participante: Os humanos

Não!

Veja, você sabe o que é o ser humano?

Participante: seria o espírito encarnado?

Não, o ser humano não é o espírito encarnado. Ele é o castigo do espírito.

O espírito está lá no paraíso e Deus diz assim: “não coma da fruta da árvore do conhecimento”. Aí, ele come. Deus vai e diz: “você vai para o mundo de nascer e morrer”. Ou seja, “você vai ter um humano”. Portanto, o humano é o castigo do espírito desobediente.

Acha que o castigo vai ter livre arbítrio? Quem tem livre arbítrio é o espírito, não o ser humano. Lembre-se, você não é um humano que tem um espírito, mas um espirito que tem um humano, que é o seu castigo por ter sido desobediente.

Participante: às vezes, eu penso e isso tá confuso.

É que você ainda acha que enquanto humano, é o espírito. Não é.

Participante: Só que, daí, eu já vejo que a gente é ... Vejo que já está tudo traçado e não tem a oportunidade de querer mudar.

Tem. Há coisas que podem ser mudadas nesta vida.

O espírito tem dois livres arbítrios. Com o primeiro escolhe antes da encarnação as suas provas. Ele diz assim antes da encarnação: “quero passar por isso, por isso, por aquilo, por aquilo”. Usando-o traça todo seu destino, o que você quer mudar agora. Em O Livro dos Espíritos esta questão está bem calar: o destino não pode ser mudado depois da encarnação.

Só que depois de encarnado o ser recebe um segundo livre arbítrio. Enquanto está vivendo o que pediu, ele tem a liberdade de optar entre o bem e o mal. Ou seja, ele é livre para amar a Deus sobre todas as coisas ou de agir de uma forma egoísta. É este segundo que pode mudar alguma coisa na sua vida.

Você não pode mudar ato, mas pode mudar a forma de viver os atos escolhendo entre o bem e o mal.

Participante: você falou em escolher entre o bem e o mal?

O bem e o mal é, nesse caso, é, vamos dizer assim, simbólico. O bem é Deus, estar com o Pai; o mal é a humanidade, é optar pela humanidade.

Não estou falando de mal no sentido que você conhece. A dúvida que fica na cabeça de vocês é porque não conhecem o bem, mas só o bom. Bom é aquilo que você decreta como sendo assim, é a parte do bem, do que vem de Deus que você que ser, gosta e quer fazer. Isso é bom, não é bem.

Participante: Isso que você falou de escolher entre o bem e o mal. Isso determina como vou me sentir diante do acontecimento?

Isso. Exatamente.

Participante: É o único livre arbítrio que temos?

Exatamente.

Participante: O livre arbítrio que a gente tem para escolher as provas é a outro?

Sim.

Participante: então, tá. Uma criança de cinco anos, brincando sem querer com a arma, mata um coleguinha. No caso, isso seria escolha de quem morreu? Com cinco anos não tem conhecimento para não brincar com a arma, mas, amadurecido, com trinta anos, não faria isso.

Só quero lhe fazer uma pergunta: quem é uma criança? Um ser puro e angelical? Não, um espírito velho. Não existe criança. O que existe são espíritos encarnados e reencarnados que vivem determinadas coisas. Dentro do seu exemplo, será que de posse de sua consciência espiritual velha a vítima não pediu para levar um tiro com cinco anos?

Para poderem ser aprovados por Cristo vocês precisam se desapegar das coisas humanas. Não existe criança, não existe espírito vivo encarnando a primeira vez. O que existe é espírito velho, encarnando há pelo menos sete mil anos, entrando e saindo da vida humana e fazendo besteiras em todas as vezes que veio à carne.

Por isso, nada acontece a uma criança, a um anjinho. Todas as situações do mundo humano são vividas por espíritos que possuem carmas, que já fizeram por onde merecer o que estão passando.

Por isso, você não precisa se chocar quando uma criança pegar uma arma e der um tiro no outro. Aquilo, com certeza – eu não gosto de falar em ajuste de contas, porque vocês vão achar que é um espírito com outro, quando não é – é o resultado da plantação de um ser na sua existência eterna. Ele está ajustando o que fez no passado a esse ou outro ser.

Quanto ao fato de não fazer depois de maduro, quem disse que ele não faria? Você está partindo de um pressuposto estranho, está falando como se conseguisse comandar a sua vida. Você vive só o que quer? Só acontece o que quer? Claro que não ...

Então, veja, ninguém comanda a vida. A vida acontece. Partir do pressuposto de que mais maduro ele não faria, é criar uma verdade que pode não ser. Um ser maduro também pode matar, inclusive crianças.

Participante: foi assim com Hitler?

Com todo ser humano.

Veja, o que disse: o problema é o que vai aqui dentro; o que se faz por fora não tem nada a ver. Lhe garanto que nas câmaras de gás morreu muito senhor de escravo de outras vidas, mesmo sob a forma de crianças.

Portanto, o ato não tem nada haver. Se tivesse de condenar alguém por alguma coisa, teríamos que condenar pelo que vai no seu mundo interior e não pelo que fez.

Participante: então, ele deveria fazer tudo aquilo amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e foda-se?

Se ele viveu assim ou não, ninguém é capaz de descobrir, mas lhe garanto que independente da forma como ele viveu, todos os seres que foram mortos por suas ordens pediram aquela situação para ter uma oportunidade de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: na verdade, ele estava causando uma prova.

Exato.