Senhor, Senhor

O amor ao próximo

Participante: Quando a gente começar a ter um nível de consciência e começa a fazer atos de caridade por amor a Deus, e não com intuito de comprar alguma coisa, ou sei lá, por amor, por consciência mesmo. A gente deixa de sofrer, o que a gente poderia sofrer por carma. Seria uma forma de evolução, ou assim, o que você tem que passar, você passa independente de seus atos?

Está certo, eu já vou lhe responder, mas antes deixe-me só fazer uma observação. Você falou assim: quando a gente se muda e começa a fazer a caridade. Posso depreender que para você fazer a caridade é algo bom, é algo certo?

Participante: eu creio que sim.

Você acredita que sim. Fazendo acreditando que sim, já não fez caridade para os outros. Faz porque acha certo fazer isso. Nesse caso, não está fazendo por ninguém, mas para si mesmo.

Sendo assim, evoluir não é fazer caridade ou isso ou aquilo. Não se trata de atos. Cristo foi bem claro: o importante não é o que sai da boca, mas o que sai do coração. Quando faz a caridade porque acha certo, está fazendo com o coração preso no egoísmo, está fazendo para ganhar. Nesse caso não fez por Deus, mas por você mesmo.

Portanto, não se preocupe com atos, mas sim com o coração. Preocupe-se em estar em paz e harmonia com todos, em estar amando a Deus sob todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Digo isso porque esses são os dois e únicos maiores mandamentos que você tem que seguir. Por esse motivo lhe digo: não importa o que faça; o importante é que em seu coração, por dentro, ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Agora posso começar a lhe responder. Saiba que quando ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo a sua vida não muda, seus atos não mudam. Por que? Porque sua vida já vem escrita desde antes do nascimento e outros seres dependem do que você irá fazer para poderem as suas provações.

Vou dar um exemplo: O Buda ensina uma coisa chamada interdependência – um depende do outro. Sendo assim, se um ser encarnado no seu ciclo de amizade precisa, por exemplo, de uma prova de ser criticado, você terá que criticá-lo. Essa é a única forma dele ter a sua prova. Você precisa tornar-se agente daquela ação para que ele tenha a prova dele, já que isso foi escolhido lá em cima, antes da encarnação.

É por isso que você não pode mudar os atos, porque tem outro espírito encarnado que precisa daquela ação sua. No entanto, quando muda o seu mundo interno, não importando o que pratica, vive liberto da sensação do prazer ou da dor. Agora, depois da mudança interna, aquilo que lhe causava sofrimento, não causa mais.

Respondendo, então, a questão do carma que abordou na sua pergunta, ele não muda com a prática de determinados atos, mas se altera quando se muda a questão do sofrer com o que se vive. Isso muda, porque você tem amor por dentro.

Participante: se eu tenho de fazer uma crítica a uma pessoa...

Vamos fazer melhor? Vamos parar de meias palavras e falar claramente?

Se você tem de dar um tapa em algum ser humanizado, dê. Isso só acontecerá se aquele ser tiver que viver a prova de recebe-lo e responder oferecendo a outra face como Cristo ensinou.

Participante: está certo, dou o tapa nele, mas como eu fico com relação ao carma?

Não sei, depende de como vive isso por dentro. Se vive com o estado de espírito “eu estou certo, ele merecia, ele não presta, ele é isso, ele é aquilo”, você não passou na sua provação espiritual. Agora, se ao praticar esse ato seu estado de espírito for “louvado seja Deus” – isso por dentro, no coração e não na razão –, aí passou.

A questão 132 de O Livro dos Espíritos é muito clara. Você encarna para viver suas provas e missões, mas tem mais um objetivo a encarnação. Esse é que o espírito ocupe um corpo de acordo com o mundo que vai morar para ali, sob as ordens de Deus, contribuir para a obra geral.

A obra geral é o processo encarnatório de todos. Por isso posso dizer que você encarna para contribuir com a encarnação dos outros. Como? Fazendo o que tem de fazer para que ele viva as suas provações.

Portanto, você tem duas coisas a realizar nessa vida: primeiro, a sua prova (verificar se vai viver a sua vida, não importa o que está fazendo, amando a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo ou se você vai se prender ao egoísmo criado pela mente – “isso é o certo, ele merecia, ele precisava” –; segundo, agirá para que aqueles com quem se relaciona tenham suas provas e assim possam também dar suas respostas.

Por isso, quem faz alguma coisa contra você, não é culpado, mas instrumento da sua prova e você também não o é, pois está sendo instrumento da prova dos outros.