Evangelhos canònicos - Textos

O messias

Nem devem chamar ninguém de líder, porque vocês têm um líder: o Messias.

Cristo diz que os seres humanizados têm um mestre, o messias. Apesar das igrejas cristãs afirmarem que Cristo é o messias, repare que ele próprio não se coloca nesta posição. Ele não diz que os seres humanizados o têm como líder, mas que há um messias. Está, portanto falando de outra pessoa. Mas, quem é o messias?

Para responder esta pergunta vamos começar entendendo o que quer dizer o termo ‘messias’. Este termo era utilizado pelos judeus de então para designar o salvador, aquele que seria enviado por Deus para libertar o povo hebreu. O messias era a pessoa esperada para salvar o povo hebreu do domínio estrangeiro e ia governar o país trazendo Deus para a Terra.

Compreendido isso, pergunto: quem é o messias da vida do ser humanizado? Quem pode libertar o ser humanizado do jugo de estrangeiros e lhe levar a uma vida mais feliz? Quem pode libertar o ser do jugo em que vive e levá-lo até a nova vida, até a terra prometida da ‘Nova Jerusalém’?

Participante: Deus?

Não, Deus está longe de vocês... Como vocês não O vêem, não O conhecem, não pode ser ele...

Participante: O próximo?

Sim, o próximo. Aquele ser com quem o ser humanizado convive e desta convivência nascem as provas que podem levar o ser humanizado à elevação espiritual, à consciência crística.

Mas, quem é o seu próximo? Quem é o próximo do ser humanizado? Para poder entender isso vamos ter que comentar outra parábola bíblica: a do bom samaritano. Nela Cristo responde exatamente a esta pergunta feita pelos fariseus e professores da lei: quem é o próximo a quem o mestre diz que devemos amar?

Quem lê esta parábola nos dias de hoje se confunde com o termo ‘samaritano’. Hoje esta palavra ganhou a conotação de pessoa boa, caridosa, mas no tempo de Cristo este termo não possuía este sentido. Naquele tempo samaritano era usado para designar as pessoas que nasciam na Samaria, uma região da Judéia de então, não importando se eram pessoas caridosas ou não. Este povo era inimigo dos judeus, ou seja, as pessoas dos dois povos, apesar de não estarem em guerra, não mantinham boas relações.

Na parábola do bom samaritano Cristo fala de um judeu que viajando por uma estrada é atacado por ladrões e ferido, ficando caído ao chão. Dois judeus passam pelo homem caído em diversos momentos durante a narrativa da parábola. O primeiro, um sacerdote, passa pelo outro lado da estrada; outro, um levita, que era um povo amigo dos hebreus, para olha, mas nada faz. Depois desses, passa, então, um samaritano, que tem pena dele. Faz curativo para as feridas e depois leva o judeu até uma hospedaria pagando a hospedagem até que ele se recupere e possa voltar à sua viagem.

Cristo termina a parábola perguntando o seguinte: “Em sua opinião qual desses três foi o próximo do homem assaltado”, ou seja, o judeu. Quando o professor da lei responde que foi o que o socorreu, Cristo diz: ‘Pois vá e faça a mesma coisa”...

Recuperando-se o valor histórico do termo samaritano, podemos, então, compreender o significado da parábola: o próximo do ser humanizado é o seu inimigo... Portanto, o messias de cada ser humanizado a que o mestre se refere no ensinamento que estamos vendo agora é o seu inimigo...

Sim, o messias, aquele que pode libertá-lo do jugo do inimigo e guiá-lo até a terra prometida, a elevação espiritual, citado no presente ensinamento e que é uma pessoa diferente de Cristo, é o seu inimigo.

Quem pode ajudar o ser humanizado na busca da elevação espiritual, da formação da consciência crística, não é um guru, um mentor ou o próprio Cristo. De nada adianta para o ser humanizado que quer alcançar a consciência crística freqüentar os cultos para pedir a Cristo que o afaste do seu inimigo, que o livre da perseguição daqueles que não gosta, pois o seu messias, o seu mestre, é o seu inimigo.

Somente o inimigo do ser humanizado pode ajudá-lo realmente a vencer. O amigo do ser, aquele só sabe concordar com tudo que o ser fala e que só sabe passar a mão na cabeça, no sentido da elevação espiritual não vale nada. Não serve de nada para aquele que busca obter a consciência crística. Na verdade o amigo só serve para inflamar o ego do ser humanizado, ou seja, atrasá-lo na corrida pela elevação espiritual.

Somente o seu inimigo pode lhe fazer alcançar a bem aventurança, ou seja, a felicidade incondicional. Já repararam que quando Cristo fala da bem aventurança diz: “Bem aventurado são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores”. Quem é que lhe calunia, insulta e persegue: o seu amigo ou inimigo?

Apesar de o mestre ser tão explícito, os seres humanizados ainda vão para os templos pedir a Cristo e aos santos ou mentores para afastar o inimigo de suas caminhadas. Isso não é hipocrisia? Pior: quem faz isso ainda diz que usa de amor com o inimigo, pois pede a Cristo que apenas o afaste sem fazer mal a ele.

Falei que era hipocrisia porque o ser humanizado que se diz cristão, que busca alcançar a consciência crística através dos ensinamentos de Cristo, não deveria afirmar que possui inimigos. Se realmente tivesse lido os ensinamentos do mestre com certeza teria a consciência de que só tem amigos.

Sabe quem é a pessoa que lhe bate? Seu amigo... Vou explicar...

Quando a pessoa está histérica, qual a primeira coisa que precisamos fazer?

Participante: Dar um tapa para retirá-la da histeria...

Pois é, quando o ser está histericamente humanizado Deus providencia uma pessoa para dar um tapa nela. Não faz isso para castigar, mas para ver se o ser acorda para a sua realidade: não dá para acontecer na existência de cada um apenas aquilo que ele quer.

Este ensinamento de Cristo é mais longo do que o trecho que citamos no início e estudaremos o restante depois. O assunto que estamos abordando é apenas uma pequena parte do ensinamento e por isso não é percebido pelos seres humanizados, mas ele está lá. Aquele que busca alcançar a consciência crística, portanto, deve compreender que os seus inimigos são os seus mestres e amá-los.

Aliás, é isso que está bem claro na parábola do bom samaritano. Socorra o seu inimigo, cure suas feridas, alimente-o enquanto ele estiver se restabelecendo. É isso que aquele que busca a elevação espiritual precisa compreender, mas para isso necessita descer da posição de professor da lei. Enquanto vivenciar a vida a partir de suas próprias regras, o ser humanizado terá sempre amigos, aqueles que cumprem suas regras, e inimigos, os que não cumprem.

Por isso afirmo: não adianta querer amar o inimigo enquanto tiver conceitos para balizar e valorizar os acontecimentos da vida. Enquanto houver conceitos o ser humanizado terá inimigo e enquanto isso acontecer, não estará amando a todos como a si mesmo.

Tentar amar um inimigo possuindo conceitos é um caminho sem fim. O ser humanizado, para fazer aquilo que o mestre ensina, tenta desesperadamente amar o inimigo, mas não consegue fazer. Isso acontece porque ele não atacou o mau pela raiz, não se enfrentou, não destruiu os seus conceitos que fazem existir um inimigo.

É por isso que Paulo diz: a lei cria o pecado. Se não houver lei, ou seja, um conjunto de conceitos que baliza comportamentos e os valoriza, não há pecado. Se não houver um conceito que diga que existe um lugar certo para se guardar o copo, não há mais lugar errado para colocá-lo. Neste momento, não haverá mais seres humanizados que serão considerados errados, ou seja, inimigos...