Evangelhos canònicos - Textos

As leis de Deus

Num sábado, Jesus e os discípulos atravessavam uma plantação de trigo. Enquanto caminhavam, os discípulos colhiam espigas. Então os fariseus perguntaram a Jesus: Porque é que os seus discípulos estão fazendo o que a nossa Lei proíbe fazer no sábado? Jesus respondeu: Vocês não leram o que Davi fez quando ele e os seus companheiros não tinham comido e ficaram com fome? Ele entrou na casa de Deus, no tempo do Grande Sacerdote Abiatar, comeu os pães oferecidos a Deus e deu também aos seus companheiros. No entanto, é contra nossa Lei alguém comer desses pães, a não ser os sacerdotes. E Jesus terminou: O sábado foi feito para servir as pessoas e não as pessoas para servirem o sábado. Portanto, o Filho do Homem tem autoridade até mesmo sobre o sábado.

Toda religião possui um código de normas ou leis que os seres humanos adeptos a ela devem seguir. Este código prescreve sempre atos que estes seres humanizados devem ou não praticar. Ensinam ainda que quando ele pratica estas leis ganha as benesses de Deus e quando não, recebe o castigo pelo ato contrário a elas.

A lei religiosa, portanto, contempla um Deus juiz, que julga todos os atos dos seres humanos. Busca, pela coerção e pelo medo, afastar os adeptos da religião do pecado ou do erro aos olhos de Deus. Entretanto, Cristo nos ensinou um Deus diferente: o do amor.

Pelos ensinamentos de Cristo aprendemos que Deus não é um juiz, mas a Justiça: Ele não julga, mas promove o que é justo. Dentro dessa nova visão de Deus temos que entender que Sua lei não pode ser coercitiva. Foi isso que Cristo ensinou ao afirmar que não veio para quebrar a lei, mas dar a ela o seu real sentido.

As religiões transformaram os ensinamentos dos mestres em leis coercitivas, que devem ser seguidas a qualquer custo. No entanto, Cristo nos pediu que as seguíssemos por amor ao Pai e não pelo temor da Sua Justiça.

As leis de Deus Não podem conter uma proibição, mas devem levar à compreensão do sofrimento que pode se causar ao agir de determinada forma. De nada adianta se decretar normas legais proibindo os atos, pois enquanto não houver no espírito a consciência de que não deve praticar o ato por amor, ele continuará praticando.

Toda lei busca bloquear a prática de atos que possam causar sofrimento a outrem, mas elas causam sofrimento a quem se submete a elas. Isto ocorre porque não existe uma consciência do sofrimento que se pode causar com a prática do ato, mas apenas o medo da pena.

Para se alcançar à consciência necessária para a não prática, o espírito tem que viver com o amor universal. Apenas a compaixão pelos outros e por si mesmo pode levar o ser a não praticar atos que firam outros.

A lei deve estabelecer os parâmetros da felicidade e não a proibição de atos. Todos os códigos legais devem se submeter a este preceito. Ao invés de proibir atos, a lei precisa estabelecer a forma de existir que leve à felicidade universal. Ao invés de dizer “não mate”, por exemplo, um código legal deveria afirmar: ame para não matar.

É o caso da lei em pauta nesse ensinamento. Ela versa sobre o mandamento trazido por Moisés que afirma que se deve guardar o sábado para Deus. Para cumpri-la, os espíritos não podem praticar nenhum trabalho físico. Se a não ação guarda o sábado para Deus, a ação seria guardar o sábado para o homem.

Existem algumas religiões, mesmo nos dias de hoje, que seguem ao pé da letra este código de Moisés. Seus adeptos são proibidos de praticar qualquer trabalho neste dia em nome de se dedicarem a Deus. Quem segue essa lei não age por amor a Deus, mas com medo da pena que Ele possa impor por desrespeitar este dia.

Agindo desta forma estão sofrendo porque ainda existe o desejo de fazer “trabalhos” que não podem ser realizados. De nada adianta ao ser humanizado praticar a lei desta forma, pois Cristo nos ensinou que a vida espiritual deve sempre contemplar o amor universal. Apenas quando isto não ocorre é que existe o “pecado”.

Deus não quer que o espírito na carne sofra e por isto não poderia exigir o cumprimento da lei à força. O Pai espera que o filho alcance a consciência do não fazer pelo amor universal. Isto fica muito claro quando, mais uma vez, Jesus avisa: “Se vocês soubessem o que as Escrituras Sagradas querem dizer quando afirmam: Eu quero que sejam bondosos e não que me ofereçam sacrifícios de animais, vocês não condenariam os que não têm culpa”.

Aquele que não cumpre a lei escrita, mas mantém a sua alegria, não causa sofrimento a outros, conserva a igualdade entre todos e vive no amor universal. Estes não devem ser punidos pelos atos que praticam, mesmo que o texto legal contemple uma norma que não o permita.

De nada adianta o espírito na carne oferecer seu sacrifício (o desejo não contemplado): ele será considerado praticante do ato, espiritualmente falando. Aquele que cumpre o código legal pela coerção pode não praticar o ato, mas sentimentalmente (intenção) o praticou: ele queria fazer, mas não o faz por medo.

Isto Cristo nos mostra em dois exemplos. No primeiro ele relata uma passagem da vida do rei Davi. A Bíblia nos conta que Davi, em campanha com seus soldados contra os inimigos de Israel, só achou alimentos para si e para eles dentro do templo sagrado. Entretanto, comer deste alimento era considerado pelos judeus como crime ás leis de Deus.

Davi tinha, portanto, duas opções: perder a batalha gerando sofrimento aos seus ou comer deste pão. Ele não vacilou e comeu e distribuiu o pão para os seus subordinados. Com isto conseguiu que os soldados se alimentassem e pudessem enfrentar o inimigo, trazendo a felicidade para os judeus.

Ao agir desta forma, Davi preservou o bem maior: a felicidade. Nenhuma lei pode priorizar um bem menor contra um bem maior. Toda lei tem que priorizar a coletividade e não atender a reclames da minoria. Com a consciência do sofrimento que poderia causar aos israelitas, Davi comeu o pão e foi agraciado por Deus, mesmo assim, com a vitória. Se ali tivesse havido um erro, certamente Deus não promoveria a vitória.

Quando comeu os pães, Davi estava sendo bondoso e não se preocupando com as ofertas em sacrifício a Deus. Se ele não comesse o pão, ofereceria toda Israel em sacrifício a uma lei e não a Deus.

Para poder se alcançar o cumprimento da lei com o amor universal, é necessário que o ser humanizado compreenda a intenção do legislador. Toda lei é promulgada com uma intenção e essa será sempre preservar a felicidade do todo universal. Vamos, como exemplo, entender a intenção da lei do sábado, que apesar de não seguida, faz parte de diversas religiões.

A primeira compreensão é quanto ao próprio sábado. Quando Moisés trouxe a lei esse dia não existia. O nome sábado só nasceu depois da vinda de Cristo quando foi estipulado o calendário como conhecido agora.

Moisés afirmou que o dia a ser guardado para Deus era o sétimo, ou seja, o “sabatah”. Desta forma, o que deve ser guardado para Deus não é o dia de sábado, mas o sétimo dia. Este dia poderá ser qualquer um da semana, dependendo do dia que se inicie a contagem.

Não existe lei divina nenhuma que afirme que o domingo é o primeiro dia para se contar. Quem criou a “semana” foi que estabeleceu o início no domingo e, dessa forma, criou o sábado como o sétimo dia. O sétimo dia pode ser, portanto, qualquer dia da semana.

Este sétimo dia deve ser guardado para Deus, mas o que é “guardar para Deus”? Segundo a tradição (conceito) é não praticar trabalhos materiais. O texto completo da lei afirma que não deve haver “trabalhos materiais” porque Deus descansou no sétimo dia após haver criado tudo que existe em seis dias. Esta visão quebra as leis de Deus. A primeira das leis de Deus, instituída quando da expulsão de Adão e Eva do paraíso é a lei do trabalho. Se guardar o dia para Deus é não trabalhar, esta lei estaria quebrando uma lei anterior.

Entendendo a Boa Nova de Cristo, o amor universal, chegamos à conclusão que Deus é a alegria, a compaixão e a igualdade. Guardar o sétimo dia é praticar essas essências divinas. É isso que o Pai está fazendo desde que criou tudo. Não se poderia imaginar o Supremo Arquiteto do universo descansando.

Portanto, a intenção do legislador ao escrever esse texto legal é avisar aos seres que eles devem praticar o amor universal. O ser, por mais que viva no individualismo, deve ter um dia onde sua felicidade independa dos conceitos.

Caso o seu trabalho físico necessite ser exercido por mais de seis dias ininterruptos, trabalhe, mas especialmente no sétimo dia o faça com toda felicidade. Não o pratique por obrigação, por dever, mas o faça com o sentimento de estar agradando a Deus. Não importa qual seja este trabalho, faça-o por Deus e não por dever.

Aliás, não trabalhe dessa maneira apenas no sétimo dia, mas em todos os outros. Essa forma de agir deveria ser uma constância na existência dos seres, mas enquanto isso não for verdade, esforce-se para pelo menos agir dessa forma uma vez a cada sete dias.

Do seu trabalho depende a felicidade de outros, por isso não pare de trabalhar. Dessa forma você não estará guardando esse dia para Deus, mas para você mesmo. Quando da paralisação do seu trabalho ocorrer sofrimento para outros, você estará premiando seus conceitos e não se entregando a Deus.

Parando o trabalho físico desequilibra a balança universal, quer para se colocar em posição superior ou inferior. Não o paralise, pois estará descumprindo o amor universal.

Isto é guardar o dia para Deus. A prática do amor universal no dia a dia é dedicar a sua vida a Deus. Por este motivo, Jesus não encontrava pecado nos atos dos seus discípulos. Se eles não comessem, teriam infelicidades.

Por semear a felicidade os fariseus, religiosos adeptos ao pé da letra das normas, queriam condenar Jesus, mas o Mestre conhecia a verdade universal.

“O sábado foi feito para servir as pessoas e não as pessoas para servirem o sábado. Portanto, o Filho do Homem tem autoridade até mesmo sobre o sábado”.

As leis só podem servir as pessoas, ou seja, lhes promoverem a felicidade: sempre que elas difundirem sentimentos negativos estarão servindo aos conceitos. Por isto o ser humano tem autoridade sobre todas as leis, desde que não fira o amor universal.