Evangelhos canònicos - Textos

Apego à vida material

Participante: Qual o nosso maior fator de não aceitar e acreditar tanto na vida espiritual? Medo, descrença, educação ou amor mesmo.

É o apego à vida material. Aliás, excelente pergunta, porque este é o tema de hoje. Mas, de início lhe digo que aquele que reluta em aceitar os valores universais é porque tem apego à vida material, ou seja, quer estar vivo dentro dos valores da humanidade.

Entre o povo que tinha ido a Jerusalém para tomar parte na festa, havia alguns gregos. Eles foram falar com Filipe, que era da cidade de Betsaida, na Galiléia, e pediram: Senhor, queremos ver Jesus. Filipe foi dizer isso a André e os dois foram falar com Jesus. Então ele respondeu: Chegou a hora de o Filho do Homem receber grande glória. Eu afirmo a vocês que se o grão de trigo não for lançado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo.

Aí está o ensinamento de Cristo: se o grão de trigo não morrer sob o solo, ele não germinará; mas se morrer, servirá de alimento para outros. Ou seja, somente o desencarne – aquilo que a humanidade chama de morte – que trás a confirmação do resultado do trabalho na encarnação: a elevação espiritual.

Durante a existência carnal não se pode falar nada sobre ninguém. Um grão de trigo que não esteja sob a terra não serve para nada. É preciso de ele morra para que só aí floresça.

Os seres humanizados têm o hábito de classificar pessoas pelos seus atos materiais. Por exemplo: afirmam que Chico Xavier foi um santo por causa dos atos que ele praticava. Mas, o ato não existe, é maya, é ilusão. Trata-se apenas de uma ilusão criada por Deus através da Causa Primária de todas as coisas, a Inteligência Superior que administra as inteligências inferiores. Se levarmos em conta apenas os atos, temos que dizer que o santo não era o Chico Xavier, mas sim Deus.

O que interessa para Deus e o Universo não são os atos que cada ser humanizado pratica, mas a intenção com que cada um vivencia a ação que Deus cria. Isso só se conhece realmente, ou seja, o ser só se liberta da ilusão criada pelo ego qualificando as ações (pensamentos) depois do desencarne.

Enquanto encarnado, o ego do ser humanizado apegado ao egoísmo vai criar razões que justificarão a intencionalidade de cada um. Vou dar um exemplo onde isso fica bem claro...

Havia uma pessoa que quando afirmei que a intencionalidade de todo ser humanizado é o egoísmo, ela me disse que não era egoísta. Querendo saber porque ela se considerava não egoísta ouvi-a dizer que ela se preocupava com os outros. Para mostrar a sua preocupação falou de outra pessoa que ali participava da conversa. Disse que se preocupava com aquela pessoa porque ela continuava fumando apesar de já ter tido diversos problemas no coração.

Explorando o assunto perguntei: qual o problema dela continuar fumando e morrer. Todos não vão morrer um dia? A resposta da pessoa que não se considerava egoísta: Porque se ela morrer eu sentirei saudades...

Repare: aquilo que parecia ser um ato altruísta, um pensamento no outro, na verdade estava amarrado a uma intencionalidade egoística. Ela estava preocupada apenas com ela e não com o outro.

Isso é fácil para nós aqui, mas não era para ela. Por quê? Porque a autoconsciência da ação egoísta só acontece ao ser depois do desencarne. Quando o ser se livra da influência que justifica a ação egoísta pode, então, florescer.

É isso que Cristo está dizendo aqui: o grão de trigo só terá valor quando for enterrado e morrer, porque aí florescerá.

Portanto a morte, o desencarne, não é o momento ruim, de desgraça, mas sim de júbilo para aquele que sabe que era antes de nascer. Que sabe que era um ser universal, que continua universal durante a humanização apesar de estar iludido pelo egoísmo do ego, e que sabe que sempre estará universal.

Mas, para poder entender isso é preciso lembrar-se de outra coisa que cristo ensinou: meu reino não é deste mundo. A partir desta convicção o ser humanizado pode despreocupar-se com o prato de comida, pois sabe que ele não é do seu mundo. Não se preocupará em ganhar um salário melhor, porque o salário não pertence ao mundo dele. Aquele que alcança esta consciência vai se preocupar sim com outro ensinamento de Cristo que afirma que é preciso ter óleo suficiente na lamparina para que quando o noivo chegue possa adentrar no recinto do casamento.

Este é o primeiro aspecto do ensinamento de Cristo que queria falar hoje: você só se conhecerá e só poderá ajudar realmente o próximo depois que estiver morto, fora da carne, livre da consciência dual, da personalidade humana que cria justificativas para a intencionalidade egoísta.

Quem ama a sua vida, vai perdê-la; mas quem não se apega à vida neste mundo vai conservá-la para a vida eterna.

Neste trecho Cristo diz: quem quiser manter sua vida irá perdê-la. Querer manter a vida é trabalhar para ganhar dinheiro, estudar para ter uma projeção social, querer pertencer a grupos para ter amizades... Enfim, viver a vida pelos valores materiais. Quem quiser viver assim, perderá a vida.

Não que irá morrer, desencarnar, mas perderá a vida no que ela é de verdade: uma encarnação, uma oportunidade de elevação espiritual. Portanto, quem quiser viver a vida pelos valores materiais perderá esta oportunidade.

É isso que Cristo está querendo dizer. Mas, diz mais: quem não ligar para a vida, receberá a vida. Ou seja, quem não se apegar aos valores materiais de uma existência humana, receberá a existência eterna. Ganhará a vida, a elevação espiritual.

Agora sim posso responder plenamente a pessoa que me fez a pergunta que deu origem a esta conversa. Por que é tão difícil acreditar na vida espiritual? Porque está apegado à vida humana e quem vive a existência carnal desta forma não tem condições de vivenciar o seu lado espiritual. Aquele que na primeira dor de cabeça em tomar o remédio para melhorar – não se trata de tomar ou não, mas da intencionalidade com que faz, a preocupação - vai perder a elevação espiritual, pois quer viver a vida: estar bem de saúde. Antes que vocês digam que estou exagerando, que ninguém pode perder a elevação espiritual apenas porque toma um remédio para melhor a saúde, eu digo que sim, que isso pode acontecer. Entendam: não há pequenos detalhes que não importem na vida para a elevação espiritual.

Compreendam: não existe vida humana, só há a encarnação de um ser universal. Os seres universais não vivem uma vida humana, mas se ligam a personalidades transitórias que são conhecidas como ser humano. Estes seres estão assim para realizar provações, para vivenciar carmas que correspondem às intencionalidades e vivenciando estas coisas de forma desapegada libertar-se do egoísmo. Os seres universais não vêem ao mundo carnal para viver, para curtir as coisas deste mundo.

Essa é uma reflexão que todo ser humanizado precisa fazer: o que eu quero para mim? O que você quer para você? Quer viver a vida, ter uma família unida, ter um emprego bom – não estou dizendo que não possa ter, mas querer? É esse o seu objetivo, é este o seu anseio? Sendo, perderá a outra vida, pois como o próprio cristo também ensina não se pode servir a dois mestres ao mesmo tempo: ou você serve ao dinheiro, mundo material, vida material ou serve a Deus.

Não tem como se coadunar o desejo de ter um bom emprego, de ter um salário no fim do mês – não estou dizendo que não possa ter, mas sim do desejo de ter -, de ter uma família unida, organizada, onde todos se respeitem com a busca espiritual. Não há como ter estes desejos e ao meso tempo querer a elevação espiritual.

As duas coisas são como água e óleo: não combinam. Família, emprego, posição social e dinheiro não pertencem ao mundo de Deus.

Alcançar a elevação espiritual, a consciência crística, é muito difícil para o ser humanizado porque ele ainda não compreendeu que é necessário fazer uma profunda reflexão sobre o que é a vida e a partir dela, usando o seu livre arbítrio espiritual, optar entre a elevação espiritual ou a vida material. Sem a conscientização nascida desta opção, o ser humanizado será conduzido pela personalidade humana (ego) para viver a vida e neste momento perde a vida espiritual.

Participante: Em Mateus, 6,33 há o seguinte texto: buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas as demais coisas o serão acrescentadas. Um folhetim da Igreja Universal dá a seguinte interpretação para este trecho: não será um casamento, um emprego ou um carro que o fará feliz, mas se você for feliz poderá desfrutar dessas bênçãos como ninguém. Isso é uma interpretação de alguém, mas se no reino de Deus não há casa nem casamento, como fica a esperança dessa pessoa?

Mas, é o que eu falei. Sendo colocado como primeira opção o casamento, o carro o emprego não ganhará na vida eterna. Isso porque a única coisa que há para se ganhar na vida eterna é a felicidade incondicional, o estado de graça.

Agora, se você consegue este estado de graça (a felicidade incondicional), realmente conseguirá aproveitar o casamento, a casa e o emprego muito melhor do que quem não tem. Aquele que não prioriza a sua relação com Deus nos acontecimentos da vida e por isso vive as conquistas materiais em primeiro plano, quando o carro quebra fica com raiva, quando a mulher o contraria sente-se traído e quando perde o seu emprego não se desespera. Quem está em estado de graça, ou seja, vive a felicidade incondicional porque priorizou antes de tudo sua relação com Deus, não vai vivenciar estas coisas.

Mas, isso está no texto que você leu: se você for feliz poderá desfrutar dessas bênçãos como ninguém. O problema é o que é desfrutar para você. Para aquele que prioriza a sua relação com Deus o desfrute depende de ser contentado, satisfeito, pelos anseios humanos. Já aquele que prioriza os valores humanos na sua existência, para ele o desfrute será esperado satisfazendo todas as suas condições, todos os seus desejos.

Portanto, nas palavras, tanto o texto evangélico quanto um preto velho de umbanda que trabalha na linha do monismo falam a mesma coisa: aquele que prioriza as coisas espirituais sobre as materiais alcança maior felicidade ao vivenciar acontecimentos humanos.

O que estou tentando dizer é que para se vivenciar o lado espiritual não é necessário morrer, mas sim viver com o objetivo espiritual em primeiro plano. O que estou tentando dizer é que o ser humanizado que prioriza a sua relação pode ter um carro. A diferença entre este ser e aquele que prioriza os anseios humanos, é que o primeiro vivenciará todos os acontecimentos do carro, bons ou maus, em paz, sem perder a sua tranqüilidade, enquanto que o segundo dependerá sempre do que acontecer com o carro para viver assim. É este o resultado da opção por priorizar a vida espiritual e não a pobreza, como muitos pensam.

Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver ali ele estará também. E o meu Pai honrará quem me serve.

Quem quiser me servir, siga-me...

Quem é Cristo? Segundo João é o Verbo. Verbo é a ação de uma frase. Portanto, Cristo é a ação da vida. Esta ação marcou-se o tempo inteiro pela prática do amor incondicional. Portanto, quem quiser servir ao mundo espiritual, que ame incondicionalmente: isto oi o Cristo disse nesta frase.

Não se serve ao mundo espiritual queimando incensos em louvor a Deus. Não se serve ao mundo espiritual dando prato de comida ou cobertor aos necessitados. Não se serve ao mundo espiritual indo a igreja, ao centro ou ao templo. Não se serve ao mundo espiritual trabalhando mediunicamente. Serve-se a este mundo simplesmente amando incondicionalmente...

Quando falo que não se serve realizando atos, não estou falando contra os atos. Aquele que vive para o serviço ao mundo espiritual pode realizar todos os atos, mas para ele não é ação em si que importa, mas a intencionalidade com que se vivencia a ação. Aquele que serve ao mundo espiritual vivencia as suas ações independente de suas vontades e sem pró ou contra nada.

Essa é uma realidade que os seres humanizados precisam compreender. A beata que não sai da igreja porque acha melhor estar lá, não serve a Deus. O médium que não falta a nenhuma sessão do centro espírita porque gosta da gira, não serve a Deus. Os espíritas que organizam campanhas de doações aos necessitados não servem a Deus se naquele e em outros momentos estiver amando incondicionalmente.

Este é o grande recado de Cristo. Ninguém serve a Deus porque faz um carinho em outra pessoa, porque quando se faz isso apenas porque gosta da pessoa ou porque acha que deve fazer não está se amando ao outro, mas a si mesmo, pois está fazendo aquilo que gosta, que acha certo, que quer. Mesmo que o ser humanizado diga que neste momento está amando, não está, pois este amor não incondicional.

Quando o ser humanizado faz um trabalho mediúnico porque acha que ele é importante, não está servindo a Deus, está servindo a si mesmo, ao seu achar importante. Quando o ser humanizado faz campanhas de doação porque tem pena dos necessitados, não está servindo a eles, mas a si mesmo: à sua pena. Quando freqüenta o culto de uma religião porque acha que nele pode ganhar (alcançar mais paz, mais elevação espiritual) não está servindo a Deus, mas à sua própria busca.

Este é o recado de Cristo. Não importa o que o ser humanizado faça, não importa que situação ele esteja vivenciando: acabe com as condições do amor. Deixe de amar porque, para que, quando e onde e simplesmente ame. Para alcançar este ‘simplesmente ame’, ou seja, ser pobre de espírito, é preciso que o ser humanizado compreenda que qualquer opinião ou desejo seu acaba com a incondicionalidade necessária para o amor.

Mas, Cristo diz mais neste pedaço. Ele fala assim: e Deus honrará quem me serve.

Dar honras a um ser universal não é dar medalha, colocar fotografia numa galeria ou dizer que ele é melhor do que os outros. Dar honra a um espírito é aproximá-lo de Deus. Mas, isso não acontece fisicamente, mas sim na compreensão. Aquele que busca a incondicionalidade evitando saber alguma coisa passa a saber tudo, sem nada saber...

É isso que Cristo está ensinando. Esta é a honraria maior que um ser universal pode receber: receber de Deus a compreensão que nada para ser sabido...

Participante: Quanto à questão do amor incondicional, como saber se é o ego ou a pessoa que está sabendo? Seria simplesmente dizer não sei a tudo?

São duas coisas que você me pergunta.

Primeiro: como saber se é o ego que está lhe dando a raiva, a tristeza ou a decepção com outra pessoa. Esta questão é muito simples: quando estas emoções ou sensações forem acompanhadas de uma compreensão racional – eu não gosto de fulano por causa disso, estou sofrendo porque não gostei do que aconteceu, tal pessoa me decepcionou porque fez isso – é sempre do ego. Isso porque há uma compreensão racional que justifica o sentir.

Portanto, tudo que contiver uma motivação, seja pensamento ou emoção, é carma. Ou seja, ter raiva de uma pessoa é o seu carma e o de quem recebe esta emoção, pois você se transforma num instrumento dela.

Segunda pergunta sua: como conviver com este carma (ter raiva de uma pessoa) para conseguir a consciência crística? Diga para si mesmo: to com raiva sim, e daí? Compreenda: o ser humanizado não pode fazer nada contra as emoções ou sensações que a personalidade humana cria. O máximo que ela pode fazer é não vibrar na mesma sintonia.

Para isso é preciso que você tenha a consciência de que a raiva não é sua, mas sim uma criação da personalidade humana para você se você entra na dele, ou seja, vibra na mesma emoção. Quando isso acontece o ego continua a colocar motivações (é mesmo, aquela pessoa fez isso de propósito, fez para me machucar mesmo) para servir de justificativa para que você continue vibrando naquela emoção.

Quando o ser humanizado aceita como dele aquilo que a personalidade humana cria, esta sempre irá inventar novas razões que justifiquem a emoção. Continuando a compactuar com estas idéias, a personalidade humana aumentará a potência da emoção e o ser humanizado cada vez ficará mais negativado.

Portanto, saiba que a realização da consciência crística não é não ter raiva de ninguém, mas aprender a conviver com ela sem dar a ela valor algum. Ter a raiva é carma, conviver com ela sem lhe dar valor algum é alcançar a elevação espiritual.

Compreendam: não queiram ser diferente daquilo que são. A reforma íntima não é na verdade uma transformação da personalidade humana, mas a mudança na forma como o ser humanizado convive com ela. A reforma íntima consiste-se em alterar a forma como se convive com a personalidade humana: viver sem estar subjugado àquilo que a personalidade humana diz que o ser humanizado precisa sentir ou pensar.

Participante: Só poderemos amar incondicionalmente quando acabarmos com o ego, pois as condições são dele. Mas a personalidade humana sempre existirá na vida carnal e por isso sempre iremos amar de acordo com as condições do ego?

Se você fala neste amar de uma forma racional, eu sei que eu amo, sim, só amará condicionalmente porque está preso à personalidade humana. Mas, neste caso, não está amando a outra pessoa ou coisa, mas sim ao ego.

Amar ao próximo de uma forma incondicional é diferente do que o ser humanizado entende por amor. Um ser ama o próximo simplesmente quando ele não aceita a opinião que a personalidade humana dá sobre o próximo, seja boa ou má.

Dizer que uma pessoa é bonita não é amar a ela, mas aos seus próprios padrões de beleza. Isso é egoísmo...

Portanto, durante a existência carnal, mesmo com a personalidade humana em ação, o ser humanizado pode amar incondicionalmente sim: basta não querer amar, não aceitar os padrões de amor que a personalidade humana cria.

Encerrando, digo que o grande alerta de hoje está baseado na primeira pergunta: por que ninguém quer morrer, mesmo acreditando piamente na existência de um mundo espiritual ativo? Porque não optou em servir a Cristo e a Deus.

Este é um alerta constante nos ensinamentos de Cristo. Aliás, nos estudos que estamos realizando sobre os textos bíblicos, esse tema tem sido uma constante: o alerta de que é preciso uma tomada de posição durante a existência carnal sobre de que forma se vivencia os acontecimentos carnais.

Esta tomada de posição é fundamental porque o dia chegará, disso não tenham dúvida...