Evangelhos canònicos - Textos

A humanidade odeia Cristo

Durante o transcorrer da nossa conversa de hoje, gostaria que vocês tivessem a máxima atenção, para que não houvesse mal-entendidos. Digo isso porque, aparentemente, pode parecer que com o que vou falar estarei acusando ou brigando com alguém. Mas isso é ilusão.

Aqueles que me conhecem sabem que não brigo com ninguém. Apesar disso, o que não posso deixar de fazer é mostrar a hipocrisia que é a vida humana vivida de modo humano, principalmente para aqueles que se dizem religiosos ou que estão buscando a Deus.

Sim, a vida humana daqueles que se dizem religiosos, se vivenciada pelos valores humanos, é uma hipocrisia. Isso porque quem diz que busca a Deus deveria ter uma postura completamente diferente face aos acontecimentos da vida daquele que não busca, mas não tem. Estes seres humanos deveriam ouvir Cristo: se você só faz o que os pagãos fazem, que vantagem leva...

Cristo, portanto, ensinou: aqueles que estão buscando a Deus precisam fazer mais do que o normal, mais do que fazem os simples pagãos. Mas, não fazem, apesar de dizerem-se cristãos, seguidores do mestre nazareno.

Portanto, o que vou fazer hoje é mostrar que a maioria da humanidade afirma que está caminhando numa direção, mas em verdade caminha em outra.

Jesus continuou: Se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro.

Alguém já ouviu esta frase – se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro – como ensinamento de Cristo? Acho que não, pois ela muitas vezes é esquecida por aqueles que ensinam o que o mestre disse. Mas, nem por isso deixa de ser verdade.

Atentando-nos aos acontecimentos da encarnação Jesus Cristo, no entanto, veremos que ela é uma verdade líquida e cristalina. Ele foi odiado pelos romanos, pelos senhores do Cinéreo e pelo próprio povo judeu, que o preferiu a Barrabás.

Mas, isso foi no passado. Será que no presente a humanidade odeia Cristo? Respondendo, eu diria que ela afirma que ama o mestre, mas odeia os “Jesus Cristo”, ou seja, aqueles que vivenciam os ensinamentos do mestre.

É neste sentido que estou falarei a respeito da hipocrisia que vive os religiosos que se comportam frente aos acontecimentos do mundo como seres humanos comuns. Esta hipocrisia se reflete exatamente na frase que disse acima: a humanidade diz que ama Cristo, mas odeia os “Jesus Cristos”.

Sabe por que isso? Porque a humanidade afirma que ama Cristo, mas odeia aqueles que quebram as leis. A humanidade diz que ama Cristo, mas são os primeiros a acusarem, julgarem e condenarem aqueles que são pegos em flagrantes delitos. Mas, Cristo não fez isso...

Quando a mulher adultera lhe foi apresentada, Cristo disse: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Quando ninguém mais ficou ele disse: se ninguém lhe condena, não sou eu que vou lhe condenar...

Portanto, para se portar como Cristo, os seres humanos deveriam eximir-se de julgar qualquer um, mesmo aqueles que forem pegos em flagrante delito. Mas, o mundo detesta os “Jesus Cristos” e por isso chama de fraco, inconseqüente e outros adjetivos pejorativos aqueles que não cumprem a “obrigação” de julgar, acusar e condenar os outros.

 A humanidade diz que ama Cristo, mas odeia aqueles que, como o mestre, não seguem rigorosamente a lei humana. Acontece que aqueles que se eximem de culpar os outros (os “Jesus Cristo” ou aqueles que buscam o caminho que leva a Deus) praticam o perdão, o que, aliás, foi ensinamento do mestre e serve como caminho para Deus: Pai perdoa, eles não sabem o que fazem...

Apesar do mestre ter ensinado assim e a humanidade dizer que quer seguí-lo, ela não quer perdoar. Diz que ama Cristo, que o aceita como legítimo guia e pastor, mas não quer praticar o perdão que ele ensinou. Prefere julgar, condenar e acusar a todos... Pior... Quem não segue estas premissas é chamado de bobo, de otário.

Mas, se a humanidade diz que busca a Cristo, deveria, não digo nem aclamar aqueles que buscam viver como Cristo, mas pelo menos não odiá-los. Deveria, pelo menos, não taxá-los com palavras que demonstrem menosprezo.

A humanidade diz que ama Cristo, mas o ser humano, mesmo os que se dizem cristãos, estão preocupados com o que vão comer e vestir hoje. Cristo nunca teve esta preocupação...

Cristo dizia: se Deus dá o alimento aos bichos e dá roupa às flores, porque eu vou me preocupar com isso. Apesar deste ensinamento, a humanidade ainda se preocupa e, para aqueles que vivem do jeito que deveria ser o ideal de todos os que dizem que buscam seguir a Cristo, existe a acusação de serem alienados. São menosprezados, considerados bobos.

A humanidade diz que ama Cristo, mas se preocupa não só com o que vestir, mas como se vestir. A humanidade preza muito mais a aparência física do que o interior. Preza ver se está arrumado, limpo ou cheiroso.

Esquecem-se do que Cristo afirmou: ai de vocês que lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Para descrever aqueles que se preocupam com o exterior Cristo fez a seguinte comparação: são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos mortos e de podridão...

Se estes chegassem perto de Cristo não iam se sentir confortáveis, pois o mestre não era de se preocupar muito com estas coisas... Sabe, aquela imagem do manto sempre branco é apenas uma figura. Isso porque Cristo andava no meio do deserto. Sendo assim, no mínimo o seu manto era coberto de pó...

A humanidade diz que ama Cristo, mas aqueles que não cumprem os rituais religiosos, são colocados na cruz. São acusados de hereges, de pagãos... Mas, Cristo nunca cumpriu um ritual religioso de sua época... Pior, quebrou todos...

Cristo se alimentou e fez cura nos sábados... Expulsou os vendedores do templo, o que era aceito pela doutrina religiosa de então... Foi contra as bases doutrinárias dos professores da lei, falando em amor e perdão...

Sabe, hoje é muito fácil para vocês não cumprirem as leis religiosas, pois elas foram adaptadas para servir à humanidade. Mas, naquele tempo não... Era tão complicado não se seguir a religião oficial dentro de todos os parâmetros que ela continha, que Cristo foi crucificado justamente por isso...

A humanidade diz que ama Cristo, mas tem como objetivo principal na sua vida realizar-se materialmente. Está preocupado em estudar, em se formar numa boa faculdade para poder arrumar um emprego melhor para ganhar mais dinheiro e ter mais ascensão.

Cristo nunca teve esta preocupação... E se ele é o caminho a verdade e a vida e só através dele se chega a Deus, aquele que ama o mestre não deveria ter estas preocupações, não deveria ter estes objetivos como primários na sua vida...

É isso que Cristo afirma quando diz que a humanidade o odiou. Só que ela não o odiou apenas naquele tempo, mas continua odiando-o até hoje através daqueles que seguem os seus ensinamentos.

Continuam criticando, acusando, chamando os seguidores de Cristo de não evoluídos. Isso porque a humanidade continua presa a um padrão de evolução que não foi a que o Cristo ensinou. Eles ainda continuam querendo exercer o poder de ser, estar e fazer, enquanto Cristo dizia: Senhor honra seu nome através de mim...

Aí está o problema: a humanidade diz que ama Cristo, mas não quer mudar a forma humana de viver... A humanidade, para poder se dizer seguidora de Cristo, precisa alterar os valores da sua vida. Aliás, o próprio mestre deixou isso bem claro: eu não vim trazer a paz, mas a espada. Enquanto você não abandonar suas paixões humanas, pegar a sua cruz e me seguir, não serve para mim...

Não adianta se dizer seguidor de Cristo e querer levar uma vida humana igual a dos outros, porque não se chega, espiritualmente falando, a lugar algum. Só se chega à elevação espiritual através do exemplo deixado por ele, pois “eu sou o caminho a verdade e a luz; ninguém chega a Deus a não ser através de mim”.

Esta sentença proferida pelo mestre quer dizer que ninguém chega a Deus a não ser vivendo a vida como ele viveu. Por isso a vida daqueles que querem se dizer seguidor de Cristo tem que ter como objetivo primário a mesma intenção que o mestre teve: vivenciar a cada momento a glória do Pai sem se preocupar com os acontecimentos materiais...

Mas, a humanidade odeia Cristo, odeia os “Jesus Cristos”: odeia aqueles que não se preocupam com os elementos materiais de sua vida. Aliás, a vida “Jesus Cristo”, ou seja, aquilo que deveria ser o objetivo primário de ser vivido por um espírito encarnado, é a antítese de tudo o que a humanidade sonha para si. Isso porque o fundamento da vida humana é alcançar a glória material (estar “certo” dentro dos padrões humanos), a fama (ser reconhecido como um ser humano adaptado às realidades humanas) e a felicidade material.

Participante: Porque a sociedade hoje é tão individualista se a Terra está mudando para o Mundo de Regeneração. Não era para ter uma evolução com relação ao universalismo?

Não... Era para piorar mesmo, porque a quem muito foi dado, muito será cobrado...

Repare: se a prova de um espírito é vencer o individualismo, quanto mais ele se aproxima da prova final, mais individualismo tem que vivenciar... O individualismo precisa hoje lhe chamar mais fortemente, precisa lhe tentar mais fortemente, para que você esteja sempre fazendo provas dentro do seu nível de elevação...

Se vocês pertencessem ao mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele.

Um rápido comentário...

Quando você segue os padrões da humanidade, o mundo lhe ama. Ele age assim porque você é humano, porque vive humanamente a vida: porque você se preocupa em arrumar-se, em trabalhar; porque sonha em crescer materialmente; porque sonha com a submissão dos outros aos seus padrões de “certo”; porque quer ter o poder ao seu lado.

Agora, quando para você nada disso tem valor, o mundo lhe odeia. Tem este sentimento porque você não é mais humano, porque não se preocupa com a humanidade, mas sim em pertencer a Cristo, a quem nada disso faz sentido. É como Paulo diz: para mim o mundo está morto porque eu pertenço a Cristo...

Esta é uma coisa que precisávamos entender para continuar ouvindo o que Cristo falou...

Mas, eu os escolhi entre a gente do mundo e vocês não pertencem mais a ele. Por isso o mundo os odeia.

Por estarem ligados a Cristo, ou seja, por tudo que é humano não fazer mais sentido para vocês, o mundo lhes odeia. O mundo não vê em você alguém que pode ser seguido, que mereça ser ouvido. Isso porque o mundo ama apenas quem fala o que ele quer ouvir...

A humanidade ama aqueles que servem ao humanismo do ser e não aqueles que servem a Cristo. Mas, este tipo de proceder não leva o espírito a se aproximar do Pai. Para entender bem isso, temos que nos lembrar de outra frase de Paulo: o ser humano é inimigo de Deus...

Sim, o ser humano é inimigo de Deus porque ele só é amigo dele mesmo. O ser humano não é amigo de mais ninguém...

Mesmo quando considera alguém como amigo, a consideração está subordinada ao “bem” que este amigo lhe traz. Se este “bem” deixar de existir, o amigo se transforma logo em inimigo... Sendo assim eu afirmo: ele só está preocupado consigo mesmo e não com o outro.

Você acha que estou exagerando? Ouça este ensinamento que o Espírito da Verdade fala em O Livro dos Espíritos.

Pergunta 913: Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.

Aí está a base da humanização a qual o espírito se expõe: todo ser humano é egoísta, já que este sentimento é a base dos egos formados no planeta Terra.

Quem é egoísta ama a si acima de Deus e dos outros. Por isso Paulo nos diz que o ser humano é o inimigo de Deus, já que ele quer para si, enquanto que o Pai quer para todos...

Esta é uma conclusão que precisa ser tirada por aqueles que querem seguir Cristo, pois no mestre não residia o egoísmo: ele vivia para servir os outros. Já o ser humano vive para se servir e para isso serve-se dos outros.

Afirmo isso porque o ser humano é incapaz de ser, por exemplo, caridoso de uma forma universal. Mesmo quando ele quer ajudar o próximo, estipula condições que são aceitas por ele mesmo para auxiliar.

Esta é a base que todos aqueles que dizem que estão buscando a elevação espiritual precisam compreender: a humanidade, os valores ditos humanos são forjados no egoísmo. Por isso, enquanto o ser for humano não conseguirá amar a Cristo de verdade. Por conseguinte, odiará Cristo, pois ele não foi humano.

A existência de “Jesus Cristo”, que iniciou-se depois do batismo foi uma existência espiritualizada e universalista. No momento em que João Batista batiza Jesus, acaba-se a humanidade desta personalidade. Ela passa a funcionar como um espírito na carne e não mais como humano.

O espírito na carne é aquele que não é egoísta, que vive no universalismo e no espiritualismo pleno. Ou seja, aquela personalidade onde o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo está presente. É por isso que esta personalidade afirma: a humanidade me odeia.

Sabe quem são os humanos cristãos de hoje? Os mesmos professores da lei do tempo de Cristo.

Não estou falando em reencarnação, afirmando que são os mesmos espíritos. O que estou dizendo é que os elementos humanos de hoje, como os de então, ainda se avocam em ter a verdade e usá-la para julgar o próximo. São os mesmos para os quais Jesus Cristo falou: ai de vocês, professores da lei, que põem fardo nas costas dos outros e não ajudam a carregar nem com nenhum um dedo. Por isso continuam julgando e criticando os “Jesus Cristos”, como fizeram com o mestre...

A partir desta constatação, deve surgir para vocês que estão querendo seguir o exemplo de Cristo, uma verdade: não esperem que a humanidade vá aplaudir os seus esforços de elevação espiritual. Todo mundo acha que se entrar nesta revolução espiritual será considerado bonzinho ou santinho. Isso é ilusão.

A humanidade vai lutar contra vocês... Vai querer lhes ridicularizar, vai querer, como instrumento do carma, lhes colocar a todas as provas para lhes testarem no sentido de ver se vocês permanecem no amor em Cristo...

É preciso atentar para este detalhe. É preciso estar atento a este detalhe: ninguém chega a Deus através de Cristo, ou seja, ninguém chega a Deus a não ser sendo um “Jesus Cristo”.

Depois de compreender isso, é preciso, ainda, compreender outra coisa: quem quiser chegar a Deus sendo um “Jesus Cristo” não pode querer ser humano e nem esperar que a humanidade lhe apóie neste intento.

Participante: O mundo gosta de quem faz o que ele quer. Concordo com isso. Agora, se formos seguir Cristo, vamos nos tornar individualistas e egoístas também, pois não poderemos contar com ninguém, já que o mundo não apoiará quem seguir Cristo.

Concordo com você. Só que seguindo Cristo, você não será individualista, mas individual.

Falo assim, porque individualista é aquele que quer para isso enquanto que o individual é aquele que se reconhece como individualidade, mas que não quer para si prioritariamente.

Sim, para seguir Cristo você precisa ser uma individualidade sem individualismo, sem egoísmo. Mas, isso é impossível para quem segue os padrões humanos de vida, porque a humanidade lhe cobra que seja egoísta, ou seja, que se imponha individualmente a cada momento.

Vamos continuar...

Vocês poderiam dizer: você está sendo radical. Eu diria: estou... E complementaria: sem radicalismo não há elevação espiritual. Sem você radicalizar espiritualmente a vida, não há elevação espiritual. Querem ver um exemplo...

Há entre os espíritas uma frase muito interessante. Quando se fala nas influências dos espíritos sobre a vida nos meios espíritas eles dizem: ah, nem tudo que acontece em nossa vida são os espíritos que fazem...

Os que respondem desta forma são humanos, ou seja, vivem apenas a partir das suas percepções. Mais, são professores da lei porque citam O Livro dos Espíritos, mas não vivem o que ele diz...

Segundo esta obra do Pentateuco Espírita, a influência dos espíritos na vida humana é muito maior do que o ser humano possa imaginar. Portanto, para ser espírita verdadeiro, os seguidores desta religião deveriam radicalizar (ter isto como Verdade Absoluta).

Mas, para não serem egoístas, deveriam radicalizar não porque se acham certos, mas porque esse é o ensinamento do mestre que seguem. Se não radicalizam e atacam os que dizem isso, posso afirmar que os espíritas odeiam os “Espíritos das Verdades” também...

Participante: Por favor, fale deste ensinamento...

Ele começa na pergunta 459:

Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Esta é a lei da doutrina espírita. Tanto isso é verdade que o seu próprio fundador, comentando a influência dos espíritos nos acontecimentos da vida diz:

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obraram de tal maneira que o homem crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio.(Comentários de Kardec à pergunta 525).

Isso, por si só já diria tudo. Mas tem mais... À frente (pergunta 527) o Espírito da Verdade diz que se alguém tem que morrer por causa da ação de um raio que caia do céu (determinismo de destino) nenhum ser desencarnado alterará a rota do elemento da natureza, mas fará com que o homem se dirija para o lugar onde ele sabe que o raio cairá...

Ou seja, a vida é completamente dominada pelos espíritos. Todas as suas ações são comandadas de fora para dentro e você, como diz Kardec, achando que mantém o livre arbítrio, faz o que precisa ser feito.

Portanto, para se dizer seguidor do Espírito da Verdade é preciso que os espíritas radicalizem e vivam com esta realidade: tudo na vida é intervenção dos espíritos.

Mas os espíritos não agem à toa. A pergunta 525a traz uma informação importante:

Exercem essa influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o cumprimento das coisas? Sim, mas nunca atuam fora das leis da Natureza.

Reparem que a letra “n” está escrita de forma maiúscula. Isso quer dizer que o Espírito da Verdade se refere a Deus. Ou seja, os espíritos agem sobre o cumprimento das coisas, mas esta ação segue a ordenação do Senhor.

Agora o radicalismo está completo: o espírita, para poder se dizer seguidor do Espírito da Verdade tem que aceitar que tudo que acontece durante a sua existência tem a direção do mundo espiritual menos denso, mas que eles agem sobre o comando de Deus. Para eles nada mais pode ser real...

Quem não radicalizar nesta questão não pode dizer-se espírita. Aliás, será como os cristãos que estamos comentando: dirão que amam o espiritismo, mas que odeiam os “Espíritos da Verdade”.

Mas, este conhecimento não deveria pertencer apenas aos espíritas. Os próprios cristãos não espíritas, que dizem não acreditar na existência do mundo espiritual ativo, para poderem demonstrar o seu amor por Cristo, deveriam acreditar nisso.

Falo assim porque o mestre conhecia esta Verdade. Cristo sabia que tudo o que vai acontecer está predeterminado (até os fios de vossas cabeças estão contados) e participava dos acontecimentos com esta consciência. Isto ele deixou bem claro quando respondeu aos apóstolos que lhe avisaram sobre a morte do seu amigo Lázaro: vamos lá, pois ele não morreu. Só está daquele jeito para que a glória de Deus seja alcançada...

Sei que muitos cristãos não espíritas acreditam nesta verdade (que suas existências são dirigidas pelos espíritos), mas há uma diferença na forma como Cristo acreditava e na que os humanos cristãos acreditam. Enquanto que humanos estão eternamente querendo investigar o porque e o para que das coisas, Cristo deixava Deus fluir através dele, ou seja, tinha consciência de que era Deus agindo sempre e por isso não precisava se preocupar com os porquês e os para quês...

Essa é mais uma razão pela qual eu afirmo a humanidade não ama Cristo: aqueles que se entregam a Deus deixando o Senhor fluir por eles sem seguirem normas e padrões humanos, são considerados doidos. Isso no mínimo, para não dizer idiota...

Anti Cristo não é aquele que se contrapõe aos ensinamentos das doutrinas cristãs não espíritas, mas sim aqueles que não levam em consideração esta informação do Espírito da Verdade por não estar de acordo com suas próprias crenças, apesar de declaradamente estar presente na consciência “Jesus Cristo”...

Mas, existem outros aspectos que me levam a afirmar que a humanidade odeia Cristo... Um deles é a aceitação do destino.

A humanidade luta para criar um destino melhor para ela mesma. É raro o humano que aceita que os acontecimentos de sua existência estão perfeitos da forma que estão.

Para Cristo, tudo era fruto do amor de seu Pai, mesmo aquilo que a humanidade chama de “errado” ou “ruim”... O mestre, por exemplo, sabia volitar, era capaz de proezas como andar em cima das águas, mas não fugiu do seu destino...

Ele poderia muito bem ter volitado e desaparecido da cena da crucificação e continuado a sua vida. Por que não fez isso? Para entender é preciso ouvir a resposta que ele deu a Pilatos quando este lhe perguntou por que não se salvava: se o Pai quisesse que eu não passasse por isso, mandaria pelo menos vinte legiões de anjos para me salvar...

Aí está uma grande verdade que a humanidade odeia ouvir: Cristo não foi crucificado pelos romanos, nem pelos judeus. Ele foi crucificado por determinação de Deus...

É a humanidade odeia ouvir isso, porque ela quer preservar a vida material. O ser humano quer continuar vivo, materialmente falando, porque quer continuar humanizado, quer continuar ganhando migalhas (as poucas vezes em que o desejo é realizado) aqui e ali...

Cristo morreu na cruz sem aflição, sem medo, sem acusações. Entregou-se a este momento porque sabia que aquilo era apenas uma história pré-montada para lhe dar aos seus seguidores o seguinte ensinamento: se você estiver sendo levado ao cadafalso, vá em paz, amando e perdoando seus algozes. Não queira fugir do seu destino...

Mas, os humanos cristãos não querem ouvir este ensinamento que já tem dois mil anos e continuam lutando para ganhar sempre...

Sabe, é até compreensível que ao ir para o seu cadafalso você fique perturbado e reja como Cristo, que se perturbou com a aproximação de sua hora segundo relato de João: Sinto agora uma grande aflição... Mas, para poder se dizer cristão, continue a frase como ele continuou, ainda segundo relato de João: mas, o que vou dizer agora? Pai afasta de mim este cálice... Mas eu nasci para isso... Pai glorifica o seu nome em mim.

Quanto aqueles que vivem que não reagem aos acontecimentos do mundo, que se entregam passivamente às suas cruzes mantendo intacta a sua relação amorosa com Deus, estes são criticados pela humanidade. Criticam porque os humanos egoístas não querem ser crucificados, ou seja, não querem ver os seus supostos direitos serem afetados.

Esta é a realidade... Por favor, não digam que estou radicalizando... Estou simplesmente pegando ensinamentos que existem em O livro dos Espíritos e na Bíblia para mostrar que o ensinamento é um e a prática é outra...

Agora, quanto à afirmação de Cristo que o mundo o odeia, também não a inventei: está há quase dois mil anos no Evangelho de João... Cabe a nós não discuti-la, mas entendê-a, compreendê-la, que é isso que estamos falando neste trabalho.

Como disse, ao estudar os ensinamentos do Novo Testamento gostaria de falar da prática da vida e é exatamente isso que estou fazendo hoje: mostrando que a prática da vida daqueles que se dizem seguidores de Cristo é hipócrita, porque amam a Cristo, mas não querem viver como o mestre viveu.

Não querem doar-se como o mestre doou-se. Preferem manter a sua humanidade intacta a se entregar ao espiritualismo, mesmo sabendo que com isso não alcançam a evolução espiritual, ou seja, não caminham o caminho que leva a Deus...

Lembrem-se do que eu disse: o empregado não é mais importante do que o patrão. Se me perseguiram, também perseguirão vocês; se obedeceram aos meus ensinamentos, também obedeceram aos ensinamentos de vocês. Por causa de mim, vão lhes fazer tudo isso porque não conhecem aquele que me enviou. Eles não teriam nenhum pecado se eu não tivesse vindo e falado a eles. Mas agora não têm desculpa para o seu pecado.

Neste ensinamento a fonte da célebre frase: a quem muito foi dado, muito será cobrado.

O pecado – pecado como transgressão ao espiritual – não nasce do ato que se pratica durante a vida, mas sim da transgressão ao conhecimento que cada um possui.

Veja... O católico tem um ensinamento, o protestante outro e o espírita outro ainda. Mas, todos estes conjuntos doutrinários contêm ensinamentos fundamentados no que Cristo ensinou...

Acontece que apesar disso, o humano considera os ensinamentos de sua seita mais importantes do que realmente está descrito como ensinamento do mestre. Mas, isso não é verdade... Toda doutrina que se diga cristã precisa ensinar o que Cristo ensinou...

Para isso é preciso se deixar de lado as diferenças... Que importa se só há esta vida ou outras (reencarnação)? O importante é fazer o que Cristo ensinou: amar a tudo e a todos... Por isso, quando o ser humanizado recebe os ensinamentos de quaisquer de uma destas seitas, ele se torna responsável por colocar em prática o que o mestre nazareno ensinou...

Se Cristo diz que você deve amar o inimigo, não importa o que o padre diz: você tem que amar o inimigo. Se ele afirma que não deve julgar, não importa o que o médium diga na palestra do centro: você precisa abrir mão disso.

Se Cristo diz que deve perdoar a todos, deixe o pastor condenar aqueles que participam de outras doutrinas, mas você perdoe todo mundo. Se Cristo diz ao bandido que ainda hoje ele estará no reino do céu por arrepender-se, não importa o que o código moral de sua religião fale a respeito do crime: você precisa compreender que o bandido que se arrepender de seus pecados irá para o reino do céu.

Aí está a hipocrisia que eu tenho falado: não adianta se dizer católico, espírita ou evangélico e não seguir Cristo, mas sim ao que ouve na sua religião... O problema é que todos querem ser religiosos, mas não abrem mão do seu humanismo que se caracteriza em ser e acreditar no que quiser.

Na verdade, este é o tema da palestra de hoje: ser cristão...

Para ser cristão de verdade é preciso lembrar-se do que Cristo disse: em verdade vos digo: quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Por causa desta afirmação, saiba que enquanto não renascer do espírito e da água não conseguirá a elevação espiritual, por mais que decore os ensinamentos, por mais que se diga cristão. E, para renascer do espírito e da água é preciso ser como Cristo foi...

Mas, para ser igual a ele, é preciso que você se lembre de algo importante que ele disse: não se serve a dois senhores ao mesmo tempo. Não se serve à materialidade, à humanidade e a Deus ao mesmo tempo...

Não há se manter humano e ser ao mesmo tempo cristão. Isto porque a humanidade lhe cobra o seu humanismo enquanto que Cristo lhe cobra a sua espiritualização, a sua ligação com Deus: o seu viver em Deus, com Deus e para Deus...

Se nós não compreendermos isso, ficaremos batendo cabeça contra parede. Ficaremos querendo ser humano sem conseguir e querendo ser espírito e não conseguindo também...

Este é o assunto que precisa ser rapidamente conscientizado por todos os que se dizem buscadores. A compreensão deste tema precisa servir como instrumento para espiritualizar verdades. Sem isso, o espírito encarnado ficará empacado no tocante a elevação espiritual, como está há milhares de encarnações lutando entre servir ao mundo ou a Deus.

Isso é o que precisamos pensar... Mas, esta é uma decisão difícil, pois a partir do momento que você decidir seguir a Cristo, tem que passar a ser um “Jesus Cristo” e amar os “Jesus Cristos”.

Mas, se por outro lado não decidir por isso, você tem todo direito de viver a sua humanidade. No entanto, compreenda que este caminho não lhe leva a Deus. Além disso, para não ser hipócrita, é preciso você pare de bater nos peitos e dizer que é cristão.

Esta é a bifurcação, a encruzilhada, onde estão todos os espíritos encarnados hoje: de um lado o chamamento de Deus, da espiritualidade; do outro o da humanidade para viver uma vida de forma humana. Isto precisa ficar bem claro para os que se dizem buscadores de Deus...

Além do mais, é preciso ficar bem claro que a partir do momento que você opte por Deus não deve esperar da humanidade respeito, amor e atenção porque ela lhe cobrará mudanças, pois deixou de ser um humano.

Participante: Você já falou por diversas vezes que é preciso amar a todos, mas acho que eu não sei bem o que é o amar universal. Poderia nos dizer o que é este amar e citar alguns exemplos na vida prática?

Posso, é fácil fazer isso...

O que é amar universalmente? É não amar egoisticamente.

Como na prática se sabe que está mando universalmente? Quando você não distinguir “certo” nem “errado”, “limpo” ou “sujo”, “arrumado” e “desarrumado”, “bonito” e “feio”...

Quando você, por exemplo, vê na atitude de outro uma arrumação e gosta, você elogia, mas isso não se traduz em amar universalmente. Isso porque você só elogia o que lhe convém elogiar... Quando vê um “errado” na atitude de outro é porque você não acha aquilo certo. Em qualquer dos dois casos não amou universalmente porque seu estado de espírito amoroso existiu a partir de seus próprios conceitos. Ou seja, amou egoisticamente...

Amar é viver a vida sem aplicar adjetivos a nada e a ninguém. Amar é simplesmente amar e quem ama não vê “feio” ou “bonito”, “certo ou errado”. Quem ama, só ama...

Então, amar universalmente é isso: participar da vida sem colocar adjetivos nela. Isto porque qualquer adjetivo que se coloque é fundamentado no egoísmo, ou seja, é fundamentado no que você acha daquilo...

Participante: Mas, como eu vou amar uma pessoa que pratica o “mal”? Eu não ia estar apoiando esta pessoa...

Mas eu acabei de dizer que não se dá adjetivos. O “mal” é um adjetivo que você coloca a algo que é perfeito que vem de Deus...

Quanto ao apoiar, eu não falei que deve apoiar qualquer pessoa, mas que deve amar a todos. O ato de apoiar só ocorre quando há um “certo” presumido, mas eu não estou falando em “certo”, mas em perfeito. Eu, como Cristo, estou afirmando que o “bem” e o “mal” são frutos do amor de Deus que são adjetivados a partir dos conceitos humanos e pela ação egoísta como tal...

Para poder viver isso, eu não julgo ou acuso, mas também não elogio. Vivencio tudo na neutralidade, ou equanimidade como Krishna chama este estado de espírito.

Foi assim Que Cristo viveu ou você acha que ele morreu com raiva de quem enfiou a lança nele ou dos doutores do Cinéreo que o acusou? Claro que não...

Mas ao não ter raiva deles, o mestre não compactuou com as ações por eles praticadas. Ele compactuou com Deus que estava fazendo aquilo acontecer...

Participante: Isso é difícil demais...

Sim, para o ser humano é difícil demais amar, mas para o espírito ou para aqueles que, como Cristo, se abstém de ganhar e levar vantagem nos acontecimentos da vida, não.