Função espelho

A busca do saber

Participante: Estou lendo o livro ‘A vida no Planeta Marte’ de Ramatis e tenho a impressão de apesar de ser um orbe mais evoluído lá ainda há muito ego e ‘verdades. É isso mesmo que acontece lá?

Sim. Eu já afirmei que só Deus não tem ego, ou seja, só Ele não tem verdades temporárias que levam o ser a viver uma personalidade diferente da sua. No entanto, as verdades existentes nos egos marcianos são menos individualistas do que as daqui (Terra).

Apesar disso, tenho um conselho a lhe dar: aprenda primeiro a viver na Terra e depois se preocupe com a vida de Marte. Sabe, o apego à busca de conhecimentos (curiosidade) que o ego lhe levou ao consciente como realidade, o leva à dispersão quanto ao que deve ser feito durante a encarnação.

Existe nos egos humanos atualmente a ilusão de estar havendo uma grande discussão sobre outros planetas, a vida nestes orbes, mas a Real compreensão sobre este assunto só vai ser conseguida pelos seres humanizados quando eles souberem viver a vida daqui espiritualmente falando. Isso porque em Marte vivencia-se uma outra provação, um outro sentido para a encarnação cuja compreensão não pode ser alcançada pelo ego terrestre.

Portanto, não ceda ao ego: concentre-se em aprender a viver a vida carnal de forma universal (liberto das ilusões que o ego cria) para só depois querer aprender a vida (o que se faz durante uma encarnação) em Marte.

Saiba que se esse desejo é mais uma ilusão de ego, também é mais uma prova para o ser humanizado. Se ele estiver concentrado neste ilusório interesse criado pelo ego não aprenderá a viver a vida carnal dentro dos padrões universais e, com isso, nunca aprenderá a usar a ‘função espelho’ para sua elevação. Enquanto o ser humanizado estiver preocupado com as vidas fora do planeta não estará vendo a ação espelho, ou seja, a ação do seu próximo aqui na Terra para lhe auxiliar a conhecer-se e poder, então, ‘resistir à atração do mal’.

Ficou claro isso? Não estou dando bronca, não estou acusando: trata-se de uma orientação que estou dando porque sei que você está procurando a reforma íntima.

Aliás, este ensinamento (abandonar a busca da cultura) é antigo em nosso trabalho. Por diversas vezes já falei aqui que é preciso se libertar do anseio de ler e estudar que o ego cria como paixão para alguns seres humanizados.

Quando ele assim age é movido por um gênero de prova pedido por você mesmo (espírito). Ou seja, o desejo de aprender racionalmente, de suprir a curiosidade com relação ao mundo material e/ou espiritual é também uma ‘função espelho’ para que você compreenda que está buscando para si mesmo, que quer ganhar cultura e com isso ter fama. Trata-se, portanto, de um sentimento que você buscou provar que aprendeu a libertar-se quando na erraticidade.

Participante: Mas, somos curiosos e é difícil não estudar estes temas...

Sim, mas veja, esta curiosidade, aliás é ditado de vocês, ‘mata o gato’. Isto porque ela lhe deixa ‘aéreo’ com relação à realidade ilusória que vive. Imaginando que conhece a vida em outros mundos, acha que também já sabe a daqui e, por isso, não presta atenção aos acontecimentos do mundo para ver o reflexo deles e descobrir, assim o seu interior.

Lembre-se: a curiosidade não é sua, você não está curioso... Na Realidade o que está acontecendo é o ego lhe criando uma verdade no consciente que serve como uma provação que você deve fazer a si mesmo. Ou seja, Deus lhe dá a curiosidade para ver se você supera este aspecto do ego.

Quem compreendeu a questão do egoísmo que já falamos já deveria ter entendido isso, pois, o que é a curiosidade? O desejo de conhecer o que não conhece. Isso se chama individualismo, querer para si. Portanto, um egoísmo que precisa ser eliminado de nossa existência.

Deixa eu relembrar algo que digo praticamente todo dia. O espírito na carne só tem uma coisa para fazer: viver. Ele não tem que aprender nem esquecer, mas apenas viver a vida.

Veja bem, se há alguma coisa a ser ‘entendida’ nesta vida, é a ‘função espelho’ que Santo Agostinho e outros ensinaram e sobre a qual estamos conversando aqui. Isso é fundamental para sua existência eterna como espírito e não a cultura material.

Através do entendimento deste elemento universal, você pode aprender que todas as pessoas com as quais você se relaciona, direta e indiretamente, agem de tal forma que, a participação delas naquele acontecimento, lhe leve a reconhecer a ‘linha de raciocínio’ que o seu ego atual utiliza. Eu falei todas e não algumas específicas.

Isso porque a função espelho é Real, ou seja, aplica-se a cada micro fração de sua existência. Caso alguém aqui não me conheça não sabe que eu gosto de exemplos bem fortes e pode ficar surpreso com o que vou dizer agora, mas isto é Real. Sabe aquela pessoa que ‘tira meleca do nariz’ no meio da rua? É um espelho para você ver a ação moralista do seu ego que lhe faz julgá-lo de porco.

Não existe distinção entre qualquer situação percebida, que teve a sua realidade construída pelo ego: em todas elas o criador de ilusões gera uma compreensão e para tanto utiliza uma verdade individualista que senão ‘calada’ (cessada a crença nela) forçosamente levará o espírito a vibrar dentro do egoísmo.

 É disso que eu estou falando. Sabe o acontecimento que teve lugar do outro lado do mundo hoje e que você leu no jornal ou ouviu no rádio e na televisão? É espelho para você., é fonte para que você aprenda a conhecer-se.

Por isso é que é fundamental para a elevação espiritual o perfeito conhecimento da ‘função espelho’ em seu mais amplo sentido. Viu como o debate amplia a minúcia do assunto o que nos leva a compreender mais profundamente o tema?

E, até agora, só estamos falando do outro se relacionando com você como seu ‘espelho’. Já iremos falar de você como reflexo dele. Aí verá como é ainda mais importante se compreender disso. Eu diria até, que sem viver com essa realidade é impossível se alcançar a bem-aventurança, a felicidade que os santos sentem.

Agora imagine se você tivesse estudando a vida de Marte neste momento... Será que aprenderia a não julgar quem ‘tira meleca do nariz’ como ensinou Cristo?

Participante: Partindo do que o senhor disse, o que posso compreender como não aprender?

Na Realidade o espírito não tem nada a aprender nesta vida. Todos os acontecimentos não devem gerar uma cultura, um aprendizado, mas servem como instrumentos para que o espírito comprove a si mesmo aquilo que aprendeu na erraticidade como já vimos anteriormente aqui em ‘O Livro dos Espíritos’.

No entanto, posso dizer que ‘não aprender’ é não aproveitar a encarnação para elevação, não colocar em prática os ensinamentos que ‘estudou’ antes da encarnação. A partir disso, posso ainda dizer, apenas fazendo um jogo de palavras, que aprender é conseguir por em prática o que já sabia.

Por isso afirmo que o ‘aprendizado’ possível de ser feito nesta vida não é decorar livros, aprender a vida de Marte, ter conhecimentos sobre energias, conhecer os seres ovóides ou coisas do gênero. Nada disso.

Só se pode dizer que um espírito ‘aprendeu’ alguma quando ele vive a vida material como espírito que é, ou seja, vibrando apenas o amor universal e entendendo o universalismo: o estar fundido ao Todo. Na Realidade não foi um aprendizado feito durante a vida carnal, mas como apenas depois que comprova a si mesmo o espírito pode dizer que aprendeu, podemos então utilizar este termo como algo a ser feito durante a vida carnal.

Quanto ao resto que ele pode ‘aprender’ (ter conhecimento) durante a encarnação, seja de ciência material ou espiritual, é ‘cultura inútil’ que vai acabar porque tudo que se ‘aprende’ na Terra é compreendido de uma forma material. Vou dar um exemplo.

Você estuda energia, fluído cósmico universal. Participa de trabalhos espirituais com a intenção de conhecer e aprender mais sobre a propagação deste elemento universal. Este aprendizado, porém, é criado a partir de ideias, de formas, de valores que só existem no planeta Terra.

Lembra-se de uma das perguntas que estudamos anteriormente aqui em ‘O Livro dos Espíritos’? (pergunta 27a) Ali o Espírito da Verdade responde a seguinte pergunta: “Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade”? Sua resposta: “O que chamais fluído elétrico, fluído magnético, são modificações do fluído universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente”.

Ou seja, o fluído cósmico universal não é o fluído elétrico ou magnético conhecido na Terra. Apesar disso, os seres humanizados continuam trabalhando energeticamente com o elemento espiritual simulando as mesmas propriedades que os elementos terrestres possuem e achando que estão ‘certos’ em suas crenças.

Por isso afirmo: o espírito não consegue aprender nenhuma Realidade Universal enquanto preso ao ego. O máximo que ele pode alcançar é uma interpretação material de algo espiritual. Mas, este conhecimento não será útil de forma alguma quando livre das ilusórias percepções geradas pelo ego.

Além disso, tudo aquilo que ele precisa saber com relação a este detalhe, já está presente em sua consciência espiritual. Ou seja, ele já conhece a Realidade. Por isso a ilusão hora criada de nada serve, ou melhor, serve assim: como distração para não realizar o verdadeiro objetivo da encarnação que é provar a si mesmo que aprendeu na erraticidade a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Você já aprendeu tudo o que tinha de aprender de ciência espiritual. Não na figura e formas conhecidas no mundo terrestre, mas na Realidade de todos os elementos espirituais.

Assim sendo, você transforma a sua existência numa busca desenfreada de aprendizado, cultura, mas, quando sai da carne (desliga-se do ego) tudo que foi agregado a ele se perde. Então, todo aprendizado, mesmo sobre as coisas espirituais, é perdido com o desencarne.

Agora todo ‘aprendizado’ no sentido de saber amar incondicionalmente, portar-se como espírito, é eternizado.