Função espelho

Conversando sobre a função espelho

Participante: Esta ‘função espelho’ que você citou é a mesma coisa da’ sombra’ de Jung?

Sim é basicamente a mesma coisa. No entanto, acho o termo ‘função espelho’ mais apropriado, pois ele pode ser traduzido por ‘um reflexo de você mesmo’.

Aplicando este termo ao ensinamento fica mais fácil compreender, por exemplo, que aquele que lhe ofende não faz isso, pois a ofensa que foi sentida não veio externamente, mas foi um reflexo de você mesmo, das suas paixões. Foram suas paixões que geraram a sensação de ofensa e não o que aconteceu externamente. Por isso eu acho a palavra espelho mais apropriada.

Se colocássemos o termo ‘sombra’, a ofensa estaria no exterior e não no interior. Usando o termo ‘espelho’ fica mais claro que ela está no interior apenas reflete-se no exterior.

De qualquer forma, utilizando o termo ‘sombra’ ou ‘espelho’, se hoje você está sofrendo, passando por situações que não gosta, não acuse o mundo. Comece a olhar para dentro de si mesmo e verifique que você gerou a motivação para que aquele acontecimento fosse daquela forma.

A partir desta compreensão, pode ser entendido, então, o que temos falado nestes sete anos de estudos: ninguém é culpado. Todos, os outros e você mesmo, quando se relacionam com as ‘coisas’ do mundo, exercem uma função no Universo como espelho daquele com quem está se interagindo. Por agora falamos dos outros agindo à sua frente, mas já vamos falar de quando você assume a função de espelho dos outros.

Participante: A ofensa, então, é devido ao fato de acharmos que somos algo. Se acharmos que nada somos não há ofensa, certo?

Não é ser algo: é ter algo. A ofensa, quando você aceita o impulso do ego que diz que foi ofendido, ocorre porque o que acontecimento (o que foi feito e/ou falado) foi contrário àquilo que você acredita ou deseja.

Desta forma, o problema não é ser, mas possuir, ter. Digo isso porque quem não tem verdades não fica ofendido. Sendo assim, afirmo que você não precisa deixar de ser, mas precisa deixar de ter.

Esta é uma diferença fundamental que precisa ser compreendida por aquele que pleiteiam aproveitar esta encarnação para provarem a si mesmo que aprenderam quando na erraticidade. Por isso, ao longo desse trabalho todo, sempre disse que reformar-se não é mudar o que o ego lhe diz, ou seja, as verdades, mas não acreditar nelas. A verdade vem, surge à mente, mas o buscador não acredita nela.

Com isso você deixa de ter, mas continua sendo, porque deixar de ser ninguém pode.

Participante: Gandhi, antes de desencarnar, havia dito a um repórter que não precisava perdoar ninguém porque nunca havia sido ofendido.

Exatamente isso que estou dizendo: quem não tem verdades não é ofendido. Só é ofendido quem acredita em alguma coisa. Se você não acreditar que é bonito não se ofenderá quando alguém disser que é feio. Se não acreditar que trabalha bem, não ficará ofendido quando alguém disser que trabalha mal.

Então, sim, você não precisa perdoar porque não foi ofendido. Mas, o comentário do próximo não ofende por quê? Porque tudo que os outros dizem não contraria mais nada, pois você não possui mais nada para ser contrariado.

Participante: E quando os espelhos são positivos (melhores do que nós) e não nos achamos merecedores de estar frente a esta pessoa?

Não entendi a sua pergunta...

Isso porque, se o ‘espelho’ está acima de você, no sentido positivo da elevação espiritual, ele não pode ser ‘espelho’, porque não refletiu você, ou seja, não lhe mostrou o seu interior. Por isso eu disse que não vi muito sentido na sua pergunta.

Mas, se por acaso você quis dizer que a pessoa que está à sua frente é melhor do que você, tal pensamento realmente reflete algo no seu interior: a avaliação de pequena, abaixo, pior que faz de si mesmo. Isto serve como ‘função espelho’ (auxiliar na sua caminhada), mas não a admiração que sente por outro.

Este reflexo (ver que se sente menor que alguém) deve servir sim, para auxiliá-la na elevação espiritual. Isso porque todos os espíritos, em suas naturezas íntimas, são iguais entre si, ou seja, não pode existir ninguém pequeno.

A partir desta análise existe uma ‘função espelho’, ou seja, um auto conhecimento que pode lhe levar a libertar-se de uma verdade ilusória criada pelo ego.

Isso faz parte do segundo aspecto da função espelho que iremos falar: quando você serve como espelho dos outros. No entanto, deixe-me antes tirar mais dúvidas que ainda existem.