Emoções

Inteligência emocional

Se realizar a reforma íntima é crucificar a natureza espiritual, o espiritualista precisa fazer a mesma coisa com as suas emoções. Para isso ele precisa ser emocionalmente inteligente. Vamos falar sobre isso...

O termo inteligência e significa quem sabe escolher. Sendo assim, inteligência é a capacidade de selecionar ou escolher as melhores opções para si.

Qual a melhor opção emocional para o espiritualista? Aquela que lhe leve a viver a felicidade que Deus tem prometido aos seus filhos, ou seja, aquela que lhe mantenha em paz e harmonia consigo mesmo e com o mundo em que vive. Para compreendermos melhor esta questão, vamos falar um pouco sobre paz e harmonia.

Paz é o estado de não guerra. Quando é que alguém consegue estar em não guerra com o mundo que vive? Quando não se contraria com o que está acontecendo. Harmonia é a perfeita convivência com as coisas do mundo. Quando alguém se harmoniza com as coisas do seu mundo? Quando não vê defeitos ou erros nelas.

A partir desta pequena análise, posso, então, dizer que o inteligente emocionalmente é aquele que escolhe não viver as emoções que surgem a partir de razões que indiquem uma contrariedade ao que está acontecendo ou que qualifiquem o acontecimento como errado ou defeituoso. Quando o espiritualista consegue superar estas emoções ele promove a reforma íntima e por isso vivencia a felicidade que Deus tem prometido, que é, segundo o Espírito da Verdade, o sinal de que ele alcançou a perfeição desta encarnação.

Vou dar um exemplo para ficar mais claro o que estou dizendo. Digamos que ao ler estas palavras você não está concordando com o que estou dizendo. Desta não concordância poderá surgir em você diversas emoções: chateação, perda de tempo, etc. Ao invés de entregar-se a ela, porque você simplesmente não para de ler o que está escrito aqui? Se fizer isso, não viverá estas emoções.

Outro exemplo. Você passa na rua e vê uma criança com fome e suja. A primeira coisa que surge em sua mente é pena, aborrecimento, contrariedade pelo estado da criança. Em seguida vem a vontade de fazer justiça e com isso o pensamento de criticar o governo e os demais seres humanizados que não fazem nada por aquela criança. Se ao invés de viver todas estas emoções que surgem da contrariedade você auxiliar aquela criança dando-lhe o que comer e providenciando para que ela tenha melhores condições de vida, não estará fazendo mais bem a ela do que se entregando a estas emoções? Claro que sim. Estará, também, fazendo mais bem a você, porque estará agindo inteligentemente.

Diga-me uma coisa: o que a sua pena, a chateação e a raiva de quem não ajuda pode fazer por aquela criança? Nada... Estas emoções apenas servem para tirar a sua paz e tranqüilidade, ou seja, servem apenas para que você se afaste de Deus. Por isso, aquele que opta por fazer alguma coisa ao invés de se entregar às emoções que surgem da contrariedade é inteligente.

Este é o inteligente emocional. É aquele que ao invés de entregar-se à vivência da emoção que surge da contrariedade age, se possível, para consertar aquilo que o contraria. Mas, se ele encontra algo que não pode consertar, como por exemplo, a opinião de outro. Como agir inteligentemente neste momento? Observando a oração dos Alcoólicos Anônimos:

Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária

para aceitar as coisas que não podemos modificar,

coragem para modificar aquelas que podemos,

e Sabedoria para distinguir umas das outras.

Esta oração, que se chama ‘Oração da Serenidade’ é uma arma que o espiritualista tem para alcançar a inteligência emocional e com isso promover a sua reforma íntima. Que adianta você se contrariar com algo se não pode mudar. É preciso aceitá-lo como está. Esta é a inteligência do espiritualista.

O espiritualista é aquele que, por causa da sua busca, age quando pode, mas quando não pode, ao invés de se entregar às emoções da natureza humana, permanece sereno. É aquele que ao invés de aceitar as emoções propostas pela mente, permanece em estado de oração, ou seja, em ligação com Deus.

Como Cristo disse, é preciso orar e vigiar. O espiritualista que alcança a inteligência emocional é aquele que vigia sua mente. Desta vigilância, descobre os pensamentos que geram emoções que estão ligadas à contrariedade. Identificando estes pensamentos, o espiritualista verifica se pode acabar com aquilo que não concorda. Se puder altera o acontecimento; se não puder, mantém-se em relação amorosa com Deus.

No caso da criança suja e faminta, o espiritualista que pode ajuda; aquele que não pode diz: seja feita a vossa vontade, Senhor. Ele é inteligente, porque escolhe o que é melhor para ele: permanecer ligado a Deus e, por isso vivendo a felicidade que Ele tem prometido.

Participante: e a fé que Cristo também disse que devemos ter para sermos perfeitos?

Não podemos falar de nada sem antes conhecer sobre o que se está falando. O que é fé? É a emoção que nutre aquele que se entrega a alguma coisa ou pessoa com confiança.

Ora, se você quando não consegue mudar alguma coisa se entrega a Deus, o que está fazendo? Tendo fé...

Mais uma vez entra aqui a incompreensão de vocês sobre as coisas não materiais. Fé é apenas entregar-se com confiança a alguma coisa. É algo racional, não no sentido de se entender alguma questão para poder confiar, mas apenas em manter a sua serenidade quando não consegue extinguir a causa da contrariedade.

Portanto, estamos falando da fé que Cristo disse que os seres encarnados devem ter para poder alcançar a perfeição.

Participante: mas, como posso ser feliz sentindo raiva?

Realmente para o ser humanizado fazer isso é algo utópico, pois ele se identifica tanto com as consciências criadas pela mente que não consegue se imaginar vivendo outra coisa senão aquilo que a personalidade humana cria. Estes, no entanto, são aqueles que não são emocionalmente inteligentes. Eles se entregam sem luta a tudo o que a mente cria.

Já os que buscam a reforma íntima tornam-se emocionalmente inteligentes e por conta dela sabem que a emoção que imaginam estar sentindo é só uma razão criada através de um pensamento e que por isso é algo da mente e não o que ele está sentindo. Por conta da sua inteligência emocional, eles sabem que toda dor e sofrimento que vivem é apenas uma criação mental gerada por um pensamento e não o que eles estão sentindo. A partir desta consciência encontram, então, o verdadeiro caminho para a reforma íntima: mudar o seu relacionamento com o pensamento.

A reforma íntima que leva o ser a aproveitar a sua encarnação como instrumento de sua elevação não se consiste em mudar o conteúdo do pensamento. Até porque, comumente os pensamentos que se tornam conscientes são na maioria das vezes dado por seres que não estão encarnados. São idéias que surgem na mente aparentemente do nada. Por conta do apego que o ser encarnado tem à mente, não consegue distinguir o que é idéia dele e a que lhe é sugerida como provação. Desta forma, muitas vezes a simples troca de um conteúdo de um pensamento pode ser realizada pelos seres extracorpóreos e aquele que está encarnado pode pensar que ele realizou alguma coisa.

Reformar-se é mudar a forma de relacionar-se com os pensamentos que lhe são dados. É deixar de acreditar que é você quem está pensando. É deixar de crer que é você quem está vivendo aquela situação, que é você que gosta ou desgosta de tal coisa.

Sendo assim, posso afirmar que ser feliz não é deixar de ter o pensamento que lhe diz que você está sentindo determinada emoção, mas manter-se neutro seja ao júbilo ou ao sofrimento que está embutido nele. A felicidade que Deus tem prometido é, dentro da percepção humana, a vivência das emoções que a mente cria sem deixar-se levar por elas. É o estado de neutralidade que você alcança quando a mente lhe diz para sentir-se jubiloso ou pesaroso.

Mas, como lidar desta forma com o pensamento? Sabendo que a consciência que está recebendo da mente naquele momento é só um pensamento e não uma emoção que você está sentindo. Sabendo que o seu júbilo e o pesar são apenas idéias geradas pelas mentes e não realidades que não podem deixar de ser vividas.

Isto é a inteligência emocional aprender a lidar com os pensamentos que declaram que você está sentindo tal ou tal emoção mantendo-se neutro com relação ao que a mente propõe que você sinta. Quem se torna inteligente emocionalmente consegue alcançar esta neutralidade e com isso promove a sua reforma íntima; quem não consegue, segue nesta existência como subordinado da mente e vive a vicissitude do prazer e da dor.

Portanto, o ponto de partida para aquele que quer aproveitar esta encarnação para elevar-se é tornar-se emocionalmente inteligente. Para isso é preciso ter a consciência de que não existem emoções, mas sim um pensamento-emoção. A partir desta consciência, aquele que quer reformar-se, executa o trabalho de alterar a sua forma de relacionar-se com o pensamento-emoção.

Foi para ajudar neste trabalho que estamos conversando há muito tempo. Tudo o que conversei com vocês até hoje foi para lhes ajudar a ter uma inteligência emocional, ou seja, saber reconhecer o pensamento-emoção como apenas uma idéia gerada pela mente e não como um sentimento.

Durante nossas conversas sempre acabo trazendo informações sobre assuntos que aparentemente são idéias novas sobre as coisas do mundo. O ser humanizado que me ouve acha, então, que descobriu uma verdade universal, uma verdade irretocável. Eu nunca ensinei nada que não possa ser contestado por qualquer um, ou seja, eu nunca trouxe uma idéia que deva ser acreditada como absoluta.

Todas as informações que trouxe ao longo de nossas conversas nunca tiveram o objetivo de lhes ensinar nada. O que objetivei quando lhes dizia que determinada informação não era como vocês acreditavam é lhes ajudar a questionar o que estava nas suas mentes como verdades absolutas. Fiz isso para que vocês aprendessem a conviver com as informações mentais que possuem sem apegar-se a elas como verdadeiras.

Quando digo, por exemplo, que no Universo tal coisa é compreendida de forma diferente da que você entende, não estou criando um novo padrão para aquilo, mas sim lhe ajudando a libertar-se do valor de verdadeiro que dá à informação que tem. Infelizmente muitas vezes este objetivo não foi entendido e vocês tornaram verdades aquilo que foi dito. Com isso apenas mudaram o conteúdo das informações que dispõem ao invés de aprenderem a lidar com a mente.

Sei que vocês se preocupam muito com a inteligência-saber, cultura. Querem entender tudo... Mas, o saber não leva nenhum ser a conseguir a elevação espiritual. Aliás, Deus seria muito safado se mandasse o espírito para um mundo diferente do seu e com sua consciência primária encoberta pelo véu do esquecimento para aprender as coisas espirituais. Portanto, neste mundo, para o espírito, não há nada a ser sabido.

A inteligência cultural não ganha jogo, não pode ajudar o ser agora humanizado a ser feliz de jeito algum. Pelo contrário: a quantidade de saber pode contribuir para que ele não consiga viver a felicidade que Deus tem prometido. Só a inteligência emocional é que pode ajudar o ser encarnado a alcançar esta felicidade. Para isso ele precisa aprender a lidar com o pensamento-emoção.

Mas, como lidar com isso? É o que vamos ver agora...

Hoje vocês já lidam com o pensamento-emoção. Como aqui não existem crianças pequenas, posso afirmar que estão encarnados há algum tempo e por isso já lidam com o pensamento-emoção há algum tempo. Só que lidam como ele de uma forma infantil... O que quer dizer isso?

Lidar com o pensamento-emoção de uma forma infantil é seguir o que ele propõe: se ele diz que deve sofrer, você vivencia a depressão da dor; se diz que deve vivenciar o júbilo, entra logo no êxtase do prazer. Ou seja, você lida com o pensamento-emoção de uma forma infantil ao não questionar as consciências que a mente cria.

Chamo quem lida desta forma com as criações mentais de infantil porque assim como uma criança, ele não questiona nada do que lhe dizem. Se você disser alguma coisa a uma criança, mesmo que aquilo seja completamente impossível de existir ou acontecer, ela acredita. A mesma coisa acontece com aquele que não é emocionalmente inteligente, ou seja, que não raciocina as informações que a mente cria. Vou dar um exemplo para ficar claro o que estou dizendo.

Quantas vezes a sua mente já não atribuiu intencionalidade para a ação de outros? Através de pensamentos, a mente lhe afirma que aquela pessoa agiu de determinada forma objetivando conseguir algo, mesmo que esta intencionalidade não esteja transparente no que ele fez. Será que esta intencionalidade é real?

Será que alguém pode saber o que vai por dentro do outro? Será que alguém tem capacidade de conhecer o mundo interno de outra pessoa? Acho que não. Acho que pessoas que conseguem ler a mente dos outros ainda não existem, não é mesmo? Mas, mesmo assim, vocês acreditam no que a mente afirma que o outro está pensando ou pretendendo ao agir de determinada forma.

Isso não é ser infantil, não é relacionar-se com a mente de uma forma infantil? Se você fosse maduro questionaria o que a mente está dizendo ao invés de aceitar simplesmente. Se questionasse, veria que é impossível para ela saber o que vai ao íntimo do outro e com isso não acreditaria no que ela está dizendo. Não crendo naquilo que ela afirma, poderia, então, libertar-se da ação emocional que ela propõe. Eis aí a forma de manter-se sereno, mesmo quando a mente diz que você deve sentir raiva.

O ser que se relaciona infantilmente com o que a mente afirma é um inconseqüente espiritual, pois troca a vivência da felicidade que Deus tem prometido pela subserviência à mente. Vista desta forma a ação deste ser, posso dizer que a mente para ele é como o bezerro de ouro que Moisés encontrou o povo israelita adorando depois de subir ao monte Sinai.

Acreditar piamente no que a mente afirma sobre os outros é uma das formas infantis que vocês usam para relacionar-se com os pensamentos-emoções. Mas, existe outra relação que vocês nutrem com ela que também demonstra a infantilidade deste relacionamento: a esperança de alcançar o que ela promete.

Quem aqui nunca foi movido pela esperança de ganhar alguma coisa? Quem aqui nunca perdeu a sua serenidade por conta de uma promessa de ganhar algo? Acho que todos, não? E o que conseguiram na maioria das vezes em que se entregaram a este sonho? Decepção...

Os pensamentos gerados pela mente têm a característica de prometer ao ser humanizado que se ele agir de acordo com aquilo que ela propõe conseguirá atingir objetivos, ganhar determinadas coisas. No entanto, o que vemos são pessoas frustradas na maioria das vezes porque não conseguiram chegar ao ponto desejado. Será que vocês ainda não compreenderam que apenas seguirem o que a mente diz para fazerem não garante o sucesso? Quantas vezes já agiram fielmente aos seus pensamentos e não conseguiram alcançar o resultado esperado?

A vida vive a vida. Os acontecimentos precisam do seu trabalho para acontecer, mas não dependem só dele. Existem milhares de outros fatores que influenciam os acontecimentos da vida e que podem levar a um resultado diferente daquilo que vocês objetivam, por mais que operem com afinco seguindo as orientações da mente. Ou seja, a promessa de se conseguir atingir determinado objetivo que é feito pelo pensamento-razão depende de fatores que fogem ao seu controle e por isso são meras quimeras.

O maduro espiritualmente sabe disso e por isso, mesmo seguindo o que a mente planeja, não se entrega ao pensamento-emoção vivendo a esperança de conseguir. Ele faz tudo o que a mente lhe diz para fazer, mas não vivencia a esperança de atingir o resultado que ela oferece. Já os que se relacionam com os pensamentos-emoções de uma forma infantil acreditam sempre que vão encontrar o pote de ouro no fim do arco íris e por isso sofrem antes, durante e depois da busca. Sofrem antes com a preocupação se estão certos, durante com a ansiedade de chegar logo ao fim dele e quando chegam lá sofrem, pois na maioria das vezes não há pode de ouro algum a ser encontrado.

Eis aí as duas características do relacionamento infantil com a mente: crer e confiar nos pensamentos-razões que ela cria. Quem age desta forma, quando ela cria o pensamento-emoção da frustração e da desconfiança vivencia também as emoções que ela determina e por isso perde a sua serenidade. Mas, existe outra forma de se lidar com o pensamento-emoção: a forma madura.

Como se lida com o pensamento-emoção maduramente? É o que já falamos: agindo quando possível para acabar com a contrariedade e entregando-se a Deus quando isso não é possível. Vu dar um exemplo para podermos entender a interação do ser humanizado maduro com os pensamentos-emoções.

O pensamento-emoção diz que você foi humilhado num determinado momento. A criança vai chorar, sofrer, ter raiva, sentir-se mal. O ser humano adulto, ao invés disso, responde à mente: 'Está certo, fui, mas o que é que você quer que eu faça? Posso reagir buscando provar que não sou o que ele diz que sou. Posso isso e muito mais, mas me sentir humilhado vai resolver alguma coisa'?

Essa é a inteligência emocional. O ser humano maduro é inteligente emocionalmente porque sabe conviver com a emoção. Ele não aceita a emoção quando a mente lhe diz que deve tê-la. Ele questiona: 'Para que vou sentir raiva, para que vou me sentir humilhado, para que sentir prazer? Isso vai resolver alguma coisa na minha vida? Não, então não quero isso'...

O que não resolve não adianta... Adianta você ficar chorando no canto porque uma pessoa morreu? Adianta chorar no canto porque veio uma onda gigante e matou diversas pessoas? Vai resolver alguma coisa chorar? O melhor não seria pensar assim: 'Depois eu choro, agora vou ajudar quem ficou vivo e enterrar quem morreu'.

Esse é o ser maduro: aquele que encara a realidade de frente e não com os pensamentos-emoções. É simples assim... Mas, para isso preciso querer crescer. É sobre isso que já conversei diversas vezes...

Mas, quando tento acordar vocês, algumas pessoas reclamam dizendo que estou sendo duro, que não queria que eu chamasse tanto a atenção de vocês. Mas, não é assim que se faz com criança? Com crianças, você tem que brigar, pois elas muitas vezes não entendem o que está sendo ensinado. Às vezes, para poder se ensinar às crianças alguma coisa, temos que falar duro e seco. Com isso as despertamos do mundo de fantasias que vivem...

Para não se sentirem magoados ou feridos com a forma que falo, é preciso que entendam que devem despertar. Para isso é preciso se conscientizar que vocês não têm a menor inteligência emocional. Lidam com os pensamentos-emoções como crianças, aceitando qualquer coisa que a mente disser que têm que sentir ao invés de maduramente raciocinar o sofrimento, o pensamento-emoção.

Adianta sofrer porque roubaram o seu carro? Não vai trazê-lo de volta... Adianta reclamar do bandido que o levou dizendo que ele não presta, que é um safado, ter raiva dele, se isso não vai trazer o carro de volta? Ele já está roubado... O que você tem que pensar agora é em como arranjar outro ou tentar recuperar aquele, se possível...

Esse é o ser humano adulto: aquele que ao invés de se entregar à mente, para e raciocina. Aliás, raciocinar a vida é algo que vocês esqueceram. Falo em raciocinar a vida não para entendê-la, para querer saber o porquê das coisas, como elas acontecem ou que futuro surgirá deste presente. Não é esse raciocínio que estou me referindo. Esse é um raciocínio cultural; estou falando de emocional: aprender a raciocinar os pensamentos emoções que constituem a sua vida.

Quantas vezes eu já disse para as pessoas que reclamavam de alguém assim: 'você está aqui chateada, nervosa, preocupada, mas o outro de quem está reclamando está lá feliz da vida'. Para as mães que reclamavam que o filho não arrumava a cama, dizia: 'Você está chateada porque não arrumou a cama, mas, neste momento, ele está lá feliz namorando. Está chateada por quê? Quer a cama arrumada, vai lá e arruma'... Aí as mães me diziam: 'Mas eu quero que ele arrume'... Isso não é uma criança que bate o pé quando a vida não lhe dá o que ela quer?

Então, é simples assim: é só amadurecer... Idade não dá maturidade a ninguém: é preciso ser maduro para estar maduro. E, ser maduro, é enfrentar os pensamentos emoções que a mente cria de frente...

Será que compensa o sofrimento? Será que compensa a tristeza? Só quem sai perdendo é você mesmo... Como disse, muitas vezes o causador de tudo isso está feliz da vida e você está aí chorando, sofrendo...

Todo trabalho que estamos fazendo é neste sentido: dar-lhes argumentos para que você saibam enfrentar a vida de uma forma madura e não como crianças. Saibam enfrentar os pensamentos-emoções como gente grande que dizem ser. Ou seja, de uma forma inteligente.

Quando falo que não existe filho, que a mãe tem que perder a idéia de ter tido um filho, eu não estou querendo acabar com o seu filho, porque isso nunca vai acabar. Mas, enquanto você for uma criança e achar que possui o outro, vai agir de uma forma infantil com o filho. Ou seja, exigirá que ele faça o que você quer, já que é a mãe... Para que você seja feliz, pare de achar que ele tem que fazer o que você quer, pois é a mãe e manda nele...

Quando mostro a armadilha que a mente cria ao dizer que você é mãe ou pai, estou querendo lhe dar armas para saber enfrentar o pensamento-emoção. Quando o pensamento lhe cobrar algo do seu filho, não caia na dele. Quando amadurece, você deixa de esperar que ele lhe ouça. Livre disso, fala, mas não exige que ouça e com isso pode libertar-se do sofrimento que vem sempre quando isso acontece.

Acho que com este termo (inteligência emocional) estou deixando a coisa bem clara. O que estamos conversando não tem nada a ver com espiritualismo, universalismo ou qualquer 'ismo' desses. É simplesmente o que a psicologia chama de saber lidar com as emoções, de inteligência emocional. É preciso alcançá-la, mas sem a maturidade, sem entender que você não é mais uma criança que precisa que o mundo lhe satisfaça, não vai conseguir.

Como você vai conseguir rezar de uma forma madura se ainda espera que Deus lhe dê o que quer? Como pretende viver num mundo em felicidade se as guerras nunca acabaram e nunca acabarão? Se as injustiças nunca acabaram e nunca acabarão? Sonhar com o paraíso na Terra é utopia, é coisa de criança presa ainda aos livros infantis...

Saibam de uma coisa: o bem nunca vai vencer o mal completamente. O bem jamais acabará com o mal, pois na hora que acabar o mal não existe mais o bem... Saibam de uma coisa: as violências, os assaltos, nunca vão acabar; as desigualdades sociais também não. Então, não precisa sofrer por isso... Estas coisas sempre existiram e sempre existirão... Até porque, se acabassem, o Universo se desequilibraria. O mal é o equilíbrio do bem. Ele existe para que o bem possa existir.

Portanto, esqueçam... Parem de brincar de Peter Pan...

Parem de brincar de paladinos da justiça lutando contra os piratas. Parem de se sonhar em voar com a fada Sininho. Parem de sonhar em viver num mundo onde todos só cantem e dancem. Isso não existe... Isso é coisa de gente infantil. E quem é infantil, não alcança a inteligência emocional...

Participante: Para raciocinar a infantilidade dos pensamentos é preciso ter pensamentos maduros. O pensamento maduro só questiona e observa a infantilidade dos pensamentos?

Eu não disse que o pensamento é infantil. Infantil é você que aceita o pensamento e não ele mesmo.

Também não falei para você ter pensamentos maduros, mas para reagir ao pensamento-emoção de uma forma madura. É você que tem que ser maduro e não o pensamento...

O pensamento não é maduro ou infantil; ele é o que é. É a sua forma de lidar com ele que vai determinar a sua maturidade e não ele próprio.

Participante: Quando fazemos planos para a vida desejamos coisas. Como usar a inteligência emocional neste momento?

Sabendo que você faz planos para a vida desejando ter coisas, mas sabendo também que só desejar não adianta. Se quiser ter, tente ter, mas não viva a tentativa com a certeza que conseguirá, pois senão a viverá em agonia...

Maduro é aquele que quer ter um carro e junta dinheiro para isso. Mas, enquanto não tem, anda de ônibus sem reclamar... Infantil é aquele que fica rezando a Deus assim: 'Ah, meu Deus, eu preciso tanto de um carro. Por que eu não consigo comprar um carro? Eu estou desesperado... Não agüento mais este ônibus'...

Sentiu a diferença?

Participante: Me sinto sempre confuso diante das situações e relacionamentos. Acho que tenho dificuldades em perceber e identificar as minhas emoções. O que pode ser?

Dificuldade de perceber e identificar as suas emoções...

Sentindo-se confuso, observe a confusão que está, mas não a viva. Não queira deixar de sentir-se assim, pois senão se desequilibrará: não quer estar, mas está...

A única forma de fugir destas emoções é constatar que está confuso. De nada adianta querer não estar confuso, pois você está. Se quiser deixar de estar, vai viver todas as emoções criadas pelas mentes por conta disso...

Você deve se conscientizar de que está confuso e compreender que não pode estar de uma maneira diferente naquele momento, pois está assim. Se quiser não estar, vai sofrer porque está. Ficará amargurado, ansioso, preocupado ou contrariado porque está confuso. Quando você só vive o que tem para viver no momento (neste caso, a confusão), não precisa sofrer por causa disso...

Esse é o ser maduro. O ser que age com emoção de uma forma inteligente: não luta contra ela e nem a vive... Ele simplesmente reconhece a emoção e não aceita a proposição que o pensamento emoção traz.

Participante: Estou me sentindo frustrado. Como saio disso?

Frustrado com o quê? Você tem que ser claro para você mesmo. É preciso saber por que está se sentindo assim, que argumento a mente está usando para lhe propor frustração...

Participante: Por causa da minha situação atual de vida. Estou sem trabalho e fico em casa o dia inteiro sem fazer nada. Isso me deixa frustrado...

Você está com um pensamento-emoção de estar frustrado por não estar trabalhando. Mas, sentir-se frustrado vai resolver o seu problema? Vai lhe dar emprego? Vai fazer cair dinheiro do céu? Não... Então, conscientize-se de que está desempregado mesmo, que não tem jeito e que a única coisa que pode fazer é ficar à toa o dia inteiro...

Sei que você tem procurado emprego, mas esta é apenas uma ação física. O que lhe falta fazer é a silenciar a mente que diz que não pode ficar à toa o dia inteiro. Para isso, diga: 'Não tem jeito, mente... Estou buscando emprego e não consigo nada. Se você conseguir que eu seja aprovado em algum lugar, eu paro de ficar à toa'.

Para você acabar com o pensamento emoção precisa enfrentá-lo com a realidade. A realidade é que você não tem emprego e que obtê-lo não depende de você. Faça a sua parte e tenha a consciência que o resto não depende de você. É a história bíblica: bata que eu abrirei. Faça a sua parte, mas quem vai abrir a porta não é você.

Portanto, mande seu currículo para todos os lugares que souber que estão precisando de pessoas com sua experiência e diga à mente: 'a minha parte estou fazendo. Por isso não aceito a frustração que você está me dando. Eu estou correndo, procurando, me esforçando. Agora, não vou sair de casa todo dia só para sentar na esquina se não tenho nenhum lugar para ir... Fazer isso seria uma idiotice'...

Enfrente a vida com realidade, de uma forma madura. Criança é aquele que acha que perdeu um emprego hoje arruma outro logo depois. O ser maduro sabe que a única coisa que ele pode fazer é a sua parte. Por isso não aceita angústia, o sofrimento, a frustração por não ter emprego.

Sei que vocês devem estar estranhando, pois o que estou dizendo é para serem racionais... Sim, para ser feliz é preciso ser extremamente racional, pois quem é assim não vive as emoções que a mente cria. Quem racionaliza a vida não é um emotivo e quem é emotivo sofre ou tem prazer, pois estas são as duas únicas emoções que a mente sabe criar...

Alcançar a inteligência emocional é deixar de ser emotivo. É saber lidar com a realidade sem se deixar levar pela emoção.

Mas, como se combate a emoção? Enfrentando-a de frente... 'Eu não vou aceitar essa frustração que você está me dando porque não fui eu que causei tudo isso. Não estou aqui sentado esperando o emprego cair do céu. Estou buscando arrumar outro emprego, sair dessa, mas não consegui. E a frustração não vai resolver, não vai me fazer achar emprego nenhum... Enquanto estiver desempregado, vou viver o desemprego; na hora que achar um, aí sim vou viver o estar empregado'.

Participante: Estancar a emoção é o mesmo que desacreditar na mente?

Exatamente...

Repare, você estanca a emoção e não o pensamento. Quer dizer, vai continuar tendo pensamento de estar frustrado por não ter o emprego, como no caso anterior, mas não vai estar frustrado por ter este pensamento...

Estancar a emoção é exatamente isso: ter o pensamento-emoção sem ter a própria emoção. É ter o pensamento-emoção de estar com raiva sem ter raiva...