Emoções

Ser equânime

“6. Superando o carinho que tens pelos parentes e amigos e renunciando a tudo, anda pelo mundo com um perceber equânime e fixa a tua mente completamente em Mim” (Bhagavad Gita – Capítulo 2)

Conselho do espírito lúcido (Krishna) aos seres humanizados: supere o carinho que você tem pelos amigos e familiares. Vamos entender isto, mas antes de tudo me deixe falar algo. Quando se fala em amigos e parentes não pense apenas nas pessoas, mas também nas “coisas” que são suas “amigas”.

Participante: Os animais...

Tudo o que você gosta, que quer bem, que tenha carinho. Supere este sentimento que tem por determinadas coisas. Porque você tem que superar o carinho, por exemplo, pelo seu marido, se quiser alcançar a felicidade que Deus tem prometido? Porque ele não é seu marido.

Participante: É um vínculo irreal...

Sim, é um vínculo que vale apenas para esta vida.

Participante: Mas se este é o meu marido e não outro e eu gosto dele, eu tenho que estar com ele, não? Tudo que sinto e compreendendo a respeito dele é o que eu preciso e escolhi para vivenciar nesta encarnação com a finalidade de alcançar a elevação espiritual, não?

Perfeito. Você está ao lado dele: isto é fato e não pode ser mudado agora. Se amanhã abandoná-lo será um novo presente, uma nova Realidade. Portanto, superar o carinho que tem por ele não é abandoná-lo, mas, como Krishna mesmo orienta neste trecho, mas ter um perceber equânime com relação a ele.

O que quer dizer equânime? Igualdade de ânimos. Juntando as duas coisas, então, o que deve fazer para superar o carinho que tem por ele? Ser equânime no relacionamento com ele e com todo mundo.

Para seguir o ensinamento do mestre, você não deve amar o seu marido mais do que a outro homem. Tem que ter igualdade de ânimo, ou seja, relacionar-se com ele com o mesmo sentimento com o qual se relaciona com todos os demais seres humanos.

Você precisa aprender a ter o mesmo ânimo entre um bêbado caído no meio da rua e o seu marido, pai ou irmão. Isto é elevação espiritual: amar a todos igualmente. Foi isto que Cristo ensinou quando falou que você precisa abandonar pai e mãe e pegar a sua cruz para poder ser seu seguidor. Foi isto que ele quis dizer quando afirmou que veio para colocar filhos contra os pais, filhas contra as mães e as noras contra as sogras E concluiu: “E assim os piores inimigos de qualquer pessoa serão os seus próprios parentes”.

Sim, o pior inimigo de um espírito encarnado são os seus parentes e amigos, ou seja, aqueles por quem o ser humanizado tem uma animosidade diferente de outros.

Destruir o afeto privilegiado que se tem por pessoas, animais ou objetos em detrimento a outros é o caminhar equânime. Mas ele só será alcançado quando se superar o carinho adicional com o qual se trata um determinado espírito que se reconhece, por exemplo, como marido.

Ele não é seu marido, está marido. Ele também é um espírito e como tal pertence, assim como você, à família universal. Ele não é seu marido, mas seu irmão em Deus. Mas, o bêbado da esquina também é seu irmão em Deus e o assassino e o ladrão também. Todos os espíritos são seus irmãos em Deus.

Viver com esta consciência é o caminhar equânime que Krishna ensina: viva esta vida com tudo e com todos dentro da mesma igualdade de ânimos. E, se este comentário faz parte deste livro que objetiva a ensiná-la a controlar a sua mente (Bhagavata Puranas – O Senhor da Mente), podemos, então, começar a falar de prática ou de um dos trabalhos do senhor da mente é ser equânime.

O senhor da mente precisa controlar as verdades que a mente cria e que diferenciam as coisas e lhe dá ânimo diferente entre elas.

A mente vai lhe induzir afirmando que aquele homem é seu marido e por isso precisa gostar mais dele do que dos outros. Além disso, lhe dará a sensação de amor carnal por ele, o que o diferencia dos demais seres humanos, mas você precisa agir para não viver esta emoção.

Em outro momento, a mente vai dizer sobre outro homem que ele é um bêbado, um homem à toa e que por causa deste vício a mulher e os filhos desse homem estão passando fome. Também lhe dará a sensação de desgostar de tal pessoa, mas você precisa controlar esta sensação para não se sentir assim.

Este é o caminho para se viver a felicidade que Deus tem prometido.

Participante: Acredito que o caminho para se alcançar isso deve ser primeiro aprender a amar aqueles que estão mais próximos de nós para depois chegar àqueles que nos são estranhos.

É ao contrário. Você só vai amar os estranhos na hora que não viver o amor por aquele que está próximo. Você precisa aprender a não amar o próximo primeiro, para só depois poder amar o estranho.

Pode parecer estranho falar em não amar alguém, mas, quando digo isso, estou falando no amar emoção, ou seja, num pensamento-emoção amor e não o amor universal.

O que você tem pelos seus próximos não é amor universal, mas amor carnal, um pensamento emoção. Na verdade, a sensação com a qual se relaciona com seus parentes lhe é dada pela mente e não provém do espírito.

O pensamento-emoção amor é individualista (ama mais a um do que a outros), é possessivo (é meu) e é baseado na aplicação de uma justiça individualista (eu gosto). Ele não é universal (igual entre todos) e nem eterno, pois só dura esta encarnação. Na próxima, dependendo do papel vivenciado por você e este espírito, poderá odiar este mesmo irmão em Deus.

Por isto afirmo que você precisa deixar de amar a quem a mente diz que tem que amar para poder viver na plenitude o amor universal com todos.

Participante: Então, o caminho é começar a tentar não amar ele (meu marido), meus familiares...

Sim, o caminho para se viver a felicidade que Deus tem prometido para pela não vivência do pensamento-emoção amor que sente por alguns seres humanizados.

Participante: Então, não é deixar de amar, mas aprender a amar universalmente cada um.

O trabalho é libertar-se do amor privilegiado por alguns e não o aprendizado do amor universal.

Como estamos falando desde o início deste trabalho não há como se fazer, criar, aprender nada novo sem a interferência da mente. Trabalhando no sentido de construir uma nova base de relacionamentos, esta será ditada pela mente e por isso não será um amor universal. O único trabalho que executa aquele que quer viver a felicidade que Deus tem prometido é a libertação da verdade imposta pela mente e não a construção de algo que não exista nela.

Participante: Poderia chamar o pensamento-emoção de paixão?

Depende do tempo de casamento. Nos primeiros dois anos é paixão, depois vira posse.

Participante: Pensando bem o pensamento-emoção amor é mesmo uma coisa egoísta.

É porque, mesmo para aquele que diz amar o próximo, primeiro ama ele mesmo, o que ele quer; em segunda ou terceira opção ainda prevalece o seu desejo individual. Só lá pela centésima opção talvez este ser humanizado pense em abrir mão de um desejo individual para amar o do próximo.

Quando falo isso muitos dizem que estou exagerando: há pessoas que conseguem doar-se ao próximo. Mas, será que estão se doando mesmo? Vou dar um exemplo. Quando você deixa seu marido fazer o que ele quer porque quer agradá-lo, em quem está pensando? Claro que é em você, em fazer aquilo que quer: deixá-loele fazer o que quer. Não está fazendo por ele, não está fazendo para servi-lo, mas para atender a si mesma, para agradar o seu desejo de servir. Sempre que você raciocina e chega a uma conclusão e a coloca em prática, mesmo que esta seja servir o próximo, está servindo a si mesma, porque esta fazendo o que quer. Para poder servi-lo realmente seria preciso que não houvesse este querer individualizado que busca ser satisfeito antes de tudo. Seria preciso estar equânime com a situação, ou seja, sem desejo algum para poder realmente servir.

Então, este é um dos trabalhos daquele que quer ser emocionalmente inteligente: extinguir a predileção emocional que possui por determinados seres ou objetos. Aqui começa a caminhada para a elevação espiritual.

Quem busca aproximar-se de Deus precisa aprender a controlar as sensações não equânimes que a mente propõe. Elas não são suas verdades ou realidades, mas, apenas por ainda estar subjugado pela mente você acredita que sejam suas. Você acha que gosta mais de seu parente do que do bêbado, mas isto não é verdade: você é um espírito e como tal ama a todos igualmente. Mas, a sua mente lhe faz crer que gosta mais deste do que daquele e para tornar esta sensação real lhe dá milhares de razões racionais.

Chegamos, portanto, a mais um trabalho que deve executar aquele que quer ser emocionalmente inteligente: não sentir as emoções diferenciadas entre os espíritos encarnados que a mente cria. Para isso é preciso mergulhar profundamente no oceano do conhecimento sobre si mesmo ao invés de viver na superficialidade da crista da onda que contém o que a mente lhe dá.