A sabedoria de Salomão

15ª Sabedoria - Os tentáculos da verdade individual

“Eu usei a minha sabedoria para examinar tudo isso. Esta resolvido a ser sábio, mas não conseguia alcançar a sabedoria. Como é que alguém pode descobrir o sentido das coisas que acontecem? Isso é profundo demais para nós e muito difícil de entender. Mas eu resolvi estudar e conhecer as coisas. Esta decidido a encontrar a sabedoria e a achar as respostas para as minhas perguntas; queria saber porque a maldade e a falta de juízo são loucura.

Eu encontrei uma coisa que é mais amarga que a morte – um certo tipo de mulher. O amor que ela oferece é uma armadilha ou uma rede para pegar você; os seus braços são correntes para prende-lo. O homem que agrada a Deus consegue fugir dela, mas o pecador não. Eu descobri isso pouco a pouco, quando procurava respostas para as minhas perguntas. Procurei outras respostas, mas não encontrei nenhuma. Entre mil homens encontrei um que poderia respeitar, mas entre as mulheres não achei nem uma. Tudo o que aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo.

Somente os sábios conseguem explicar as coisas. A sabedoria de uma pessoa brilha no seu rosto e a torna simpática mesmo que seja feia”.

Salomão foi raciocinar os acontecimentos a partir da lógica humana e nada conseguiu. Tentou conhecer os acontecimentos a partir das regras, normas e padrões que o ser humano utiliza-se, mas acabou em um pântano lodoso. Afinal, como é que alguém consegue descobrir o sentido das coisas que acontecem? Isso é profundo demais para nós e muito difícil de entender.

Mesmo assim continuou perseguindo o objetivo pelo qual as coisas ocorrem de determinado modo. Descobriu uma mulher: as verdades individuais. O amor que ela oferece (o prazer) é uma armadilha, uma rede para pegar você: levá-lo a viver a vida individualmente.

Para isso, segundo Salomão, a verdade individual possui braços como correntes para prende-los. Esses braços são sensações que ocorrem quando o ser humano passa por um momento onde as verdades individuais se transformam realidade universal. Conheçamos os tentáculos que a verdade individual utiliza para nos prender.

O primeiro deles é a posse material. A verdade individual nos leva a compreender que as coisas materiais são nossas, que podemos ditar o destino delas. Sem essa posse não sofreríamos quando acontecesse aos elementos materiais algo que não queremos.

O segundo é a posse moral, o possuir as pessoas. Nos achamos dono dos outros: filhos, maridos, amigos, parentes. Todos os outros seres do universo são posse do ser humano. Por isso acredita que tenha a competência de interferir no destino deles. Quando isso não ocorre vem o sofrimento.

Sem a posse moral poderíamos conviver com as pessoas em perfeita igualdade. Hoje todos os relacionamentos se dão com base na submissão ou na dominância, pois se caracterizam pela submissão de um à verdade de outros.

Conviver em perfeita igualdade é dar a liberdade de cada um agir da forma que quiser. Somos todos iguais por ter o direito de ser quem queremos ser. O tentáculo posse das pessoas das verdades individuais altera o relacionamento, transformando a igualdade em cópia.

O ser humano não concede a liberdade ao próximo, mas se acha superior e, por isso, pretende transformar todos em cópia de si mesmo. Isso jamais ocorrerá porque faltam a ele os elementos necessários para ser o padrão do universo. Esse é Deus e, por isso, o objetivo de todos é universalizar-se, ou seja, ser uma cópia de Deus.

Amando a mulher (vivendo com a verdade individual) há a garantia do prazer quando ocorre a transformação do próximo. É para viver esse amor (prazer) que o tentáculo posse das pessoas foi criado pelas verdades individuais.

Para manter o ilusório poder de possuir é que a mulher desenvolveu mais um tentáculo: aquele que lhe diz que você está certo. Quando vivemos aprisionados por esse tentáculo buscamos realizar apenas o que acreditamos que seja certo. Pelo desejo de transformar os outros em cópias queremos obrigá-los a agir como nós.

Esse tentáculo criou o último deles: a fé em si mesmo. Não confiamos em mais nada no universo: apenas em nós, no que acreditamos. Vivemos como se fosse o senhor do universo, servindo a nós mesmos, às nossas verdades.

O tentáculo da fé em si é a crença de que é o padrão do mundo. Dele é que saem todos os outros tentáculos. Se o nós tivéssemos a fé em Deus, mudaríamos toda a vida. Mas, para isso, precisaríamos viver uma história de amor com o Senhor do Universo e não com a formosa dama (verdades individuais).

Ao vivermos esse romance recebemos todos os benefícios que as verdades podem dar. Recebemos a satisfação, a sensação de ganhar sempre, a fama e os elogios inerentes à nossa atividade. Essas são as recompensas que o amor pela mulher (verdades universais) pode dar ao ser humano. Quando elas não são sentidas, o ser humano imagina que traiu a sua bem-amada.

Por isso tem medo da insatisfação, não quer jamais pensar em perder, alcançar a infâmia através de críticas. Foge dessas sensações, pois vivenciá-las é um adultério.

A partir dessas verdades criamos a forma de reagir aos acontecimentos. Para viver as sensações que a mulher nos oferece vemos sempre nas coisas universais discordâncias com nossas verdades. Não importa o que está acontecendo, o ser humano discorda primeiro.

Só nós possuímos a verdade e mais ninguém. Mesmo que a diferença esteja em um mínimo detalhe, fazemos questão de apontá-lo. Com isso demonstramos a posse sobre as coisas. Agimos movidos pela certeza de que somente nós possuímos a verdade do universo.

Para comprovar isso, apontamos injustiça nos acontecimentos com o próximo. Não nos aproximamos daquele que está sofrendo para aliviar a sua dor, mas para dizer que se nós fossemos o senhor do universo, jamais aquele ser humano passaria por aquela situação.

Como alcoviteiros dos tempos medievais fazemos política para a nossa futura candidatura à governante do universo. Garantimos ao próximo que agiremos sempre pensando nele, na sua satisfação, quando tomarmos o governo das coisas. Aparentemente estamos consolando o próximo, mas na verdade estamos impingindo erros a Deus para que o ser humano O destitua do cargo de Causa Primária da sua vida e coloque-nos em tal posição.

É um trabalho difícil, perigoso: estamos enfrentando o poder constituído desde que o universo começou a existir. Deus é uma super potência que governa o universo com Sua verdade desde sempre. A nossa ação é subversiva, se contrapõem à Autoridade legitimamente constituída.

Por isso estamos sempre com medo do próximo momento. Será que Deus descobriu alguma coisa? Será que descobriu nossa trama? Que castigo ele dará àqueles que estão contra Ele?

O medo, o pânico é uma realidade na vida do ser humano. Ele vive sempre atemorizado com o que Deus pode fazer ao descobrir as suas reais intenções: querer obter o comando das verdades universais.

Para que o medo, o sofrimento pelo pesar dos outros e a contrariedade possam acabar é preciso abandonar o caso amoroso com a mulher (verdades individuais). Para isso é preciso se libertar dos tentáculos que ela utiliza: a posse das coisas e das pessoas, a certeza de possuir a verdade gerada pela fé em si mesmo.

Com isso todas as sensações se extinguirão. O homem não mais buscará a satisfação nem terá medo da insatisfação, não precisará ganhar e nem temer a perder, não estarão atrás da busca da fama e nem temerão a infâmia, não buscarão o elogio e poderão receber críticas sem sofrimentos.

Ao final de tudo isso restará apenas um ser integrado ao universo. Participando da ação universal sem nada saber, materialmente ou sentimentalmente. Será alcançada então a perfeita harmonização com a vontade de Deus: a verdade universal.