A sabedoria de Salomão

6ª Sabedoria - A injustiça do mundo

“Neste mundo reparei o seguinte: no lugar onde deviam estar a justiça e o direito, o que a gente encontra é a maldade. Então pensei assim: “Deus julgará tanto os bons como os maus porque tudo o que se passa neste mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer”. Aí cheguei à conclusão de que Deus está pondo as pessoas à prova para que elas vejam que não são melhores do que os animais. No fim das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com os animais. Tanto as pessoas como os animais morrem. O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois têm de respirar para viverem. Como se vê, tudo é ilusão, pois tanto um quanto o outro irão para o mesmo lugar, isto é, o pó da terra. Tanto um como o outro vieram de lá e voltarão para lá. Como é que alguém pode ter certeza de que o sopro da vida do ser humano vai para cima e o sopro da vida do animal desce para a terra? Assim, eu compreendi que não há nada melhor do que a gente ter prazer no trabalho. Essa é a nossa recompensa. Pois, como é que podemos saber o que vai acontecer depois da nossa morte”? 

 

O tema dessa sabedoria será o estudo das dualidades que comentamos na anterior: o certo ou errado, bom ou mal. Faremos isso abordando a dualidade justiça e injustiça. Esse estudo servirá para compreendermos as dualidades ou individualismos do ser.

No entanto, antes de entrarmos no tema propriamente dito dessa sabedoria, convêm conhecermos dois aspectos da existência material: razão e instinto. Através da comparação de Salomão entre o ser humano e o animal (dois seres que se caracterizam pelo objeto do estudo) podemos aprender mais sobre a ação universal e o individualismo.

“Deus julgará tanto os bons como o os maus porque tudo o que se passa neste mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer”. Esse pensamento é a síntese de toda a sabedoria de Salomão. A ação universal é inexorável e imutável e origina-se no conhecimento que o Pai tem de cada um, das verdades individuais. Entretanto, não é dessa forma que o ser humano vê o mundo.

Ele acha que seus atos, na realização ou não, na intensidade e direção, são determinados por sua razão, ou seja, como resultado de uma ação mental chamada raciocínio. O homem percebe as pessoas, objetos e situações, raciocina sobre elas e executa uma ação coincidente com o raciocínio. Acha que tudo isso é livre, ou seja, executa livremente, sem interferência alguma. Será possível?

Os espíritas denominam a razão (resultado de um processo raciocínio sem sofrer influencias externas de outros seres) de livre-arbítrio. Mas, será que alguém é realmente livre para alguma coisa?

O que é raciocinar? O raciocínio é um processo de comparação das coisas com as verdades que cada um possui. Quando um acontecimento ocorre e o ser humano o percebe, compara o acontecido com verdades que possui. Se um dos instrumentos da ação percebida, por exemplo, está com um revolver na mão, o ser humano raciocina que ele é um agressor. Isso porque possui a verdade que revolver é um instrumento de agressão.

De onde, porém, surgiu a verdade que o revólver é um instrumento de agressão? Dos pais, da família, dos amigos, da escola ou da própria sociedade. Assim sendo, essa verdade não é do ser humano, mas do mundo, das outras pessoas, da compreensão planetária sobre o revólver. Mesmo que o ser jamais tenha sido agredido com um revólver para lhe dar a verdade de instrumento de agressão, esse objeto possui essa característica para o ser humano.

Quando o raciocínio utiliza essa verdade, não está utilizando valores próprios, mas de outros. Verdades alheias e não individuais. Acabou a liberdade de pensar, pois os valores do ser não são seus (formados livremente através da experimentação), mas transmitidos pela sociedade planetária.

Se a verdade utilizada foi imposta, o raciocínio não é mais livre, mas aprisionado ao daqueles que possuem as verdades. O ser humano não é mais livre para pensar, pois tem que raciocinar dentro da padronização do meio que vive.

É a isso que se chama de indução: o processo de adquirir verdades alheias e utilizá-las como verdades individuais. O ser humano não é, portanto, livre para pensar, pois é induzido pelo meio que vive a raciocinar de tal forma. Quem está raciocinado não é o ser, mas os hábitos e costumes da sociedade que está atrelado.

Acabou a liberdade para o ser porque o seu arbítrio é ditado pela sociedade que vive. Pelos hábitos e costumes, normas, regras e leis que fixam o certo e o errado, o justo e o injusto. Só isso já bastaria para extinguir com o livre-arbítrio imaginado pelo ser. Ele teria que se libertar desses parâmetros para realmente ser livre. Mas, existem os que querem preservar a sua individualidade afirmando que, ao aceitarem a verdade societária como sua, transformam a verdade dela em sua. Suas verdades podem até ser oriundas de uma verdade maior, mas a aceitação por sua parte gera a individualização da verdade.

No caso da arma, todos podem acreditar que ela é um instrumento de agressão, mas enquanto o próprio ser não crer dessa forma, aquilo não será verdade para ele. Para esses ser a sua verdade não é o que os outros acreditam, mas forma-se a partir da sua livre aceitação ou não da interpretação alheia. Por isso ela é sua verdade e não imposta pelos outros.

Engano. Não se aceita a verdade societária: ela é imposta e violentamente.

Você diz que passa a roupa porque gosta, mas tente sair sem passá-la? Será alvo de críticas, apontado como um bandido. Tente pedir ao seu chefe para ganhar menos do que ganha porque recebe um salário maior do que outro que faz a mesma coisa? Será taxado de débil mental, porque a verdade societária, que você diz que é sua, manda você ganhar sempre.

Tente viver como Jesus Cristo viveu. Será chamado de louco e se persistir pode inclusive acabar em um manicômio. Sabe quem lhe colocará lá? Os mesmos que estudam que ele é o caminho a verdade e a luz. O discurso da vida é um, mas a verdade é outra.

O ser humano não transforma a verdade societária em sua porque quer, mas para não ser marginalizado pela própria sociedade. Alguém em sã consciência se entregaria a combater as normas e regras que a sociedade impõe? Não, pois tem medo da reação dela. É mais fácil dizer que aceitou a verdade deles, que transformou em suas.

Assim, o ser humano não cria verdades individuais da coletiva porque quer, mas por ser coagido a isso. Onde a liberdade nesse processo? Se você tivesse mesmo o livre-arbítrio se entregaria aos seus desejos mais íntimos que não realiza por medo do que os outros irão dizer.

Enfim, essa linha de pensamento é um processo filosófico que depende da capacidade de libertar-se da razão para a perfeita compreensão em, por isso, não atinge aos mais apegados à visão ser humano. Nesse trabalho precisamos nos comunicar com todos e, por isso, é preciso colocar praticidade, ou seja, razão.

Só colocando razão (aquilo que o ser humano compreende) no ensinamento poderemos explicar o que está além da própria razão. Só questionando as verdades podemos destruí-las. Por isso, continuemos falando de livre-arbítrio.

O ser humano acha-se completamente livre do universo. Pode fazer e agir como bem entender. Essa forma de pensar nos dá o entendimento de que, se você quiser, pode, nesse momento, pegar uma arma e sair matando quem queira.

Isso é, para aqueles apegados a razão, um pensamento lógico, uma verdade que acontece periodicamente no planeta. Partamos, portanto, desse exemplo para falar mais do livre-arbítrio, ou da não existência dele.

O atirador fez uso do seu livre-arbítrio para atirar. Um mau uso, diriam alguns, mas fez. Pergunto: e quem morreu também fez uso do seu livre-arbítrio? Ele queria morrer? Se não, onde ficou o livre-arbítrio dele? Se não queria morrer, porque não pode exercer o seu desejo e o atirador pode? Teria o atirador um livre-arbítrio maior do que o do alvejado? Porque o atirador teria mais direito de fazer o que queria do que a vítima? Quando todas estas perguntas forem respondidas sem margens a novos questionamentos o ser humano poderá realmente se considerar livre.

Para isso é preciso fazer novas perguntas: onde está Deus em todo o processo de alguém pegar uma arma e matar quem quiser? Como o Pai Amoroso não pôde proteger seu filho da vontade do outro? Um pai terrestre trocaria a sua vida pela do filho, mas o Pai Celestial nada faz? Como o Senhor do Universo, aquele que apenas comanda faça-se e todas as coisas surgem, tem que se submeter aos caprichos de um ser humano? Ele consegue manter todos os planetas em sua órbita, mas não consegue mudar o que você quer fazer?

Esse Deus não é um Pai Amoroso, pois entrega o Seu filho à própria sorte. Esse Deus não é o Senhor Supremo, mas um fraco. Não é Onipotente, mas escravo da potência dos seres humanos. Acreditar na razão (capacidade de gerar atos independentes do universo, de Deus) é irracional, não tem lógica, para quem afirma que busca a elevação espiritual.

Todo ensinamento daqueles que realmente conhecem a Verdade, os Mestres da Humanidade, é quebrado pela existência da razão, do poder do raciocínio independente, individual. Para que isso se tornasse lógico era preciso isolar Deus do universo. Pois foi exatamente o que o ser humano fez.

Criou dois mundos: o material e o espiritual. Dentro do material as coisas acontecem por sua razão, fruto do seu livre-arbítrio e não pela vontade de Deus. O universo surgiu de uma grande explosão e não do faça-se; as doenças são causadas por contaminações viróticas e bacteriológicas e podem livremente, levar à morte.

Cada coisa (objeto ou pessoa) do universo faz o que quer, sem comando, sem razão. Por isso o melhor que cada um pode fazer é lutar para impor sua vontade para comandar os acontecimentos. A vida humana (material) é uma selva onde a lei é a do mais forte, segundo a crença da liberdade de agir.

Isso ocorre porque eles imaginam que sabem o que devem fazer. O outro mundo (espiritual) eles não conhecem e, por isso, acreditam que não sabem como são as coisas. Por isso, lá deixam Deus agir. Na Terra, onde Ele não sabe das coisas, não pode agir.

O planeta Terra, para os seres humanos individualistas é um mundo sem um comando que mereça ser seguido, sem causa primária, sem ação universal. Não existe nada perfeito, a não ser as suas próprias verdades, o que ele acha. Por isso, nomeou-se o comandante do planeta, o justiceiro das coisas, o guardião das verdades absolutas.

Esse é o mundo racional, o mundo da razão. No entanto, constantemente a realidade extrapola o conhecimento do ser. Suas verdades são questionadas por fatos que ele não compreende. Nesse momento ele afirma que aquela realidade é sobrenatural, espiritual, não faz parte da razão do mundo.

Como essas coisas não pertencem a esse mundo, cede o comando da ação delas a Deus. Para compreendê-las e poder controlá-las deixa aberto um canal de comunicação entre os dois mundos: templos, igrejas e cultos.

O ser humano que acredita no livre-arbítrio, no livre comando das ações visita esses lugares apenas para tratar daquilo que não consegue resolver no mundo material. Vai à busca Daquele que comanda o incompreensível para aprender a comandar e não para Louvá-lo.

A real motivação do ser humano é alcançar aquilo que lhe dá prazer, satisfação. Ninguém procura Deus para declarar a sua completa incompetência e entregar-se a Ele, fazer da vontade Dele a sua felicidade.

Aqueles que se universalizaram procuraram Deus nesse sentido e não para alcançarem graças. Mas, para isso eles não precisaram ir a nenhuma igreja, religião, templo ou culto.

O templo de Deus está dentro de cada um, porque a comunicação com o Pai se faz a cada segundo pelo sentimento. A perfeita comunicação entre os seres e Deus acontece na felicidade do filho receber o que o Pai lhe dá. Aquele que quer ditar a Deus o que lhe fará feliz é o filho que abandona o lar para gastar os bens do Pai.

Esse contato direto a cada segundo entre Pai e filho une o mundo. Acabar com a separação entre material e espiritual, repor no trono o verdadeiro Senhor, é o objetivo da vida material, da existência carnal do ser. Acabar com o poder da razão e do livre arbítrio para se viver a ação universal dentro das verdades do universo.

Entretanto, isso não é o fim do livre-arbítrio, mas a verdadeira liberdade de arbitrar. Libertar-se dos grilhões do individualismo dos seres para alcançar a sublime liberdade de ser universal. Trocar o eu acho pela verdadeira sabedoria.

Afinal, “tudo o acontece nesse mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer” e é Deus quem escreve quando, onde e como: o roteiro da vida.

No nosso último exemplo do livre arbítrio (o atirador que faz o que quer) ninguém matou nem morreu: ‘Deus deusou Deus’. Porque Ele fez isso se quem morreu não queria morrer? Para por as pessoas à prova para que elas vejam que não são melhores do que os animais, concluiu Salomão com toda a sua sabedoria.

O universo é igualdade perfeita: não pode haver raça superior ou inferior. Os seres vivem provas diferentes para a sua evolução, mas essa diferença não se traduz em superioridade ou inferioridade.

Os seres que habitam as formas animais não racionais estão em um processo de evolução diferente do ser humano, estão fazendo provações diferentes da sua. É um processo que todos os seres do universo têm que fazer e se você está lendo esse texto é porque já passou por ele.

Isso não quer dizer que você seja superior aos animais. Você não está numa série mais adiantada ou atrasada da escola espiritual, mas no mesmo curso deles: o de universalização. As etapas de evolução espiritual não se caracterizam, como nas escolas humanas, por níveis mais baixos ou mais altos, mas por aprendizagem de ensinamentos diferentes.

A ciência hoje comprova que a diferença entre os seres humanos e os animais está no poder mental, na capacidade de raciocínio. Nas partes que formam o corpo existem similitudes de elementos tão impressionantes que quase levam os seres humanos à conclusão de que todos pertencem a uma só árvore genética. Só não assumem de vez essa conclusão pela soberba de serem racionais.

O ser humano tem a vaidade que o leva a sentir-se superior às outras coisas do planeta. Imagina que o poder do raciocínio é a marca natural que não deixa dúvidas de sua superioridade. Não compreende que isso é soberba.

No entanto, a utilização do raciocínio, o que o ser humano acha que lhe traz poder, é o que ele veio aprender a usar, pois não sabe raciocinar. O ser humano é o ser universal que está aprendendo a usar o processo raciocínio, já o ser que habita a forma animal é aquele que está aprendendo a usar o instinto.

Se o ser humano não sabe o que é raciocinar, precisamos compreender o que é utilizar esse processo. Além disso, precisamos também relembrar o que é o instinto já aprendido para compreendermos a ação da vida. Esse é o ensinamento que o ser universal vem aprender durante a existência carnal.

Que todo espírito possui a motivação universal (acabar com o individualismo) e que ela hoje se encontra mascarada por motivações individuais já falamos bastante. Quando livre da carcaça corporal o ser consegue compreender essa verdade universal e, por isso, pede a Deus chances para provar que está puro, livre das individualidades. Para essa comprovação foi criada a encarnação.

O ser aprisiona-se a um corpo e vivencia histórias para poder provar, no transcorrer dos acontecimentos, que está liberto do individualismo. Daí pode se compreender o sentido da vida: passar por situações sem individualizá-las. Para que isso ocorra, o necessário é que as situações sejam universais (vontade de Deus) e não o querer do ser.

Imaginemos uma situação: um ser quer provar a Deus que está liberto do fictício poder de mandar nos outros. Para provar que venceu esse desejo individual é necessário que venha em um meio onde ele mais forte, o que pode ditar normas. Se nascesse como um fraco, não provaria nada, pois não teria mesmo condições de mandar.

Para vencer o individualismo em uma vida é necessário que os elementos individualistas estejam presentes, senão não há vitória conquistada. Assim, podemos logo compreender que a sua vida não é fazer ou passar pelo gosta, mas passar o que não quer fazendo o que não gosta com felicidade. Para isso é preciso aprender a raciocinar de forma diferente da de hoje: ao invés de buscar a satisfação, vivenciar a situação com alegria.

Mas, Deus é tão Pai, tão Magnânimo que permite ao filho escolher essa história, os acontecimentos, as pessoas e os objetos que a comporá. Dá ao aluno o direito de escolher sobre que matéria quer responder e, ainda por cima, o de escrever o próprio texto da questão da prova.

Com essa verdade podemos entender que a vida do ser humano foi pedida e escrita por ele mesmo, com os objetos, acontecimentos e pessoas como está acontecendo, para provar a Deus que era capaz de conviver com tudo isso feliz. Pediu para provar ao Pai a sua vitória sobre um querer diferenciado. É assim que você raciocina? É dessa forma que você compreende o seu problema? Por que ainda está infeliz?

Para auxiliar ainda mais o filho, Deus dá as respostas das provas. No entanto, as coloca em um lugar onde o ser terá que abandonar o individualismo para encontrar: o subconsciente. Assim, tudo o que o ser universal precisa para praticar atos que o leve à universalização já está dentro dele mesmo: basta vencer a razão. Você raciocina com o consciente? Então precisa aprender a raciocinar.

O acesso ao subconsciente se chama meditação e os ensinamentos que lá estão são considerados instinto. Portanto, o raciocínio que pode levar à elevação espiritual é a meditação sobre os assuntos, ou seja, uma análise profunda sobre as coisas. A meditação se caracteriza pela não aceitação do primeiro argumento do raciocínio: a busca da razão da razão.

A ação que resulta desse acesso é denominada instintiva ou não racional. Aprender a viver dessa forma é o que deveriam fazer os seres que encarnam na vida humana.

Os seres animais já vivem com ações intuitivas, mas não passam por meditações, pois não estão aprendendo a raciocinar. Por isso, toda programação da sua existência está no consciente e quando a ação universal as ativa, não há questionamentos (individualismo).

Para os bichos não existe por que, como, quando, onde, o que acontecerá: eles simplesmente agem. Deixam ser tocados para o matadouro porque seguem o instinto de servir ao ser humano com o seu corpo. Assistem a degradação do seu habitat porque sabem que o homem precisa criar habitações e que sua universalização depende de servir ao próximo. Não possuem valores individuais, mas eles defendem o seu maior valor: a felicidade por participar da ação universal.

Já o ser humano possui os dois processos: instinto e raciocínio. Pelo subconsciente a ação universal comanda e pela razão o homem questiona a ação universal. Não estou falando que o ser humano tem a capacidade de alterar a ação, mas questioná-la através do sofrimento.

Se cedesse ao instinto, ou seja, vivesse sem perguntas por que, como, quando, onde, o que acontecerá, praticaria os mesmo atos, passaria pelas mesmas situações, mas seria feliz com isso, pois a compreensão para tanto já está no seu subconsciente.

Essa é a provação que o ser vivendo como humano precisa: passar pelas situações de vida sem sofrer. Para isso necessita abandonar o individualismo (querer qualificar o acontecimento). Com isso servirá de instrumento consciente à ação universal e se integrará ao todo universal. Compreenderá as coisas pela Verdade Absoluta e não por seus valores.

Vamos exemplificar para ficar mais claro a diferença da ação animal com a humana. Um animal seguindo seu instinto é conduzido a um determinado local físico (uma ação universal). A primeira coisa que faz é marcar seu território. Ele não analisa o terreno, a possibilidade de alimentação, por quanto tempo poderá sobreviver ali. Também não quer saber se o território já tem um dono. O universo colocou-lhe ali e permanecerá até que a ação universal lhe mude de lugar.

O homem, ao se deparar com a possibilidade de uma remoção para outro local, analisaria todas as circunstâncias, para decidir se iria ou não. Apesar desse fictício poder de agir (ir ou não), o que lhe acontecer será guiado pela ação universal e não pelo seu desejo. Quantas vezes o ser humano já não se iludiu achando que sabia e na verdade desconhecia toda verdade?

Para a motivação da ida afirma que foi o resultado de suas análises. Ele chegou à conclusão que o local era bom e que haveria grandes condições de prosperidade lá. Foi por esses motivos que irá e não porque o universo lhe levará. Enquanto estiver indo ainda dirá que é uma bênção de Deus, que o Pai está lhe levando para lá, apesar de achar que chegou à conclusão de ir por livre vontade.

Chega lá e o tempo, a vivência, lhe mostra que estava enganado: o local representou um grande desastre para a sua existência. Onde ficou toda a sapiência do homem que foi capaz de analisar tudo? No momento do imaginário fracasso acusa ao lugar, ao acaso, aos outros ou ao próprio Deus que o colocou ali.

Mas, ele não foi porque quis, porque sabia que era melhor? Como, então agora existem outros fatores que decidiram a sua ida? Quando alcança essa compreensão acusa a si mesmo. Isso também não resolve, mas apenas a compreensão do que aconteceu realmente pode lhe manter a felicidade nesse momento.

Por isso, vamos analisar essa situação dentro da ação universal. Se o homem locomoveu-se àquele pedaço de terra ali deveria estar; ficar ou não é outra ação que não dependerá dessa. Chegando, se permaneceu é porque ficou, se não, é porque não tinha que ficar. Tudo isso ditado pela ação universal e não pelos motivos do homem.

Permanecendo na terra, quem disse que o local deverá ser bom para o homem, que terá que trazer prosperidade? A ação universal não disse isso, foi a conclusão do homem, ou seja, o seu individualismo, o seu desejo de ganhar.

Se você é esse homem, não se preocupe em estar ou não em um lugar, pois você já se encontra no lugar determinado pela ação universal. Também não espere nada de onde está, porque tudo o que você precisa e merece já tem. Como Jesus Cristo ensinou: não reze como os fariseus (pedindo coisas), porque eles já receberam tudo o que tinham direito.

Saiba que o lugar que você está e o que há nele é o que pediu antes como necessário para universalizar-se. Dessa forma, se acontecer a prosperidade esperada fique feliz, mas se ela não vier saiba que você não a pediu e que, portanto, não precisa dela para ser feliz.

Consegue ficar feliz sem receber? Não, então não peça. Não imponha condições à felicidade. Estar feliz com o que tem é raciocinar instintivamente, isso é o que você veio fazer na carne.

Por que as coisas mudam entre o planejamento fora da carne e a existência carnal? Por que você não raciocina instintivamente sempre e vive com os mesmos valores que tinha antes da encarnação? Porque está preso na razão, nas verdades do mundo. Vamos ver outro exemplo.

Uma pessoa nasce na pobreza. Este fato é fruto da ação universal guiada pelo desejo do ser fora da carne, pela sua motivação universal. Ele pediu para que essa situação fosse criada, pois, cônscio da necessidade da universalização, teve a convicção de que essa situação seria mais útil para ele.

Já na matéria, desenvolve-se na situação material de penúria bombardeado pelas verdades societárias. Feliz é quem tem posses, é quem come todo dia, tem piscina, carro do ano, casa. Todos terem a mesma coisa é justiça: a quem não tem foi cometida uma injustiça.

Essas verdades que, originalmente, não são do ser universal, são apropriadas por ele e se constituem agora na sua verdade. Sua motivação universal foi solapada pela motivação da sociedade.

Aí ele sofre, luta com todos os meios possíveis, legais ou não, para fugir a situação que ele mesmo criou. A vida, no entanto, não muda. Isso não pode acontecer porque ela precisa ter todos os elementos que o próprio ser julgou necessário para ser feliz antes da encarnação. Aí ele sofre. O que mudou? O conceito do que é necessário para ser feliz.

Isso não é obra do mundo, mas do próprio ser. Quando Deus através da ação universal cria as verdades societárias está colocando as questões da prova de cada um, formatando as condições existenciais necessárias para que cada um seja feliz como pediu.

Para ser aprovado o espírito tem que se manter firme na sua motivação universal. Ele não pode ceder ás tentações do mundo, pois elas são exatamente o que ele ceio vencer. É como se Deus perguntasse: ‘Você acredita que a felicidade está na casa, piscina, carro e comida ou em Mim’?

A resposta que leva à elevação espiritual está sempre em amar a Deus acima de todas as coisas. Mas, o que é amar senão ser feliz? Portanto, o aprendizado da utilização do raciocínio é racionalizar as coisas buscando estar sempre feliz com o que tem e não a satisfazer os desejos pelo que não tem.

Afinal, que diferença há entre você e os animais? Todos os dois corpos morrem (viram pó) e os seres que os habitam sobem aos céus. Compreenda que o melhor que pode fazer é ser feliz em qualquer situação de sua vida (trabalho). Essa é a sua recompensa, segundo a sabedoria de Salomão.

Sabe qual a diferença entre você e os animais? A liberdade, a felicidade, a harmonização com o universo, a paz que cada um vivencia. Os pássaros vivem em liberdade, você aprisionado às coisas; habitam harmonicamente as florestas, você as destrói para viver; dançam e saltam nos rios e mares exaltando a sua felicidade de existirem e você vive procurando músicas para poder dançar.

Somente você, ser humano, homo sapiens, rei do planeta, vive no sofrimento. Aliás, não só você, mas também os animais que aprisiona e muda hábitos (impõe verdades) para satisfazer-se. Mas isso também é ação universal e faz parte do aprendizado do instinto que eles têm que passar.