A sabedoria de Salomão

8ª Sabedoria - Riquezas

“Também descobri porque as pessoas se esforçam tanto para ter sucesso no seu trabalho: é porque elas querem ser mais do que os outros. Mas tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Dizem que só mesmo um louco chegaria ao ponto de cruzar os braços e passar fome até morrer. Pode ser. Mas é melhor ter pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as duas mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento”. 

 

Quando se fala em riquezas, a primeira idéia que vêm à mente do ser humano são objetos materiais. Possuir riquezas é ter coisas: casa própria, carro, dinheiro. No entanto, existem outros elementos que são classificados como riquezas. A cultura de um ser humano é, para ele, uma riqueza, o amor que nutre pelos outros e que recebe deles também é uma riqueza. Será sobre todas estas riquezas que iremos falar.

Acumular riquezas é o objetivo da vida de todo ser humano. É para isso que ele vive. Mesmo que suas riquezas não sejam as do mundo (mansão, carro do ano, muito dinheiro), tudo o que possuir será considerado uma riqueza. Para construir um patrimônio é que o ser humano despende todos os seus esforços. Mas, para o ser universal liberto da materialidade este não é o objetivo de sua vida.

Viver é um trabalho para o ser universal. A vida humana é o trabalho do ser universal que objetiva purificar-se do seu individualismo. Como ele consegue isso? Lidando com os acontecimentos deste mundo sem gerar posses. Despossuir, portanto, é o objetivo do trabalho do ser encarnado, ou seja, a sua motivação real para viver.

Como já falamos, esta motivação real continua presente durante a encarnação. Ela apenas está encoberta por motivações individuais, mas continua movendo o acontecer das ações. Assim sendo, o desejo de despossuir tem que está por trás do anseio do ser humano de amealhar riquezas humanas. Mas, como entender isso, se aparentemente as duas vontades são diferentes? Simples: o anseio humano de possuir existe para que o espírito possa exercer o despossuir e assim atingir a sua motivação ao encarnar.

Deus dá ao homem a posse de bens para que o ser universal aprenda a temporalidade das coisas materiais. Nada é eterno, nada existirá para sempre. O ser humano conhece essa verdade. Então, porque não a aplica quando os seus bens acabam, ou seja, porque sofre quando não consegue mais possuir suas riquezas. Porque quer determinar o que irá acontecer com suas posses.

Esta é a real definição de possuir as coisas deste mundo. Possuir não é apenas ter coisas, mas querer ser o dono delas, aquele que determina o que a riqueza possuída vai fazer, como vai existir. Portanto, acusar alguém de ser materialista porque tem muitas coisas é falsidade.

Sendo assim, despossuir não é abrir mão dos seus bens. Se você tem algo não conseguirá se desfazer deles, pois Deus os deu. Mas, ter não é problema, mas sim querer possuir. É o desejo de ser ter e de comandar o destino do que se tem que afasta o ser humanizado da realidade. Quando alguém deseja algo vive um sonho e acorda no pesadelo da realidade.

Aquele que não possui os bens que têm vive feliz com qualquer coisa. Tendo uma casa simples é feliz, não precisa da mansão; tendo um carro, não precisa de outro mais moderno; tendo dinheiro para comprar alimentos, não precisa de mais para comprar supérfluos. Esse ser acabou com a posse. Abandonou as riquezas materiais e amealhou bens no céu. Não mais ditou o seu destino e, com isso pode juntar a felicidade universal para a vida eterna.

Já havíamos conversado sobre esse ponto. Chegamos inclusive à conclusão de Salomão: as pessoas trabalham (possuem coisas) para ser mais do que os outros. Mostramos que esse desejo da fama é motivado pela ação inconsciente de entrar no gozo da verdade universal. No entanto, sempre é bom falar um pouco mais sobre o tema, já que praticamente todos os mestres nos ensinaram a despossuir as coisas.

Você chegaria a ponto de cruzar o braço e morrer de fome? Não, ninguém faria isso. Portanto vá a luta: trabalhe para não passar mais fome. Não fique parado de braços cruzados esperando que a caridade alheia lhe traga o que comer. Mate a sua fome você mesmo.

Mas, lembre-se: o trabalho do espírito não é o ato material, mas a compreensão da ação universal. A sua ação, portanto, não é buscar um prato de comida, mesmo que o busque, mas compreender a fome dentro da verdade universal: a vontade de Deus e o seu faça-se.

O trabalho para acabar com a fome é a vivência da felicidade, mesmo não tendo o que comer. A ausência de alimentos de agora foi feita por Deus por Sua vontade absoluta. Não porque Ele queira ou porque ache que merece passar a fome, mas porque a Sua Inteligência Suprema sabe que isso é o que lhe levará a universalizar-se.

Seja feliz por estar passando aquela situação, afinal “é melhor ter um pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar com as duas mãos cheias de trabalho”. Pare de sonhar com a comida para se saciar e seja feliz mesmo com a fome que alcançará a paz de espírito.

O ser humano deixa de vivenciar a realidade para viver o sonho. Refugia-se da ação universal (a realidade) atrás de ilusões. Não aproveita o momento desenhado por Deus para ser feliz e impõe condições ao Pai para que se eleve. É um filho rebelde. Aquele que não aceita a orientação do Pai e quer dizer a esse como deve educá-lo.

Não cruze os seus braços e morra de fome, porque ninguém lhe dará comida sem que Deus o faça. Trabalhe proficuamente a cada segundo para louvar ao Senhor por ter lhe dado a oportunidade de elevar-se: a sua situação de penúria.

O que você precisa para ser feliz? Um prato de comida? Mas, logo depois do alimento ter entrado no seu corpo sairá e a sensação da fome voltará. Isso resolve o seu problema? O que você precisa é extinguir as razões que levaram a Deus a lhe fazer passar por aquela situação.

Com certeza esses motivos se baseiam em situações anteriores onde você foi rebelde com Deus. Momentos onde o seu Pai lhe ensinou a viver dentro das verdades universais e você insistiu em querer ser o dono da razão. Ao tomar consciência dessa sua ação, pediu para essa encarnação a situação de fome, como chance de comprovar o seu amor por Deus.

A sua situação de fome é obra de Deus, executada pela Sua vontade através do faça-se, mas seguindo a programação que você fez. Faz parte do script da vida que está vivendo. Mesmo que quisesse ou pudesse, o Pai não poderia alterá-la. Se isso ocorresse, quando do seu desencarne sem alcançar a elevação espiritual Ele poderia ser acusado de injusto, de não ter proporcionado tudo o que você precisava.

Portanto, a maior caridade que se pode prestar a um ser é ensiná-lo a viver dentro da ação universal. Foi isto que Jesus Cristo ensinou quando disse que se deve dar a vara e não o peixe. Como o Mestre dos Mestres, aquele que disse que fora da caridade não há salvação, poderia ensinar a não alimentar os outros?

Dar a vara, ensinar a viver, levar cada um a participar da ação universal é a maior caridade que um ser pode fazer por outro. A compreensão da ação universal, da realidade vivenciada como ação de Deus por Sua vontade, é a maior riqueza que um ser humano pode possuir.

Esse tesouro jamais será ruído pelos animais, jamais será afetado pela ferrugem. Já correr atrás das coisas materiais é como querer pegar o vento. Portanto, descruze os braços e comece a trabalhar para merecer a ter. Pare de sonhar e desejar e trabalhe para receber.