A sabedoria de Salomão

2ª Sabedoria - A experiência do sábio

“Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto nem fazer contas quando faltam números. E pensei assim: “Eu me tornei um grande homem, muito mais sábio que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o que é o conhecimento”. Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e, quanto mais sabe, mais sofre”.

 

O fim do processo raciocínio é uma conclusão sobre o assunto captado pela percepção. Essa conclusão forma uma verdade sobre o tema para aquele ser humano. Todas as conclusões do raciocínio são arquivadas em um banco de dados chamado memória.

Essas verdades formam o conhecimento de uma pessoa sobre os assuntos do universo. O conjunto desses conhecimentos determina o grau de sabedoria que o ser humano possui. Quanto mais verdades (conhecimento) a pessoa possui, mais é considerada sábia, pois sabe mais coisas sobre o assunto.

Depois de arquivadas, as verdades do ser humano estarão à disposição da inteligência. Sempre que um novo processo raciocínio começar, elas servirão de fiel para uma nova conclusão. Portanto, posso compreender que todas as novas verdades terão o mesmo sentido da que serviu como base, afirmarão a mesma coisa que a que originou. Como as verdades são compreensões individuais, cada vez que o ser raciocina, mais individualiza a compreensão das coisas, ou seja, cria mais verdades individuais.

Assim, podemos afirmar que o sábio possui uma sabedoria individual ou um conjunto de conclusões individualistas sobre as coisas universais. Ele não penetra na verdade universal, no conhecimento real das coisas do universo. Portanto, a sabedoria humana, como afirmou Salomão, é ilusão.

Esse é o tema desse parágrafo: a sabedoria do ser humano é uma ilusão. Foi a essa conclusão que levou a experiência do sábio Salomão.

Esse rei era um observador, raciocinava constantemente sobre os acontecimentos da vida e quando isso acontecia engordava sua sabedoria com mais uma camada de conclusões individualistas. Em um determinado momento buscou raciocinar suas próprias conclusões para poder compreender a importância de saber tudo e descobriu sua busca era como correr atrás do vento: uma ação infrutífera.

Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e quanto mais sabe, mais sofre.

As verdades que compõem a sabedoria do ser são leis que não podem ser quebradas sem que ele pague um preço por isso. A felicidade do ser humano é condicionada a que essas leis sejam cumpridas. Quando isso não ocorre surgem os diversos tipos de sofrimento. Portanto, quanto mais leis (verdades, conhecimento) possuir uma pessoa, maior será a chance dela sofrer.

Se o ser humano sabe que ir à praia é o melhor, quando não estiver nela sofrerá; querendo comer determinada comida (está com desejo – sabe o que quer), só sentirá felicidade se esse prato for servido. Todos os acontecimentos da vida do ser deverão premiar a sua sabedoria para que surja um estado de alegria.

Acontece que a ação universal não é movida pela sabedoria do homem, mas pela de Deus. Em todos os acontecimentos a sabedoria de Deus sabe o que é mais útil ao ser, universalmente falando. Por isso, essa sempre prevalecerá, ou seja, sempre servirá de comando à ação universal. É isso que Salomão afirma que é fazer contas sem número: querer compreender a sabedoria de Deus com o conhecimento humano.

Toda sabedoria de um ser humano é formada a partir das suas percepções (audição, visão, olfato, paladar e tato). No entanto, existem elementos em uma ocorrência que escapam a esses sentidos. Faltam, portanto, informações ao ser humano para poder compreender a verdade absoluta das coisas. Essa Verdade que apenas Deus conhece (onisciência) é que move a ação universal.

Além dessa conclusão, Salomão também afirma que “ninguém pode endireitar o que é torto”. Cada ser possui o livre arbítrio dado por Deus e isso se constitui na capacidade de cada um compreender as coisas de um modo particularizado. O livre arbítrio não pode ser o de fazer, como veremos depois, pois a ação universal é inexorável.

Entretanto, não existem no universo dois seres que possuam a mesma compreensão de todas as coisas. O grau de evolução dos seres é determinado exatamente pela sua capacidade de compreensão universal dos acontecimentos. Se o ser humano tivesse a capacidade de provocar a ação, o relacionamento dos seres seria verdadeiros embates entre sabedorias (verdades). Aquele que compreende a verdade do livre arbítrio (compreensão das coisas) age de forma diferente, mas aqueles que não, vivem dessa forma.

Quando trocam opiniões querem sempre subjugar o adversário, provando que aquilo que acha está certo e o conhecimento do outro é errado. Quando não consegue impor sua verdade, o ser humano sofre e desse sofrimento nasce a crítica.

Não se pode julgar o ato do outro, porque ele é fruto de suas verdades, portanto, sempre estará certo (de acordo com as verdades individuais). Se você acredita que cada tem o direito de agir livremente (livre arbítrio), não pode acusÁ-lo de errado sem ferir sua própria crença. Entretanto, você pode mudar o que acha do que ele está fazendo. Todos podem compreender as coisas da forma que quiserem porque Deus lhes deu esse direito.

Se você quiser não apontar erros, pode, mas se quiser julgar e condenar, também tem esse direito. Mas, mesmo que apele para a violência (gritos, acusações) não consegue alterar o comportamento do próximo. Pode subjugar a vontade do outro, mas ela permanecerá existindo. O sábio (aquele que sabe da verdade) não venceu: criou um inimigo. A ação universal faz o outro aceitar aparentemente as suas verdades, mas continua nutrindo a verdade individual como lava subterrânea de um vulcão. No momento apropriado, ela será expelida.

Tudo isso (contar sem números e endireitar o torto) é como correr atrás do vento: jamais se alcança. A sabedoria composta por verdades individuais é tolice: não leva a lugar nenhum. O único Sábio do universo é Deus e por isso ele promove a ação universal. Essa ação é o que está acontecendo e, por isso, não existe o se (se fosse de outra forma, se aquilo mudasse).

O verdadeiro saber é participar dessa sabedoria. O resto é tolice de criança. Viver não é compreender para construir, mas construir sem compreender. Viver é deixar a vida fluir, vivenciando os acontecimentos, pessoas e objetos sem por que, como, quando ou onde.

A verdadeira sabedoria é demonstrada por aquele que vive a vida sem compreender os acontecimentos, mas com felicidade. Esse participa da Sabedoria Universal.