A sabedoria de Salomão

13ª Sabedoria - Ilusões da materialidade

“Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tema a ambição de ficar rico nunca terá tudo o que quer. Isso também é ilusão”. 

Ninguém come nem veste dinheiro. O dinheiro não serve para nada a não ser como instrumento para se adquirir coisas. O dinheiro não é fim, mas meio de vida.

Portanto, não viva para ganhar dinheiro: isso é ilusão. Não transforme o dinheiro em objetivo de vida porque ao agir dessa forma você não saberá o que fazer com ele quando recebê-lo. Ele se escoará entre os seus dedos.

“Quanto mais rica é a pessoa, mais bocas têm para alimentar. E o que ela ganha com isso é apenas saber que é rica”.

Quando o ser humano entra no gozo da posse de algum bem material cria uma propriedade. No entanto, todas as coisas do universo são propriedades exclusivas de Deus. Ele as empresta ao ser humano para que sirvam de instrumentos para auxiliá-lo na elevação espiritual.

Estamos entendendo essa evolução como universalização, pensamento para o todo e não individualista. Portanto, o trabalho do espírito não é se desfazer das propriedades, mas universalizá-las. A propriedade não pode ser particular, mas deve ser vivenciada como um empréstimo que o Pai faz e que torna o filho responsável pela coisa, mas não proprietário dela.

Isso gera duas realidades. A primeira é de que, no momento que for necessário, o Pai pode pedir de volta a Sua propriedade; a segunda é que ela deve ser universalizada, ou seja, seus benefícios devem estar à disposição de todos.

É para isso que Deus lhe emprestou a coisa material: para distribuir os benefícios dela. É por isso que Salomão fala que “quanto mais rica é a pessoa, mais bocas têm para alimentar”.

Qualquer objeto que esteja sob guarda do ser humano deve ser considerado uma propriedade não particular e os benefícios por ela gerados devem ser universalizados.

 

O trabalhador pode ter pouco ou muito para comer, mas pelo menos dorme bem à noite. Porém o rico se preocupa com as coisas que possui, que nem consegue dormir.

A diferença entre a guarda do objeto e a propriedade particular está em querer determinar o destino da coisa material. O dono da coisa (propriedade particular) se desespera imaginando que destino dará às coisas enquanto que o trabalhador de Deus, aquele que administra a propriedade do Pai, dorme tranqüilo porque não tem essa preocupação.

Ele apenas trabalha: faz a propriedade render juros para toda a coletividade.

 

“Eu tenho visto neste mundo esta coisa triste: algumas pessoas economizam dinheiro e sofrem com isso”.

A economia que o ser faz é propriedade particular. Ele planeja o futuro que dará àquele dinheiro. Que novas propriedades poderão ser geradas futuramente. No entanto, o dinheiro é propriedade particular de Deus e será utilizado para o que Ele quiser.

O sofrimento gerado pela economia não está no ato de guardar dinheiro, mas na pretensão de dominar o destino. Guardando apenas por guardar a sobra para utilizar em benefício da coletividade futuramente, não haverá sofrimento, mas guardando para poder possuir algo futuramente, o sofrimento ocorrerá.

Apenas Deus sabe o futuro, somente quem possui acesso ao script da vida pode garantir o que irá acontecer. Para o ato (ser universal) resta vivenciar as situações com felicidade. Para isso precisa estar presente no agora, naquilo que têm, sem sonhar em novas possessões.

 

“Perdem tudo em um mau negócio e assim não deixam nada para os filhos”.

A ação universal deixa o ser acumular, dá o pensamento de estar juntando para colher posteriormente, mas não pode dar a colheita, pois isso não estava previsto. Para provar ao ser que ele não possui domínio sobre as coisas lhe faz entregar todas as economias para os outros.

Não é injustiça, mas a mais perfeita justiça: Deus deusando. A ação universal ensinando ao ser universal a viver a realidade com felicidade.

Não estamos falando contra a poupança, mas contra a economia forçada com finalidade específica. Qualquer sacrifício é sofrimento que poderia até compensar se a posse do bem estivesse garantida. Como isso não é verdade, é um sofrimento inútil, desnecessário.

Se você teve alguma sobra e lhe veio a intuição de guardar, faça isso, mas não queira dar a destinação daquela poupança. Também não provoque carências para poder guardar. Utilize seu dinheiro com toda a alegria que puder.

Tendo possibilidade de comprar, compre, mas não gere sofrimentos para tanto. Comprando, viva feliz cada momento com o bem sem se preocupar com o futuro; não comprando, não sofra por não ter. Viver é apenas ser feliz: o resto é uma peça teatral.

 

Como entramos neste mundo, assim também saímos, isto é, sem nada. Apesar de todo o nosso trabalho, não podemos levar nada dessa vida. Isso também é muito triste! Nós vamos embora do jeito que viemos. Trabalhamos tanto, tentando pegar o vento, e o que é que ganhamos com isso? O que ganhamos é passar a vida na escuridão e na tristeza, preocupados, doentes e amargurados.

As coisas materiais fazem parte do cenário da peça divina comédia humana. Quando saímos de cena é necessário que elas permaneçam para ser utilizadas por outros atores. Elas comporão o ambiente em que outro ator nos substituirá.

Ninguém pode roubar parte do cenário como souvenir para se lembrar de sua atuação. Como entramos (apenas com o script decorado) sairemos. Portanto, não torne as peças que ajudam na representação como suas propriedades, para não sofrer ao deixá-las.

 

“Então cheguei a esta conclusão: a melhor coisa que uma pessoa pode fazer durante a curta vida que Deus lhe deu é comer e beber e aproveitar bem o que ganhou com o seu trabalho. Essa é a parte que cabe a cada um. Se Deus der a você riquezas e propriedades e deixar que as aproveite, fique contente com o que recebeu e com o seu trabalho. Isso é um presente de Deus. E você não sentirá o tempo passar, pois Deus encherá o seu coração de alegria”.

Usufruir os benefícios das propriedades que Deus entrega em suas mãos: isso é viver. Aproveitar a propriedade para alcançar a felicidade sem apropriar-se dela: esse é o trabalho do ser universal com as coisas do mundo.

A riqueza maior que um ser universal pode almejar é a oportunidade de universalizar-se e isso você já tem: a vida carnal. Utilize-a da melhor maneira possível: seja feliz. Trabalhe no sentido de gozar a vida, de vivenciar cada oportunidade para que dela surja à harmonia com o universo.

Não condicione sua felicidade a conquistas, a manutenção ou programação do destino das coisas materiais que Deus lhe emprestou. Elas são do Pai e Ele fará delas o que quiser. As dará a quem achar que precisa e manterá na propriedade desse enquanto isso lhe for útil. Para isso precisa comandar o destino de cada elemento material.

Submeta-se a Deus para ser feliz. Deixe Aquele que possui a Inteligência Suprema organizar o universo e viva cada programação do Ser Supremo com a intensa felicidade de saber que tudo foi projetado por Amor Sublime para que você se universalize.

 

“Também tenho visto outra coisa muito triste que acontece neste mundo: Deus dá a alguns tudo o que desejam – riquezas, propriedades e fama. Porém depois não deixa que eles aproveitem nada disso. E é algum estranho quem aproveita, e não ele. Isso também é ilusão e não está certo. Que adianta um homem viver muitos anos e ter cem filhos se não aproveitar as coisas boas da vida e não tiver um enterro decente? Eu digo que uma criança que nasce morta tem mais sorte do que ele. É inútil a vinda dessa criança; ela desaparece na escuridão, onde é esquecida. Não chega a ver a luz do dia nem a saber como é a vida. Mas pelo menos encontra mais descanso do que aquele homem, que poderia ter vivido dois mil anos sem nunca ter aproveitado a vida. E no fim, não vamos todos para o mesmo lugar”?

A vida carnal independe das coisas materiais, mas prescinde da presença de Deus a cada segundo para que alcance seus objetivos. Como Jesus Cristo nos ensinou, porque se preocupar com o que há de vestir ou comer amanhã, se o Pai do céu alimenta os passarinhos e dá roupa às flores? Se você é mais importante do que um passarinho e uma flor, como então Ele não lhe dará essas coisas?

Você não deve viver para ter. É isso que Salomão nos ensina nesse trecho. A criança que nem chegou a ter uma existência material pode ter alcançado o objetivo da vida, enquanto que outros, que possuíram riquezas inumeráveis, não conseguem a sua elevação.

O que deve ser aproveitado nessa vida é a chance de elevação. A função das coisas é servir de instrumentos para a sua universalização. Esse é o único proveito que você pode tirar das coisas materiais. Elas não foram feitas para o deleite da sua satisfação ou do seu prazer, mas para que as coloque para render benefícios para a coletividade.

Vamos todos para o mesmo lugar, ou seja, vamos todos nos fundir ao universo um dia. Quando isso acontecer teremos tudo aquilo que queremos ter hoje. Todas as coisas existentes são o universo e você, ao sentir-se como tal, poderá participar delas.

Não mais com a usura, não mais com o sofrimento, mas na plenitude do gozo da felicidade. Por isso Jesus Cristo nos ensinou a amealhar bens na Terra e não no céu. O bem celeste é a felicidade que você pode conseguir com o auxílio das coisas materiais.

Alguns necessitam fazer um tipo de prova e por isso pedem muito, outros precisam de menos, alguns de nenhum. Não importa o quanto você tenha, é a justa medida que achou necessária para ser feliz. Portanto, goze dessa felicidade sem preocupar-se em ter mais.

 

“Todos trabalham duro para terem o que comer, mas nunca ficam satisfeitos. Que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Que vantagem tem o pobre em saber enfrentar a vida? Isso também é ilusão, é correr atrás do vento. É muito melhor ficar satisfeito com o que se tem do estar sempre querendo mais”.

O ser humano não traz a presença de Deus em cada segundo. Por isso também não traz a sua real identidade junto consigo: ser universal interpretando um papel. A partir da ausência desses dois fatores, a vida transforma-se.

Para um ser humano viver é agir. A vida se consiste em um trabalho constante para alcançar a fama através da posse. È por ela que o ser humano conseguirá a fama, objetivo material. Alterando-se os valores (Deus cria e o ser universal interpreta) a vida muda de sentido. De ação vira participação, de fama individual vira a integração universal.

Viver é participar das ações que Deus propõe. Não se trata de agir, mas de vivenciar os acontecimentos. Vivenciá-los não para satisfazer-se (alcançar a fama), mas para ser feliz (integrar-se ao universo).

Qual o objetivo, então, de possuir bens terrenos? O de vivenciá-los com felicidade universal. Essa felicidade, no entanto, independe da quantidade de coisas materiais, mas do trabalho do espírito: vivenciar os acontecimentos com felicidade.

Não importa se você possui um carro ou uma frota de automóveis: é preciso vivenciar tudo com felicidade universal. Mesmo que possua um carro velho seu trabalho não é consertá-lo ou mantê-lo, mas viver a realidade desse com felicidade.

Por isso Salomão nos pergunta: que vantagem leva o sábio sobre o tolo? Que vantagem leva você de saber as coisas da matéria se elas não são necessárias para a sua felicidade. Saiba as coisas de Deus, pois delas você depende para ser rico.

Saber as coisas de Deus é vivenciar a ação universal sabendo que: ali está ocorrendo uma Perfeição porque é fruto da Inteligência Suprema; a cada um está sendo dado o que precisa e merece, pois surgiu de uma Justiça Perfeita; é um ato de Amor Sublime, ou seja, fruto do Amor de Deus e não como penalidade por uma ação anterior.

Tudo isso aplicado ao momento de agora lhe levará a ser feliz sem a necessidade de coisas materiais. Elas são apenas instrumentos para testar o seu amor a Deus.

 

“Tudo o que se passa neste mundo já foi resolvido há muito tempo. Antes de uma pessoa nascer, já está decidido o que vai acontecer com ela. E nós sabemos que não podemos discutir com quem é mais forte do que a gente. Uma coisa é certa: quanto mais falamos, mais tolices dizemos; e não ganhamos nada com isso. De fato, como é que podemos saber o que é melhor para nós nesta vida de ilusões? Como podemos saber o que vai acontecer depois da nossa morte”?