Reforma íntima - Textos - volume 06

Espiritualizando os ensinamentos

Os ensinamentos que Cristo trouxe para guiar os espiritualistas na vivência do algo mais que acreditam haver em si estão contidos basicamente no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, ou seja, aquilo que os apóstolos escreveram e afirmaram ser palavras do mestre nazareno. Vamos ver estes textos buscando encontrar neles as diretrizes para a reforma que cada ser deve fazer no seu íntimo para aproveitar a oportunidade da encarnação e alcançar a elevação espiritual. No entanto, antes de começarmos a conversar sobre este tema é importante dar uma passada em linhas gerais como será este trabalho.

Estudar qualquer coisa é decifrar o que está escrito. Isso porque as palavras são representações gráficas de uma idéia. Sempre que alguém escreve alguma coisa representa por palavras uma idéia que possui. Esta idéia é o que foi codificado através das palavras e somente a decodificação a partir dela pode levar a uma perfeita compreensão do sentido de um texto.

Isso é válido para qualquer texto que se lê, mas principalmente para os textos dos apóstolos que trazem as palavras de Cristo. Isso porque suas palavras foram codificadas através de parábolas.

“Jesus usava comparações para dizer tudo isso ao povo. Ele não dizia nada a eles sem ser por meio de comparações”. (Mateus, 13, 34)

Ler um texto como estudo para balizar alguma coisa não se resume simplesmente a ler palavras, mas alcançar uma compreensão. Todos que lêem algum texto alcançam uma compreensão, mas para que aquele texto sirva como elemento para mostrar na realidade os elementos necessários para uma reforma do íntimo de cada um, é preciso que a compreensão alcançada esteja de acordo com a idéia de quem o escreveu, neste caso o Cristo. Se não estiver, a compreensão adquirida se constituirá numa falácia que levará a uma não verdade, que pode comprometer o trabalho da reforma íntima do espiritualista.

“A vocês mostro os segredos do Reino do céu, mas a eles, não. Porque quem tem receberá mais, para que tenha ainda mais. Mas, quem não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que eu uso comparações para falar com eles. Porque eles olham e não enxergam; escutam e não ouvem nem entendem”. (Mateus, capítulo 13, 11 a 13)

Marcos afirma em seu evangelho que Cristo falava ao povo por comparações, mas quando reunido com seus discípulos em particular explicava tudo (Marcos, 4, 34). Porque ele fazia isso: porque os apóstolos comungavam do mesmo ideal de Cristo: a Boa Nova. Como comungavam do mesmo ideal, eles podiam ter uma compreensão fundamentada na mesma idéia que o mestre e com isso dispunham de verdades e realidades concernentes com aquelas que o rabi comungava. Mas, será que hoje os espiritualistas comungam do mesmo ideal de Cristo?

O mestre ensinou:

“O reino do céu é como um comprador de pérolas de valor. Quando encontra uma que é mesmo de valor, vai, vende tudo o que tem e compra a pérola”. (Mateus, 13, 45 a 46)

Será que esta é a mesma postura dos espiritualistas? Será que eles vendem tudo o que tem para dedicarem-se exclusivamente à busca do reio do céu? Como tudo o que tem não estou me referindo apenas a objetos materiais, mas a todas as posses sentimentais (o que se gosta, ama) e morais (o que se sabe). Será que os espiritualistas comungam da idéia de libertar-se das posses morais, sentimentais e materiais em troca de alcançar o reino do céu? Acho que não...

Na verdade, como Cristo ensinou os espiritualistas de hoje olham, mas não enxergam, ouvem, mas não entendem. Isso porque priorizam suas posses ao invés da busca do reino do céu. Por isso, não entendem o que Cristo disse.

Como os espiritualistas buscam o bem terreno, ou seja, a posse daquilo pelo que têm paixão e a realização dos seus desejos humanos, não comungam da mesma idéia de Cristo e com isso acabam vendo, mas não entendendo o que o mestre disse. Este é o motivo de nosso trabalho...

Quando falamos em estudar os ensinamentos de Cristo direcionados aos espiritualistas, estamos falando em apresentar os textos trazidos pelos apóstolos à luz da base do ideal cristão: o de vender tudo o que possui para poder alcançar o reino do céu. Sei que quando fizer entrarei em contraposição ao que as mentes humanas acreditam por causa do seu princípio de querer possuir, mas não posso agir diferente. Se o fizesse não estaria sendo fiel à idéia de Cristo e nem contribuindo para a formação de uma doutrina que realmente balizasse o processo de reforma íntima daqueles que dizem acreditar haver em si algo além da matéria.

Eis aí, então, a primeira diretriz de nossas conversas: dar aos ensinamentos de Cristo uma compreensão que esteja em acordo com a idéia dele.