Senhor da mente - textos - livro 3

Versículo 45 - Preconceito

Esse trabalho objetiva tornar-se senhor da sua mente. É um trabalho onde Krishna está ensinando a Uddhava como elevar-se espiritualmente através do controle dos sentidos que são contaminados através do pensamento.

Como agora então o Sublime Senhor vem falar de comida? O processo mental e o emocional não tem nada a ver com comida. A mente produz os mesmos pensamentos de barriga cheia ou vazia. Porque, então, nesse trecho se fala de receptáculo de comida? Vamos entender esse pedaço.

‘O homem lúcido não tem outro depósito para guardar a sua alimentação do que a sua barriga’: se não estamos falando de comida, o que mais pode alimentar um ser humano? Tudo que vê, ouve, percebe, pensa, emociona.

Essa é a verdadeira alimentação do ser humano. Na verdade a comida não causa efeito no ser, mas sim o ato de comer. O imaginar-se comendo é que alimenta ou não o ser.

Voltando agora ao que Krishna fala nesse trecho podemos entender que ele diz: o homem lúcido não tem outra alimentação do que aquela que está sendo ingerida agora. Ligando isso ao alimento que acabamos de falar, o que podemos entender? Que para o homem lúcido só existe o aqui e agora.

Tudo que o ser participa durante a sua existência vai para uma coisa chamada memória. Na memória ficam arquivados as percepções, os pensamentos e as emoções vividas em um momento. Mas, o que é a soma das percepções, pensamentos e emoções a respeito de um momento que ficarão na memória? Um preconceito.

O conjunto dessas três coisas dá o valor a algum elemento do mundo material. Vou dar um exemplo: se alguém fez alguma coisa que você não gosta (percepção do momento) a figura daquela pessoa, o pensamento e a emoção que teve ficarão arquivadas na memória. Quando novamente no futuro aquela forma for percebida, o ego usará o valor arquivado na memória sobre ela. Ou seja, ela será tratada como errada antes mesmo de agir. Isso é um preconceito, um conceito formado anteriormente.

Se você é um homem decaído, ou seja, não sabe que é um espirito ligado ao ego, acredita piamente no preconceito, na utilização que o ego falar dos valores previamente arquivados. Por isso, o ego dirá: ‘está vendo, aquela pessoa já fez isso e aquilo; você tem que sentir raiva dela nesse momento’. Por não pensar a partir do ser, você sente o que a mente está criando.

É isso que Krishna está ensinando agora nesse trecho: o homem lúcido não tem memória; ele vive cada momento sem a utilização de um preconceito formado.

Um detalhe. Esse não ter memória não quer dizer que a mente humanizada do homem lúcido não arquive preconceitos e proponha o seu uso em momentos futuros. O ego dele continua funcionando igual ao do homem decaído. A diferença é que o lúcido sabe quando o ego usa algo da memória e não aceita aquilo como real.

‘Ego, você está dizendo que ele fez. Não sei se ele fez ou não. Você está dizendo que ele vai fazer de novo? Não sei. Por isso, não vou aceitar a imposição de viver a emoção que você está fazendo’. É isso que Krishna está ensinando agora como a ação do senhor da mente.

O homem lúcido não tem outro lugar para colocar o alimento de agora, pois sabe que se guarda-lo no futuro será submisso ao que a razão cria. Essa é uma questão fundamental para a elevação espiritual, porque o ego armazena e lançará na sua consciência comida podre. Se não estiver atento, você vai comer.

Não adianta dizer que não vai, porque vai. Se não dominar a sua relação com o ego todo o passado estará presente no agora. Isso não leva a lugar algum, pois o passado já passou, morreu, acabou. Foram valores criados para uma hora, para um momento que não é o mesmo de agora.

Vocês falam que não se pode ter preconceito de cor ou de raça, mas não falam a mesma coisa quanto a usar um conceito anterior sobre alguém que está presente agora. Lá não pode ter preconceito, aqui pode?

É isso que vocês precisam entender. O ego cria verdades para o que quer e não as cria para o que não quer. Por isso, é preciso estar muito atento à alimentação que você está consumindo a cada presente.

É preciso estar atento para não guardar comidas (acreditar nas formações mentais). Se fizer isso, aquela verdade vai para a memória. Só quando você não aceita a declaração a formação mental não se transforma em conceito guardado na memória.

Por isso, em primeiro lugar é preciso estar atento para não aceitar a ideia de certo, real que a razão cria para algumas verdades. Mas, tem mais. Em segundo é necessário, quando o ego trouxer o que já está guardo lá dentro, libertar-se do valor de real e certo para isso.

Quando o ego usa um preconceito e você anula a ação desse preconceito, ou seja, não aceita a razão como certa ou real, o preconceito se extingue.

Esse é o ensinamento do mestre. Mas, vamos ver mais um aspecto do ensinamento do versículo 45. .

Aquele que se domina a si mesmo, tal como o fogo, não fica contaminado pelo que absorve.

Esse é o procedimento daquele que não se contamina pelo que absorve, ou seja, daquele que não se contamina pelo pensamento gerado pelo ego.

Como diz Krishna, o fogo não se contamina pelo que absorve. Ele surge da madeira, mas depois que vira fogo, nada mais o muda. Da mesma forma, o sábio, aquele que sabe da existência do depósito de alimentação preconceituosa não se deixa contaminar a cada momento, nem pelos novos alimentos, nem pelos antigos.