Senhor da mente - textos - livro 3

Versículo 47 - Valorização da vida

 “O senhor onipresente que penetra esta totalidade vital Cosmo, densa e sútil, criada pelo seu próprio Maya, força engendradora de aparências, só pode atuar quando toma a forma dos diferentes objetos e seres, tal como o fogo que assume a forma das coisas que queima”

O ser, o espírito, só pode atuar de uma forma material quando interpenetra o mundo material. É por isso que o Espírito da Verdade diz: “a evolução só acontece quando encarnado”. Por quê? Porque a evolução depende de conseguir dominar a mente e fora da carne, ou seja, sem ter mente, não pode se fazer esse domínio.

Não há como provar a equanimidade sem estar exposto à dualidade. Não há como amar a todos sem superar as posses, paixões e desejos.

Então, aquele que se eleva sabe que precisa da encarnação, Isso nos liga ao que vimos no versículo 41: o homem lúcido, aquele que sabe que era antes de ser, não valoriza a vida humana. Ou seja, é aquele que não valoriza as percepções, pensamentos e emoções geradas pelo ego. Só que o fato de não valorizar esses elementos mentais não quer dizer que desvalorize a vida humana.

Já disse uma vez e vou repetir: só para mente dualista o que não é certo é errado. Quando digo que um espírito não valoriza a mente humanizada, o ego, não quero afirmar, como vocês pensam, que desvaloriza a vida. Não é isso.

O ser lúcido dá um valor à vida material muito grande. Aliás, maior até do que o homem decaído. Só que não dá esse valor pelos mesmos motivos de quem não busca a aproveitar a encarnação.

O homem decaído valoriza a vida pelos valores materiais: de acordo com a capacidade de ter, ser, amar materialmente, de ser satisfeito em seus desejos. O homem lúcido dá um valor imenso à vida não pelos mesmos aspectos, mas no sentido da capacidade e oportunidade de provar a si mesmo que pode ser equânime apesar das tentações criadas pelo ego.

Tenho falado muito das criações do ego, digo que suas produções poluem, criam ilusões que afirmam ser reais e emoções que não espelham o amor incondicional. Quando falo assim dá a vocês a ideia de que o ego é um bandido, mas isso não é real. Essa é uma visão humana e não espiritual.

Para o homem lúcido o ego é o seu maior amigo. É assim porque é aquele que gera a oportunidade desse ser elevar-se. Ele fala assim: ‘amado ego, quando você me diz que eu falei alguma coisa que não devia, louvado seja Deus. Obrigado por fazer isso, porque assim me deu a oportunidade de provar que posso ser equânime, mesmo quando você me tenta ao me auto acusar’.

Já o ser humanizado que está decaído, quando falo do ego como o tentador pergunta logo: ‘como faço para matar o ego? O que devo fazer com ele, coloca-lo na cruz’? Não, deve amá-lo. Aquele que está lúcido ama o ego porque sabe que sem ele não teria sua oportunidade; o decaído quer logo acabar com a razão para poder não ter mais esforços nesse sentido.

É por isso que o homem lúcido ama o ego. Ama a existência do gerador de ilusões porque sabe que sem ele não consegue a lucidez. Volto ao início do que falei agora: como pode haver um exercício de equanimidade sem as tentações dualistas?

É isso que o Krishna está ensinando: o homem interpenetrado no cosmos vive a sua vida material em paz. Ele não quer morrer, não faz questão de se matar, apesar de saber que é apenas um estado temporário. Quer estar vivo porque sabe da importância de permanecer encarnado. Só que não é por isso que foge da morte. Se ela vier, a aceita como um momento da vida.

Sabe da importância de continuar vivendo, mas não é por isso que se apega a vida. Já o homem decaído também quer continuar vivendo, mas como busca o prazer enquanto vivo tem medo da morte e luta tentando afastá-la.

Eis aí, portanto, uma diferença que a mente dualista humana não consegue captar. Para ela se uma coisa não está do lado direito tem que estar no esquerdo. Não há outro lugar para estar. Já o homem lúcido não está nem a direita nem a esquerda: fica sempre no meio. Um meio que, como já disse, não é vazio, mas sim cheio dos dois lados: o direito e o esquerdo. Só que nesse meio o direito e o esquerdo estão presentes com a mesma intensidade. Por isso, um não se sobressai.

Esse é o ser lúcido, esse é o senhor da mente: aquele que domina a ação do ego não para ganhar nada, para ter fama, prazer ou ser elogiado, mas para que essas buscas do homem não lúcido não sejam a motivação da sua existência.

Se tiverem perguntas... Porque hoje nós vamos parar neste e com isso nós fechamos o ciclo, quando disse lá no início que o senhor da mente não liga para a vida, agora nós dissemos: liga, mas de uma forma diferente. O não ligar não é desligar-se, é não ligar pelos valores materiais.