Ensinamentos de Krishna - Resumo

Yajña

09 - Neste mundo, as pessoas comuns se enlaçam por ações que diferem daquelas que são cumpridas por amor a "yajña" (que é um sacrifício, uma oblação, um culto ou orações a Vishnu, o pró¬prio Deus). De forma que, ó Kounteya!, atua sem apego, somente por amor a "yajña". (Bhagavad Gita – Capítulo III)

Os seres humanizados se ligam a ações sem sacrificar-se a Deus. É isso que diz o Bendito Senhor diz neste trecho. Vamos compreender essa questão do sacrifício, do sacrificar a Deus.

O que você tem que sacrificar a Deus, numa ação? Para entendermos isso temos que observar que Krishna fala em dois tipos de vivência de ação: aquele onde seres humanizados se relacionam dentro do sacrifício a Deus e outro onde não há este sacrifício. Será que você pode sacrificar, ou seja, deixar de ter, a prática da ação? Pelo que ouvimos de Krishna até aqui eu diria que não. Portanto, repito a pergunta: o que você tem que sacrificar a Deus numa ação? O controle sobre ela: o resultado e a autoria dela.

Quem segue o reto caminho sacrifica tanto o controle sobre o resultado da ação como a autoria dela ao Pai. Por exemplo. Quem busca o reto caminho diz assim: ‘eu briguei com aquela outra pessoa, mas não fui eu que briguei; eu fui instrumento de Deus. Ele me deu a ação’.

O yajña é o sacrifício do ‘eu’ durante a vida. É o sacrifício da sua capacidade de agir por desejo próprio, é o sacrifício da intencionalidade na ação. É também, o sacrifício do resultado da ação a Deus: ‘Deus, está fazendo, por isso só Ele sabe no que vai dar; eu sou apenas o instrumento da Sua vontade’. Aquele que busca o reto caminho sacrifica durante as suas ações a autoria e qualquer intencionalidade que tenha. Por exemplo: se o pensamento sobre determinada pessoa é fruto de uma raiva, aquele que busca o reto caminho não se frustra se não conseguir a exprimir, nem se culpa se conseguir fazer. Ainda dentro do mesmo exemplo, aquele que busca o reto caminho também não fica especulando pelo resultado da ação. Se conseguir praticar o ato raivoso não se preocupa com a reação do outro nem se vangloria por ter praticado a ação. Se não praticar, também não se culpa por não ter feito...

Participante: Quer dizer que tudo que falamos, por pior que seja a besteira...

Você foi instrumento de Deus para quem precisa ouvir aquilo.

Participante: Mas, se isso se reflete num ato aparentemente, vamos dizer assim, contra nós?

O ato só refletirá – terá como conseqüência – aquilo que Deus queira. Neste caso, lembre-se do que falamos: Deus não faz nada contra ninguém...

A sua pergunta seria mais ou menos assim: ‘eu faço alguma coisa, mas não fui eu que fiz. Porque acontece um resultado negativo a mim e não a Deus que foi quem o praticou’? Vamos entender bem essa questão...

No momento que você falou aconteceu um presente. Ele foi daquele modo porque o carma dos envolvidos levou o acontecimento a ocorrer daquela forma. No momento em que houver uma reação será um novo presente que também será criado pelos carmas de cada um. Isso quer dizer que se você receber de Deus uma reação, ela não foi motivada pela sua ação, mas porque você tinha o carma que tornou justo e obrigatório recebê-la. Se não tivesse aquele carma, mesmo que praticasse ação, jamais receberia tal reação.

Sendo assim, não existe o que vocês acreditam: porque eu fiz uma coisa aconteceu isso; porque fiz aquilo recebi tal resposta. Todos os acontecimentos do mundo são completamente independente um do outro. Eles estão sempre vinculados ao carma daquele momento e não à sua ação anterior. Por exemplo. Vocês imaginam que foram demitidos de empregos porque fizeram tal coisa. Isso não é real. A demissão já estava escrita no livro da vida de quem a recebeu. A partir disso posso dizer o seguinte: você não foi demitido por causa do que fez, mas fez o que fez para ser demitido. Ou seja, a conseqüência é causa da ação e não o contrário...

Voltando ao texto quero dizer o seguinte: talvez aqui esteja o maior ensinamento do Krishna. O sacrifício da autoria e da intencionalidade – sacrificar o ‘eu’, sacrificar as suas paixões, vontades, culpas, intencionalidades, a repercussão da ação – é, dentro do caminho da elevação espiritual, a atitude que mais pode ajudar.

Participante: Falam que o cansaço é energia negativa, mas o cansaço também não pode ser Deus agindo para que alguma coisa aconteça ou não, para que se faça ou não?

Sim, o cansaço pode servir de intencionalidade para o acontecimento ou não de uma ação. Mas, preste bem atenção: você não deixa de fazer nada porque está cansado. Quando, por exemplo, acredita que o seu dia não rendeu nada porque estava cansado, ainda está preso em você mesmo: no que acha que está sentindo. Aquele que pratica a yajña diz assim: ‘hoje o dia não rendeu porque não rendeu’. Se perguntarem a esta pessoa porque não rendeu, aquele que pratica o sacrifício a Deus responde: ‘porque não era pra render’...

É isso que se está falando sobre a prática do viver em sacrifício a Deus: sacrificar o que você acha sobre os acontecimentos da vida. Achando que não está produzindo porque está cansado, sacrifique sua intenção a Deus. O seu cansaço não pode atrapalhar o rendimento porque este é dado por Deus e isso acontece independente do que você está sentindo, pois o que tem que acontecer, vai acontecer.

Sabe de uma coisa: ninguém morre de câncer porque fuma; fuma para morrer de câncer; de nada adianta se combater o cigarro. Ou seja, o que você acha que é efeito, é a causa.

Sacrificar a Deus o ‘eu’ não é simplesmente abandonar a intencionalidade: é sacrificá-la a Deus. Você pode achar que fez alguma coisa errada, mas em sacrifício ao Senhor, mata o seu errado e só diz assim: eu fiz.

Essa é a verdadeira oração, o verdadeiro amor a Deus acima de todas as coisas. O sacrifício da sua intencionalidade é na verdade, o cumprimento do primeiro mandamento da Lei que Cristo ensinou: amar a Deus acima de todas as coisas. Isso porque só quando você sacrifica seu individualismo a Deus O ama acima de si mesmo.

Esse, volto a dizer, é o ensinamento mais forte de Krishna. Todo resto do ensinamento de Krishna está em Lao Tsé, todos os ensinamentos de Krishna estão em todos os outros mestres. Mas, essa visão do sacrifício a Deus do seu individualismo, só Krishna tem.

10 - No início, o Senhor das criaturas, tendo criado o gênero hu¬mano, juntamente com "Yajña" (sacrifício, oblação, culto, orações) disse: "Por este 'Yajña' vos multiplicareis, por este 'Yajña' pros¬perareis e alcançareis todos os fins desejados, como (se lidásseis com) 'Kamadhuk' (a vaca simbólica que possui a extraordiná-ria qualidade de dar ao leiteiro tudo quanto deseja). (idem)

O gênero humano significa o Espírito no início, significa Adão e Eva. A partir daí pergunto: onde podemos achar o sacrifício na história de Adão e Eva? ‘Vocês podem comer os frutos de todas as árvores, menos dessa aqui; sacrifiquem o desejo de comê-la a Mim’. O fruto da árvore proibida é o fruto do conhecimento: o saber...

O espírito não ouviu o que Deus disse e por isso até hoje ainda quer saber as coisas. Quer conhecer a autoria de cada ação, quer saber o que está acontecendo, quer saber o resultado de cada acontecimento. Com isso, ao invés de praticar o yajña recomendado, entregou-se ao seu individualismo, ao seu prazer de comer a fruta que parecia gostosa.

11 e 12 - Com este 'yajña' (sacrifício) nutrireis aos devas (seres celestiais, duendes, elementais) e eles vos nutrirão a vós. Nutrin¬do-vos mutuamente, ambos alcançareis o bem supremo. Sendo nutridos pelo 'yajña', os devas vos darão os objetos que desejar¬des. É um verdadeiro ladrão aquele que peleja pelos objetos que os devas outorgam, sem fazer a eles as devidas oferendas. (idem)

Com o sacrifício do individualismo a Deus você se nutre espiritualmente, ou seja, recebe amor.

Quando você quer ganhar, recebe o ganhar, quando tem raiva de perder, recebe a raiva, quando tem mágoa pelo que foi lhe feito, recebe mágoa. Só através do sacrifício do individualismo é que entra no amor perfeito, na conjunção perfeita do amor com Deus.

É um ladrão aquele que quer ter alguma coisa sem sacrificar algo. Você quer ter a felicidade, mas não quer sacrificar a sua visão do acontecimento; quer estar harmonizado com o Universo, mas não quer sacrificar a Deus o que você acha do outro. Para receber do Pai é preciso sacrificar a Deus seus rituais, seus atos, suas vontades, seus desejos. Precisa sacrificar tudo isso para poder receber algo Dele.

Sem dar algo, não se recebe nada. Cristo ensinou que “é dando que se recebe”. Dar em sacrifício o individualismo para poder receber o amor de Deus.

13 - Os justos, comendo os restos do "yajña" (sacrifício, obla¬ção), libertam-se de todos os pecados, mas os injustos (ou os que não fazem oferendas), os que cozinham só para si, comem pecados. (idem)

Os restos citados por Krishna são os resultados da ação. Por exemplo: você agiu gritando com uma pessoa, mas conseguiu vivenciar esta situação fazendo o sacrifício a Deus. O resto desta ação será a consciência da presença do amor de Deus. Agora, praticou a mesma ação sem se sacrificar a Deus, certamente vai se sentir ferido quando o outro revidar.

Para poder receber a justa recompensa de Deus, você precisa sacrificar a Ele as suas intenções. Se ao invés disso ainda se sente vitoriosa por ter ganhado a discussão com ele ou sente-se culpado por ter agido daquela maneira receberá o que sobrou daquela ação: o prazer ou a dor.

O resto (resultado) é o que sobra da ação.

14 - Os seres corpóreos nascem do alimento, o alimento provém da chuva, a chuva vem de "yajña" (das rezas, dos rituais, das oblações) e o "yajña" vem da ação ou "karma". (idem)

O que precisa sacrificar vem do seu carma, vêm das suas ações interiores anteriores. Se você grita com alguém é porque se desgostou com o que ele disse ou fez. Mas, antes de se desgostar você teve certeza de que ele disse ou fez determinada coisa. Ou seja, você não praticou o sacrifício a Deus naquele momento. Com isso gerou para si um carma. Durante este novo acontecimento que está vinculado ao carma anterior é preciso que pratique o yajña para poder gerar para si outro tipo de carma.