Ensinamentos de Krishna - Resumo

O conhecimento de Deus

01. Ó Partha... se praticas a yoga com a mente fixa em Mim, tomando refúgio em Mim, ouve como poderás conhecer-Me plenamente e sem qualquer dúvida. (Bhagavad Gita – Capítulo VII)

O caminho do reto conhecimento começa quando você foca a mente em Deus e se refugia Nele. Focar a mente em Deus é compreender as coisas deste mundo da seguinte forma: tudo foi Deus que fez. Refugiar-se em Deus é atribuir a seguinte idéia ao futuro: só vai acontecer o que Deus quiser. Quando você alcançar este reto entendimento qualquer coisa que aconteça será o que pode lhe acontecer de melhor, já que sua confiança (fé) estará depositada em Deus.

Portanto, para aquele que possui o reto entendimento pouco importa o que acontece nesta vida. Por estar refugiado em Deus, este não sofre. Não importa o que aconteça, se a mente está focada em Deus, este só O verá agindo e por conta da confiança que tem no Pai, jamais sofrerá.

Agora, se a mente está dispersa pelo turbilhão das idéias, o ser humanizado ficará perdido buscando entender o que acontece. Como isso é impossível para quem não tem o reto entendimento, o ego criará falsas verdades, fantasias, para gerar uma compreensão que não é real. Neste momento, aquele que não está refugiado em Deus, mas no eu, no ego, sofrerá, pois sentirá sempre sua felicidade ameaçada pela vida. Por causa da incerteza sobre o futuro (se terá ou não suas vontades satisfeitas) sofrerá constantemente.

02. Sem reservas te falarei sobre este conhecimento e o método de sua realização; vivenciando-os, nada mais resta para conhecer aqui neste mundo. (idem)

Um grande recado do Krishna neste trecho: quem possui o reto entendimento penetra nos segredos mais profundos do Universo. Isso acontece sem que nenhum conhecimento tenha sido transferido...

Os seres humanizados vivem buscando informações sobre Universo. Seja através da ciência ou do estudo das coisas espirituais, estão sempre buscando conhecer a intimidade do Todo. Mas, alcançar isso através de conhecimentos é impossível. A mente humana não possui capacidade para tornar conscientes as informações sobre as coisas que existem além deste planeta. Falta-lhe sentido para poder percebê-las; faltam-lhe imagens para poder descrever o que poderia ser percebido. Por isso esta busca é vã.

Apesar disso, Krishna nos afirma que o ser mesmo humanizado pode penetrar neste desconhecido. Esta penetração, no entanto, não se dá por conceitos, por formas, por informações que possam ser compreendidas. Aquele que possui o reto entendimento e que, portanto, sabe que só Deus age, mesmo sem compreender esta informação perfeitamente, já sabe tudo o que pode ser sabido neste momento.

Mas, quando este conhecimento chega ao ser? Quando há a vivência do reto entendimento, ou seja, a prática do que se sabe. Penetra no segredo do Universo aquele que vivencia a consciência de que é Deus quem faz tudo e não apenas aquele que conhece esta informação. Sem a vivência do reto caminho, ninguém consegue conhecer tudo o que há para ser conhecido.

Portanto, por mais que um ser humanizado seja instruído na questão das coisas universais, por mais que ele conheça de cor e salteado os ensinamentos dos mestres, sem a vivência, sem a colocação na prática, sem o orai e vigiai a cada segundo para conhecer a intenção gerada pelo ego e libertar-se dela, este jamais chegará a conhecimento algum.

03. Entre milhares de seres humanos, apenas um busca a perfeição; entre os que tentam, possivelmente somente um alcança a perfeição e entre os perfeitos, talvez um só Me compreende perfeitamente. (idem)

Neste trecho do Bhagavad Gita há um grande ensinamento sobre o reto entendimento que precisamos nos aprofundar. Vamos vê-lo em detalhes...

Quando o Bendito Senhor fala dos seres humanizados que existem, claro, não está falando na sua totalidade, pois a sua conversa é com um buscador de Deus. Ele, portanto, está se referindo a existência de milhares de seres humanizados que se dizem buscadores de Deus. Quando fala deles afirma que apenas um realmente busca a perfeição. Quem são os que apesar de dizerem que estão buscando Deus não o fazem realmente? São aqueles que são católicos, mas que só vão à missa de domingo, aqueles que são espíritas, mas só freqüentam o centro na quarta-feira e não fazem mais nada por sua reforma. Enfim, Krishna está falando daqueles que apesar de se dizerem participantes de uma doutrina religiosa, apenas comparecem aos cultos, mas não praticam nenhum ensinamento dela.

Saiba que entre os que se dizem buscadores de Deus, na verdade só um O está procurando realmente. Os outros comparecem aos templos de sua religião para dar uma satisfação à sociedade ou para conquistar desejos e não para buscar ao Pai realmente. Estes, na verdade, não são movidos pelo anseio de procurar a elevação espiritual, mas freqüentam os cultos de uma religião por medo do que lhes acontecerá depois do desencarne.

Aquele que não busca o reto entendimento, ou seja, que não vive com a mente focada em Deus, freqüenta o culto da religião que professa apenas para ter uma desculpa quando desencarnar: ‘eu freqüentei tal centro’, ‘eu ia a igreja todo domingo me confessava e comungava’... Acha que desta forma pode enganar a espiritualidade e não receber aquilo que plantou. Ele não está preocupado com a questão do aproveitamento desta encarnação para a elevação espiritual, mas apenas buscando um salvo conduto para quando do seu retorna à pátria espiritual.

Apesar dos seres humanizados que agem desta forma ser muitos, existe ainda uma boa quantidade de pessoas que está preocupado com esta questão, mas mesmo entre estes, poucos chegarão. É a questão da frase de Cristo que certamente vocês já ouviram: muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.

Por que isso acontece? Porque mesmo de alguns que buscam poucos conseguem alcançar? Porque para se alcançar a elevação espiritual é preciso um desprendimento muito grande de si mesmo e poucos tem coragem de fazer isso. Para se alcançar o reto entendimento é preciso matar você mesmo, é preciso desprender-se de tudo que até hoje para você foi importante. É por isso que Cristo diz ao moço que sempre cumpriu todos os ditames doutrinários de sua religião: abandone a sua riqueza e venha comigo.

Quando ele fala isso não está se referindo apenas à riqueza material, à posse de objetos, mas também as emoções. Para se alcançar o reto entendimento é preciso libertar-se do que se gosta, do que se quer, do que se acha importante conquistar. Todas estas razões são elementos gerados pela personalidade humana e, portanto, incompatíveis de serem vividas por quem almeja estabelecer-se definitivamente no mundo universal.

É a partir deste aspecto que Krishna afirma a existência de alguns que são movidos pela busca a Deus, mas que dificilmente conseguirão o reto entendimento. Mesmo quem diz amar a Deus tem dificuldades para abandonar estas razões oriundas das paixões, posses e desejos gerados pela mente humana. Dizem amar a Deus, mas não o fazem acima de sua própria satisfação humana. Por isso não estão dispostos a abrir mão das suas vidas, no sentido de realizar-se materialmente, não estão dispostos a abrir mão do pretenso comando da vida.

Estes são os dois primeiros tipos que Krishna cita como aqueles que não conseguirão o reto entendimento: aquele que tenta ganhar um salvo conduto para depois do desencarne ou que se torna religioso como uma satisfação à sociedade e aquele que apesar de realmente tentar, não consegue libertar-se da realização material. No entanto, o Bendito Senhor ainda fala de um terceiro tipo: os perfeitos. Vamos falar deles...

Para podermos compreender quem são os perfeitos que Krishna cita que não conseguirão o reto entendimento precisamos observar o que fala sobre os que deste grupo conseguirão. Sobre estes ele diz: “Me compreenderão perfeitamente”. Isso quer dizer que os perfeitos que não alcançarão o reto entendimento possuem uma compreensão sobre Deus. Portanto, ele está se referindo agora a doutos religiosos...

Krishna está falando dos padres, dos médiuns, dos palestrantes de centros espíritas, dos dirigentes das diversas religiões. Na verdade, está falando dos professores da lei sobre os quais Cristo também falou: aqueles que conhecem, mas não praticam o que sabem.

Os seres humanizados que possuem um conhecimento profundo sobre os ensinamentos dos mestres possuem, também, um determinado entendimento. Este, no entanto, segundo o Bendito Senhor, não os leva a alcançar o reto entendimento. Por que isso? Porque este entendimento se firma no culto ao ego, aos anseios e desejos humanos, à busca da satisfação nesta vida. Não alcançam o reto entendimento também porque na prática do ensinamento do mestre ao invés de cultuarem a Deus, idolatram outros seres humanizados: os mensageiros de Deus.

Os doutos das religiões criam interpretações para os ensinamentos de tal forma que eles sirvam como instrumento do prazer mundano e como instrumento de idolatria aos mestres enviados por Deus. É por conta destas duas bases em que se fundamenta a compreensão dos doutos religiosos que Krishna afirma que eles não alcançarão o reto entendimento.

Se o reto entendimento é a compreensão de que apenas Deus age e quando o faz é por conta da Justiça Perfeita e do Amor Sublime, é preciso se cultuar a Ele para promover a reforma íntima. Se o reto entendimento leva em conta a existência de uma realidade única, a vida universal, é nela que se deve buscar a felicidade. Justamente por causa desta diferença entre o reto entendimento e a forma de proceder dos perfeitos é que apenas um deles conseguirá atingir a elevação espiritual, por mais que conheçam os textos dos ensinamentos.

Desta análise sobre o que Krishna falou tiramos uma grande lição: para chegarmos a Deus e promover a reforma íntima, de nada adianta ser professor da lei. De nada adianta freqüentar cultos, de nada adianta se conhecer o que deve ser feito: se não houver uma centralização mental no Pai, nada leva o ser humanizado a aproveitar a sua encarnação. Nada o fará renascer do espírito e da água a não ser a convivência amorosa com Deus a cada momento, aconteça o que acontecer na vida carnal.

Aquele que não se entrega ao processo de reforma íntima com a consciência de que tudo que lhe acontece é fruto do amor de Deus, ficará num dos três grupos de buscadores que Krishna enumerou. Somente aquele que por força da sua confiança no Pai (fé) entrega-se completamente a Ele e vivencia o Seu amor independente do acontecimento da vida será o escolhido e, como diz a Bíblia, sentar-se-á ao Seu lado direito. Para que essa confiança e entrega seja alcançada é preciso que o ser humanizado abra mão de si mesmo, de suas posses, paixões e desejos, que não tenha mais obrigações nesta vida, e que não queira transformar a sua compreensão sobre os ensinamentos em verdades.

Participante: ouvi uma moça evangélica que na sua corrente doutrinária se prega que a riqueza material, a posse de objetos neste mundo, e o status que se pode adquirir como Inal da benção de Deus. Ou seja, segundo esta corrente, Deus dá tudo para eles porque são bons. A partir daí também pregam que aquele que não consegue nada é porque são muito pecadores e não merecem a ajuda de Deus.

Eis aí um exemplo do porque muitos doutos não conseguem, apesar de conhecerem os ensinamentos.

Os dirigentes desta corrente evangélica certamente já leram na Bíblia que Cristo afirma que não se pode servir dois senhores ao mesmo tempo. Também já leram que ele afirma que se deve amealhar bens no céu e não na Terra. Onde estão presentes estas informações no que eles pregam?

Repare numa coisa. A questão de Deus dá a cada um segundo suas obras está completamente vinculada aos ensinamentos de Cristo, mas o que Ele dá foi desvirtuado por uma compreensão de um ser humanizado que está apegado à idéia de gozar da felicidade neste por mundo. É a questão da interpretação dos ensinamentos que comentamos e que não deixa o ser humanizado que acredita nela alcançar o reto entendimento.

04. A terra, a água, o fogo, o ar, o éter, a mente personificada, o intelecto e o egotismo constituem a minha prakriti em suas oito divisões. (idem)

Prakriti é a consciência do espírito encarnado. Ela é formada pela terra (mineral), água (mundo aquático), fogo, ar – que juntos constituem os quatro elementos básicos da Terra – e pelo éter, que é a parte espiritual. Além disso, a mente personificada (o ego, o espírito encarnado) é formada pelo intelecto (os conhecimentos ou a memórias dos acontecimentos humanos) e pelo egoísmo (a vontade de se satisfazer).

Esses são os elementos que compõem a materialidade, ou a humanização do espírito. São elementos materiais e não espirituais. Mesmo o éter que Krishna fala trata-se de uma espiritualidade baseada ns valores do mundo material e não na Realidade universal.

05. Esta é a minha prakriti inferior. Diferente dela, ó tu de braços poderosos, é a minha prakriti superior, vivencia-a porque ela é o ser interno que sustenta este Universo. (idem)

Prakriti superior é a consciência espiritual. Aquela que o ser possui quando liberto da consciência inferior.

A prakriti superior ou consciência espiritual é superior à humana.

Participante: a prakriti seria uma influência a consciência ou não?

Sim, ela influencia aquilo do qual você se conscientiza porque é formada pelos elementos que comentamos e estes pertencem apenas ao mundo terrestre. Quem se deixa guiar pela prakriti inferior está apegado ao mundo humano.

Participante: mas a inteligência não é o espírito?

Difícil conversar sobre isso, pois vocês não sabem o que é inteligência. Em O Livro dos Espíritos é dito que o ser é o princípio inteligente do Universo, o que nos leva a confundi-lo com a própria inteligência. No entanto, posteriormente o Espírito da Verdade afirma que a inteligência é uma propriedade que o espírito possui. Isso derruba aquela tese.

Saiba apenas que o espírito vivencia duas prakriti: a inferior e a superior. A primeira é formada por elementos materiais e a segunda por elementos universais. Aquele que alcança o reto entendimento conhece isso e por este motivo não vivencia as consciências que a prakriti inferior cria como reais.

06. Sabe que todos os seres são gerados por essas duas prakriti. Eu sou a origem e também a dissolução do cosmo inteiro. (idem)

“Saiba que todos os seres são gerados por essas duas prakriti”, ou seja, todos os seres, humanos ou espirituais, vivem nessas duas prakriti. Eles são formados, gerados, passam a existir por conta das duas prakriti.

Participante: originados?

Originados no sentido de formados. É a existência de uma consciência que dá origem à idéia de se existir.

Participante: ser espiritual ou material? Qualquer um?

Sim, isso, qualquer um.

Agora, repare num detalhe. Claramente Krishna está falando neste trecho da prakriti. No entanto, na última frase ele diz: “Eu sou”... O que isso quer dizer? Que Deus é a própria prakriti, as consciências que geram a existência de uma individualidade...

Nada existe sem que Deus dê a idéia de existir. Nenhum ser, encarnado ou não, possui consciência de sua própria existência se o Pai não lhe conferir esta idéia. Isso é importante de se compreender para se alcançar o reto entendimento.

Um dos grandes entraves para a entrega com confiança à Deus durante os acontecimentos da vida é a questão do amor próprio, dos brios. Em nome destas coisas o ser humanizado imagina que precisa agir para se defender dos ataques do mundo ao seu íntimo. Mas, ataques a quem? A quem é apenas uma consciência gerada por Deus?

O amor a si mesmo como praticado nos moldes dos seres humanizados é algo que cai no vazio quando se entende que a consciência de ser, de existir é irreal: é apenas uma idéia de ser que Deus está criando. Não há nada sendo, mas apenas a idéia de ser alguma coisa. Por conta disso, volto a perguntar? Defender o que? Defender-se do que?

Mas, a informação sobre as prakriti não param por aí. O Bendito Senhor diz mais: ela é a origem de todas as coisas e também a dissolução delas.

Para os seres humanizados tudo que acontece tem uma origem ou um fim, um começa ou um término. No entanto, quando nos deparamos com a informação de que tudo o que existe apenas como uma consciência, como uma idéia de existir, a crença de algo começa ou acaba se transforma apenas numa idéia e não numa realidade.

Ter a consciência de ser, estar ou fazer é diferente do estar praticando ou sendo algo. Você não é gordo ou magro, mas tem a idéia de ser. Isso quer dizer que não é o volume da sua cintura que existe, mas que ele passa a existir porque você tem a consciência de ser gordo. É esta consciência que lhe faz perceber um volume grande na barriga e não ao contrário.

Entendido isso, posso, então, afirmar que nada existe: tudo é apenas uma idéia da existência das coisas. Olhe para sua frente. O que está vendo? Não importa o que seja aquilo não existe. Só passa a existir porque Deus lhe deu a idéia daquilo estar na sua frente agora. Se Ele não desse essa consciência, se não formasse essa prakriti, aquilo não estaria ali.

Este é o grande ensinamento de Krishna neste capítulo do Bhagavad Gita que pode nos ajudar a atingir ao reto conhecimento. Só juntando a idéia de que as coisas não são percebidas, mas formadas por consciências que são enviadas por Deus o ser humanizado pode praticar a reta vivência: Deus é tudo. Sem esta idéia o ser ainda continuará vivendo a existência de múltiplas coisas, entre elas ele mesmo, que se movimentam por moto próprio e em face do seu egoísmo nato, terá que defender seus interesses para ter seus desejos alcançados.

Portanto, se a origem de todas as coisas é a prakriti e não a realidade, a origem da terra, da água, do fogo, do éter, do intelecto e até do próprio egoísmo que você vivencia está em Deus. Ele também é a dissolução de tudo isso. Sendo assim, mantenha-se equânime, firme na relação amorosa com o Pai, quer seja na origem ou na dissolução das coisas que vivencia

Participante: qual é o trabalho da gente?

O trabalho do espírito enquanto recebe a prakriti de Deus é o que foi falado nos outros capítulos: sacrificar sua intenção ao Senhor. Não é não ter intenções, mas tendo-as sacrificá-las a Deus.

As intenções que sua mente gera são parte da prakriti, ou seja, algo gerado por Deus. Por causa disso, nunca deixará de tê-las. Mas, se é Ele que gera e dissolve as coisas, o Pai pode acabar com elas. Quando isso acontecerá? Quando você começar a participar dos acontecimentos desta vida em interligação com Ele, entregando-se a Ele, sacrificando sua intenção por conta desta relação amorosa.

Um grande exemplo disso é a frase de Cristo ao final da Santa Ceia: “Pai, afasta de mim este cálice.” Nesta frase está nítida a presença de uma intenção, mas na continuação dela encontra-se claramente também o sacrifício dela ao Pai: “se não for possível, que seja feita a Sua vontade.” Apesar de possuir a intenção de não viver determinado acontecimento, no caso a crucificação, Cristo sacrificou o seu querer ao Pai e manteve-se em paz e tranqüilo. Com isso harmonizou-se com o momento que viveria.

É esse eu o seu trabalho para alcançar o reto caminhar. É por conta dele que você, ser universal, ao longo das encarnações alcança a elevação espiritual.

Participante: mas, quando acabarão estas provações?

Quando Deus acabar. Quando Ele julgar que realmente você conseguiu libertar-se de suas intencionalidades egoístas, as provações acabarão. Ou seja, quando praticar tudo o que Krishna e outros mestres ensinaram conseguirá encontrar o reto caminho que o aproximará de Deus e neste momento todas as provações se acabam.

07. Ó Dhananjaya... além de Mim, nada existe de mais elevado. E tudo isto existe em Mim, como pérolas enfiadas num barbante. (idem)

Pouca coisa tem a se comentar neste trecho que não tenha sido falado antes. Quero apenas abordar a questão do Universo como Krishna o descreveu: tudo existe como pérolas enfiadas num barbante. Bela figura...

 Tudo o que existe no Universo são pérolas enfiadas num mesmo barbante, ou seja, são individualidades que formam uma nova individualidade, que chamamos de colar. Ele, no entanto, só existe quando há o barbante; se não houvesse, as pérolas ficariam espalhadas e não formariam um colar.

Nesta figura criada por Krishna o barbante é Deus. É ele que entrelaça tudo o que existe e faz surgir a realidade que você vivencia. Sem Ele, todas as coisas ficariam dispersas e nada faria sentido.

A partir desta figura, podemos compreender que qualquer lógica que seja alcançada precisa necessariamente conter a idéia de que Deus é que faz as coisas acontecerem. Se ela não estiver presente, não há lógica no que é pensado.

08. Ó filho de Kunti... Eu sou o sabor das águas, o esplendor do sol e da lua; sou a sagrada sílaba OM dos Vedas, sou a música do espaço e sou também o ser consciência do homem. (idem)

Deus é tudo. Isso Krishna fala às pessoas que adoram a natureza, a espiritualidade e as músicas. Com isso ele diz: sem colocar Deus atrás de tudo ou sem adorá-Lo através das coisas que gosta, não há como se alcançar a elevação espiritual. É isso que precisamos entender...

Não há o menor problema em achar lindo o pôr do sol, em gostar das informações que se recebe sobre o mundo espiritual ou em ouvir sons: o problema existe quando não se usa estas coisas para alcançar a Deus. Quem ama as coisas apenas por elas mesmo não se aproxima da Causa Primária delas.

09. Sou a fragrância na terra, a luminosidade no fogo; sou a vida de todos os seres e sou a austeridade nos ascetas.

10. Percebe-Me, ó Partha, como a semente eterna de todos os seres; sou o reto entendimento dos inteligentes, a valentia dos valentes e o poder dos poderosos. (idem)

Até aqui Krishna falou que os objetos materiais são Deus, mas Ele não é só isso. É também tudo o que você acredita ser.

Achando-se valente, saiba que a sua valentia é Deus; achando-se triste, saiba que sua tristeza também é Deus. Sendo um sonhador, saiba que isso é Deus. Ou seja, aquilo que acha que é, que imagina que está sentindo é Deus, já que tudo o que acredita sobre si mesmo é apenas uma consciência que o Pai está lhe dando e não uma realidade.

Deus é a semente universal. Se tudo o que passa a existir precisa de uma semente para germinar e crescer, a consciência de existir ou ser algo, também é Deus. Nada acontece que você tenha consciência nesse mundo se a semente daquela idéia não tiver sido plantada por Deus. Pouco importa se estamos falando da sua blusa, do cachorro, da planta, do sol, da casa ou daquilo que pensa sobre si ou sobre os outros, tudo nasceu da semente Deus e por isso é Ele.

É por isso que apenas aqueles que suplantam a tudo, inclusive a si mesmos, e se religam completamente ao Pai, alcançam a felicidade. Qualquer coisa que considere independente de Deus, é uma ilusão, um maya.

11. Ó príncipe da raça Bhârata, Eu sou o a força isenta de desejos e ligaduras. Eu sou também o anelo de todos os seres que não se opõem aos deveres morais e espirituais. (idem)

Apesar de ser tudo o que existe, Deus é isento de desejos e não ligado aos anseios humanos. Isso quer dizer que os seus desejos não são uma semente de Deus? Claro que não. Ao dizermos que Ele é tudo, afirmamos também que é inclusive a sua consciência de desejar alguma coisa. Mas, isso não quer dizer que ele deseja o que lhe faz desejar.

O desejo que Deus dá a cada um é a provação que representa os gêneros de prova que cada ser escolhe antes de encarnar. Quando, por exemplo, Ele gera a consciência de desejar o que não se tem, isso não quer dizer que ele comungue deste anseio. O faz apenas para que o ser possa exercer o seu livre arbítrio e optar pelo reto caminho: tudo é Deus e por isso não apego a este desejo.

Além de dar o desejo, Deus também é a força que leva os seres a libertarem-se da busca dos prazeres mundanos. Já falamos sobre isso: Deus dá esta força àqueles que sinceramente O busca

Mas, além destas coisas, o Pai também é a prisão daqueles que não se entregam à universalidade. Não é justo que aqueles que não aproveitam uma oportunidade tenham uma provação maior? Então, é exatamente por isso que quem não segue o reto caminho vai aos poucos tendo a consciência de estar mais apegado às coisas materiais. É como diz o Espírito da Verdade: “Dando ao espírito a liberdade de escolher, Deus lhe dá a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem”.

Sendo Deus, então, o desligamento do mundo mundano ou a prisão a este, volto a repetir o que eu digo sempre: em cada segundo da sua vida há uma pergunta que Deus lhe faz. A cada momento Ele está lhe perguntando se você O amará mais do que tudo, inclusive você mesmo, ou se irá se apegar aos anseios gerados pela personalidade humana. Em cada segundo da sua vida é isso que está acontecendo enquanto você está tendo a consciência de que outras pessoas ou objetos estão agindo de determinada forma.

A partir desta consciência lhe digo mais: se a liberdade e a prisão são dadas por Deus, que culpa ou glória você tem de ter feito ou não o trabalho da busca do reto entendimento? Nenhuma... Portanto, mesmo quando a mente se glorificar de ter conseguido ou quando o crucificar por não ter, não deixe de se desapegar destas idéias para poder realmente conseguir fazer alguma coisa.

12. E sabe também que os estados sattva, rajas e tamas de Mim provêm; porém, Eu não estou nesses estados, ainda que eles estejam em Mim. (idem)

Já falamos destes elementos. Eles são características que a mente implementa quando cria os pensamentos: a característica de praticar uma ação, a de omitir-se e a de ser bondoso. Apesar delas pertencerem à mente e, portanto, à prakriti inferior, elas também provém de Deus, mas Ele não se encontra nestes estados, ou seja, não possui a intenção de agir ou omitir-se nem se utiliza da bondade que vocês conhecem.

13. Por ser enganado por esses estados, compostos pelos três gunas (ou qualidades da prakriti), este mundo não Me percebe, nem sabe que estou além dos gunas e que sou imutável. (idem)

Quando você se depara com a presença destas características nos pensamentos que a mente cria, ou seja, a compreensão racional do momento de sua existência, ilude-se.. Se ilude com o que? Com a idéia de que é você que está querendo agir ou omitir-se, que é você que está querendo ser bondoso... Nenhuma destas idéias é nata de você, mas provém de Deus. Por isso acreditar que você está com vontade de fazer ou deixar de fazer é uma ilusão...

É por conta desta convicção que você consegue chegar ao reto caminho, ou seja, que consegue sacrificar suas intencionalidades a Deus. Somente quando o ser compreende que as consciências não são expressões dos desejos individuais, mas sim uma provação dada por Deus ao espírito, é que ele consegue caminhar no reto caminho.

14. Em verdade, este meu divino maya, composto pelos gunas, é difícil de superar e transcender. Ó Arjuna, só os que se refugiam em Mim é que conseguem transcender maya. (idem)

Maya é a ilusão que o ser humano vivencia quando acredita que a consciência que recebe da mente expressa um desejo seu. Essa divina ilusão, pois provém de Deus, é difícil de ser superada.

Sim, é difícil superar a idéia de que existe uma parede naquele lugar. Como superar esta idéia se ela é percebida pelos órgãos sensoriais do corpo? É difícil superar a idéia de que se está fome quando a barriga ronca. Como superar tudo isso? Refugiando-se em Deus...

Aquele que se refugia em Deus constata que existe um ronco na barriga que está sendo percebido como fome, como vontade de alimentar-se, mas ao invés de se agoniar na busca da comida, ele tranquilamente espera a hora de alimentar-se. Dependendo dele a confecção da refeição, levanta-se e placidamente vai fazê-la; não dependendo, aguarda em paz e tranqüilidade que ela seja feita.

Saber que todas as posses, paixões e desejos são fruto de Deus como provação ao espírito e que a única resposta que deve ser dada naquele momento é o refúgio no Senhor, é alcançar o reto entendimento e caminhar pelo reto caminho que leva à elevação espiritual.

15. Desprovidos de discernimento, devido ao poder de maya e arrastados por tendências demoníacas, os enganadores, os perversos e os malfeitores não chegam a Mim. (idem)

Para Krishna os seres humanizados são desprovidos de discernimento, ou seja, não possuem a verdadeira compreensão das coisas, devido ao poder de maya, porque estão presos à ilusão criada pela mente como realidade, ao que acham, Eles são arrastados por tendências demoníacas, pela tendência de querer atender ao demônio que existe dentro dele, o ego, por isso tornam-se enganadores, perversos e malfeitores. Estes não chegam a Deus.

Bela imagem ele faz dos seres humanizados, não? Apesar de forte, ela é real: os seres humanizados não chegam a Deus porque preferem aproximar-se da natureza humana que vivenciam durante a encarnação.

16. Ó Arjuna, quatro classes de homens virtuosos Me adoram: os aflitos, os que buscam a prosperidade do mundo ou do próximo, os que buscam o entendimento e os sábios de verdade. (idem)

Novamente não podemos dizer que Krishna está falando com todos os seres humanizados. Como ele está falando com Arjuna sobre a elevação espiritual, temos que entender que as quatro classes que ele cita neste trecho se referem somente à buscadores de Deus. Entre os que estão buscando a elevação espiritual existem estas quatro classes que cita Krishna: aqueles que apesar de estarem buscando a Deus ainda estão aflitos, ainda buscam a prosperidade, os que buscam o entendimento e aqueles que realmente buscam a Deus desmotivadamente. Vamos conversar sobre eles...

Para começar, pergunto: o que é preciso para se alcançar Deus? Desligar-se do ego...

Cristo ensinou que ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Desta forma, para poder estar com Deus é preciso se desligar do senhor humano: a mente geradora de falsas realidades. Este é o trabalho que deve ser feito por aquele que quer alcançar Deus. No entanto, como já vimos anteriormente, muitos apenas dizem que estão buscando alcançar o Pai, mas não se desligam do ego. Este trabalho leva o ser a viver algumas características que estão relacionadas nas classes de seres humanizados que Krishna fala neste texto.

Os aflitos são aqueles que estão desesperados, aqueles que mesmo dizendo que buscam a Deus ainda se afligem com os problemas gerados pela mente. São aqueles que acreditam que são reais as situações problemáticas desta vida. Como eles não conseguem resolver estes problemas e, por isso, não vivem a felicidade pura e eterna que o Pai tem prometido, vivem em aflição.

Estes, na verdade, estão vivendo apenas para si mesmos, para aquilo que a mente humana produz. Eles só procuram a Deus no discurso e não no coração. Eles só se lembram de Deus quando isso satisfaz as suas necessidades humanas. O Pai para eles não é um porto seguro, pois se fosse não viveriam em aflição. Não procuram Deus por amor, através da busca de uma convivência amorosa, mas apenas para que Ele o liberte do sofrimento resolvendo seus problemas. Quando isso acontece, estes nem se lembram mais de Deus.

Existem ainda os que buscam a Deus não para conviver com Ele, mas para conseguir ganhar alguma coisa neste ou em outro mundo. A diferença desta classe para a que vimos anteriormente é que aqueles querem resolver problemas, estes querem ganhar alguma coisa.

Os elementos desta classe são os buscadores que vivem fazendo promessas que retribuirão quando ganharem alguma coisa, aqueles que praticam as obrigações das religiões com a intenção de conseguir ganhar pontos no céu. Enfim, são aqueles que não estão realmente interessados em conviver com Deus, mas usá-Lo para atingir os desejos mundanos que a mente cria. Eles ainda servem ao ego e não a Deus. O Senhor para estes não é um Pai que possa acarinhá-los, mas um intermediário super poderoso que pode realizar seus anseios.

O terceiro grupo são aqueles que buscam a Deus através da ciência, através do entendimento. Eles querem que Deus se prove para eles.

Nós já conversamos sobre esse grupo aqui há algum tempo. Os elementos que pertencem a ele são como o apóstolo Tomé: precisam ver para crer. São aqueles que precisam encontrar respaldo na sua cultura para poder acreditar. Precisam que o Universo espiritual comprove a sua existência para poder passar a acreditar nele.

Dizem que Cristo vai voltar à carne. Isto é afirmado pelos elementos deste grupo, por aqueles que precisam de comprovação material para crer. Eles esperam a volta do mestre para poder acreditar no caminho que ele ensinou. Para que Cristo voltaria aqui? Para ensinar alguma coisa? Mas, ele já ensinou tudo o que tinha para ensinar. Leia a Bíblia, está tudo lá...

Na verdade os elementos desta classe citada por Krishna não estão procurando Cristo dentro de si, mas externamente. Isso porque eles só acreditam naquilo que seus órgãos do sentido ou seu mundo mental possa captar. O trabalho da reforma íntima precisa sempre da existência da fé, da entrega com confiança a alguma coisa. Por isso esperam que Cristo volte, comprove que é ele mesmo e diga a eles pessoalmente o que têm que fazer.

Se você só se entrega com confiança depois de ter feito um julgamento racional, está confiando em quem: no objeto externo que é alvo da sua fé ou no seu ego? Por confiar apenas na sua personalidade humana é que os elementos deste grupo também dizem que buscam a Deus, mas servem apenas à humanidade que estão vivendo durante a encarnação.

Participante: a gente sempre acha que se acontecer um milagre é mais fácil acreditar.

É claro; é mais fácil presenciar um milagre para crer do que realizar um trabalho de reforma íntima. Aliás, Cristo fala isso na Bíblia. Ele diz que os judeus da época viviam pedindo milagres para poderem acreditar. Hoje, dois mil anos depois, os seres humanizados continuam iguais...

Saiba de uma coisa: não existe milagre que possa lhe salvar de algo. Tudo o que lhe acontece é um carma, é o resultado de uma vivência anterior que você teve. Portanto, se quer mudar alguma coisa amanhã, precisa se mudar hoje.

Este é o terceiro grupo citado por Krishna: aqueles que estão preocupados em compreender ensinamentos para que possam avaliar a realidade das coisas. A classe daqueles que estão preocupados em conhecer cientificamente o mundo espiritual, conhecer Deus cientificamente. Mas, há mais um grupo citado por Krishna: o dos sábios. Vamos vê-lo...

Os seres humanizados que estão na quarta classe que o Bendito senhor afirma existir são aqueles que verdadeiramente procuram Deus. Quem são eles? Pela simples constatação dos elementos que pertencem aos outros grupos temos a resposta: aqueles que não se afligem com as coisas deste mundo, que vivem sem buscar ganhar neste ou em outro mundo e aqueles que crêem independente do que conhecem. Quem consegue vivenciar isso, apesar da mente produzir pensamentos que gerem realidades humanas, são os que verdadeiramente estão buscando a Deus, pois estão trabalhando para libertarem-se do ego.

Esses são, portanto, os quatro grupos de buscadores de Deus que existem dentro da humanidade. Todos os seres humanizados que, através de uma doutrina religiosa qualquer, se dizem buscadores de Deus estão incluídos neles. Pena é que setenta por cento dos buscadores ainda se afligem, vinte por cento quer ganhar, nove por cento precisa ver para crer e apenas um por cento realmente luta para se libertar da sua humanidade...