Ensinamentos de Krishna - Resumo

Para alcançar Deus

06. Ó filho de Kunti, se um homem, no momento de morrer, pensa em qualquer coisa (objeto, pessoa ou deva), por estar constantemente absorto nisso, para isso se dirige quando abandona o corpo. (Bhagavad Gita – Capítulo VIII)

Neste trecho Krishna nos explica a figura do obsessor. Este é aquele que ao desencarnar morre ligado na ação que o matou. Quem no momento do desencarne está ligado ao ego, ou seja, aos pensamentos que comentam o momento morte, continua vivendo preso à personalidade humana.

Por causa disso, aquele que no momento do desencarne está apegado aos pensamentos que construíram sofrimentos para o ser e que apontaram determinada pessoa como causadora deles se transforma em obsessor daquela. Quem, no momento do desencarne não se dá com outro ser encarnado, continuará, mesmo sem carne, desgostoso daquele e assim como quando estava na carne procurará vingar-se do que o outro lhe fez. É isso que vocês chamam de obsessão...

É por conta desta obsessão que na Bíblia Cristo diz: se alguém tem alguma coisa contra você, vá correndo fazer as pazes, pois senão ela pode representar contra você junto ao juiz. Todo aquele que sai da carne ligado às idéias humanas continua vivendo a mesma coisa no mundo espiritual.

Só que esta obsessão não se dá apenas por sensações consideradas como negativas, mas também pelas chamadas positivas. Quem sai apegado a uma ligação sentimental amorosa que a mente cria a respeito de outro ser encarnado, seja pai, mãe, marido/mulher, filho ou filha, continua vivendo esta mesma sensação depois do desencarne. Por causa dela, como fazia durante a encarnação, tentará dirigir a existência do outro dizendo o que é certo e errado para ele, o que é bom ou mal de ser feito.

Participante: a obsessão espiritual é tratada no mundo humano como a presença de um espírito do mal que busca atrapalhar a vida de um encarnado. Quer dizer que isso é errado, ou seja, que existe obsessão por amor?

Não existe espírito maligno.

Você chama de mal aqueles que, encarnados ou não, lhe contraria, ou seja, que não age em benefício de seus desejos. Mas, se como já vimos, tudo é emanação de Deus. Portanto, aquele que age assim está vivenciando uma emanação de Deus. Por este raciocínio, quando você chama outro ser de mal, está classificando desta forma o próprio Pai.

Voltando à questão da obsessão, ela é muito mais ampla do que vocês imaginam Como vimos, ela acontece quando o espírito sai preso ao ego e vive como real aquilo que o pensamento afirma existir, seja esta relação marcada por sensações positivas ou negativas. Mas, ela pode acontecer também entre encarnados e desencarnados e entre dois seres humanizados. Isso acontece porque toda relação criada pela mente é fundamentada no egoísmo o que confere a quem se gosta o título de ‘é meu’...

A mãe é obsessora do filho, o amigo daquele por quem nutre amizade. Quem fica obsedia aquele que desencarna.

Participante: nós chamamos isso de saudade...

Sim, eu sei que vocês utilizam este termo para designar esta relação e que consideram esta sensação como prova de amor, mas isso não é verdadeiro. Sempre que se coloca a denominação é meu, não importando seu o que, o que existe é uma obsessão, já que esta mesma expressão é usada para se criar uma possessão.

Participante: como trabalho de desobsessão nós costumamos realizar um trabalho no sentido de orientar apenas o desencarnado para acabar com a obsessão. Quer dizer que devemos também doutrinar o ser humanizado?

Perfeito. É preciso orientar o encarnado no sentido dele desligar-se das verdades criadas pelo ego, pois senão, como afirma Krishna, depois do desencarne estes continuarão se obsediando.

07. Por conseguinte, tenha-Me sempre em mente e luta. Tendo-Me oferecido a tua mente e o teu entendimento, sem qualquer dúvida, chegarás a Mim. (idem)

O ensinamento de Krishna neste trecho é claríssimo: tenha Deus sempre em mente e viva buscando sempre fazer oblação.

 Ontem, eu estava falando com uma menina e disse a ela uma coisa interessante: vocês vivem buscando a felicidade, mas quando ela aparece, ao invés de vivenciá-la, complicam as coisas preocupando-se com a dúvida se aquilo está certo ou não, querendo descobrir quando aquele momento deixará de existir, se é justo ou não ter aquela felicidade. Realmente vocês humanos são incongruentes...

Esta menina que conversei estava me dizendo que gostava de um moço e que esta sensação a estava fazendo feliz. Só que ao mesmo tempo queria saber se estava certo gostar dele, se aquela relação ia ter futuro, se tudo correria bem ou não entre eles. Vocês realmente são engraçados: dizem que querem ser felizes, mas quando a felicidade chega complicam a vida gerando preocupações que não fazem parte daquele momento.

É sobre isso que Krishna está falando. Ele está dizendo que o ser humanizado deve ter Deus sempre em mente e saber enfrentar a vida, saber enfrentar os pensamentos que constroem os momentos de uma existência. Aquele que sabe viver esta vida espiritualmente falando é quem não vivencia a preocupação, o sofrimento, o remorso, a auto-acusação e a crítica que a mente cria. Por ter Deus fixo em sua mente, caminha em paz e tranqüilidade, pouco importando o que o ego está criando.

É por isso que Krishna fala que o ser humanizado deve por Deus em sua mente. Quando isso acontece, o ser humanizado consegue viver exclusivamente com e para Ele. Este não conhece problemas, chateações, aborrecimentos. Por isso, quando estiver vivenciando um momento de felicidade, ao invés de se preocupar, curta este momento profundamente, se entregue àquela sensação. O que acontecerá depois? Só Deus sabe...

Mas, o Bendito Senhor diz mais: aquele que oferece sua mente a Deus terá um entendimento das coisas que o levará a aproximar-se do Pai.

O que está na mente de vocês hoje? O egoísmo, ou seja, a defesa de seus interesses. Isto é o que está sempre presente na mente do ser humanizado hoje, pouco importando o que está acontecendo. Ele sempre participa dos momentos da vida preocupado em ganhar, em ter o prazer, em ser reconhecido e elogiado pelos outros. É a preocupação da defesa de seus interesses que precisa ser substituída por Deus. Deixando de preocupar-se com os seus interesses e entregando a salvaguarda deles à Deus, estará livre para poder curtir o momento de agora intensamente.

O problema é que além de não estarem preocupados prioritariamente com Deus, vocês ainda imaginam que Ele está muito longe. Acham que ele está no céu. Para poder focarem-se Nele é preciso lembrar-se de outro ensinamento de Krishna: tudo é emanação de Deus.

Deus é tudo e tudo é Deus. Ele é todos os objetos com os quais você se envolve, é todas as pessoas que convive com você, é tudo o que faz e pensa. Ele está aqui ao seu lado, é você, e não no Universo. Lembrando-se disso, fica mais fácil ter Deus sempre em mente e com isso conseguir viver plenamente a felicidade quando ela surge.

Quem vive Deus como tudo o que existe tem uma compreensão diferente dos acontecimentos da vida. Ao invés de se preocupar com o que os outros fazem, ao invés de querer entender o que está acontecendo, vê o Pai em todas as coisas e aí se entrega a Ele, pouco importando o que está ocorrendo.

08. Ó Partha, aquele que pratica a yoga constantemente e que não permite que a mente fique vagando de lá para cá, quando medita no Divino Ser Supremo chega a Ele. (idem)

A mente vagueia de lá para cá, ou seja, os pensamentos se alternam constantemente. Mas, se alternam de onde para onde? Do certo para o errado, do bonito para o feio, do que você gosta para o que não gosta. É assim que você vive: navegando ao sabor dos pensamentos. Você não vive num caminho único, com uma rota reta traçada. Sua vida é um eterno vagar entre os dois lados da dualidade...

Só aquele que tem o pensamento fixo em Deus segue uma rota reta. Aliás, é por isso Krishna chama a yoga de reto caminho. Ela é o caminho reto que vai de você a Deus.

Aquele que trilha por este caminho alcança a felicidade pura e eterna, ou seja, é sempre feliz. Já aquele que navega de acordo com os pensamentos, um dia está bem e no outro dia está mal e no outro ainda está pior. Às vezes melhora um pouquinho, mas no outro dia volta a cair...

09 e 10. Aquele que no momento de morrer, com a mente firme e cheia de devoção, fixa o alento vital bem no meio da fronte, entre as sobrancelhas, graças ao poder da yoga e, além disso, medita sobre o Ser Onisciente e Primordial, o Governador e Dispensador de tudo, o Menor das coisas diminutas, o Sustentador de tudo, cuja forma é inconcebível, mas resplandece como o sol e que está muito além dos envolvimentos da ignorância, esse é o que obtém a Existência Suprema e Divina. (idem)

Só quero lembrar que a morte citada por Krishna não é a física, mas o Bendito Senhor fala de morte no sentido de renascimento, do matar o homem velho para renascer o novo. A partir desta visão, podemos compreender que os é falado que quando o ser humanizado está buscando o fim do homem velho deve se fixar no ser e em Deus.

Além disso, há outra informação importante neste trecho. Krishna fala que o Governador, que é Deus, quem governa, é o Menor das coisas diminutas. Como podemos entender esta fala do Bendito Senhor? Vamos ver isso...

Qual a coisa diminuta que existe? Qual a menor partícula que existe? O átomo, as moléculas. Krishna afirma que Ele é menor que estas coisas. Com isso, é óbvio que o Bendito Senhor não está falando de tamanho, até porque no mundo universal não existem formas, mas sim do que está por trás da ação dos átomos e moléculas.

Até aqui falamos de Deus como causador das coisas que você faz, da vida que o ser humanizado tem, ou seja, falamos da ação Dele sobre as personalidades humanas e sobre os objetos. Mas, o Pai não age só nas coisas macros, mas também nas micros. Ele é a Causa Primária do funcionamento de todas as moléculas e átomos dos objetos e corpos.

O bário, o mercúrio, o cromo ou o oxigênio não teriam as propriedades que possuem se Deus não os fizesse ter. Aliás, isso está dito claramente em O Livro dos Espíritos?

“07. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária”.

Sem a ação de Deus nada do que você conhece existiria. Responda-me uma coisa: do que você e tudo o que existe para você é formado? De um monte de células e átomos. Porque estas moléculas e células vivem aglomeradas nesta na forma e não se espalham? Porque Deus as une...

Eis aí a ação total de Deus como Causa Primária das coisas. Ele age sobre os seres humanizados comandando suas ações, age sobre os objetos comandando seu existir e age sobre os átomos e moléculas dando a cada um destes elementos propriedades diversas e os mantêm coesos para que as formas conhecidas no mundo humano existam. Sem a ação Dele o Universo seria um mar de átomos e células espalhadas que não possuiriam nenhuma propriedade.