Reforma íntima - Textos - Volume 09

Universo

Quando se fala em definir Universo, a questão parece ser simples demais. Universo é o conjunto de planetas, estrelas, sóis e espaços existentes: o cosmo. No entanto, como veremos neste item, ele é muito mais do que isto. A compreensão que leva o ser a alcançar o bem celeste é muito maior do que a descrição simples dos componentes materiais.

O Universo é tudo: esta seria uma definição compatível com a visão universalista. Isto é de conhecimento da humanidade e já foi ensinado pelos mestres. Porém, esta visão ficou apenas no campo teórico e não avançou para a prática da vida.

Quando afirmamos que o Universo é tudo, temos que incluir nele todos os elementos que conhecemos. Este livro, suas letras, o papel, você, eu, todos somos o Universo. Não somos apenas parte dele, mas somos o Universo.

Sendo o Universo o somatório de tudo que existe, podemos afirmar que se não houvesse este livro, se estas palavras não tivessem sido escritas, não estaríamos no Universo que estamos. Qualquer elemento que exista que não tivesse sido criado levaria a algo diferente do que temos hoje e, portanto, afetaria o Universo como conhecido.

Portanto, a definição mais precisa para Universo não seria aquela que compreendesse apenas macro formas, mas é preciso se compreender que todas as coisas são o Universo.

Este é o ensinamento de Sidarta Guautama, o Buda, intitulado “não-eu”. As coisas do Universo são individualidades, mas não são unas. Elas possuem características distintas entre elas, mas são compostas, formadas pelo somatório do todo.

Imaginemos um gigantesco quebra cabeças: isto é o Universo. Cada elemento (material ou racional) é uma das peças que, unindo-se, formam o conjunto: o quebra-cabeça. Podemos afirmar que o quebra-cabeça é uma individualidade, mas ela é formada pelo somatório de todas as peças e não algo indivisível.

Quando o ser alcança o universalismo participa desta verdade. Apesar de manter sua individualidade, ele trabalha para a individualidade maior (Universo). Ele abandona o individualismo e alcança o universalismo.

Hoje, porém, a realidade é outra. Cada uma destas peças imagina que o seu desenho já é o todo e que basta apenas ele mesmo para refletir o resultado final. São peças soberbas, que não compreendem que se tratam apenas de minúsculas partes e que precisa haver a fusão com as demais para que o seu desenho faça algum sentido. Mas, isto será falado mais adiante. Por enquanto, continuemos buscando os elementos universais.

Podemos, dentro da simbologia do quebra-cabeça, afirmar que o “encaixar” das peças é a ação social dos seres. Os relacionamentos do ser universal através de contatos “físicos” ou por atividade mental pode ser comparado ao encaixar das peças do quebra-cabeça Universo.

A partir desta visão, podemos nos aprofundar ainda mais na definição de Universo. Ele não é apenas os elementos que o compõe, mas também as ações que são praticadas dentro dele. Tudo faz parte do Universo, inclusive tudo aquilo que é praticado fisicamente ou mentalmente.

Assim, o pensamento de cada um é o Universo, o compõe e já é universal, apesar de cada um imaginá-lo individual. Esta é a visão do todo ensinado pelos mestres: todas as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) são o Universo, pois se encaixam perfeitamente para formar um resultado único.

Isto é muito mais do que visualizar o Universo como a imensidão cósmica que nos cerca. O mais simples pensamento do ser humano faz o Universo, pois se ele fosse diferente, o todo seria outro.

O ser humano pensa que pode esconder-se no íntimo de seus pensamentos e que estes não refletirão sobre a profundeza cósmica, mas está enganado. Como Jesus Cristo nos alertou, os animais têm seus ninhos e suas tocas para descansar, mas o homem não tem onde repousar sua cabeça.

Mesmo o que acontece no íntimo de cada um forma o Universo que conhecemos. Daí tantos alertas da espiritualidade para a consciência dos pensamentos que cada um emite. Por isto Jesus Cristo também nos ensinou que não há necessidade de praticar: apenas ao desejar o pecado já terá sido cometido.

Estes são os elementos ou componentes que formam o “espaço” universal: os astros, os seres, os objetos e os acontecimentos que estes elementos geram. No entanto, para conhecermos mais profundamente o Universo precisamos definir mais um aspecto: “tempo”.

Quando se fala de tempo é preciso se ter em mente três momentos: passado, presente e futuro. Passado o que já ocorreu; presente o que está acontecendo e futuro o que ainda surgirá.

Todas as coisas surgem do futuro, passam pelo presente e vão para o passado. Quando estão ainda no primeiro momento (futuro) não existem, pois se transformam em realidade quando chegam ao presente; quando saem deste e vão para o passado acabam, ou seja, deixam de existir.

Desta forma, podemos concluir que o único momento que existe é o presente. O futuro ainda está sendo concebido e o passado é o presente que se extinguiu. Portanto, existe um só tempo: o presente.

Aplicando-se este conhecimento ao nosso tema, podemos afirmar que o Universo é o momento presente de seus componentes. O que irá acontecer não existe e o Universo que já aconteceu acabou, foi para o passado. Universo, portanto, são os elementos universais e suas atividades no presente.

Não existe um Universo eterno, mas uma renovação constante. A cada presente o Universo se renova em elementos e acontecimentos. Células e moléculas dos corpos físicos “nascem” e “morrem” a cada momento. Formas que estavam compactas são separadas (quebrar). Isto transforma o Universo constantemente.

Como definimos antes, o Universo é o conjunto dos elementos que existe e se algum deles alterou-se ou não mais existe, o resultado final (desenho do quebra-cabeça) também foi alterado. Portanto, não podemos conceber o Universo como algo estático, inerte, mas como alguma coisa extremamente dinâmica como o próprio “presente”.

O que é o momento presente? Santo Agostinho, no seu livro “Confissões” nos dá o seguinte pensamento:

“Olha para lá onde surge a aurora da verdade. Imagina, por exemplo, que a voz de um corpo começa a soar, soa e continua a vibrar. Depois, cessa; vem o silêncio. A voz passou, não existe mais. Antes de soar era futura e não podia ser medida, porque ainda não existia, e agora não pode porque não existe mais. Podíamos medi-la naquele instante em que soava, porque existia e podia ser medida. Mas mesmo nesses momentos não era estável, porque vinha e passava. Será que essa instabilidade é que a torna mensurável?”.

Ora, o som é uma ação do ser, ou seja, um elemento do encaixe das peças que compõem o quebra cabeças. Portanto, é o Universo. Por isto podemos utilizar este elemento para compreender o tempo de existência do Universo.

Assim como Santo Agostinho, o nosso interesse neste momento é conhecer a extensão do presente para descobrir o elemento tempo do Universo.

Quando falamos a palavra “presente”, por exemplo, não estamos dizendo apenas uma palavra, mas uma série de sons que compõem as letras. “Presente” é a junção das sílabas (sons) “pre”, “sen” e “te”.

Analisando pelo sistema de Santo Agostinho (medir o som enquanto ele existe), podemos concluir que quando falamos a sílaba “sen” o som do “pre” não mais existe (é passado) e o “te” ainda não chegou (é futuro). Portanto, podemos concluir que o presente é a sílaba que falamos. No entanto, temos que ir ainda além.

Uma sílaba não é alguma coisa una. Ela é formada pela junção de letras. O “sen” é o somatório das letras “s”, “e” e “n”. Desta forma, enquanto pronunciamos a sílaba “sen” existem três momentos diferentes. Quando chegarmos ao segundo momento (“e”), o primeiro (“s”), já acabou e o terceiro (“n”), ainda não chegou.

Podemos, então, afirmar que o presente é cada letra que compõe esta palavra, mas, mesmo assim, ainda estaríamos afastados da realidade. O som de cada letra é formado por mais de uma letra. É algo composto e enquanto houver composição poderá ser desmembrado gerando tempos diferentes.

Conclusão: o presente é algo tão fugaz que não pode ser mensurado. É uma minúscula partícula de tempo que o ser humano nem nenhuma máquina é capaz de mensurar. Este é o tempo de existência do Universo.

A cada micro fração de tempo um universo “morre” (vai para o passado) e “nasce” (sai do futuro para o presente). Esta é a compreensão universalista sobre Universo e também o ensinamento oriental sobre a impermanência das coisas.

Segundo Buda, todas as coisas se transformam a cada momento e somente isto bastaria para compreendermos que a cada momento um “novo” Universo surge. Componentes que não existiam passam a existir e outros que ali estavam deixam de estar.

O conhecimento deste dinamismo cósmico é fundamental para a reforma íntima. Como Jesus Cristo nos ensinou é preciso orar e vigiar para se alcançar o reino do céu, ou seja, é preciso estar atento a cada micro fração de tempo para verificar a forma com que cada um se encaixa nas peças que o circunda para compor o Universo.

Não adianta apenas rezar (religar-se com Deus) quando acordar ou dormir, mas é preciso a vigilância constante a cada micro fração de tempo, pois a “vida” dura apenas este momento fugaz.

Sim, não existe ninguém que tenha anos, meses ou dias, pois tudo isto é passado e já acabou. A cada micro fração de tempo, que apenas por convenção chamaremos daqui por diante de “segundo”, a “vida” começa e acaba. Desta forma todos os seres existem há apenas um segundo e “viverão” apenas este segundo.

Isto nos traz uma realidade completamente diferente. Para que projetar futuro, para que se prender ao passado. Temos apenas um segundo para viver e precisamos aproveitá-lo em toda a sua plenitude para realizarmos a reforma íntima.

Enquanto você está lendo esta frase, muitas vidas existiram. Aproveitá-las ou não dentro do sentido espiritual ou material, buscando o espiritualismo ou o materialismo, foi uma opção sua.

A partir desta análise, podemos mudar a definição de Universo como até agora a tínhamos visto. Não mais elementos materiais, mas um lampejo. O Universo é o presente, a micro fração de tempo que cada um vivencia, o “segundo” na existência dos seres.

Pensar no Universo como elementos materiais faz o ser humano desperdiçar o tempo que tem para reformar-se. Os elementos só existem neste segundo e quando o ser acabar de “pensar” sobre eles já vivenciou muitos elementos. O Universo trata-se de um momento tão fugaz que a dispersão em qualquer outro assunto que não seja a promoção da sua reforma é desperdício.

Mas, agora que já definimos as coisas do Universo (quebra-cabeça que é montado a cada micro fração de tempo), devemos fugir da forma. Todos os mestres nos ensinaram a conhecer a essência das coisas e não a forma seja ela material ou temporal. Por isto, vamos buscar agora a essência do Universo, ou seja, deste “segundo”.

No livro Gênesis da Bíblia Sagrada está escrito:

“No começo Deus criou o céu e a terra”.

Todas as religiões que existem ou existiram sobre o planeta afirmaram que o Universo é obra de um Criador. Neste trabalho definiremos o Criador pelo nome Deus, mas você pode chamá-lo de Alá, Jeová ou Krishna: tanto faz. O nome é apenas a representação gráfica de alguma coisa. Desta forma, qualquer que seja o nome que você dê ao Criador será sempre Ele.

Criar o céu e a terra (Universo) dentro da nossa analogia do quebra-cabeça é montá-lo, organizar suas peças encaixando-as de tal forma que apresente o resultado: o desenho final. Desta forma, podemos comparar Deus ao montador do quebra-cabeça e por isto o chamamos no item anterior de “Causa Primária de todas as coisas”.

Juntando este conhecimento à definição do Universo, podemos compreender que a cada segundo Deus faz o Universo, encaixa as peças. A partir daqui podemos, então, nos aprofundar no conhecimento sobre o Universo, penetrar na sua essência: um ato divino.

O Universo não são seus elementos nem a micro fração de tempo que existe, mas é um ato de Deus, uma ação divina. Ele não é nem o resultado da ação, mas o ato em si. Isto é o todo, a única coisa que existe: a ação de Deus.

Cada mudança nos elementos, cada ação individual destes, é um ato de Deus. Não existe outro Criador, outro ser que aja, mas tudo o que existe é a ação de Deus.

Nosso Universo já está bem diferente do que quando começamos esta leitura. Antes pensávamos na imensidão cósmica, na magnitude de elementos ao longo da eternidade. Agora alcançamos algo incomensurável e fugaz.

Afirmar-se espiritualista ou universalista e não viver esta realidade é viver em um Universo diferente daquele que existe. Todo raciocínio até aqui desenvolvido é conhecido da ciência humana e, portanto, faz parte da cultura dos seres aqui encarnados. No entanto, o “mundo” do ser humano não é visto desta maneira.

Para se alcançar esta compreensão é preciso meditar, ou seja, raciocinar o raciocínio. Para alterar os seus componentes (reforma íntima) o ser precisa descer da análise tanto dos elementos macros como unos e considerar profundamente a composição de tudo (não-eu). É preciso buscar cada vez mais dividir as partículas conhecidas até que se chegue ao indivisível: o Criador, a Causa Primária.

É isto que o Espírito da Verdade ensinou a Allan Kardec:

“7. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?” “Mas, então qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária”. (O Livro dos Espíritos).

Esta é a base de nosso raciocínio: a procura da “menor” partícula universal. O Criador está por trás de todas as coisas existentes a compondo. Tudo que existe é composto, porque no mínimo foi formado por Deus e outro elemento. Por isto Jesus Cristo nos ensina: Deus é tudo e tudo é Deus.

No entanto, para a reforma íntima ainda não podemos parar por aqui sob pena de não alcançarmos a verdade absoluta do Universo. Isto porque tudo o que vimos até aqui ainda é analisado pelo ser humano, ou seja, julgado. Os critérios de “bom” ou “mal” ainda estão presentes.

Parando por aqui nossa análise, poderíamos ainda continuar vendo “injustiças” e “ferimentos” nas coisas do Universo, o que nos levaria à conclusão de que Deus é capaz de ferir ou cometer injustiça. Isto é impossível.

Todos os mestres nos ensinaram que o Criador é “soberanamente justo e bom” e, por isso todas as Suas ações têm que ter esta motivação. Ao definirmos profundamente o Universo precisamos alcançar a verdade absoluta sobre este elemento para não abrir espaço para considerações individualistas.

O Espírito da Verdade ensinou:

“38. Como criou Deus o Universo?” “Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênesis – Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita”. (Livro dos Espíritos).

Ora, se ação divina é o Universo, podemos afirmar que ele é a “vontade de Deus” e não um ato leviano e inconseqüente. Atribuir-se a formação universal a coisas não inteligentes (acaso, sorte, azar) seria um ato de leviandade. “E demais, que é o acaso? Nada”. (Livro dos Espíritos – pergunta 08).

Allan Kardec compreendeu perfeitamente o ensinamento e declarou:

“A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso”. (Livro dos Espíritos – pergunta 08).

Portanto o Universo (ação dos elementos universais) é inteligente porque é obra de Deus, a Inteligência Suprema do Universo; é justo, porque foi gerado pela Justiça Perfeita; e é amoroso, porque sua fonte é o Amor Sublime.

Conhecendo a “menor” partícula universal (Deus, a Causa Primária de todas as coisas) e Seus atributos, podemos então definir completamente o Universo: o Amor de Deus em ação, Perfeito e Justo. Este é o conhecimento que o universalista e o espiritualista tem sobre as coisas (pessoas, acontecimentos e objetos).

A vivência com esta realidade absoluta, do exato momento em que cada um vive, leva à reforma íntima, pois permite a perfeita integração com o todo. Não mais sofrimentos por ferimentos, não mais acusações de injustiça, mas sentir-se amado por Deus a cada segundo.

O “mundo” que vivemos é o Amor de Deus em ação e por isto João, o Evangelista, afirma: No princípio era o Verbo, a ação do amor.

O ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL, como instrumento da espiritualidade para ensinar o amor a Deus sobre todas as coisas, pauta todas as transmissões dos seus ensinamentos nesta compreensão do universo.