Reforma íntima - Textos - Volume 09

Carmas

Nenhum espírito reencarna a passeio, férias ou por diversão. Todas as encarnações possuem objetivos traçados por Deus para que o espírito promova a sua ascensão espiritual. Por este motivo, a encarnação (vida humana) tem que ser programada e não pode ficar exposta a contratempos que poderiam acarretar em uma futura acusação do espírito de ter sido injustiçado.

Quando um espírito se liga a uma determinada matéria carnal ele o faz com o objetivo de elevar-se, ou seja, chegar mais perto de Deus e, para isto, o espírito precisa aperfeiçoar seus “sentimentos” buscando o mesmo sentimento que Deus utiliza. Com este fim sua encarnação é pontuada por provas onde possa utilizar este sentimento, por missões onde possa auxiliar outros a tê-lo e por expiações onde possa libertar-se dos outros sentimentos.

Este é o fundamento de todos os acontecimentos da vida carnal. Caso não aconteça algum deles, o espírito poderá futuramente alegar que não conseguiu a evolução porque a prova, missão ou expiação que necessitava para a sua evolução não foi realizada, com razão, apontaria esta falha como um dos motivos que não o fez evoluir.

A encarnação pode ser feita por livre e espontânea vontade do espírito ou pode ser imposta compulsoriamente quando ele não tiver a consciência da sua necessidade, entretanto, em qualquer situação existe a necessidade de um planejamento da “vida material” que o espírito irá levar.

No Livro da Vida constam os “acontecimentos” determinantes da “vida” de um espírito na carne: ali está afixado o seu dia de nascimento, a família à qual irá pertencer, os acontecimentos de sua infância, juventude e maturidade; seus empregos, amigos íntimos, casamento e prole; sua profissão, o sucesso de sua carreira e o seu círculo social; suas carências materiais e abundâncias; sua “saúde” física e as doenças que põem limites à sua ação. Tudo isto estabelecido de tal forma que o espírito possa utilizar-se dessas situações e executar os trabalhos (expiações, provas e missões) que o elevarão.

Chamamos a estas situações pré-estabelecidas de “carma de vidas passadas”, pois elas são influenciadas diretamente pelos feitos do espírito em outras encarnações.

Estas situações não poderão ser alteradas, pois, além de terem sido traçadas com a interseção do próprio espírito, são as necessárias para alcançar o patamar de evolução ao qual o espírito se propôs. Entretanto, o cumprimento do Livro da Vida não assegura a felicidade nos acontecimentos apenas porque o espírito está passando por eles: para que isto aconteça, é necessário que o espírito consiga colocar em prática o amor universal.

Tomemos como exemplo um casamento. Antes da encarnação o espírito, em comum acordo com outro, escreve no seu Livro da Vida que irá unir-se com aquele para formar um núcleo conjugal. Esta união para os dois servirá como expiação de erros passados que um cometeu ao outro, de prova para que consigam conviver com o amor universal e como missão para conduzir novos espíritos na carne à Verdade de Deus.

Isto está escrito e acontecerá na forma estipulada, ou seja, dentro de determinadas condições e no “prazo” previsto, entretanto, apenas unirem-se não garante a estes espíritos que eles alcançarão a felicidade. É preciso que eles convivam com o sentimento que vieram provar que são capazes de ter: o amor universal, pois somente a vivência deste amor em todos os atos da vida pode garantir a felicidade aos dois espíritos. Continuar junto pelo prazo determinado no Livro da Vida eles continuarão, mas não há previsão de que aquela união venha a trazer felicidade para os dois: existem casais que “se amam” e não conseguem mais viver juntos, bem como outros que chegam inclusive às agressões físicas, mas que não conseguem se separar. O casamento só chega ao fim no momento estipulado no Livro da Vida e não porque um ou outro queira terminá-lo.

Assim, durante esta união, a felicidade será alcançada quando os espíritos envolvidos utilizarem o amor universal nos seus relacionamentos. A isto chamamos de “carma da vida atual”. Cada vez que o espírito responde a um acontecimento com um sentimento que não seja o amor universal, ele gera para si uma nova situação onde as suas verdades serão questionadas. Se ele não reagir a este questionamento com alegria, compaixão e igualdade, novo acontecimento terá que surgir para que novamente se exponham as verdades do espírito à Verdade Universal das coisas.

Estes novos acontecimentos, entretanto, não podem ferir o Livro da Vida, ou seja, as condições pré-estabelecidas de vida. Um acidente que tire a mobilidade de membros está escrito no Livro da Vida e ocorrerá, porque o espírito “pediu” isto. Porém, se ele trará a infelicidade ou a felicidade, depende de quais sentimentos o espírito escolherá para reagir ao acontecimento. Quantas pessoas só conhecem a verdadeira felicidade quando se encontram em uma situação onde não podem fazer o que querem?

Em face destes ensinamentos, podemos dizer que a vida de um ser humano é determinada pelos carmas de vidas anteriores, mas influenciada pelos carmas de vidas atuais. A existência está programada, mas a felicidade depende da ação sentimental desta vida.