O nobre caminho

Sofrimentos

“Nascer é sofrimento. Velhice é sofrimento. Doença é sofrimento. Morte é sofrimento. Tristeza, desgosto, angústia mental e perturbação são sofrimentos. Estar com aqueles de quem não gostamos é sofrimento. Estar separado de quem amamos também é sofrimento. Não conseguir atingir nossa aspiração mais profunda é sofrimento”. (Samyutta Nikaya V 20).

Buda no seu primeiro discurso relacionou os sofrimentos que passa o ser quando encarna. O primeiro deles é a própria reencarnação, ou seja, o nascimento.

Nascer é sofrimento porque o ser terá que trabalhar ativamente para vencer as tentações que marcam as suas provas na carne. Terá que passar pela ação dos seus Cinco Agregados sem apegar-se a elas para poder alcançar a felicidade. Como nos ensinou Cristo, terá que renascer na própria vida.

Somente reencarnar não eleva ninguém. A reencarnação é apenas uma chance que Deus dá a cada um para poder se elevar, mas o simples fato de voltar a habitar uma massa carnal não garante a elevação. Será preciso que o ser prove que se livrou do individualismo. Até que isso aconteça (despertar) ele já terá passado por muitas situações de sofrimento.

Com esse ensinamento, vemos que a consciência crística passa pelo conhecimento da reencarnação, mas seus valores devem levar o ser encarnado a querer libertar-se do ciclo reencarnatório. Os espíritas hoje conhecem a reencarnação, mas se apegam aos prazeres oriundos da vida carnal. Por esse motivo não buscam romper o ciclo reencarnatório, mas adiam mudanças para a próxima vida.

Porque passar novamente por todos os traumas do parto, da reencarnação e da infância da vida carnal? Porque passar novamente por toda uma infância e juventude para depois ter que fazer o que está adiando agora? Faça já, mude-se já. Para isso é necessário abrir mão de suas verdades e viver com os Cinco Agregados utilizando a verdade absoluta das coisas.

Velhice é sofrimento, mas não só pela decadência externa e interna do corpo físico. Ao envelhecer o ser com certeza irá perder vitalidade e sua forma física irá se deteriorar. Esse é um processo inexorável pelo qual todos passam. Você sabe disso? Então, porque sofre com rugas e outras marcas que aparecem no corpo físico?

O ser humano sofre com a impermanência do corpo físico porque imagina que ele será permanente. Quando jovem com vitalidade e vigor físico o ser humano imagina que jamais irá mudar-se: isso é uma verdade relativa. Se ele vivesse com a consciência de que sua forma irá alterar-se jamais sofrerá.

Mas, a velhice não é sofrimento apenas por esse motivo. Quanto mais o ser vai avançando na idade na matéria carnal sabe que mais vai se aproximando a hora de sua morte e morrer é sofrimento. Desse tema já falamos rapidamente quando abordamos a questão do agregado percepção.

Para aqueles que compreendem a vida universal através das Qualidades da Vida Espiritual não existe morte. Esse processo de transformação só é vivenciado por aqueles que não reconhecem na vida carnal a mesma essência da vida espiritual: Deus Causa Primeira de Todas as Coisas. Por isso, no Evangelho Segundo Tomé, Cristo dá a seguinte informação sobre os ensinamentos que ele trouxe:

“Aquele que descobrir a interpretação dessas palavras não experimentará a morte” (Logia 001).

A morte é um sofrimento apenas para aquele que não vive universalmente a vida material através da verdade absoluta do universo. Todos os seres que reencarnam e buscam a sua satisfação pessoal sofrem com a morte, pois não encontrarão um mundo que lhes satisfaça do outro lado. Na vida universal os seres trabalham por amor a Deus amando todos os outros seres, sem importar suas ações. Se a vida universal fosse composta do certo e errado que forma o individualismo do ser encarnado, esses não poderiam ser auxiliados nunca, pois estão sempre buscando apenas a sua satisfação individual.

É pelo medo da morte e pelas dores físicas que ela causa que a doença é sofrimento. No entanto, a dor física não existe. Como vimos no estudo do agregado memória a dor física jamais será combatida por remédios, mas sim pela reforma íntima que faz o ser viver sob o comando de Deus. Quando agir sempre dessa forma não mais sofrerá dores físicas.

Tristeza, desgosto, angústia mental e perturbação são sofrimentos, porque refletem um desgosto do ser. Sempre que seus anseios individuais não são contentados ele reage com uma dessas sensações. Elas são ilusões, porque o próprio anseio do ser encarnado é uma ilusão, um individualismo. Não conseguir atingir nossa aspiração mais profunda é sofrimento.

Estar com aqueles de quem não gostamos é sofrimento. Quem não gosta de nós quer sempre nos ferir, nos fazer o mau. Por isso o ser tem que estar sempre preparado para reagir, defender-se. Esse estado de vigília constante é um sofrimento.

O ser considera aquele que não gosta (seu inimigo) como um doente. O são é o próprio ser, aquele que sabe a verdade das coisas. Cristo nos avisou que a consciência crística é aquela que vem para atender os doentes e não os sãos. Por isso, aquele que quer viver como ser na carne precisa conviver com felicidade com seus inimigos.

Para isso precisa perder seus valores individuais que o leva à posição de juiz das atitudes alheias. Quando conseguir viver na verdade universal que nos diz que ninguém faz nada, mas que Deus é que comanda todos os acontecimentos, o ser poderá viver com felicidade junto àqueles que não gosta. Aí estará cumprindo o ensinamento do Mestre:

“Se vocês amam aqueles que os amam, porque esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos amam aqueles que os amam! Se vocês falam somente com seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é Perfeito o Pai de vocês, que está no céu” (Mateus – 5,46,48)

Seu inimigo é o seu verdadeiro amigo, como, aliás, já conversamos anteriormente nessa obra. Gostar ou não gostar de alguém (individualismo) é que nos faz sofrer quando estamos com aqueles que não gostamos assim como estamos separados de quem amamos também é sofrimento.