O nobre caminho

Meio de vida correto

Como meio de vida compreendemos as atividades profissionais de um ser, as suas ações no sentido de promover o sustento material para a sua existência. Existe um meio de vida correto e outro incorreto, mas isso nada tem a ver com a profissão ou o ato em si, mas com que finalidade o ser executa os seus serviços profissionais.

Para os budistas, o “meio de vida incorreto” é aquele que promove condições que possam fazer o ser escolher sentimentos de infelicidade. Os budistas afirmam que não se deve alimentar de carne, por isso, o meio de vida açougueiro seria um meio de vida incorreto, pois facilitaria às pessoas a comerem carne. Segundo os ensinamentos dessa religião, praticar um “meio de vida correto” é encontrar um meio de vida que não transgrida aos ideais de amor e compaixão.

Para compreendermos os ideais de amor e compaixão, temos que voltar à compreensão da ação caridosa: sentir-se instrumento do Pai proporcionando a quem precisa e merece o que Deus determina. Fora essa compreensão, o ser estará querendo ditar o que é amor e compaixão para com o próximo.

No caso do açougueiro ele existe porque há seres encarnados que precisam comer carne e, por isso, a sua ação de vender esse alimento é um ato de amor e compaixão. O açougueiro que vende carne com essa compreensão pratica um meio de vida correto, mas o que vende carne para auferir lucros, esse pratica um meio de vida não correto.

A perfeição do meio de vida não se dá pelo que se faz, mas sim com que intenção se pratica: servir a Deus ou auferir lucros pessoais. Qualquer que seja a atividade profissional, desde as mais simples até as que exigem mais conhecimento, passando inclusive por aqueles que não recebem dinheiro pelas suas atividades profissionais, sempre que a intenção ao praticar o ato for a de lucrar estará praticando um meio de vida não correto.

Todas as atividades profissionais de um ser devem ser executadas com a compreensão que elas são instrumentos de Deus para proporcionar as condições necessárias ao próximo para alcançar a felicidade universal. O pedreiro não constrói casas, mas serve de instrumento para Deus para criar habitações que o Pai designará para quem precisa ou merece. O advogado não defende um cliente, mas serve de instrumento para Deus dar a justiça que o seu cliente merece.

O médico não cura, mas serve de instrumento para que Deus cure. O padre não salva ou converte, mas serve de instrumento de Deus para a salvação. O médium não faz desobsessão, mas serve de instrumento a Deus para que Ele retire o obsessor. Não importa qual a atividade física que o ser pratique, se não houver a compreensão de que o que faz é apenas um instrumento de Deus para levar a chance do próximo ser feliz, haverá um meio de vida não correto.

Não existe meio de vida não correto quanto a atividade que o ser exerça, pois todas as atividades foram criadas por Deus para que a vida material sirva como oportunidades para o ser alcance a felicidade universal. Dizer que um açougueiro possui um meio de vida não correto é dizer que Deus, que lhe deu essa profissão, foi incorreto. Quem afirma dessa forma utiliza um conceito individualista que afirma que comer carne é errado.

Tudo que acontece é gerado por uma Inteligência Suprema e por isso não pode haver nada errado, mas tudo tem que ser Perfeito. Para que os acontecimentos ocorram são necessários os instrumentos adequados. Quem come carne é porque recebe de Deus o comando para essa ação. Para que ele possa se nutrir desse alimento é necessário que haja quem mate e quem comercialize o animal. Esses são instrumentos dos desígnios de Deus: que o ser se alimente de carne.

Aqueles que acreditam que existam meios de vidas não corretos dão asas aos seus conceitos e julgam as ações dos outros. O ser que comercializa a carne não faz isso porque quer, mas foi direcionado por Deus, que se baseou no livro da vida, que é o planejamento das oportunidades para que o ser seja feliz. Apontar qualquer ação para subsistência como não correta é acusar o próprio Deus.

Um dos maiores individualismos que o ser possui é a busca do seu lucro individual. Tudo que ele faz busca sempre ganhar e se satisfazer. Dessa forma, muitos são os seres que encarnam com a proposta de não buscar essa lucratividade individual, mas que quando chegam nessa densidade de matéria, acabam não conseguindo superar a prova que pediram. Neste momento, é preciso que Deus lhes mande o recado para que eles parem de buscar o individual e pensem em universalizar os lucros.

Para esses seres que não conseguem abrir mão da posse material, Deus tem que agir lhe mostrando que não são senhores do destino de seus bens. Assim, o Pai utiliza outros seres que alteram o destino pré-fixado pelo ser para o bem, com a intenção que o ser aprenda que não pode possuir os bens. Muitas vezes essa alteração do destino se faz com a perda do bem através do roubo. Deus comanda um ser para que ele roube o bem daquele que está possuindo-o, ao invés de utilizá-lo para a felicidade universal.

  Sendo isso uma verdade universal, podemos afirmar que aquele que tem como meio de vida ser um assaltante também possui um meio de vida correto, pois suas ações são executadas como um caminho para que o ser alcance a felicidade universal. Ao ficar sem a posse material do objeto, o ser pode escolher ver no ladrão um instrumento de Deus lhe mostrando que ele estava possuindo, ou sofrer porque “perdeu” o objeto. Todos os acontecimentos são provas para o ser.

Portanto, mesmo as profissões taxadas de maus, erradas, recebem essa denominação como preconceito, ou conceito individualizado. Todos são instrumentos de Deus para realizar as provas que o ser precisa passar para alcançar a felicidade universal. Por isso Jesus teve em seu círculo mais íntimo uma prostitua e um cobrador de impostos, meios de vida considerados não corretos ao seu tempo.

O próprio budismo que fala em profissões não corretas conta que um monge que morava na frente de uma prostituta acusou-a da profissão que tinha, dizendo que era contrário aos ditames de Deus. Essa, que não sabia desse detalhe, sofreu bastante e, orando ao Pai, pediu perdão e prometeu nunca mais voltar a se prostituir.

No entanto, não conseguindo outro meio de subsistência teve que retornar à prostituição, mas cada vez que terminava um trabalho penitenciava-se orando ao Pai. O monge, vendo que a mulher havia voltado às suas atividades anteriores, visitou-a novamente. Depois das acusações, o monge propôs uma penalidade para a mulher. A cada cliente que ela recebesse o monge colocaria uma pedra na sua porta, para que ela sentisse o peso dos seus atos.

Conta a lenda que um dia os dois, monge e prostituta, desencarnaram no mesmo minuto. Amparado por um anjo o monge descia em direção ao plano espiritual inferior. Na descida passou por outro anjo que amparava a prostituta, só que esse subia em direção ao céu. Revoltado o monge perguntou ao anjo como isso podia acontecer. O amigo espiritual respondeu que ele tinha que descer porque o seu coração estava pesado das pedras que havia colocado na porta da prostituta.

Essa história nos narra perfeitamente a compreensão perfeita que se deve ter sobre o meio de vida: instrumentos de Deus. O importante não é o que cada um faz, mas qual sentimento se coloca em cada ato. Existem ladrões porque existem seres que possuem cobiça, mas eles só conseguem agir contra quem quer auferir lucros individuais com os instrumentos que Deus coloca para a sua elevação.

No dia em que ninguém mais merecer ser roubado essa profissão será extinta por determinação de Deus. Para que isso aconteça é preciso que os seres encarnados vivam dentro da verdade absoluta (Deus e Sua ação) alcançando o amor universal. Nesse momento não haverá mais posses e, por isso, também não haverá mais ladrões.

Enquanto os seres encarnados quiserem combater a violência com violência, merecerão cada vez mais violência. Ao invés de acusar o ladrão, o ser deve amá-lo por tê-lo roubado. Isso só acontecerá quando o ser entender que foi o próprio Deus que retomou o que é Seu e que fora emprestado ao ser que o estava utilizando para benefício próprio.