O nobre caminho

Ação correta

Esse tópico fica mais fácil de ser compreendido quando entendemos perfeitamente a fala correta, pois todos os argumentos explanados no outro ensinamento servem para esse. Na verdade a fala é também uma ação, apenas não cria movimentos com os membros do corpo físico.

Quando falamos em ação, estamos falando em movimentos de braços e pernas, ação física. Esse movimento é dado por Deus através do pensamento e depende do sentimento que o ser utilize e do sentimento de quem vai receber a ação. Ninguém jamais receberá uma ação que não mereça.

A “ação correta” para os seres humanos é aquela que é baseada na máxima de Jesus: fora da caridade não há salvação. Portanto, os seres humanos entendem a ação caridosa como a ação correta para a sua existência. No entanto, o que é caridade?

Para os seres humanos a ação caridosa é aquela que leva o ser a trazer felicidade para a existência de outro ser. Imaginam os seres que suprindo as necessidades materiais e espirituais do outro ser trarão felicidade para esse. Esse pensamento é não correto, pois nem sempre suprir as necessidades de alguém é proporcionar felicidade. Vejamos um exemplo bem comum entre os seres encarnados: dar de comer a quem tem fome.

Para os seres, a ação caridosa que pode se fazer a quem está passando fome é dar um prato de comida que elimine a sua fome. Essa visão leva o ser que tem essa compreensão a sentir-se obrigado a realizar esse ato para ser feliz. No entanto, se aquele que estiver passando fome não merecer nem precisar do prato de comida, jamais Deus deixará ele receber o alimento.

A fome, como todas as situações da vida, foi pedida pelo ser antes de encarnar no seu livro da vida. Ele agiu dessa forma porque compreendeu que essa seria a situação perfeita para que ele pudesse alcançar a felicidade universal. Quando na carne e passa pela prova, ele escolhe sentimentos diferentes (raiva, revolta) para passar pela situação e aí sofre.

Dar um prato de comida a esse ser seria atrapalhar a sua prova. É por isso que Deus não permite que ele receba a comida, ou seja, que nenhum outro ser pratique o ato de alimenta-lo. Essa não alimentação é um ato caridoso, pois visa manter a situação necessária para que o ser seja feliz universalmente. Se ele recebesse alimentação alcançaria o prazer, a satisfação material, mas perderia a sua chance nessa encarnação.

É por isso que Deus comanda os atos de todos os seres: para que a Justiça e o Amor prevaleçam. A ação caridosa (correta) é executar ou deixar de executar os atos que Deus comanda sem sofrimento. Enquanto o ser não atingir a compreensão correta (“sou um instrumento de Deus”) ainda sofrerá por não poder executar o que ele quer, o que seus conceitos individualizados ditam.

Existe um conto budista que afirma que dois monges foram dormir em um casebre muito pobre, onde viva uma família grande em condições de subnutrição. O pai, conversando com o monge mais velho afirmou que só se conseguiam manter vivos graças a uma vaca magérrima que ainda lhes dava o leite para tomarem.

No dia seguinte, antes do raiar do sol, o monge mais velho ordenou ao mais novo que pegasse a vaca e a atirasse no abismo, levando o animal a perecer. Depois disso feito foram embora. O monge mais novo achou aquilo uma injustiça muito grande e passou a viver com a culpa de ter acabado com a única fonte de sustento daquela família paupérrima.

Passados muitos anos, o monge mais novo já era um velho e, passando pelos arredores do casebre onde havia matado o animal da família, resolveu visitá-los para tentar se explicar e reparar o seu “erro”. Ao chegar no lugar não encontrou mais o casebre, mas um palacete cercado de muros e com muita movimentação. O monge imaginou que a família, não tendo mais do que se alimentar, tivesse abandonado as terras ou vendido-as.

Chegando ao portão encontrou um empregado pe perguntou pela família que morava ali em um casebre pobre. O empregado disse que a família era a mesma, mas que agora possuíam muitas riquezas. Entrando na casa encontrou o pai da família e soube, então, o que aconteceu depois da partida dos monges.

Como não tinham mais o leite da vaca, o pai da família teve que procurar outro meio de sustento. Assim, começou a fazer uma plantação e descobriu que o solo era fértil e produzia alimento suficiente para o sustento da família e ainda sobrava para comercializar. Safra após safra, o homem foi aumentando sua produção até atingir o ponto que estava hoje.

Tudo isso só aconteceu porque o monge matou a vaca. A ação que aparentemente era não correta (não caridosa), transformou-se em fonte de alegria para os habitantes do casebre. Mas, tudo isso só aconteceu porque o monge seguiu o pensamento que Deus lhe deu pela compaixão que possuía.

Da mesma forma que a palavra, a ação física depende do sentimento que o ser possua, mas só será praticado contra quem precisa ou mereça. Se o ser que está praticando a ação não consegue definir conscientemente qual o sentimento que está utilizando, pelo menos não se culpe com os atos que pratica, pois todos são ações corretas guiadas por Deus para auxiliar o próximo a atingir a felicidade universal (ação caridosa).