O poder da felicidade

Servir a Deus na matéria

Reproduzir todos os áudiosDownload
Servir a Deus na matéria

44. Servir a um senhor

Uma pessoa me pergunta como viver para Deus no mundo capitalista, onde tem que estudar, se formar, trabalhar, ganhar dinheiro para sobreviver com dignidade. Vamos conversar sobre isso.

Estamos estudando questões de contrariedades. Por isso, a primeira coisa que tenho que fazer a partir do questionamento é descobrir a contrariedade que está presente. Para mim fica muito claro nessa pergunta que esta pessoa está contrariada porque se sente incapaz de viver para Deus porque tem que viver para o humano. Contraria-se porque precisa servir ao mundo humano e como não se serve dois senhores ao mesmo tempo, ela imagina que não consegue servir a Deus. Vamos tentar entender esta questão.

A partir dessa análise, vamos primeiro conversar sobre a questão de servir dois senhores para depois podermos falar da contrariedade que essa pessoa vive.

Cristo deixou bem claro: não se serve dois senhores ao mesmo tempo. O que é servir um senhor?

Participante: atender as expectativas dele ...

É mais do que isso.

Participante: ser leal a ele ...

Quase isso.

Servir a um senhor é dedicar-se a ele. É colocar a sua vida à disposição daquele senhor.

As respostas que vocês me deram está vinculando o servir a um senhor nos tempos modernos, mas pense na época medieval ou nos tempos do próprio Cristo. Aquele que servia a um senhor naqueles tempos é quem se colocava completamente à disposição dele. Era aquele que colocava até a sua vida ou morte à serviço daquele senhor.

Portanto, quando Cristo disse que não se serve dois senhores ao mesmo tempo quis dizer que não se coloca a sua existência à disposição de dois senhores. Não se pode colocar a existência à disposição de Deus e da materialidade simultaneamente. É isso que quer dizer a frase de Cristo.

Agora, o que é colocar a vida à disposição de Deus ou do mundo material? São esses questionamentos que precisamos nos fazer para entender o ensinamento. Será que isso tem a ver com atos, com comida, com bens materiais? Não.

É preciso que aquele que quer deter o poder da felicidade tenha em mente que vida não é aquilo que acontece dos olhos para fora. Vida é aquilo que se vive dos olhos para dentro. Vou dar um exemplo disso.

Uma pessoa pode praticar uma determinada ação, viver uma vida dos olhos para fora, sendo que dentro dela a intencionalidade e o mundo emocional seja completamente diferente do ato que está praticando. Por exemplo, uma pessoa pode lhe dar um dinheiro, um ato que parece possuir um determinado valor, só que ao mesmo tempo por dento está querendo lhe humilhar, lhe comparar, subornar. Ou seja, o ato está vivendo um tipo de vida, mas interiormente está sendo vivido outra completamente diferente.

É isso que aquele que tem o poder de ser feliz compreende: a vida é aquilo que é vivido no mundo interno e não no externo. Isso porque vivendo com esta visão pode atacar a contrariedade no exato lugar ela existe, ao invés de fazer isso onde não existe.

Aquele que sabe que a vida é vivida dentro de si mesmo ataca a criação mental. Aquele que não sabe disso quer atacar no mundo externo, como é o caso da questão que estamos conversando agora.

É preciso trabalhar? Ato ... É preciso ter dinheiro? Ato ... É preciso estudar? Ato ... Nada disso faz parte da vida real, aquela que acontece internamente. Por isso, nada disso é serviço a um senhor. Isso é ação.

O serviço a um senhor acontece no mundo interno. Esse serviço será considerado como ao senhor material no momento em que o ser vivencia o tem que fazer alguma coisa no mundo da matéria.

Aquele que vivencia os momentos da existência carnal imaginando que tem que fazer alguma coisa, serve a um determinado senhor, nesse caso, à matéria. Age assim porque coloca a sua intencionalidade, o seu mundo interno, à disposição do mundo material.

Esse serviço consiste-se caracteriza-se apenas pela entrega da intencionalidade e não tem nada a ver com as ações que são praticadas. Isso porque este ser pode colocar-se internamente à serviço da materialidade, mas mesmo assim nunca estudar, trabalhar ou ganhar dinheiro. Para isso basta apenas achar que materialmente tem que agir de determinada forma, que tem que praticar determinados atos.

É esta a diferença que os seres humanizados precisam compreender para poderem servir a Deus e ao mesmo tempo estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, crescer materialmente, etc.

Cristo nunca atacou os ricos, aqueles que possuíam bens. Tanto isso é verdade que seguidores do mestre eram comerciantes ricos e famosos. Cristo nunca os mandou parar de comerciar nem os expulsou do convívio com ele.

Este é o ponto principal para o trabalho de libertar-se da contrariedade de não conseguir viver para Deus. É saber o que é viver para, como se entregar, o que é servir a Deus. Se não souber isso, ainda continuará achando que para servir ao Senhor terá que passar fome, que não pode ter dinheiro, bens nem família. Só que todos os mestres tiveram tudo isso. Aliás, Krishna era um príncipe, era rico.

Esse é o ponto de partida para exercer a sua felicidade: saber o que é servir a Deus ou à matéria. Por isso, vamos conversar um pouco mais sobre este serviço.

45. O serviço a Deus e a vida

O que é servir à matéria? É colocar as coisas materiais como obrigações, normas, regras, como intencionalidade primária. Aquele que serve a matéria acha que vive para trabalhar, estudar e ganhar dinheiro. Acha que essas coisas são as mais importantes desta vida e por isso vivencias como obrigação, como tendo que ser realizadas. Para aquele que serve a Deus, essas intencionalidades são secundárias.

Aquele que serve a Deus não deixa de trabalhar, de ganhar dinheiro, de comer, de se sustentar, de ter família, mas vivencia esses acontecimentos como algo secundário. Para ele, a obrigação de realizar estas coisas está em segundo plano. São coisas que são tratadas como decorrência natural da vida e não objetivos primários a serem realizados.

Aquele que serve a Deus tem como objetivo primário servir ao Senhor tendo comida emprego, estudo ou não. Ele está sempre ocupado – não vou usar o termo preocupado – em antes de tudo servir ao Pai. Colocar o seu mundo interno à serviço do Senhor. O resto, para este ser, é decorrência da vida. São coisas que acontecem.

Estas coisas podem ser alcançadas por quem serve ao Senhor? Podem ser buscadas? Claro que podem, desde que o mundo interno deste ser esteja à serviço de Deus.

Aquele que serve a Deus não se exime de nada deste mundo. Ele pode participar de momentos festivos, beber, fumar, aplicar dinheiro para ganhar mais, comprar objetos materiais. Nada é vedado para ele, porque estas coisas são apenas atos, ações, acontecimentos do mundo externo. Só que ao vivenciar tudo isso, este ser mantém o seu mundo interno em serviço a Deus.

É desta compreensão que surge o real assunto que precisamos conversar: o que é servir a Deus.

46. Servir a Deus

Ter o seu mundo interno à serviço de Deus é utilizar nele duas frases pequenas muito velhas, batidas, mas pouco usadas: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quem ama a Deus acima de todas as coisas, ou quem tem como prioridade básica de vida vivenciar este amor, está à serviço do Senhor, está entregue a ele. Por causa deste amor, ama a tudo o que tem e também o que não tem.

Se ele tem emprego, o ama; tendo dinheiro para comer, ama-o e à comida que tem para comer. Se ele tem a família, ama a ela. Agora, se não tem nada disso, ama a ausência dessas coisas. É esse o serviço a Deus que precisa ser feito e que deve se transformar em prioridade da encarnação de um espírito, ou seja, de uma vida humana.

Nós, nem Cristo ou qualquer mestre, falamos que devem largar seus empregos, abandonar suas famílias nem para viverem na mendicância. O que é ensinado é que o ser deve amar tudo o que tem e o não tem. Ter o seu mundo interno dirigido pelo amor e não pelo objetivo material.

É desta constatação que surge a causa real da contrariedade de quem me fez a pergunta que estamos respondendo. Ela está na afirmação: a necessidade de ter ...

É esse aspecto que está na questão que me foi feita que me mostra que esta pessoa está à serviço da materialidade. Digo isso porque quem tem necessidades de ter alguma coisa não ama o que não tem.

Se um ser tem a necessidade de ter um prato de comida não ama a fome. Quando não a ama, não ama a Deus acima de todas as coisas, pois ainda ama mais a fome o saciar-se do que ao Pai.

Quem tem a necessidade de ter um emprego, não ama o desemprego. Quem tem a necessidade de ter uma família, não ama a solidão. Esse ponto que difere aquele que está a serviço de Deus de quem não está.

Quem não está a serviço de Deus inexoravelmente vive a contrariedade. Isso porque não supre todas as necessidades que o mundo mental de um ser exige que tenha. Este ser vive em desarmonia, em sofrimento.

Portanto, a causa real do sofrimento de quem me fez esta pergunta não é a questão de servir a um ou a outro senhor, mas sim a necessidade de viver algumas coisas que está no mundo mental e que é vivida como algo real, verdadeiro. A mente desse ser cria a ideia de que algumas coisas são necessárias e ele vive a necessidade. É por isso que afirmo que ele está servindo à matéria.

É junto a estas necessidades que o ser precisa agir. Internamente louve a Deus por tudo o que tem, mas se amanhã não tiver, louve-O do mesmo jeito.

Se hoje tem um emprego, louve ao Senhor. Se amanhã não o tiver, continue louvando o Pai. Isso não impede de buscar um novo trabalho. Isso não tem problema nenhum. Achando, mais uma vez louve ao Senhor por isso.

Louve o dinheiro que tem para comprar comida, mas faça o mesmo com a fome que vem quando não o tem. Faça isso até que novamente tenha dinheiro para se alimentar. Neste momento, continue louvando ao Senhor.

É assim que se vive para Deus. É assim que se coloca à disposição do Pai, à serviço do Senhor.

Portanto, optar pela matéria ou por Deus trata-se apenas de uma questão de aprender a viver com o que se tem e com as carências que se possui mantendo-se em estado de louvação ao Senhor.

47. Servir amando o próximo

Mais um detalhe na questão do servir a Deus: o amor ao próximo.

O amor ao próximo como serviço ao Senhor consiste-se em aceitar que todos são diferentes e que têm o direito de ser. Quem vive para Deus está em luta contra o seu mundo interno que afirma que ele é o melhor, o certo, o maior. Luta não para remover estas ideias, mas para não vivenciá-las no dia a dia.

Acho que agora, depois de entender o que é servir a um mestre, de como se serve a Deus, quem me fez esta pergunta não possui mais contrariedade. Com o que conversamos hoje dá para ele viver os dois mundos servindo apenas a um senhor.

Graças a Deus.