O poder da felicidade

Desejo físico

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Desejo físico

116. O desejo é mental

Uma pessoa me diz agora que o problema da vida dela é o desejo físico por uma pessoa. Ela não consegue resistir a este desejo, não consegue suplantá-lo. Diz que sabe que quando o desejo é mental, a coisa fica mais simples, mas quando é físico, fica mais difícil de se libertar. Isso tem causado sofrimento a essa pessoa.

Para responder, primeiro vamos tentar entender os dois desejos que essa pessoa cita: o mental e o físico. Só depois que compararmos os dois podemos entender bem esta questão e dar uma resposta a ela.

O que é chamado por esta pessoa de desejo mental, acredito eu, é na busca de um objeto, de realizar alguma coisa fisicamente, de sair, passear, comprar. Enfim, coisas que não mexam com sensibilidades do corpo físico. Já o que ela chama de desejo físico, acredito eu, é quando além da criação da mente é envolvida uma sensibilidade física.

Sei que não é esse o caso dessa pessoa, mas vou dar um exemplo absurdo para podermos entender esta questão. Digamos que alguém está com frio e quer um casaco. Esse é um desejo que mexe com a sensibilidade do corpo porque o frio causa dor, mal estar e os seres humanos sabem que o casaco acalmará as sensações do corpo.

Seria essa a diferença, no meu modo de ver de um e outro desejo. O desejo mental não envolve sensibilidades no corpo, mas o físico sim. É a partir dessa definição que vamos conversar.

A minha pergunta é: existe sensações físicas? Vou usar o assunto que você aborda: existe o desejo sexual, por exemplo? Ora, se você acredita no espírito e sabe que este desejo é algo que acontece dentro do corpo físico, só pode saber que não existe este desejo.

Saiba de uma coisa: no seu corpo só existe uma coisa inteligente que é capaz de gerar ações. Essa parte chama-se mente. Portanto, não há um órgão ou membro específico do corpo físico que sinta alguma coisa ou que cause alguma sensibilidade. Só a mente pode criar isso. Só ela pode fazer.

Portanto, o que você chama de sensibilidades pelo corpo eu diria que não são isso> não se trata de química, de reação biológica, mas sim criações mentais. É a mente que está dizendo que você tem desejo. É ela que está dizendo que você está com vontade e não você que a tem.

Esta é a primeira compreensão que precisamos ter sobre o assunto. Como disse numa pergunta anterior, é preciso separar você de si mesmo para poder entender o que é mental e o que é você.

Apesar de sentir muito forte, quase como um envolvimento do corpo inteiro naquela situação, na verdade não está sentindo nada. Tudo o que imagina estar sentindo não passa de historinha que a sua mente está criando. Vou lhe dar um exemplo.

Uma pessoa me disse uma vez que apesar de ser casada estava completamente apaixonada por outra pessoa e que não conseguia viver sem ela. Só que ele estava ao lado da pessoa e não no da outra. Por isso lhe disse: se você precisa tanto da outra, o que está fazendo aqui ao lado da sua esposa? Porque ainda não foi embora atrás dela?

Neste momento a mente começou a arrumar uma série de argumentos para justificar tanto o gostar como o fato de não ter ido embora atrás da outra. Quando isso aconteceu mandei ele calar a boca e disse: você ainda não entendeu que o amor que está sendo proclamado aos quatro cantos e que diz estar sentindo é apenas alguma coisa que sua mente está criando? Além do mais, se ainda não percebeu, trata-se de uma história hipócrita, pois mesmo que a sua mente lhe diga que precisa da outra pessoa desesperadamente, ainda não o fez largar tudo e sair correndo.

É isso que vocês precisam entender. A mente possui uma coisa chamada a força de maya, ou seja, o poder de dar realidade aquilo que ela cria. Por exemplo, dizer que é você que está sentindo, pensado ou querendo alguma coisa. Não é você que sente tudo isso. Na verdade é ela que cria e lhe diz que você está sentindo. Por conta da força de maya, do poder de transformar o irreal em real, você passa a acreditar que é.

Essa força existe como complemento da prova do espírito. Digo isso porque ela precisa ser suplantada. Por mais que ela afirme que você está vivendo alguma coisa é preciso que negue esse fato. Ela é tão danosa ao ser que no Bhagavata Puranas Krishna ensina que logo depois que ele abandonar o mundo material este ficará privado do seu bem-estar, pois passará a ser dominado pela deusa Kali, a quem é atribuído, na mitologia hindu, o comando da força de maya.

Por isso afirmo que é preciso que o ser que ainda está encarnado neste planeta suplante essa força, ou seja, que compreenda que aquilo que é pensado não tem nada ver a com ele. Que não é ele quem quer as coisas, que precisa delas, que ama ou odeia, etc., mas que isso é uma criação mental que vem acompanhada de uma força que gera a impressão que é o ser quem quer.

Este é o seu primeiro trabalho: começar a negar a realidade do desejo. Colocar a realidade do desejar na conta da mente e não na sua. Enquanto você achar que o desejo é seu, dificilmente deixará de senti-lo, conseguirá suplanta-lo.

Este é o primeiro ponto.

117. Só quem é livre é feliz

Segundo ponto: este desejo lhe causa sofrimento.

Olha, eu não diria que é o desejo que lhe causa sofrimento, porque se deseja algo e consegue, o que vem sempre depois é o prazer, a satisfação de ter o desejo atendido. Por isso acho que esse desejo e o consequente conseguir o que se deseja só poderia lhe trazer o prazer. No entanto, você me afirma o contrário: diz que ele causa sofrimento. Vamos analisar esta questão.

Se como eu disse não é o desejo que lhe causa o sofrimento, o que pode ser? A moral humana. As regras e normas de uma sociedade que dizem o que pode e não ser feito, o que é certo ou errado.

Sendo assim, o seu problema não está no desejo, mas sim em submeter-se as regras humanas. Se isso não existisse, ao ter o desejo e conseguir realiza-lo, não haveria sofrimento. Se você parasse com a ideia de que isso é feio, proibido, com certeza pararia de sofrer, pois na hora que realiza o seu desejo vem o prazer e não o sofrimento.

Então, o seu trabalho precisa passar pela não identificação do desejo físico, mas também deve incluir pela sua própria liberdade das regras humanas. Quem disse que marido e mulher só podem fazer sexo um com outro? Uma norma humana.

Mais: uma norma humana que só serve para o seu país. Isso porque em outros o homem pode ter muitas mulheres. Sendo assim, isso a que está se submetendo e que está lhe causando sofrimento não é real, não é verdadeiro, não é universal.

‘Ah, Joaquim, mas o que os outros vão falar se souberem o que faço’, você me diria. Eu responderia: se você quer ser feliz, se quer usar o seu poder da felicidade precisa se desligar do que os outros pensem.

Precisa amar a si mesmo. Quem se ama não precisa da aprovação de ninguém nem tem medo do que os outros possam pensar ou dizer.

Veja que o seu trabalho é outro completamente diferente. Você está fazendo um trabalho para matar um desejo, que é a sua prova, só será morto na hora que você não mais se sentir constrangida em tê-lo. Na hora que não mais achar feio tê-lo, achar que não deve sentir o que sente.

Não estou falando com isso que deve ceder ao desejo físico. Se ceder, cedeu, não há problemas. O que estou falando é que deve libertar-se do ter que ser para ter, do ter que ter para ser.

Esse é o grande problema daquele que quer ser feliz: não ter o poder da felicidade. No seu caso a sua felicidade não está na sua mão, mas nas mãos das regras humanas. São elas que lhe ditam quando deve ser feliz e quando não deve. Se a sua felicidade está na mão dos outros, como é que quer ser feliz?

Pense nisso tudo que falei. Deixe a vida viver a vida e comece a trabalhar em si mesmo a libertação das regras e normas humanas para que possa ser feliz consigo mesmo.

 Mais um detalhe que não falei. Se por acaso a vida lhe levar a entregar-se e isso tiver consequências para você, o que fazer? Assuma as consequências. Ela não é gerada porque você cedeu ao desejo. Se ela acontecer, é porque isso deveria ocorrer, pois estava programado que seria assim antes de você nascer e nada nem ninguém ia conseguir muda-la.

Portanto, não tenha medo de libertar-se das normas e regras humanas. Saiba que o que tiver que viver, viverá. Por isso lute para ter a sua felicidade ao invés de lutar para acabar com uma coisa que não terminará enquanto essa prova for necessária.