O poder da felicidade

Ser cobrado

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Ser cobrado

92. É preciso ser universalista

Uma pessoa me relata o seu sofrimento falando que ele advém da super proteção ou super exigências que a mãe dela faz. Relata que a mãe exige a sua presença constante ao seu lado, apesar dessa pessoa já ter casado, já ter família. Diz que isso, apesar da gratidão que tem pela mãe por ter cuidado dela até hoje, está lhe tirando a paciência, a felicidade, causando contrariedades. É isso que vamos conversar agora.

Antes de falar alguma coisa à respeito da contrariedade desta pessoa, deixe-me dizer algo específico para quem me enviou a questão. O que vou dizer tem a ver com a afirmação desta pessoa onde diz que esse relacionamento com a mãe é o seu calcanhar de Aquiles, ou seja, o seu ponto fraco.

Não se orgulhe e nem ache que é melhor do que os outros por ter este ponto fraco, pois esse é também dessa forma de noventa por cento dos seres humanos. A maioria deles se contrariam quando alguém quer possuí-lo, quando alguém quer determinar o seu destino, quer controlar o seu dia a dia.

Mesmo sendo pai, mãe ou avó, não importa, se alguém quer controlar o ser humano ele naturalmente reage ao controle. Porque isso? Porque ele é egoísta por natureza. Quer ser servido, quer dominar, quer controlar os outros. Por isso não aceita que seja controlado. Portanto, não é primazia desta pessoa sentir-se contrariada por causa desta forma de agir da mãe.

Por este motivo vou responder a esta questão de uma forma genérica. Vamos, então começar a nossa conversa.

Lá atrás eu disse: ser universalista é ser um com o todo. Sei que para os seres humanos isso soa meio estranho, já que sonham com um universalismo onde os outros sejam um com vocês. Sei que o universalismo que querem é aquele onde os outros busquem satisfazer as suas necessidades, atender os seus desejos, supram seus anseios. Só que este universalismo não existe.

Os outros não querem ser universalistas, por isso não precisam lhe satisfazer. Se é você que quer ser universalista, que quer alcançar a felicidade incondicional, que quer aproximar-se de Deus, é você que tem que se se tornar um com os outros para poder vivenciar as coisas que quer para si.

Esse é o caminho para a felicidade. O caminho que precisa ser percorrido por quem quer deter o poder da felicidade nas suas mãos é o espiritualismo, o ecumenismo e o universalismo. Não há outro onde o ser humano possa se tornar feliz verdadeiramente.

93. Tornar-se um com os outros

Eis aí, portanto, o primeiro ponto fundamental para quem vive a contrariedade de ser cobrado pelos outros: é preciso tornar-se um com os outros. Mas, o que é tornar-se um com os outros? Vamos falar disso.

Ser universalista, tornar-se uno com o outro, é tornar-se o outro quando estiver numa relação com ele. Somente quando você se une a ele, torna-se ele, poderá ser uno com o outro. Aí está o grande problema ...

Os seres humanos, por conta da sua intenção de ganhar sempre, na verdade querem que os outros tornem-se um com eles. Querem que os outros aceitem suas verdades e vontades. Querem que os outros vivam os mesmos anseios, sonhos e esperanças. Mas, isso não é possível.

Se o outro não quer ser universalista, se ele não quer viver a verdadeira felicidade, jamais abrirá mão de suas verdades e desejos. Mais: irá querer sobrepujar as suas vontades àquelas que você possua.

É disso que estou falando. Se você quer viver com felicidade plena com sua mãe e ela não quer conviver contigo da mesma forma, é preciso que você se torne um com ela ao invés de esperar que ela faça isso com você.

Quer dizer, então, que a felicidade que estou lhe ajudando a alcançar, o fim da contrariedade que estou prometendo passa por você deixar de ser quem é e passar a fazer o que sua mãe deseja? Sim e não. O que estou dizendo não é que se transforme integralmente para aquilo que sua mãe espera de você, mas que durante o tempo em que estiver com ela, frente a ela, se prioriza a busca da felicidade, tem que ser ela.

Sabe porque isso? Porque você e ela são pessoas diferentes. São personalidades completamente opostas que querem coisas diferentes. Como pode uma conviver com a outra em paz e harmonia se além de serem diferentes as duas querem impor a sua vontade à outra?

Por isso, se você não se torna um com ela, com certeza continuará vivendo como vive hoje: em contrariedade. Terá sempre momentos onde irá querer uma coisa e ela irá querer outra. Neste momento haverá o choque entre os anseios de vocês e neste momento você perdeu a sua felicidade.

Esse é o primeiro ponto: é você que tem que ceder. Não ceder o tempo inteiro, mas no momento em que estiver com ela. Não ceder anulando-se completamente, mas no sentido de não exigir que o outro seja diferente para que você possa manter com ele uma relação em paz e harmonia.

Vou dar um exemplo do que estou falando. Você não fala disse na sua questão e nem sei se acontece, mas o exemplo é bom para compreendermos o que estou dizendo. Num determinado dia você precisa sair de casa para resolver um problema ou para passear. Neste mesmo dia sua mãe precisa que esteja junto com ela. Cobra que esteja junto a ela naquele momento em que tinha programado fazer outra coisa.

Este é o momento que precisa ceder. Como fazer isso? Indo simplesmente com ela, ficando com ela? Não, isso não resolverá nada. Isso porque se for com ela querendo estar em outro lugar, não estará em paz nem feliz. O ceder que estou falando é no sentido de dizer para si mesmo: ‘eu queria ir a outro lugar, mas neste momento não tenho condições de ir onde quero. Por isso, vou lá com ela e mais tarde ou outro dia vou onde quero ir’.

É isso que é o ceder que estou falando. Ceder não é anular-se, deixar o que quer de lado, mas ter a compreensão de que para ter a felicidade precisa momentaneamente adiar o que quer. Adiar fazer o que que gostaria de estar fazendo.

Para perfeita compreensão do que estou tentando lhe passar volto a dizer uma coisa que falo sempre: eu falo de mundo interno, não falo de atos. Por isso estou me referindo em adiar internamente aquilo que quer quando externamente está indo com ela. Agora, se ceder internamente e a vida causar não ir com ela, mas sair para fazer o que quer, isso não tem importância no tocante à busca da felicidade, pois trata-se de ato e ação não importa para a felicidade. O importante para ela é, indo ou não com sua mãe, trabalhar internamente o ceder ao próximo.

94. É preciso ceder

É neste ponto que começa o problema da busca da felicidade que dizem fazer. Isso porque nenhum ser humano quer ceder um milímetro daquilo que acha que é certo, que acha que gosta ou do que imagina ser justo. Ninguém está disposto a ceder suas posses, suas paixões e desejos para poder servir ao próximo, para poder se universalizar, para poder ser feliz.

À respeito disso lembro que falava assim: vocês buscam a elevação espiritual, mas não querem dar nada para alcança-la. Para mostrar isso contava a seguinte história.

Elevar-se espiritualmente é unir-se à Deus, aproximar-se Dele. O Pai é o centro do universo, é o meio de tudo o que existe. Hoje estão afastados dele e o meio, o centro do universo que vivem é o astro rei, o sol. É a partir destas figuras que falo da elevação espiritual.

Usando esta comparação que fiz, posso dizer que a busca da elevação espiritual pode ser comparada à busca de chegar ao sol. O ser humano que busca a Deus pode ser comparado àquele que quer chegar o sol. Só tem um detalhe: para não se queimar o ser humano quer chegar no sol à noite ...

É desta forma que ele busca a elevação espiritual. Quer aproximar-se de Deus, mas não quer perder nada do que tem hoje. Isso é impossível.

O trabalho da busca do poder da felicidade exige que você ceda à alguma coisa. Exige que você se doe em alguns momentos. Se não houver essa doação, essa cessão de supostos direitos, não há como ser feliz, pois dependerá do outro para ser feliz sempre. Neste caso, mesmo que consiga o que anseia, não terá felicidade, mas sim prazer.

Aquele que não sabe ceder suas vontades, anseios e verdades ao próximo não consegue jamais ser feliz. Isso porque o egoísmo nato do ser humanizado fará com que ele exija que o outro comungue das suas verdades. Como o outro possui vontades e verdades diferentes e também não cede, o embate entre os seres é inevitável. É por isso que afirmo que o relacionamento de dois seres é sempre uma disputa de cabo de guerra.

Como o ser humanizado quer ser feliz, se a felicidade depende da paz e da harmonia e os envolvidos querem sempre impor suas vontades um ao outro? Como podem viver em felicidade a convivência mutua se a cada momento que ela acontece quer que sua vontade e verdade prevaleça. Impossível, não é mesmo?

Portanto, o que estou lhe recomendando para que viva a paz e a harmonia, é que comece a trabalhar dentro de si a questão do doar-se, do ceder em prol, em benefício do outro. Claro que é um benefício para o outro o seu ceder, mas o maio beneficiado é você mesmo, pois viverá em paz e harmonia a mesma coisa que viveria em contrariedade.

95. Vitimização

Acho que isso fica muito claro. Mas ainda há algo que gostaria de abordar, que é um instrumento, uma arma, que a mente humana, o ego, cria para poder dominar os outros. Estou falando da vitimização.

Você me relata que sua mãe quando não é atendida ou mesmo para ser atendida, fala de como a vida dela é difícil, de como as coisas da vida dela são ruins, de como nada dá certo, de como é uma eterna sofredora. Isso é um processo natural e normal em todo ser humano.

Como o ego se utiliza do egoísmo para poder conquistar o outro, para obter a vitória, muitas vezes usa para este fim o processo de vitimização. Ele mostra o quanto o sofre, o quanto perde para poder dominar o próximo e assim impor a sua vontade.

Por isso, esse processo de vitimização também é algo que faz parte da natureza humana. É algo que acontece com praticamente todos os seres humanizados. Claro que existem graus diferenças de vitimização, mas o processo em si está presente na maioria absoluta das mentes.

Existem pessoas que se fazem muito mais de vítima do que outros, mas ninguém deixa de se fazer quando o que quer não acontece. Você, por exemplo, quando a sua mãe exige a sua presença e diz que essa exigência é algo danoso para você, está usando o mesmo processo de vitimização que ela usa. Não vê, mas está usando do mesmo artifício que ela usa para lhe prender com a finalidade de não aceitar ser presa.

Este processo pertence a todos os seres humanos. Em qualquer nível, em todas as situações, os seres humanizados quando não contentados, se fazem de vítimas, de injustiçados, de contrariados, de acusados, caluniados.

Eis aí, portanto, mais uma coisa importante com a qual precisa aprender a trabalhar. Quando falo com você, estou falando com todos: para ser feliz é preciso compreender que a contrariedade de um ser humano é demonstrada por assumir o papel de vítima. Por isso, precisam aprender a viver com a vitimização dos outros. Só assim poderão deixar de assumir o papel de injustiçados.

96. Convivendo com a vitimização

Como se vive com a vitimização dos outros? Não vivendo a importância que o outro dá ao seu sofrimento. O ser humanizado como quer conquistar, gera uma ideia de ter pena dos outros ou de si mesmo. Gera uma ideia de viver situações onde os outros ou ele mesmo não sejam vítimas da vida. Mas, isso é impossível.

Não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo, ou seja, não se pode agradar dois seres humanos ao mesmo tempo. Em um determinado acontecimento, ou um é servido ou o outro; ou um é agradado ou o outro: não pode ser diferente. Jamais se conseguirá agradar a todos ao mesmo tempo.

Há algum tempo disse que para um ganhar é preciso que outro perca. Quando isso aconteceu, uma pessoa me perguntou se não há como todos ganharem ao mesmo tempo. Naquela época e sempre a minha resposta a esta questão é a mesma: não. Não é possível que todos ganhem ao mesmo tempo, a não ser que se transforme a derrota numa vitória.

Essa transformação, no entanto, não pode acontecer por hipocrisia, ou seja, satisfazer a vontade dos outros mantendo a sua própria. Quem faz isso sofre com contrariedade, pois ainda tem vontades. O que estou dizendo é que para poder ser feliz o ser humano tem que ter vontade de fazer o que o outro quer fazer. Vivendo isso, com certeza os dois poderão ser satisfeitos num determinado momento.

Portanto, a questão da vitimização é importante de ser compreendida por quem pretende deter o poder da felicidade. É preciso saber que todos se fazem de vítimas quando contrariados e, por isso, é necessário para que tenha uma relação em paz e harmonia com eles, estar consciente de que a vitimização não é na verdade uma dor, um sofrimento do outro nem seu, mas uma arma que o ego usa para poder impor a sua vontade, o seu desejo e verdade ao próximo. Se não houver esta consciência, fazendo ou não o que o outro quer, com certeza você sofrerá.

Imagine que num dia você consegue praticar atos de acordo com o anseio de sua mãe, mesmo tendo pretendido fazer outras coisas. Neste caso, você sofrerá, ou seja, viverá um papel de vítima. Já em outro dia, acaba praticando o que quer. Neste caso também sofrerá, porque a sua mãe estará sofrendo por você não ter feito o que ela queria. Viu como sem a doação consciente, sem a vontade de fazer pelos outros, o sofrimento é inevitável?

Resumindo, então, tudo o que dissemos sobre conviver com a cobrança dos outros, diria que primeiro, já que sabe que sempre a sua mãe reagirá sentindo-se sofredora porque não fez o que ela quer, não dê valor a este sofrimento. Aja com naturalidade: ‘desculpa, mãe, hoje não posso fazer o que você quer. Amanhã se tudo der certo farei’. Mesmo que ela sofra, não aceite esta vitimização por parte dela.

Segundo: trabalhe dentro de você a ideia de ceder ao próximo para que possa alcançar a paz e a harmonia. Esse é o segredo para aquele que quer ter o poder de ser feliz.

Com as graças de Deus.