A busca

A busca

1. Buscador consciente

Participante: eu estava no café da manhã com a minha companheira conversando sobre seus ensinamentos. Aí falei que às vezes nos perdemos com a quantidade dos ensinamentos. Nos esquecemos que a finalidade do seu ensinamento é estar em paz e em harmonia. Ou seja, ficamos perdidos no dia a dia e nos esquecemos que a finalidade de tudo o que o senhor fala é estar em paz. Para me lembrar disso, juntei essa observação com outro ensinamento que ouvi de um outro pai velho: ‘olha filho, o ensinamento e eu somos o dedo, mas a finalidade é a lua. Vocês se prendem no dedo apontado para lua e se esquecem de chegar ou de visualizar a lua’.

Perfeito.

Na verdade, o problema é que vocês, na verdade, quando estão aqui, não estão preocupados em resolver a vida. Quando ouvem a mim ou a qualquer outro guru, mensageiro, não estão preocupados em resolver verdadeiramente o problema da vida de vocês. Estão sempre preocupados em saber alguma coisa. É por isso que toda a gama de ensinamentos que recebem se perde.

Outro detalhe sobre os ensinamentos espirituais é que eles parecem diferentes um do outro, mas não são. Como você disse, todos estão ligados a um só fundamento: alcançar a paz e a harmonia. Podem parecer diferentes, mas todos têm um só fundamento.

Sendo isso verdade, você não precisa saber o que fazer, mas concentrar-se em saber o que alcançar. É exatamente o que você falou: não importa se eu falo de banana, de coco, de maternidade, de Cristo ou de Deus; tudo o que disser tem como objetivo lhe mostrar um caminho para a felicidade. Sabendo disso, a sua concentração precisa ser em viver feliz e não em aprender como se vive.

Tudo o que falo tem como objetivo lhe levar a viver em paz, em harmonia com você, com o mundo e com os outros. Se entender isso, não precisa ficar se preocupando se eu disse para não se apegar ou se disse para amar: concentre-se apenas em viver em paz destruindo tudo que lhe rouba esse estado de espírito.

Quem entende o que estou dizendo já tem o norte para caminhar. Quem sabe que rumo precisa seguir, não necessita de bússola: se guia pelo sol.

Agora, ouvindo o que acabou de escutar, o que vai fazer? Esse é o ponto importante da minha resposta. A partir de tudo o que eu disse nos últimos dezessete anos, do que já ouviu nos últimos cinquenta anos, de tudo o que foi ensinado nesse planeta nos últimos cinco mil anos, o que você descobriu?

Participante: que o objetivo é sempre ficar em paz.

Não, não é isso. Esquece o objetivo; já falamos dele.

Repare numa coisa: Joaquim fala de um jeito, não sei quem fala de outro, não sei quem fala de outro. Quando você vê essa gama de informação cada uma falada de um jeito, o que pode tirar de conclusão?

Participante: que todos são iguais?

Na verdade, são todos diferentes. Eu falo que pode estuprar, o outro fala que não pode. Eu falo que não é obrigado a dar alimento e outro fala que é. Todos são diferentes. Apesar disso, todos estão ligados ao mesmo objetivo que já falamos: estar em paz.

Agora, se você tem um que diz que pode alguma coisa e o outro diz que não pode, mas os dois ensinamentos estão atrelados ao mesmo objetivo, o que você apreende com isso? Que qualquer caminho leva a Deus!

Quando você descobrir que quando se fala de trabalho de reforma íntima o importante não é fazer isso ou aquilo, mas alcançar determinada coisa (ser feliz incondicionalmente) e que diversos caminhos podem levar à realizar, descobre uma coisa interessante: você vai fazer o seu ensinamento.

Quem busca a reforma íntima com a consciência perfeita desse processo faz o seu próprio caminho. Ele caminha do jeito que for, à hora que for, sem estar apegado à praticar determinados atos ou preso à quaisquer normas e regras.

Para aquele que busca conscientemente a elevação espiritual o importante não é o caminho, não é fazer isso ou aquilo, não é seguir essa ou aquela norma, mas alcançar aquilo que se entende como objetivo. Esses sabem que o caminho não é realização, por isso não se preocupam por onde andarão, mas sim em chegar.

Por isso, lhe dou um conselho: faça o que fizer, acredite no que acreditar, jamais deixe de lutar pela sua paz. Se alguma coisa que Joaquim nunca falou lhe serve de instrumento para alcançar a paz, use! Se, mesmo acreditando em mim, alguma coisa que outro falou lhe serviu como arma para acabar com a desarmonia com o outro, use!

Essa é a diferença entre querer saber. Quem quer saber, escolhe mestre e defende os ensinamentos do escolhido dizendo que só eles são verdades absolutas. Quem quer conseguir, não se apega a um mestre nem a um só ensinamento, mas se utiliza de tudo o que for possível usar como arma contra a desarmonia. Ele caminha mesmo que seja aos trancos e barrancos para o objetivo.

Pode ir por caminho torto, mas isso não tem problema. O importante é que chegará.

Participante: pode errar também, né?

Pode, mas não vai errar nunca.

Que procura conscientemente a felicidade e para alcança-la hoje usa um argumento que não consegue acabar coma desarmonia, amanhã não o usará mais. Nesse caso não errou, experimentou.

Participante: descobriu uma forma de não fazer.

Isso.

O que estou falando agora tem a ver com uma grande discussão no nosso meio: Deus é causa primária de todas as coisas ou não? Aquele que idolatra os ensinamentos e quer saber jura de pé junto que sim, mas o buscador consciente apenas diz: não sei. Mais: e não me interessa saber ...

Na hora que alguém tem certeza absoluta de alguma coisa, a informação deixa de ser caminho e vira apenas cultura, saber. Isso não pode acontecer, pois, como já conversamos, tudo o que se sabe é tratado como absoluto e será um entrave ao caminho.

Participante: não vai estar em paz, por exemplo.

Isso, não vai alcançar.

Portanto, se Deus é ou não Causa Primária de todas as coisas, declare textualmente que não tem certeza. Apesar disso, quando essa informação lhe ajudar a estar em paz, use-a sem saber se é ou se não.

Esse é o grande segredo da busca da felicidade: vocês não buscam alcança-la, mas apenas saber ensinamentos. Alcançando o saber não vão realizar nada, mas apenas conseguir mais argumentos para lutar com o outro. Portanto, não importa qual seja o caminho que um guru fale ou que o outro diga, nem no que você acredita: apenas use tudo o que lhe estiver disponível para ter paz.

Esse é um ensinamento libertador, mas vem a mente e começa a semear a desconfiança: ‘será que ao usar esse ensinamento não estou sendo egoísta, não estou pensando apenas na minha paz’? Sim, é isso mesmo: é apenas uma coisa para você conseguir a paz. Não há verdade alguma em qualquer ensinamento.

Chocados? Pergunto: o que é verdade?

Participante: não sei ...

Eu sei: é o que você declarar que é. Tudo que disser que é verdade, será, para você.

Por isso, pouco importa no que você acredita. Seja qual for o ensinamento que siga, ele só será verdadeiro se você declarar que seja. Sendo assim, pergunto: para que quer saber se determinado ensinamento é verdadeiro o não, se só será verdade o que você disser que é?

Então, use tudo o que quiser ...

Participante: até o que você nos passa só será verdade se acreditarmos que é.

Por isso eu sempre digo no final: não acreditem em mim.

Participante: quantas vezes não acreditamos no que você fala no momento que ouvimos e depois acabamos concordando ...

Portanto, o que você falou é muito importante. Para que? Para você parar de ouvir Joaquim, ou qualquer outro, no sentido de saber e ouvir no sentido de adquirir ferramentas que você pode ou não usar.

2. O que realmente importa

Participante: nós vínhamos no carro conversando. O colega falou sobre o aparelho GPS. Eu fiz um comentário com uma informação discordante da dele. Isso não gerou uma discordância entre nós, mas depois minha mente disse: ‘olha a diferença de conceito entre as pessoas’! Nas situações onde estou conversando e observando as pessoas a minha mente, ao mesmo tempo que traz uma informação discordante da outra pessoa, me dá um toque: ‘observa o que está acontecendo’. Ou seja, é como se ela me desse duas proposições de coisas a fazer (prestar atenção no que penso ou no que ouço, para que eu fizesse uma escolha.

Sim, tem muitos que não conseguem observar, mas tem outros que conseguem.

Volto a repetir: o importante não é observar ou não. O importante é ser feliz.

Deixe-me falar bem claramente, pois aqui não tem nenhuma criança. Todos aqui sabem o que é sofrer; todos sabem que não querem sofrer. Por isso, pergunto: por que na hora que sofrem não lutam para sair desse estado de espírito? Porque ao invés de fazerem alguma coisa para estancar o sofrimento preferem apenas lamentarem-se?

Sabe, o toque da sua mente que você relatou ainda está muito erudito, muito científico. Se você conseguisse achar um caminho por causa dessa ação da sua mente, amanhã vai cobrar de outro que não tenha: ‘Você não tem esse toque? Por que isso não acontece com você? Será que está realmente se dedicando tanto quanto eu’?

O resumo de todo o processo de reforma íntima é: descobriu que está sofrendo, aja contra esse estado de espírito, aja contra o sofrer. ‘Eu não quero isso para mim. Por isso, se o que estou vivendo me causa sofrimento, prefiro abrir mão dessa verdade ou de querer isso ou aquilo’. Pronto: acabou tudo o que precisa saber e fazer para ser feliz.

Para se viver em felicidade não é necessário ciência alguma: basta apenas ser feliz. É só isso o que você tem que fazer: tem que arrumar um jeito para ficar em paz, para se harmonizar com o momento que está vivendo. Esse jeito não é universal, não está preso a nenhuma ciência: cada um precisa encontrar o seu.

Por isso sempre disse que a minha função é abrir o leque de possibilidades de verdades que podem estar presentes em todos os momentos. Com isso, gero ferramentas para você escolher a que quer usar.

Eu não estou aqui para ensinar nada a ninguém. Não estou aqui para transmitir verdades, ensinamentos profundos dos antigos. Não, estou aqui simplesmente para lhe dar armas para que possa escolher qual delas vai usar para matar aquilo que lhe causa sofrimento. Ponto final: essa é a minha função.

Dezessete anos falando a mesma coisa e cada vez que falo abordo o mesmo tema de uma forma diferente. Faço isso exatamente para que possa ampliar o arsenal de tal forma que você sempre encontre uma arma que lhe sirva.

Na verdade, já dissemos tudo o que tínhamos para falar quando enumeramos as ‘Cinco Verdades Universais’ em 2001. Elas são as bases de tudo o que falamos ainda hoje. Mesmo que nunca mais tenha falado delas, tudo que digo está fundamentado nelas.

Portanto, se alguém quer saber alguma coisa de nossas mensagens, concentre-se apenas em entendê-las. A necessidade de entender qualquer outra coisa é apenas um apelo mental.

Hoje falamos de renascer e em outro dia o assunto teve um título diferente. Apesar disso, não falei nada diferente nos dois dias e nem de tudo o que transmiti nos últimos dezessete anos, apesar de nunca ter falado em renascer. Só que vocês imaginam que o assunto de hoje foi totalmente novo. Porque isso? Porque não se concentram na base do assunto. Com isso, o que foi dito hoje será esquecido.

Por isso, lhes digo: esqueçam os argumentos que usei, esqueçam os aspectos científicos envolvidos, esqueçam tudo o que foi dito e concentrem-se apenas numa coisa: o meu objetivo de vida é ser feliz! Não uma felicidade condicionada, ou seja, ser feliz porque ou para ganhar a elevação espiritual ou ter uma vida melhor. Estou falando em ser feliz para viver melhor essa vida porque você não aguenta mais sofrer. Na hora que disser isso para si mesmo e observar o arsenal que tem à sua disposição para alcançar essa felicidade, terá conhecido tudo o que precisa para a sua luta. Todo o resto é apenas conversa para sábio.

3. Flexível como um bambu

Participante: disso que o senhor falou, as vezes me vem à reflexão de que quanto mais eu conseguir ser flexível com aquilo que penso mais armas terei para lutar contra o sofrimento, não é? Hoje eu posso me dar o direito de acreditar em uma coisa, amanhã acreditar em outra ... Isso não importa, não é mesmo?

Não é se trata de lhe dar esse direito; você já o tem.

Não é você que está se dando esse direito agora. Você sempre teve o direito de acreditar no que quiser. Por isso lhe dou um conselho: dentro de tudo o que pode acreditar, procure crer naquilo que for melhor para você.

Participante: não importa, porque a gente não vai saber o que é verdade mesmo.

Perfeito. Mas, aí é que surge um grande problema para os buscadores.

A grande maioria ainda acredita que há uma verdade a ser alcançada, só que não há verdade para ser alcançada. Deixe-me lhe fazer uma pergunta. Você falou algo interessante: ser como o bambu. Se desse um vento muito forte num bambuzal, o que cairia primeiro: a árvore grossa ou o bambu fininho?

Participante: a árvore.

Exato. O bambu só enverga e volta; a árvore cai e não volta mais.

Saiba de uma coisa; quanto mais enraizado você estiver num solo, ou seja, quanto mais certo das suas verdades estiver, menos flexível será. Nesse caso, quando viver uma tempestade estará pronto para cair. Por isso digo: sejam flexíveis.

Ser flexível é isso: não ter um caminho, não ter uma obrigação, não ter uma verdade absoluta. Quem busca a felicidade sendo um bambu tem um monte de elementos que pode usar na hora que usar, na hora que lembrar de usar, e não uma série de verdades das quais não abre mão. Ele é assim porque não quer ser sábio, mas sim conseguir a paz.

Isso é o processo de elevação espiritual. O resto? É conversa para boi dormir.

Perguntas? Ninguém tem perguntas? Então ontem foi muito bom, não é mesmo? Todo mundo entendeu tudo.

Participante: está todo mundo com sono, Joaquim.

Ah, então é isso. Mete café em todo mundo.

Participante: e aí? Isso é uma verdade, Joaquim: café desperta?

Não sei, dizem que sim. Desperta quem acredita que ele desperta.

Há muitas pessoas gente que não tomam café à noite com medo de que ingerir essa bebida vá interferir no seu sono. Para esses que tratam essa informação como uma verdade ela vira um argumento para criticar os outros: “você vai tomar à essa hora”? Se alguém lhe questionar desse jeito, responda: “vou, e daí? Se afetar o meu sono quem não vai dormir sou eu. O que você tem a ver com a minha vida”?

Participante: que falta de educação, Joaquim

Pior foi a do outro que se imaginou no direito de regular a minha vida.

Não estou dizendo para você ter raiva do outro, mas para deixar bem claro que você é uma pessoa que possui suas próprias verdades e que devem ser respeitadas. Isso não é agredir ninguém, mas proteger a si mesmo.

Argumentos como esse, que aparentemente não têm nada a ver com elevação espiritual, nenhum mestre lhe ensina, lhe diz para usar, mas facilitam o amor entre todos. Mesmo que não queira falar para ele, diga a si mesmo se alguém encher o seu saco cobrando que está tomando café à noite: “ele não tem nada a ver com a minha vida, tomo café na hora que eu quiser”.

Pronto, acabou. Usando esse argumento você acaba, com a sua contrariedade, toma seu café e deixa o outro se desgastando emocionalmente com o questionamento. Ele, por causa das verdades científicas dele, vai continuar sofrendo e você, com a sua simplicidade de simplesmente dizer ‘que se dane’, vai continuar na sua paz.

Participante: é o mesmo de não levar nada para o pessoal?

É o mesmo que não levar nada para o pessoal.

Então, vamos começar a conversa de hoje, né? Como é um assunto que está pulsante, acho que vocês vão despertar...