Reforma íntima - Textos - Volume 08

Pedidos

Quando vemos uma igreja, um templo ou um centro espírita, imaginamos que ali é um lugar onde devem ir os fiéis de determinada religião em busca da sua re-ligação com o Pai Supremo. Religar-se à Deus é buscar a essência espiritual que reside dentro de cada um. É procurar atingir o “reino de Deus” para vivê-lo em toda a sua plenitude ainda na carne.

A maioria que freqüenta estes lugares imagina que está assim procedendo, mas seu real interesse está muito longe disto. Quando aprendemos que o “reino de Deus” é um estado onde o espírito vive com o amor universal (alegria, compaixão e igualdade), infelizmente as bases procuradas na re-ligação para a existência deste estado não são a real procura dos fiéis que freqüentam estes lugares.

Eles buscam a alegria, mas para eles este sentimento ainda depende de concretizações de conceitos individuais para que ela exista. Um espírito que quer se religar com Deus não pode impor desejos para que entre na plenitude do “mundo de Deus”.

Os fiéis vão buscar a felicidade de Deus, mas impõem condições para senti-la. Precisam de acontecimentos e posses materiais para que alcancem a felicidade. Pedem saúde, bens materiais, acontecimentos em seu favor em preces fervorosas a Deus. Conseguindo estas condições sentem-se felizes.

Entretanto, Jesus nos alertou que devemos juntar bens no céu, ou seja, na existência espiritual, onde o verme não os come e onde a ferrugem não os enfraquece. Submeter a felicidade a bens voltados para a vida material, de qualquer ordem é impor condições a Deus para que cumpra a sua prova, expiação ou missão.

Quando o espírito projeta o seu “livro da vida”, ele “desenha” o seu corpo físico de acordo com os trabalhos que irá realizar na vida carnal. Neste desenho estão as propensões a algumas doenças, bem como o funcionamento ou eliminação de alguns órgãos ou membros. Agora, na carne, o espírito pede a Deus que “elimine” estes defeitos que o próprio espírito projetou e que é o “perfeito” para os seus trabalhos.

Juntar bens no céu é pedir a Deus que dê forças para a realização dos trabalhos na situação atual de vida, pois ela trará a evolução espiritual. Pedir “saúde” que poderá atrapalhar a “obra” de cada espírito, é querer possuir bens na vida material.

A fome existe para quem precisa ter fome para alcançar a evolução espiritual. É situação projetada pelo próprio espírito e é a que mais facilitará a sua evolução. Pedir a Deus que acabe com esta necessidade que é uma providência divina, é querer alcançar a felicidade material, a sua satisfação individual, e não a Universal. Portanto, ao invés de pedir a Deus um emprego, o espírito deve religar-se ao Pai pedindo “forças” para suplantar sua prova. Como afirmou Jesus, “Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível, que seja feita a Sua vontade”.

Os espíritos rogam “aos céus” para que seu desejo seja cumprido e não para que Deus lhes mantenha as condições necessárias para o cumprimento da finalidade da sua encarnação. A felicidade dos seres humanos depende exclusivamente da satisfação material alcançada quando seus desejos são cumpridos.

Todos os pedidos endereçados a Deus que não contemplem a evolução espiritual não podem ser atendidos, pois o Pai estaria sendo injusto dando ao espírito situações ou bens que possam comprometer esta evolução. Antes de pedir, é preciso merecer que a situação não mais seja necessária para que Deus promova a mudança.

É através da reforma íntima, passando a utilizar apenas o amor universal como base de raciocínio de sua vida, que o espírito pode alterar as situações da vida. Se a fome é uma situação pedida pelo espírito para que ele promova a mudança de algum sentimento, a partir do momento que ele promover esta mudança não mais será necessária a situação. Entretanto, enquanto houver a necessidade, a situação se manterá.

Deus não está preocupado com a felicidade material, aquela que é alcançada quando os conceitos são satisfeitos, mas sim com a felicidade universal do espírito. Ele não seria justo se desse ao espírito um prato de comida por dia durante a sua vida material (de poucos anos de existência) se com isso prejudicasse a sua existência espiritual, que é eterna.

Portanto, buscar se religar a Deus, entrar na plenitude do “reino dos céus” é buscar com o Pai o auxílio para que cada um promova a sua reforma íntima e não que continue imaginando-se ser humano que necessita de bens materiais para que possa evoluir como tal.

 As igrejas, templos e centros não devem ser encarados como locais onde o espírito alcance a sua prosperidade material, mas sim onde ele possa encontrar o amor de Deus para dar-lhe forças para a realização da reforma íntima que traz a evolução espiritual.

Religar-se com Deus não deve ser para pedir algo, mas para agradecer tudo aquilo que tem recebido, mesmo que não se cumpra o desejo individual. Afinal sempre oramos: “seja feita a Sua vontade, assim na Terra como no Céu”.