Reforma íntima - Textos - Volume 08

Fé raciocinada

A doutrina espírita formatada por Allan Kardec através do seu livro “O Livro dos Espíritos” e posteriores, criou o termo “fé raciocinada” para qualificá-la. Esta afirmativa baseava-se na diferenciação entre o catolicismo e as religiões adventistas e pentecostais até então existentes e dominadoras no ocidente.

Enquanto estas últimas religiões baseavam-se em dogmas, ou seja, foram formatadas através de “verdades” que não podiam ser contestadas, apesar de não compreendidas, os ensinamentos espíritas buscam “explicar” os fenômenos do mundo espiritual para a compreensão dos encarnados. Desta forma, para os espíritas a fé não deveria surgir do “nada”, mas apenas da “compreensão” dos assuntos de Deus.

Porém, isto é impossível. A fé é um sentimento e não um “conhecimento” que possa ser raciocinado. Ninguém ama alguém pelo raciocínio, mas sim pela confiança que o outro proporciona. Quando ama realmente não questiona, mas entrega-se ao alvo deste amor como guia de sua vida.

Todo sentimento surge não de raciocínios, mas de trabalho ainda desconhecido do espírito na carne. O sentimento não é construído, mas é alcançado sem motivação aparente. Um marido não ama a esposa porque a raciocina bela, rica, boa, ele ama uma mulher independente dos atributos que ela tenha. Isto fica bem claro através da própria cultura popular: “quem ama o feio, bonito lhe parece”.

Com a fé não poderia ser diferente. O casamento (confiança e entrega) com Deus não pode surgir do raciocínio da vida espiritual na carne, mas sim da visão individual que cada um tem de Deus. Como o namorado que ama a namorada sem raciociná-la, mas possui uma “descrição” particular de quem é ela.

As transmissões dos enviados de Deus apresentaram o Pai como sendo a Inteligência Suprema do Universo, Justiça Perfeita e Amor Sublime (ver tema DEUS). Esta deve ser, portanto, para quem acredita em um destes enviados, a base da sua fé, ou seja, do seu amor pelo Pai.

Sobre estes aspectos não pode haver raciocínio, dada a superioridade espiritual daqueles que nos servem como Mestre. Não estamos, no entanto, querendo voltar ao mundo dos dogmas com esta afirmação. É necessário que os acontecimentos do mundo sejam “compreendidos” para favorecer a prática dos ensinamentos em novos acontecimentos. Por isso, afirmamos que os conhecimentos devem ser raciocinados não no sentido de questionar a fé, a visão que se tem de Deus, mas para se compreender a vida na carne a partir desta visão.

O Espiritualismo Ecumênico Universal propõe a FÉ COM CONHECIMENTO RACIOCINADO, ao invés do constante questionamento dos desígnios de Deus, que não podem traduzir um amor. Amar a Deus acima de todas as coisas, ou seja, aplicar o seu “deus” (aquilo que você ama) nas coisas e não questionar este amor colocando os acontecimentos acima Dele.

Raciocinar a fé é crer em um Deus que pode se transformar; ter fé com conhecimento raciocinado é promover a imutabilidade necessária para que o Pai seja o “deus”. Quando alguém raciocina um acontecimento sem a presença de Deus, aplica ao acontecimento o seu “achar” e não consegue encontrar Deus nas coisas.

Quando acontece alguma coisa que contraria o ser humano ele afirma que houve uma injustiça. Isto acontece porque ele raciocina o acontecimento sem a presença de Deus, dos atributos que ele dá ao Pai. Ele não procura amar a Deus e compreender os Seus desígnios, mas submete-O ao seu raciocínio.

Quem tem fé em um Ser que possui a Justiça Perfeita, jamais pode raciocinar no sentido de “ver” uma injustiça. Aquele que ainda consegue agir desta forma é porque questiona a sua fé em Deus. Para provar a sua fé, o ser humano precisa colocar a Justiça Perfeita no acontecimento, ou seja, elaborar o seu raciocínio a partir desta Verdade.

Quem tem fé no Amor Sublime não pode sentir-se ferido, a menos que tente “raciocinar” o amor de Deus, quem crê que Deus é a Inteligência Suprema não pode encontrar erros, pois estaria acusando o Pai de não ser inteligente o bastante, pois aquele que encontra o erro é superior à própria Inteligência Suprema.

O raciocínio do acontecimento sem a fé necessária leva ao questionamento das atitudes e transforma a lei que Jesus enunciou para “amar as coisas acima de Deus”. Raciocinar com fé é colocar os atributos de Deus nas coisas, raciocinar a própria fé é questionar os atributos que transformam o Pai no Deus da humanidade.