Reforma íntima - Textos - Volume 08

Difícil, mas não impossível

“995 a – Não desejam esses espíritos abreviar seus sofrimentos?” “Desejam-no sem dúvida, mas falta-lhes energia bastante para quererem o que os pode aliviar. Quantos indivíduos se contam, entre vós, que preferem morrer de miséria a trabalhar?” (O Livro dos Espíritos).

Entre os que tomam contato com os ensinamentos trazidos pela Academia Superior de Ciências Espirituais existe aqueles que, por escolha sentimental, acreditam ou desacreditam neles. Para os últimos, novo caminho será aberto por Deus futuramente, uma vez que a reforma íntima nas bases aqui ensinadas (fim do desejo e do achar) é uma realidade que nenhum ser universal poderá escapar, visto que foi o caminho tomado por todos anteriormente que conseguiram a evolução espiritual.

Entretanto, entre aqueles que creram na autenticidade dos ensinamentos, existem dois grupos distintos: os que iniciaram a batalha íntima e os que depuseram suas armas. Mesmo vendo lógica nos ensinamentos muitos seres encarnados desistem de lutar contra si sob o pretexto de não terem condições de promover o fim de suas verdades. Sabemos que esta luta é difícil, mas não impossível de ser alcançada.

Jesus Cristo não poderia deixar de nos dar o caminho para essa batalha: orar e vigiar. Estes são os dois procedimentos que o ser espiritual deve ter durante a sua existência carnal para poder penetrar na felicidade universal.

A oração daquele que pretende encurtar seu ciclo de encarnações não pode se resumir em algumas palavras. Ela deve se traduzir em um estado de espírito. O termo “oração” para os ocidentais deve alcançar o mesmo valor que “meditar” para os orientais. Viver em oração é o meio que o espírito deve alcançar para atingir a elevação espiritual.

Meditar é levar a sua existência em conexão com a espiritualidade que cerca, no invisível, o mundo dos visíveis. Viver em oração é estar cônscio dessa espiritualidade presente e nela buscar o apoio para a sua vida. Quem vive em oração recebe a intuição (pensamentos) que pode lhe auxiliar a libertar-se dos conceitos formados sobre as coisas e pessoas.

Aquele que se esquece da existência desse imenso mundo invisível ao seu redor, prende-se à forma das coisas e, por isso, é sempre intuído a pensar dentro da lógica oriunda de seus conceitos. É sobre essa condição de vida que o espírito que procura a elevação espiritual deve manter a sua vigilância.

Vigiar-se no sentido de compreender cada acontecimento, objeto ou pessoa pelo seu real valor espiritual: instrumento de Deus para a sua elevação. Vigiar o seu amor a Deus, buscando sempre estar consciente de que todas as situações são justas e amorosas.

Grande é o apelo da materialidade junto ao postulante ao reino do céu. Por esse motivo, muitos serão também os deslizes e faltas. Nesse momento, mais uma chance para esse ser provar a sua fé.

Se nada acontece sem que o Pai queira, a falha já havia sido prevista por Deus e, portanto, não deve servir de motivos para auto-acusações. Como já falamos, ainda não é hora da regeneração (mudança completa dos sentimentos) e, por isso, todos os seres encarnados, mesmo os que buscam frenética e dedicadamente a elevação não atingirão a perfeição possível no estágio atual.

O ser que busca a elevação deve vigiar-se para não “cobrar” de si nada além do que pode ofertar: a busca como motivação de vida. Acima disso, está além da capacidade dos espíritos hora encarnados. Portanto, ao primeiro sinal de culpabilidade deve o ser buscar a vida em oração, compreendendo sua real posição e louvando a Deus por mais um sentimento recebido.

Quanto a quem estava presente no momento do deslize, aquele que entrou em contato com os sentimentos, você já sabe que ninguém pode feri-lo. Se o outro ser sentiu-se ferido, como já estudamos, foi porque usou o seu livre-arbítrio nesse sentido. A compaixão, como ensinada pelo Espiritualismo Ecumênico Universal, é o lenitivo que manterá o postulante em linha reta. Para aquele que escolheu sofrer uma palavra de carinho ou desculpas, mas nunca perder sua própria alegria.

Para que tudo isso ocorra, a vigilância sobre a vida (compreensão de acontecimentos, objetos e pessoas) é fundamental. Vigiar cada momento para verificar se está em oração ou dando margem aos seus conceitos.

Viver sob a égide do conceito é depender de uma determinada situação para ser feliz. Assim, quando algo “chatear” ou “preocupar” aquele que busca a elevação espiritual é hora de alertar-se, pois um conceito entrou em ação. Viver em oração é realmente participar do acontecimento.

Se todas as situações, pela Fonte que as causou, são perfeitas, justas e amorosas, quando o ser foge da felicidade participa de qualquer outra situação, menos a que realmente está acontecendo. Qualquer sofrimento é prova que o ser está vivendo em um mundo irreal (fantasia) criado pela ação do seu achar, querer e saber.

Tudo isso é o caminho à elevação. Como prometido por todos os mestres, não se trata de caminhar sobre pétalas, mas entre os espinhos da flor. Emmanuel, no livro “Paulo e Estevão” afirma: ninguém pode receber Jesus Cristo sem testemunhos.

No entanto, aquele que persevera na busca, no momento do espinho consegue o autodomínio para não sentir as dores. Nos momentos que não contemplam os seus conceitos ele mais se esforça, pois sabe que ali poderá auferir mais lucros.

Essa luta é muito difícil, bem o sabemos, pois passamos por ela em momentos atrás. Trata-se de lutar contra um inimigo tenaz: nós mesmos.

Somos o resultado daquilo que acreditamos, ou seja, cada um de nós é o somatório dos seus conceitos. Se você se acha feio, não haverá pessoa que poderá faze-lo pensar diferente. Você pode até iludir-se dizendo que mudou seu ponto de vista, mas, mais dia menos dia, o conceito volta a prevalecer sobre o falso entendimento.

Portanto, buscar a reforma íntima é matar o homem velho para que surja um novo homem. Não mais um ser humano, mas agora um ser espiritual vivendo na carne. No entanto, esse homem que deve morrer é você mesmo. Esta é a grande dificuldade da reforma íntima.

A maioria dos seres prefere viver a vida sob a fantasia que encarar sua própria personalidade. É mais fácil culpar o externo por tudo que acontece de “ruim” do que encarar a realidade: perfeito, justo e amoroso.

Como dissemos, é difícil, mas não impossível. Para conseguir é preciso coragem, determinação e fé. Coragem de assumir a interdependência dos acontecimentos (tudo que está acontecendo é colheita de plantação anterior sua). Determinação para não se deixar escorregar para a culpabilidade que se transformará em um banco de arei movediça que acabará por tragar o ser. Fé, confiança e entrega a Deus, para saber que a sua luta levará a um mundo onde o estado de felicidade é pleno.

Sem esses três aspectos, o ser continuará na ilusão, Irá iludir-se dizendo que busca a elevação, mas utiliza os ensinamentos visando atingir o prazer individual. Tudo o que aprende vira uma “arma” que ele aponta para todos, mas se esquece de que deveria virar o mesmo argumento para si.

É preciso muito trabalho para se conseguir a elevação espiritual. Sem a vigilância para que a vida seja levada em oração, sem coragem para enfrentar-se sem culpabilidade, com determinação de persistir na vigilância o tempo inteiro e sem fé com conhecimentos raciocinados, a felicidade universal jamais será conquistada.

É difícil, mas não impossível.