Reforma íntima - Textos - volume 05

Encarnação

Para aqueles que acreditam na múltipla existência do espírito em matérias carnais diferentes (reencarnação), cada uma destas existências é chamada de encarnação. Com este conhecimento, podemos entender que cada encarnação seria uma vida ou existência material de um espírito.

Para o ser humano, a vida pode começar em momentos distintos: para alguns, ela existe desde a concepção; para outros ela se inicia com o nascimento do feto. Mesmo com estas diferenças, para todas as correntes a encarnação começa no momento em que existe o início da vida, pois ali se forma o ser humano, ou seja, o espírito que habita uma matéria carnal. Para conhecermos melhor uma encarnação, precisamos, então, conhecer o ser humano.

Um ser humano é formado por dois traços distintos: a personalidade e os traços físicos. Este conjunto de corpo físico mais uma personalidade recebem, então, um rótulo, que chamamos de nome. Para definirmos o senhor José da Silva nós descrevemos seus traços físicos e falamos de sua personalidade. Ele é um ser humano (pessoa) do sexo masculino, alto ou baixo, magro ou gordo, com determinada cor de cabelos e olhos. Além disso, utilizamos o seu temperamento também para descrevê-lo: paciente, calmo, bondoso ou não.

Este é o senhor José da Silva, ou seja, a encarnação de um espírito. Nesta vida ele praticará determinados atos e executará funções que formarão a sua história, ou seja, a história daquela encarnação. Com esta visão sobre um ser humano, podemos então dizer que cada encarnação é um eu que o espírito assume, para realizar as suas provas e missões além de cumprir as suas expiações, objetivando a evolução espiritual.

O espírito não é o senhor José da Silva: apenas se veste deste eu para realizar o avanço espiritual que necessita naquele momento. Um espírito não tem sexo, altura, espessura ou traços físicos: tudo isto é criado apenas para uma existência carnal. Sua personalidade é alterada para que aquela passagem na matéria carnal possa ser cumprida integralmente.

Apesar da existência de duas correntes para apontar o início da encarnação, existe apenas uma quando se trata de determinar o fim dela: a morte do corpo físico. Para todos aqueles que acreditam na multiplicidade de eu que um espírito vive, quando existe a falência dos órgãos físicos encerrou-se a encarnação.

Se entendermos a encarnação como um eu que o espírito assume, veremos que tanto o momento do seu início (em qualquer das duas correntes) como o do seu término, está equivocado. A encarnação não começa na concepção ou nascimento e nem se encerra com a falência dos órgãos físicos.

A literatura espírita aponta a existência da preparação da encarnação, ou seja, a formação da história que o espírito viverá durante a sua vida carnal. Esta etapa é chamada por muitos de formação do livro da vida, ou seja, o estabelecimento das provas, expiações e missões que o espírito irá realizar durante a encarnação.

Para que estes trabalhos tenham maior chance de êxito, o espírito que irá encarnar, juntamente com os espíritos superiores, estabelece os traços do corpo que irá ocupar. Neste momento são determinadas as características físicas que facilitarão as suas provas, expiações e missões. Além disso, a sua personalidade também será estabelecida neste momento, uma vez que ela é a parte preponderante para que os atos necessários à evolução sejam praticados.

Neste momento, nasceu a encarnação. Muito antes do espírito se unir a uma determinada matéria física, ele já é o eu no qual se tornará quando encarnar. Adéqua seu perispírito para assumir a forma que o corpo terá e altera os sentimentos que possui para formar a personalidade que irá ter. Antes da concepção, o espírito já vive o senhor José da Silva.

 Durante a sua existência carnal (José da Silva), o espírito buscará eliminar os sentimentos negativos que ele agregou para assumir aquele eu, simplificando-se para a utilização apenas do amor universal. Com esta simplificação, o espírito alcançará a essência da encarnação, ou seja, a de que ele é um espírito, filho de Deus e que o senhor José da Silva, é apenas um personagem criado por ele mesmo para promover a sua elevação.

Quando isto acontece, o espírito, mesmo estando ainda preso a um corpo físico, terá encerrado a sua encarnação. Passará a viver como um espírito que é eliminando todo o eu que havia assumido.

Entretanto, na maioria das vezes não é isto que ocorre. O espírito vivendo este eu solidifica este personagem e imagina-se como sendo o senhor José da Silva; para satisfazer os conceitos do eu, passa a cobiçar e possuir matérias, pessoas e verdades. Esquece da busca da simplificação e cada vez se torna mais complexo, criando verdades individuais que necessitam ser satisfeitas. Não entende a sua existência eterna e busca a satisfação momentânea.

Enquanto existir estas buscas, o espírito ainda estará naquela encarnação. Não importa se ele ainda está nesta carne ou não. O que irá determinar o fim da encarnação não é a saída da matéria física e sim o fim do eu. Enquanto houver eu, o espírito não conseguirá alcançar a sua Verdade.

Por isto a literatura espírita e mesmo a não espírita está repleta da informação da existência dos fantasmas. São espíritos que ainda cultuam o seu eu e, por isso, necessitam que seus conceitos e desejos sejam atendidos. Habitam a mesma casa de quando estavam na carne para que continuem a possuí-la, se prendem às pessoas queridas ou não para satisfazer os seus sentimentos, atacam aquelas que imaginam erradas. Tudo motivado pela existência de um eu que possui conceitos que precisam ser supridos.

A encarnação só se encerrará quando este eu, ou seja, o somatório dos conceitos que o espírito possua, acabem e ele passe a participar da coletividade espiritual. Enquanto um espírito imaginar-se como a rainha do Egito não conseguirá ser outra coisa na existência espiritual.