Reforma íntima - Textos - volume 05

Marionete

Quando os seres humanizados entram em contato com o ensinamento da pergunta hum de O Livro dos Espíritos (Deus é Causa Primária de todas as coisas) e descobrem que tudo acontece porque o Pai faz acontecer, naturalmente surge uma afirmação em sua mente: somos marionetes? Sim vocês são marionetes, mas é isso não precisa necessariamente lhe afastar destes ensinamentos. É preciso compreender alguns aspectos desta forma de viver para só então julgar se esta forma de viver é ruim. Vamos conversar sobre isso hoje...

Quando se entra em contato com as idéias espiritualistas, se descobre a maior notícia que todos os mestres trouxeram, mas que não foi levada à prática pelos professores da lei das religiões: Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Essa é uma notícia que não é nova, pois já existe nos ensinamentos de Cristo, Krishna e do Espírito da Verdade.

Apesar de já ter sido passada à humanidade há tanto tempo, esta notícia não está devidamente explicada. Falo isso porque algumas religiões utilizam este ensinamento, mas consideram Deus como causa primária de algumas coisas, mas de outras não.

Portanto, é necessário que nos aprofundemos nesta questão. Este aprofundamento se consiste em compreender que Deus é a Causa Primária de todos os acontecimentos do mundo humano.

Como acontecimento deste mundo, nós consideramos todas as movimentações das coisas que raciocinam ou não. Por isso, ao dizermos que Deus é Causa Primária, abrangeremos o pensamento do ser humano, a visão, a audição, o som, o sabor e o cheiro. Todas estas percepções que o ser humano tem são dadas por Deus. Aliás, toda criação do que é chamada de mente humana e toda ação é dirigida, comandada, começa a partir do faça-se de Deus. O Senhor diz faça-se e as coisas se fazem. Esta é uma coisa que precisamos compreender para poder se entender o universo, o que é fundamental para se aceitar que os seres humanos apenas executam o que Deus gera.

Fica aqui, portanto, de forma clara, a afirmação que os seres humanos são sim marionetes. Só que antes de parar de ouvir o que estou dizendo porque esta afirmação lhe traz uma contrariedade, deixe-me dizer uma coisa. Para poder se julgar se realmente ser marionete é bom ou mal, deixe-me explicar porque ele é marionete, de quem é um fantoche e quem escreve a história que este boneco encena. Tenho certeza que se você souber estas coisas compreenderá a necessidade de Deus ser Causa Primária e do ser humano ser apenas uma marionete.

Por que o ser humano precisa ser uma marionete? É muito simples. O ser humano habita um espaço chamado universo. Ele imagina que habita o planeta terra, mas como este está dentro do universo, ele habita o próprio universo.

O universo, segundo todos os mestres, foi feito por Deus. Segundo ainda todos os mestres, este universo é Deus. Falo isso porque Cristo nos ensinou que Deus é tudo e tudo é Deus.

Ainda observando-se o que se conhece sobre Deus que foi ensinado pelos mestres, nós encontraremos a informação de que Ele é a Perfeição. Deus é Perfeito. Juntando agora as informações que comentamos, (Deus é tudo e por isso o universo é Ele e que o Senhor é Perfeito) chegamos à conclusão que o universo está perfeito, está sempre perfeito.

A perfeição do universo não ocorre por conta de uma ação que gera equilíbrio. Se isso fosse real, o universo deveria em algum momento ter alcançado um desequilíbrio foi reequilibrado por uma ação de Deus. Isto não acontece no universo, porque ele possui um equilíbrio pleno, constante, eterno.

Mas, porque podemos afirmar que o universo está constantemente equilibrado? Porque como ensinou Jesus Cristo, Deus dá a cada um segundo as suas obras. Com esta ação o Senhor mantém o universo perfeitamente equilibrado, pois jamais haverá um desequilíbrio quando cada um recebe apenas aquilo que merece. Portanto, é ação de Deus que mantém o universo plenamente equilibrado.

Agora, imaginemos que o ser humano não fosse marionete, ou seja, agisse voluntariamente, por decisão própria, será que ele conseguiria dar a cada o que realmente é merecido. Acredito que não, pois a motivação do ser humano para agir é sempre individualista, ou seja, é sempre buscando o seu próprio benefício. Mesmo quando ele se dá ao próximo, só faz isso porque quer se dar. Portanto, na verdade ele está buscando a sua própria satisfação exclusivamente.

Se o ser humano dá ao outro de acordo com seus interesses individuais, isso quer dizer que ele não dá o que o outro merece, mas apenas o que é o melhor para si mesmo. Agindo assim, certamente o outro receberia o que não merece e com isso o equilíbrio pleno do universo seria quebrado.

Sendo assim, o ser humano precisa ser um fantoche porque se não fosse, o universo seria um caos. Seria cada um agindo em benefício próprio, agindo pela vontade individual fazendo aquilo que quer e com isso ferindo o direito do outro. Esse seria o caos se o ser humano fosse o comandante de suas ações. Sempre imperaria o individualismo e o universo seria uma guerra individualista e Deus teria que agir posteriormente à injustiça.

Se o ser humano fosse senhor de suas ações haveria sempre uma injustiça que depois seria corrigida por Deus, pois quando ele agisse contra o próximo dando diferente do que merece, estaria criando uma injustiça. E sendo Deus e o universo a Justiça perfeita isso afetaria ao próprio Senhor. É por isso que os ser humano não pode agir livremente...

Só este fato já nos levaria a compreender a necessidade de Deus ser a Causa Primária de tudo que acontece, mas comentamos que existem três coisas que são necessárias que se compreenda para poder aceitar este ensinamento. Vamos à segunda.

De quem o ser humano é um fantoche? De Deus. O ser humano é um fantoche de Deus. Mas quem é o Senhor? É a Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime. Sendo assim, o ser humano é um fantoche, um ser dirigido, mas não dirigido por qualquer um, mas sim por uma Inteligência Suprema.

O que isso deveria levar o homem a perceber? Que ele é dirigido pelo ser que possui a maior capacidade de analisar as intenções com que cada ação é realizada. As intenções com que cada ser vivencia o acontecimento não são dirigidas pelo Pai. Se Deus dá a cada um segundo as suas obras a partir de uma análise perfeita da intenção de cada o que acontece? Tudo que ocorre está sempre perfeito. Ou seja, por causa da direção do Senhor o ser humano torna-se, então, perfeito.

Se começarmos a compreender que o ser humano não pode agir sozinho, mas que não há problema algum nele ser um fantoche, porque é através dessa situação que ele alcança a perfeição, veremos que esta direção é necessária. Quando ele age movido pelo Pai, a sua movimentação não fere jamais o equilíbrio do universo. Isso porque Deus gera a ação antes que a injustiça seja cometida.

 Mas, não podemos nos esquecer que o Senhor não é apenas a Inteligência Suprema, mas também o Amor Sublime. Ele é um pai amoroso, um pai que ama seus filhos. Portanto, quando ele manipula o ser humano, não o faz como punição, não como um juiz que decreta uma penalidade a um infrator da lei, mas por amor. O que Deus causa é, além de uma ação perfeita, uma prova do amor sublime que Ele dedica ao seu filho.

O faça-se de Deus que faz as coisas acontecerem é o ato de um pai que ama o seu filho acima de tudo. É a ação de alguém que está preocupado com a existência eterna do filho. Ele sabe que hoje este filho é como uma criança que só pensa em gozar o momento presente, mas não se preocupa em preparar-se para o futuro. Quando Deus comanda primariamente um acontecimento ele visa preparar o filho para a maturidade espiritual, dando a ele a oportunidade de adquirir responsabilidade espiritual e assim alcançar o progresso no seu próprio mundo.

Isso é a causa primária que movimenta o ser humano. Ela é perfeita porque é ditada pela Inteligência Suprema, é justa porque é oriunda da justiça suprema e por isso dá a cada um segundo as suas obras, mas é amorosa porque é um ato de amor. Por isso, para aquele que se sente amado por Deus a cada momento de sua existência, a questão de ser ou não marionete some.

Apenas aqueles que não mantêm uma relação amorosa com Deus sentem-se mal quando se aprende que Deus é a Causa primária de todas as coisas. Isso porque este está aprisionado à intenção de ganhar sempre neste mundo. Quem ama a Deus e sente-se amado por Ele entrega-se aos braços do Pai e ao sentir este amor não precisa de mais nada.

Já vimos porque o ser humano precisa ser uma marionete e também quem o movimenta. Resta-nos agora saber quem escreve a história vivenciada pelo fantoche, quem escreve o enredo da peça. Quem faz isso são os próprios espíritos que vivem o papel de marionete.

O amor de Deus por seus filhos é tão sublime que deu a cada um o livre arbítrio, o direito de livre optar pelo que viverá durante a encarnação. Mas, dá este direito ao ser não preso ao mundo material, ou seja, sob a égide da razão humana, quando o individualismo do querer para si mesmo e da vontade de ganhar sempre está presente. Ele dá este livre arbítrio ao ser quando ele está fora da carne, quando de posse de toda consciência de ser universal que é. Neste momento, o Pai deixa o espírito escolher o que considera melhor para o seu futuro. Ao fazer esta escolha, o ser cria para is uma espécie de destino e Deus quando comanda os acontecimentos no mundo carnal através do seu faça-se apenas cumpre aquilo que o espírito pediu antes da encarnação.

O que o ser humano precisa compreender é que ele é igual a uma criança do mundo carnal. Os pais humanos deixam as crianças escolherem o que querem fazer? Claro que não, pois sabem que elas pensam apenas em se distrair, se divertir e não em preparar-se para o futuro que chegará. Mesmo na Terra o pai tem que dar o caminho ao filho, dirigir suas ações, para que ele possa chegar à vida madura preparado para alcançar o sucesso.

Só quando o filho chega à maturidade é que o pai o deixa agir livremente. Isso porque é só neste momento que ele tem a compreensão perfeita dos valores que são importantes para a sua existência. Chegando a esta fase da vida, o filho pode fazer suas escolhas individualmente.

Esta é a mesma coisa que acontece entre Deus e seus filhos. Quando crianças, ou seja, quando no início do processo evolucionário, como é o caso daqueles que encarnam na Terra, o Pai precisa orientá-los, guiá-los, para que se preparem corretamente para o futuro que os aguarda. Se Deus se esquivasse de fazer isso, não seria um Pai amoroso.

Portanto, aquele que se choca com o fato de ser marionete neste mundo é quem não entende as coisas do mundo espiritual. É aquele que não compreende que não é carne que veste ou a consciência que o dirige. É aquele que se considera um sábio, mas que não vê que ele não possui a consciência sobre as coisas do universo.

Aquele que se choca com esta informação é quem ainda acredita que foi concebido a partir de uma relação sexual. É aquele que acredita que nasceu de uma mãe humana num determinado dia e em um determinado local terrestre. È aquele que ainda acredita na morte, que acha que a vida vai se extinguir em determinado momento.

Por causa destas crenças, este só pensa no gozo da vida material. Ele não pensa no gozo da elevação espiritual, da felicidade universal. Como a direção que Deus exerce sobre os acontecimentos não possui a finalidade de dar apenas o gozo dos bens humanos a um ser encarnado, este se apavora com a idéia de ter sua existência controlada pelo Senhor.

No entanto, quando se raciocina a partir do espírito, ou seja, a partir da vida real, a espiritual, da real existência do espírito na sua totalidade, incluindo os pedaços na carne, mas não só estes, a lógica só nos pode levar à conclusão de que a melhor coisa que pode acontecer a um ser espiritual é tornar-se um fantoche quando encarnado. Isso porque o fantoche que age consciente da sua situação de teleguiado, não se chateia, não briga com os outros, não expõe opiniões individuais buscando lucro individual, respeita o próximo e o ama, pois não tem desejos que gerem contrariedades. Este ser troca todos os seus desejos, que sabe que só existem para criar uma satisfação material, pelo amor de Deus que recebe diariamente.

O ser que sabe que é universal, vivendo uma vida humana com a consciência de que é um fantoche, penetra no amor de Deus e por isso vive a felicidade eterna.

Com as graças de Deus.