O nobre caminho

Raízes do sofrimento

As raízes do sofrimento consistem em três situações básicas da vida de um ser humanizado onde ele utiliza os Cinco Agregados espelhando o seu individualismo. A ação do ser substanciada por uma dessas raízes provoca sofrimento.

Primeira raiz

A primeira raiz que nutre o ser de infelicidade é a contrariedade. Toda vez que se contraria com algum acontecimento, pessoa ou objeto, ele sofre.

A contrariedade acontece quando os conceitos individualistas do ser não são contemplados pelos outros. O ser que quer que as coisas sejam de uma determinada forma, quando contrariado, sofrerá. Esse ser é aquele que acredita que na vida carnal existe certo ou errado, bom ou mal, bonito ou feio, limpo ou sujo.

O ser possui uma escala de valores próprios que determinam de que lado do binômio o acontecimento, pessoa ou objeto deverá estar. Acontece que esses valores se alteram de pessoa à pessoa, não havendo uma escala universal que possa mensurar corretamente o que está se sucedendo.

Assim, a aplicação desses conceitos baseia-se no individualismo, ou na escala individual que cada ser possui. Essa forma de utilizar os Cinco Agregados reflete uma verdade relativa e é por isso que o ser sofre.

A reforma íntima não pode passar apenas pela não condenação daqueles que possuem escalas diferenciadas, mas tem que ser realizada pela manutenção da felicidade mesmo nesses momentos. Para isso é preciso que o ser ame as condições que encontre nas pessoas, acontecimentos e objetos.

Com essa ação amorosa sobre tudo, dando a cada um a igualdade de ser diferente dele, é que o ser conseguirá eliminar a raiz contrariedade que nutre o sofrimento.

Segunda raiz

A segunda raiz que traz sofrimento para o ser é o sofrimento dos outros. O ser imagina que se solidarizar com outro é passar pelos mesmos sentimentos que ele está passando e, por isso, sofre junto com o amigo. Entretanto, quando age dessa forma dissemina mais sofrimento pelo planeta.

Imaginemos que uma pessoa não goste de jiló. Mesmo não gostando, essa pessoa está comendo. Por não gostar desse legume essa pessoa está sofrendo, pois está sendo contrariada. Cada garfada que ela dá mais esvazia o prato e mais esperança de chegar ao fim do sofrimento ela nutre. No entanto, em determinado momento chega você e coloca mais jiló no prato da pessoa.

É isso que faz o ser que sofre ao lado de quem já está sofrendo. Compartilhar a dor do outro ser não leva à felicidade, mas prende o outro ser ainda mais na infelicidade.

O sofrimento é um estado de espírito formado por sentimentos negativados. Quando um ser sofre sua matéria está encharcada desse sentimento que realça o seu individualismo. Cada vez que o ser sofredor utiliza um raciocínio gasta esses sentimentos e, lentamente, vai se positivando. Por isso se afirma que não há sofrimento que nunca acabe.

Quando o amigo chega ao lado dele e utiliza um sentimento negativado para raciocinar, repõe a carga sentimental do outro ser com sentimentos dessa polaridade. É o exemplo do jiló que falamos anteriormente.

Frente a um ser em sofrimento o ser humano deve lançar amor, felicidade. Esses sentimentos universais ajudarão o ser a eliminar os seus individualistas, acabando mais rapidamente com o sofrimento do outro. Ao invés de utilizar os Cinco Agregados para gerarem conceitos como coitadinho, que pena, o ser deve procurar universalizar o seu amigo.

Ao invés do sofrimento, mostre como pode existir felicidade, mesmo quando os seus conceitos são feridos. Demonstre toda a sua felicidade de estar dentro do mundo do Deus e faça o seu amigo compreender que o quer que tenha acontecido foi fonte de uma Justiça Suprema e de um Amor Sublime. Assim, nem você nem ele sofrerão mais.

Terceira raiz

A terceira raiz do sofrimento é o medo. Essa raiz é a mais ativa, a que mais provoca sofrimentos ao ser. No entanto, para aqueles que afirmam que possuem a fé, ela jamais deveria agir.

O medo é oriundo de uma desconfiança sobre o resultado da ação do ser. O ser humano não tem medo de avião, mas medo de sua ação: cair. Não tem medo de outro ser ou de qualquer situação, mas tem medo da ação que essas coisas possam provocar contra ele.

Fé é confiança e entrega absoluta a Deus, isso pregaram todos os enviados de Deus. Todos os mestres afirmaram que para alcançar a felicidade absoluta o ser precisa confiar e entregar sua vida na mão de Deus. Dessa forma, o medo de qualquer resultado de ação é uma prova de falta de fé.

Mesmo os seres que estão em busca da sua reforma íntima sentem medo. Isso porque eles não extinguiram dentro de si as verdades relativas para que a verdade absoluta regida pelas Qualidades da Vida Espiritual possa guiar a sua fé. Ainda acreditam que o avião pode cair por falha humana ou técnica, que o próximo pode feri-lo quanto desejar e que os objetos poderão agir independente de uma ação da Inteligência Suprema.

O medo é um sofrimento porque ele se baseia essencialmente nas verdades individuais do ser.

Elevar-se espiritualmente é alcançar a felicidade incondicional. Como nos ensinou Cristo, só chegará ao reino do céu aquele que conseguir as bem-aventuranças, ou seja, a felicidade que os santos sentem. Sem extirpar as raízes do sofrimento (contrariedade, sofrimento dos outros e medos) o ser jamais conseguirá sua elevação espiritual.

Verifique a vida dos santos, daqueles que viveram a bem-aventurança. Após a sua iluminação todos eles deixaram de se contrariar com o mundo, mantendo sempre a sua felicidade. Pararam de apenas sofrer com o sofrimento dos outros e passaram a agir com felicidade, não deixando de ampará-los. Não mais tiveram medo, pois compreenderam que sua vida era guiada por Deus.

Para acabar com as raízes do sofrimento o ser precisa deixar de se apegar aos Cinco Agregados e para isso terá que mudar a sua visão individualista das pessoas, dos acontecimentos e dos objetos, atingindo a verdade absoluta do universo que é representada pelas Qualidades da Vida Espiritual. Todos os ensinamentos são interdependentes e só o conjunto deles pode causar a impermanência do ser levando-o a compor um novo “eu” formado por elementos universais.

Essa é a real reforma íntima, aquela que traz o renascimento durante a própria existência, que faz surgir o homem novo do velho. Ela termina quando a felicidade incondicional é alcançada pelo ser.