O nobre caminho

Quatro âncoras

Podemos dizer que a elevação espiritual é uma viagem que o ser faz do porto da ignorância com destino ao da sabedoria. Para lá chegar o ser humanizado singra pelo mar do conhecimento levado pelo barco do ensinamento. No entanto, quando chegar ao porto da sabedoria o ser terá que deixar o barco e passar a viver nessa nova terra para poder aprender como se portam aqueles que lá vivem.

Para que isso aconteça, o ensinamento não deve ser adorado. Ou seja, chegará um determinado momento em que o ser humanizado terá que abandonar a cultura (acúmulo de ensinamentos) e passar a vivenciar os ensinamentos com simplicidade para poder se tornar um verdadeiro sábio.

Os seres humanos consideram sábios aqueles que possuem grande cultura, ou seja, muito conhecimento. Isso não é verdade. Esse ser vive singrando o mar do conhecimento dentro do barco do ensinamento, mas não desce em nenhum porto. Este ser humanizado não pertence mais ao povo da ignorância, mas ainda não vive no da sabedoria. A esses Cristo chamou de professores da lei.

Professores da lei são todos aqueles que querem ensinar os ensinamentos, mas não vivem a sua prática. Na verdade estes seres são movidos pela soberba, pois querem sempre aprender mais para serem louvados e não para promover a sua própria reforma íntima.

Não estamos falando apenas de seres a serviço de religiões (padres, pastores, bispos, médiuns mestres), mas de todos aqueles que em qualquer campo possuem conhecimento e além de não os colocarem em prática, utilizam sua cultura para se sobrepor aos outros.

 Cristo falou por diversas vezes sobre os professores da lei. Alertou-os sobre sobrecarregar os seus dependentes com fardos pesados, ou seja, de os tornarem culpado de atitudes. Pediu que não se copiasse a postura desses professores que buscam sempre a posição mais elevada do que a dos seus dependentes. O Mestre chegou a compará-los a tumbas: caiadas por fora, mas podres por dentro.

Quando se procura a elevação espiritual, ter a postura de professor da lei torna-se mais uma prova que Deus dá a este ser. Ele será alvo da atenção de diversos outros seres e deverá manter a prática de sua vida dentro dos ensinamentos para que Deus lhe dê mais compreensão que o levará a uma elevação ainda maior.

Para que os seres que estão na prova professores da lei consigam vencer mais essa etapa de sua evolução espiritual é preciso que se libertem das Quatro Âncoras que os aprisiona a figura de ser humano, levando-o a utilizar verdades individuais como absolutas. Vivenciar a vida apegado a estas âncoras representa o oposto daquele que quer se elevar.

A primeira âncora é à vontade de ganhar e o medo de perder.

O ser humano que age buscando ganhar sempre não conseguirá jamais viver no porto da sabedoria, pois os sábios sabem que já tem tudo o que precisam. Essa âncora é movida pelo desejo individual de possuir e não deixará jamais o professor da lei colocar em prática a felicidade que é alcançada com a evolução espiritual.

A segunda âncora é o desejo de alcançar o prazer e o medo do desprazer.

Esse tema já foi sobejamente debatido, mas sempre estará presente em nossas conversas, pois é a diferença entre o ser humanizado e o ser universal, aquele que vivencia os acontecimentos da vida com a consciência crística.

O prazer é a satisfação pessoal. O sábio jamais procura se satisfazer, nem tem medo da insatisfação. Para ele tudo é felicidade, pois vive em harmonia com o Universo.

A terceira âncora é à busca do elogio e o medo da crítica.

Aquele que ainda possui a raiz do sofrimento contrariedade está sempre procurando se satisfazer. Esse prazer ele alcança quando é elogiado, enquanto que a crítica serve como uma reprovação que lhe fere a soberba. Os professores da lei se preocupam com o elogio e temem a crítica, pois essa retiraria dele a posição de sábio.

O verdadeiro vivente no mundo da sabedoria, apesar de universalizado, é individualista. Afirmo isso porque ele vive independente dos outros seres do Universo, pois se preocupa apenas com sua própria elevação. O que os demais pensam sobre ele não lhe afeta, pois vive em contato constante com a fonte universal da aprovação: Deus. Os verdadeiros sábios vivem para Deus enquanto que os professores da lei vivem si, se satisfazer.

A quarta âncora é a busca da fama e o medo da infâmia.

O verdadeiro sábio não vive para si, mas dedica cada segundo de sua existência para servir a Deus. Os professores da lei são aqueles que buscam reconhecimento para os seus atos e exigem o reconhecimento do crédito da ação para si mesmo. Já os habitantes do porto da sabedoria creditam todo mérito a Deus.

O medo dos professores da lei é que eles sejam combatidos por suas posições, o que representaria uma infâmia para eles. Seus conhecimentos são verdades absolutas que não podem aceitar contradições. Quando isso acontece, os professores da lei impõem-se pela força, desacreditando quem o difamou.

O verdadeiro sábio não se impressiona com conhecimentos opostos ao que já possui. Ele não busca combater as novas informações, mas sim cada vez mais se aproximar de Deus. Ele sabe que novos ensinamentos sempre serão novas verdades relativas que Deus acrescentará as que possui para aproximá-lo da Verdade Absoluta do Universo: só Deus sabe...

O professor da lei luta contra novas verdades relativas sem sequer analisá-las. Na verdade não faz isso para defender suas idéias, mas a si mesmo. Faz isso porque sabe que se não se mantiver como o culto, perderá a fama, acabarão os elogios, deixará de ganhar e não mais terá prazer em ser superior aos outros.

Já o sábio sabe que não tem nada a perder, pois tudo lhe foi emprestado por Deus. Jamais alcança o desprazer, pois vive na felicidade universal (bem-aventurança) que só é alcançada pelos puros de coração. Não aceita as críticas que lhe são feitas, pois reconhece que suas verdades são relativas e que apenas Deus possui a Verdade Absoluta das coisas. Não tem medo da infâmia, pois sabe que para Deus ele é um famoso instrumento da obra do Senhor.