O poder da felicidade

Porque você sofre

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Porque você sofre

10. O sofrimento

Da última vez que falamos dentro deste estudo que estamos fazendo sobre o poder da felicidade, dissemos que a felicidade é algo íntimo do ser e que ninguém pode dá-la a ele. Dissemos, também, que se ninguém pode dá-la, ninguém pode tirá-la. Se analisarmos estas três premissas, ou seja, se levarmos em consideração que o estado de espírito de felicidade é algo que está dentro do ser, que nada nem ninguém pode dá-lo e que nada nem ninguém pode tirá-lo, vamos imaginar que seria muito fácil para os seres humanos serem felizes.

Sim, seria muito fácil. Bastaria o ser usar este seu atributo e vivera em paz e harmonia com o mundo. No entanto, não é isso que acontece, não é mesmo? Vocês vivem constantemente, diariamente, em sofrimento.

Antes de continuar, quero lembrar que sofrimento não é apenas a dor da perda de um parente, não é a dor de perder seus bens. Sofrimento é tudo aquilo que não é felicidade. Se felicidade é estar em paz e harmonia, a cada momento que você não tem paz, ou seja, a cada momento que tem argumentos contra o mundo ou a cada vez que não está harmonizado com o que está acontecendo, você está sofrendo.

Portanto, mesmo a mais pequena contrariedade é um sofrimento. O simples fato de tomar um café e esquecer de colocar o açúcar antes é um sofrimento. Para vocês pode não parecer que seja algo importante, pois basta apenas levantar e colocar o açúcar e beber, mas é. Isso porque cada vez que você sofre fica uma marca no seu coração. Esses sofrimentos ou contrariedades vão acumulando e lhe leva a um sofrimento mais forte, mais profundo e mais duradouro. Por isso, mesmo a menor contrariedade pode ser encarada como um sofrimento.

Então, hoje que vamos falar sobre usar realmente o poder da felicidade, vamos conversar não só a respeito de coisas profundas que lhe incomoda, mas vamos estar falando em todo e qualquer incômodo, desde o menor até o maior. Vamos estar falando em toda e qualquer dor moral, desde simplesmente alguém falar que você não entendeu o que ela disse, até ao fato de você ser humilhado, ser desmoralizado.

11. Você não é quem pensa que é

Voltando à questão de usar o poder da felicidade, pergunto: se é tão fácil, tão simples ser feliz, porque vocês não são? Porque não conseguem se libertar das contrariedades? Porque não conseguem se libertar dos pequenos ou grandes incômodos? Muito simples: porque vivem o que a mente cria.

Esse é um detalhe que precisa ser entendido. Vocês se consideram uma personalidade, uma persona, mas a personalidade que você realmente é não é esta que conhece. A sua verdadeira personalidade tem muito pouco a ver com a personalidade que hoje, durante a vida humana, acredita ser.

Alguns chamam a sua verdadeira personalidade de eu superior, de espírito ou alma. Não importa o nome. O importante é saber que há uma personalidade que não é aquela que você acha que é. Aquele que acha que é, que conhece e reconhece como você, é um elemento produzido pela sua mente. Vou falar rapidamente sobre esta questão.

Vamos dizer que você se considera uma personalidade que possui o nome de José. Acredita ser uma pessoa que possui determinado padrão emocional e determinado padrão mental que vivencia uma determinada história.

Isso não é real, isso não verdadeiro, esse não é você. Tudo isso é uma criação da sua mente. Aquele padrão emocional, mental e aquelas histórias não é sua, não foram criadas e nem vividas por você. Quem criou e vive tudo isso é a sua mente.

Porque digo isso? Vamos tentar entender?

Ao longo dos últimos quinze anos só falamos de mente. Portanto, existe muito material à disposição de vocês. Por este motivo não vou falar profundamente sobre determinados assuntos relativos à mente. Se quiserem, este material está disponível. De qualquer maneira, algumas noções sobre ela temos que citar neste trabalho.

O que é uma mente? Já fizemos esta definição: a mente é um geradora de consciências. Mente é um elemento que tem a capacidade de gerar consciências.

O que é uma consciência? Tudo que você sabe, que vê, que sente, que percebe. Tudo aquilo que você vive como sendo um eu ou como ser, estar ou fazer alguma coisa, não é vivido por você, mas trata-se de uma consciência gerada por uma mente.

Por exemplo. Aqui neste momento existem dois seres humanos. Eles acham que estão aqui, mas isso é irreal. Eles não estão aqui. Eles estão recebendo através da mente a consciência de estar. A ideia de estar. Esse conhecimento é fundamental para aquele que quer usar o poder da felicidade.

Como disse, o poder de ser feliz é íntimo do ser. O poder de gerar felicidade, paz e harmonia para si mesmo, é íntimo do ser. Portanto, não pode estar na mente. Se mente é um gerador de consciências e se ela não tem a paz e harmonia em si, as consciências que gera não possuem paz e harmonia.

Esse é o primeiro detalhe que aqueles que pretendem gerar felicidade para si precisam entender. Tudo que é gerado pela mente não possui a felicidade. Porque? Porque a mente não é um ser. Ela é um elemento e não um ser e por isso não possui felicidade para viver.

Eis aí o primeiro motivo pelo qual vocês não conseguem viver a felicidade, gerar felicidade para si mesmo: porque se confundem com a mente. Porque acreditam que são o que a mente diz que são. Acreditam que estão vivendo aquilo que a mente diz que estão vivendo. Acompanham as consciências geradas pela mente. Por estes motivos não conseguem colocar paz e harmonia na vida de vocês.

Esse é o primeiro elemento que temos que ter em consciência. Se seguimos a mente, nunca encontraremos a paz, a harmonia e a felicidade. Para realmente poder viver feliz, é necessário que você compreenda que todas as consciências com as quais convive não são você nem a sua vida, mas apenas uma criação mental, uma posição do mundo mental.

12. A vida de cada um

Vamos só falar mais um pouco sobre a mente e depois entramos no assunto de hoje.

Como a mente cria a vida do José, do João, da Maria, da Fátima? Como ela faz para estas personalidades e suas consciências?

Para gerar consciências, a mente trabalha com uma coisa chamada conceito. O que são conceitos? São verdades.

Quando falo em verdades, não estou falando só de palavras, de conhecimentos, de saber coisas. Toda situação que a mente cria é formada a partir de um conjunto conhecido que ela afirma ser verdadeiro. Portanto, cada consciência é formada por coisa conceituais, sejam elas palavras ou ideias.

Você dizem que cada ser humano é um diferente do outro. Que todos os seres humanos são diferentes entre si. Sim, isso é verdade: cada ser humano é uma personalidade diferente de qualquer outra que exista.

Porque isso acontece? Cada um é um porque cada mente, aquela que gera a consciência de ser, possui um conjunto de conceitos diferentes. Se são os conceitos que servem como base para gerar as consciências de ser, estar e fazer e se cada mente possui um conjunto de conceitos diferentes em gênero, número ou grau, isso quer dizer que cada ser humano é uma personalidade diferente do outro.

É por causa desta diferença no conjunto dos conceitos que três, quatro, cinco, mil pessoas veem o mesmo acontecimento e possuem consciências diferentes para o que é percebido.

Aquilo que é visto nada mais é do que um processo mental que determina o valor que está acontecendo, que determina uma consciência sobre a percepção. Como para determinar o valor do que está acontecendo ou seja, gerar consciências, cada mente se baseia no seu conjunto de conceitos, a realidade que é criada não pode ser a mesma para todos os seres. Ou seja, externamente acontece uma determinada movimentação e cada mente gera uma interpretação, ou seja, uma consciência individual, para aquilo que está sendo percebido.

É assim que vocês vivem. A mente de vocês vai trabalhando o tempo inteiro gerando consciências a partir de conceitos individuais e você acredita que está vivendo aquilo, acredita que aquilo é o que está vivendo. Isso porque não consegue se separar da mente.

13. O fundamento das consciências

Cada um vive uma consciência individual, uma realidade individual gerada pela sua mente à partir do conjunto de verdades dela. Esse é o primeiro grande detalhe que pode lhe ajudar a se afastar das criações mentais e conseguir usar o poder da felicidade que tem. Mas, há outros...

Quando a mente gera alguma consciência, ela não se preocupa se ela contém uma verdade verdadeira ou mostra uma realidade real. Deixe-me explicar isso.

A mente quando cria uma consciência o faz fundamentado no egoísmo. Já falamos muito sobre isso, por esse motivo, vou passar rapidamente no assunto.

O que é criar consciências de uma forma egoísta? É criar consciências a partir de um eu e objetivando que esse eu ganhe, tenha o prazer, alcance a fama e receba elogios.

A mente quando vai gerar uma consciência não se preocupa com o certo, com o justo, nem se preocupa em ser fiel ao que ela mesmo acredita. Ela pode gerar realidades que sejam contrárias às coisas que ela mesmo diz que quer, no que ela acredita que seja justo ou certo. A única coisa que ela se preocupa é em ganhar, ter o prazer, alcançar o reconhecimento e receber elogios.

Ela age dessa forma porque o seu objetivo não é apresentar a verdade, apresentar a realidade ao ser, mas estabelecer uma consciência onde ela tire alguma vantagem, ganhe alguma coisa. Essa é a preocupação da mente quando cria uma consciência.

Vou dar um exemplo do que estou falando para entenderem melhor. Quando sua mente cria a consciência de que o outro está falando errado ou que está fazendo algo errado ou que lhe ofendeu, magoou, desmoralizou, ela não está preocupada em saber se o que está criando é verdadeiro ou não. O que ela se preocupa é que essa consciência de alguma forma traga algum ganho para ela mesma. É assim que a mente vive, que cria as consciências que lhes são apresentas.

Se a sua mente está vivendo a consciência de ter sido magoada por alguém, na verdade não foi. Até porque, para saber que foi magoada, ela teria que saber que a outra mente queria lhe magoar. Acho que até hoje não existe uma mente que saiba ler o que outra está pensando. Se isso é verdade, como uma mente pode saber a intencionalidade da outra?

Ninguém consegue saber a intenção do outro ao fazer alguma coisa. Isso a sua mente sabe, mas não leva em consideração ao gerar uma consciência que lhe diga que o outro agiu por esta ou aquela motivação. Ou seja, ela não está preocupada com a realidade, com a verdade, mas sim em gerar uma consciência onde seja afirmado que o outro lhe magoou, que tinha a intenção de lhe magoar.

Para que faz isso? Para justificar a próxima consciência que ela vai lhe dar: reagir àquele momento de tal forma que ganhe do outro. Se a mente não criar neste momento uma justificativa para uma reação no futuro, como ela vai poder obter a sensação da vitória, de ter derrotado o outro? Essa consciência que afirma que o outro lhe atacou, apesar de não conter verdade ou realidade, serve, então, de instrumento para que você viva como real o atacar o outro. Com isso, deixa de usar a paz e a harmonia que possuem dentro de si mesmo.

Essa é a vida de vocês. Essas são as consciências que as suas mentes criam a cada segundo e que vocês chamam de ‘minha vida’.

14. A vida gerada pela mente é uma eterna batalha

A cada momento, a mente, que não é você, vai lhe propor guerrear com os outros para que vitórias sejam alcançadas. Ela vai sucessivamente lhe propondo consciências que possam leva-la a gerar novas consciências que a leve a ganhar de outra mente.

Para isso, ela não se preocupa com verdadeiro, com verdade, com real, com realidade: gera sempre o que for necessário para que uma vitória seja obtida. Por isso num dos estudos dissemos: a mente é hipócrita. Sim, cria consciências hipócritas exatamente para que ela possa ganhar alguma coisa.

Só tem um detalhe: essa não é a característica exclusiva da sua mente. Todas as demais mentes que compõem os seres humanos são egoístas por natureza e por isso buscam a vitória para si. Todas as mentes que existem dentro de um corpo humano possuem as mesmas características, ou seja, geram consciências objetivando ganhar, ter prazer, a fama e receber elogios.

Só que tem um detalhe importante. Por viverem com estes objetivos, as consciências geradas pelas mentes humanas possuem mais características. Todas elas têm embutidas em si o medo de perder, o medo do desprazer, de não ser reconhecido, de ser criticado.

Agora, imagine duas mentes gerando consciências, ou seja, relacionando-se, sendo que cada uma quer ganhar naquele momento e possuem a decisão de não perder. O que você acha que vai acontecer? Você acha que pode haver paz e harmonia entre elas? Claro que não.

Não ter argumentos para guerrear, ou seja, ter paz, é doar a razão ao outro e a sua mente interpreta o doar a razão ao outro como perda. Por isso não aceitará que isso ocorra placidamente. Gerará novas consciências até que você viva o que ela diz e aí perdeu a paz.

Como duas mentes que querem ganhar podem se harmonizar? Par uma ganhar o outro tem que perder. Isso é verdade absoluta. Ninguém consegue ter a mesma coisa. Duas pessoas diferentes não podem conquistar a mesma coisa.

É por isso que as criações mentais jamais lhe levarão à viver a felicidade. É como diz o ditado popular: cada um puxa a sardinha para a sua brasa. Se um puxa a sua sardinha para a brasa, a do outro não cozinhará. Mas, o outro está com fome e quer cozinhar a dele na frente. Por isso, os dois vivem brigando incessantemente.

Essa é a ideia que aquele que realmente quer exercer o seu poder para ser feliz precisa ter: a ideia de que a mente, o processo mental, as consciências geradas por ela, não podem jamais lhe levar à felicidade. É a partir desta consciência que você pode começar a trabalhar para impor à felicidade na sua existência. Só a tendo é capaz de fazer a felicidade se sobrepujar à intencionalidade da mente.

Se você não trabalhar neste sentido, no sentido de não viver o que a consciência diz como verdade, como realidade, jamais encontrará a paz. Isso porque, como acabamos de provar, a mente nunca vai criar a paz e a harmonia por si só. Mas, aí é que surge o grande problema.

15. A força de maya

Se pensarmos humanamente, dizer o que já dissemos até aqui já traria todos os elementos para você trabalhar por sua paz, mas isso não é verdade. Tudo o que falamos até agora não é novidade para os que já me ouviram bastante vezes. Vocês sabem que falo isso há quinze anos e, mesmo assim, continuam a não ser felizes. Continuam deixando-se levar pelas consciências geradas pela mente, imaginando que estão sendo felizes, quando não estão.

Tendo esta consciência, vocês me diriam: ‘então, o que preciso saber mais para poder colocar a felicidade na prática’? Já falei muito sobre isso, já usei muitos argumentos para que isso acontecesse e, como disse antes, está tudo disponível. Se forem lá consultar encontrarão uma série de fatores que precisam se atentar para poder viver em felicidade.

Como estes argumentos já foram transmitidos, não vou repeti-los. No entanto, hoje quero, neste estudo, abordar dois temas à respeito da felicidade que anteriormente passamos por alto, que nós falamos muito. É sobre esses aspectos que vamos conversar agora.

O primeiro elemento que precisamos conversar hoje vem de um ensinamento de Krishna e Buda. Eles dizem: tudo é maya, tudo é ilusão.

Maya é uma palavra hindu que significa ilusão. Ela é usada por estes dois mestres orientais para falar da vida humana, das realidades vivenciadas pelos seres humanizados.

Sim, tudo, toda consciência criada pela mente humana é uma ilusão. Tudo o que é vivido como real, como realidade é apenas uma ilusão...

‘Só saber disso, Joaquim, já basta para me fazer feliz’, vocês diriam. Não, só saber não basta.

 Aqueles que ainda acreditam no poder do saber imaginaram que quando me ouviram falar dessa força eram capazes de se libertarem de tudo, mas não conseguiram. Porque? Porque maya é muito mais do a simples ilusão. Maya é uma força que vem junto com os processos mentais ou pensamentos que confere ao que é pensado, ao que é conscientizado, o poder de realidade.

Você dificilmente escapa de viver como real aquilo que sua mente cria porque junto com a criação mental existe o poder de maya, o poder que confere ao que você está vivendo a força de real, de realidade. Essa é a realidade.

Lembro que quando falei isso uma vez, uma pessoa me disse assim: ‘se eu colocar a mão na vela, vai queimar e essa queimadura não será ilusória’. É sim: trata-se de uma ilusão criada pela mente. A queimadura é uma ilusão.

Aí vocês em diriam: ‘mas, dói’. Não, a dor é uma ilusão criada pela mente.

Sim, toda dor é uma ilusão criada pela mente. É como no caso da pessoa que sente coceira na perna amputada. Se a perna não está mais lá, como ela pode coçar?

Mas, vocês não conseguem entender isso, não conseguem imaginar que a dor é uma ilusão. Porque? Porque a dor que a mente cria tem o poder de ser real, de ser realidade. Por isso vocês, como estão apegados à mente achando que é você que está sentindo-a, vai vive-la.

Essa é a força de maya. Ela confere realidade às coisas. Ela tem o poder de conferir a ideia de ser real. Justamente por causa dessa força, por causa dessa característica é que vocês, quando a mente cria a consciência de ter sido magoado, por exemplo, não se libertam da emoção da mágoa.

Ora, se você tem sente frio, sente calor, queimar e dor físicas, que são criações mentais, obviamente a ideia de ter sio magoado também será tratada como real. Por isso digo que a força de maya é o grande entrave para a sua felicidade.

Apesar de saber que a felicidade está em você, que ninguém pode dá-la e que ninguém pode toma-la, não consegue viver com ela, pois ela não está presente nas criações da mente. Como só o que a mente afirma existir existe para você, não consegue viver feliz.

Não existe uma criação de maya no sentido de dar realidade à vivência da felicidade. Como para a mente só é real o que ela cria, pois a força de maya lhe dá esta ideia, a felicidade, para você, não existe.

Essa questão da força de maya fica muito bem clara quando vemos uma história de Krishna. Nela, o Sublime Senhor está andando no deserto com um discípulo quando diz que está com sede. O discípulo afasta-se, então, para pegar um copo de água no rio.

Chegando à beira do rio, vê uma tribo do outro lado. Vê, também, uma mulher muito bonita. Ele atravessa o rio e vive na tribo. Pede a mão da mulher muito bonita. Casa com ela e tem dois filhos – no período normal de gestações, nove meses cada.

Participa de muitas plantações e colheitas, ou seja, vive diversos anos junto com a tribo, até que um dia chove muito e o rio transborda. Com o alagamento do rio a sua mulher e os seus filhos morrem.

O discípulo, então, entra em estado de depressão por ter perdido sua mulher e seus filhos. Neste momento ouve Krishna dizendo: continuo com sede. Ou seja nada do que viveu foi real, mas para ele era.

Foi a força de maya que deu a entender que tudo aquilo era real. Foi a força de maya que deu a entender que se passou todo aquele tempo. No entanto, ele viveu apenas alguns momentos onde estava enchendo o copo de água no rio.

É isso que acontece com vocês. Vocês vivem as ilusões de consciências que a mente cria como se fossem real, como se fossem realidade. No entanto, estão apenas parados por um instante num só lugar, sem viver nada do que está acontecendo.

É essa consciência que pode lhe ajudar a realmente usar o seu poder de felicidade: negar o valor de real ou de realidade à consciência que a mente cria. Não adianta e nem resolve querer mudar a mente, ou seja, querer que ela crie situações com paz e harmonia. Mesmo que ela crie, mesmo que saiba que tem que criar, fará essa busca presa ao egoísmo, ao ter que ganhar, preso a ter o prazer, a conseguir a fama e o reconhecimento.

Isso fica muito claro, muito bem provado, quando muitas pessoas me dizem o seguinte: ‘Joaquim eu coloco em prática o que você fala. Tento ajudar os outros, tento me melhorar, mas minha vida não mudou em nada. Não melhorou em nada’. Este é aquele que diz que quer ser feliz, mas, ainda preso a mente, necessita de coisas, posses, para ser feliz.

Esse é o aspecto principal pelo qual não conseguem ser felizes: aquele que consegue ser feliz, consegue viver em felicidade, não muda a sua vida. A mente do ser feliz continuará criando realidade explorando o egoísmo e vai gerar a ideia de que ele não está ganhando, está tendo o desprazer, não está sendo reconhecido pelo que faz e nem elogiado. Ela nunca elogia o ser que usa o seu poder de ser feliz por ter feito alguma coisa pelos outros.

Portanto, aquele que quer usa o poder de ser feliz, não se preocupa em ensinar à mente, não se preocupa em gerar situações. Ele se ocupa o tempo inteiro em retirar o valor de real das consciências geradas por ela. Só isso.

Exercer o poder de ser feliz é agir junto a mente humana libertando-se da força de maya, libertando-se da sensação de realidade daquilo que está acontecendo, daquilo que a mente está dizendo que está acontecendo.

16. Conhecer a força de maya

Antes de acabar o assunto maya, só um lembrete. Krishna chama a força de maya de inescrutável, não investigável, afirma que ela não pode ser compreendida. Portanto, antes que vocês, levados por suas mentes, comecem a me perguntar o que é a força de maya, lhes digo que não há como compreenderem.

O que podem saber é que ela é um poder que confere à consciência a característica de real. Mais do que isso, não há capacidade de compreensão por parte de vocês.

Participante: algum mestre conseguiu dominar esta força?

Todos os mestres e alguns enviados.

Mestres são os cinco que já falamos. Eles e alguns enviados já conseguiram dominar esta força.

Fizeram isso o tempo inteiro? Não.

Transpareceram que conseguiram dominá-la? Não, pois este domínio é processo interno, mundo interno.

Tanto a felicidade quanto a ilusão de viver uma realidade que não é real faz parte do mundo interno. É entre você e sua mente e por isso não há como expressá-las externamente. Qualquer expressão será gerada pela mente e não por você. Por isso, não há como se observar uma expressão externa de que eles tenham conseguido.

Então, lhe respondendo, digo muitos conseguiram sim. Todo tempo? Não. Algumas vezes eles deixaram se levar pela força de maya.

Agora, eu diria que se hoje você consegue colocar em prática um minuto por dia, muitos já colocaram em prática o ensinamento por cinco ou seis horas.

Participante: é possível que nós que temos os ensinamentos possamos aumentar nosso tempo de um minuto para meia hora de libertação?

Sim, podem, mas com a certeza que não vai conseguir o tempo inteiro.

Vem, ainda, se lembrar que na hora que as coisas estão acontecendo, no momento do acontecimento, você não conseguirá. Neste momento é apenas mente falando. O trabalho tem que ser realizado posteriormente. Ele precisa ser realizado na hora que você medita, na hora que está pensando sobre o que foi pensado.

Qual o resultado disso? Uma vida em paz e harmonia, mesmo que os acontecimentos não estejam em paz e harmonia.

Participante: existem acontecimentos em paz e harmonia?

Sim, existem. Existem acontecimentos onde a mente ganha e diz que houve paz e harmonia.

Um exemplo disso é quando a criação mental faz o outro lhe dizer que você está certo. Neste momento, ela não lhe dá armas para guerrear com o outro e o harmoniza com ele. Só que na verdade ela não está usando paz e harmonia, mas sim a vitória. Ela trabalha, mesmo que inconscientemente, com a ideia de que venceu o debate e vai lhe fazer viver essa ideia de superioridade.

Na verdade, não houve felicidade, mas sim a satisfação de ter sido considerado certo. Ela interpreta essa postura como paz e harmonia, mas não é.

17. Conhecer a lógica da vida

Destas últimas duas coisas que falamos, a força de maya ser inescrutável e não conseguir fazer com que a mente compreenda a necessidade da paz e da harmonia, vem o segundo assunto que quero conversar hoje. Sobre ele já falamos antes, mas com outro nome. Apesar de já termos abordado este tema, ele é algo que vocês não se tocam e que causa muito sofrimento. Ou seja, o que vamos falar agora causa você não usar o seu poder de ser feliz e por isso viver o que a mente cria, a consciência que a mente cria. Estou falando do entendimento da lógica da vida.

A mente, para lhe manter preso à realidade que ela cria, forma ideias que compõem uma lógica para os acontecimentos. Vou dar um exemplo para que vocês entendam o que estou falando.

Você passa na rua e encontra uma pessoa conhecida. Esse amigo, por acaso, passa por você sem cumprimenta-lo. A mente, a partir daí, diz: ‘ora, se aquela pessoa me conhece, se somos amigos e ela passa por mim pela rua e não me cumprimenta, isso quer dizer que está brigada comigo’. Ou seja, a mente explica a vida, dá motivações e realidades ao que está acontecendo. Você, como preso à mente, como achando que é ela, acredita que pensou aquilo.

Que maravilha, a sua mente vai se divertir. Ela vai explorar esta consciência em novas realidades e formações mentais para lhe tirar a paz e harmonia. Ela criará motivos pelos quais aquela pessoa pode estar mal com você. Para isso, vai trabalhar com pesos de certo e errado, bonito e feio, limpo e sujo, arrumado e desarrumado, justo e injusto, obrigatório, não obrigatório, necessário e não necessário, etc. Ela usará todo esse arsenal de armas que extinguem com a sua paz que tem para poder lhe manter afastado da felicidade. Como todas estas declarações, como todas estas consciências que a mente cria veem embutidas com a força de maya, você acredita que elas são reais.

Quantas vezes ao longo deste trabalho uma pessoa me disse que determinado fato está ocorrendo por determinado motivo. Eu sempre respondi que aquela ideia não era real, mas a pessoa insistia: ‘está sim, eu tenho certeza disso’.

Esse é aquele que não usa o poder da felicidade, que se deixa ser levado pelas consciências que a mente cria. Levado por esta consciência, não encontra sua felicidade.

A vida humana não tem lógica, ou pelo menos não tem a lógica que a mente cria para ela. Isso é outra coisa que precisa ficar bem claro. Não há como se saber o porquê das coisas. Não há como se saber o como das coisas, o onde, o ‘o que’?

Aquele que realmente busca a felicidade, que coloca a felicidade na sua vida, não se interroga sobre o porquê das criações mentais. Ele apenas sabe que toda consciência é uma criação mental que não é real, mas que soa como tal por causa da força de maya.

18. Lógica

Vocês sabem o que é lógica? Vou tentar explicar rapidamente.

Toda lógica se forma com uma série de razões que levam à uma conclusão. No exemplo que demos, passar por uma pessoa na rua que não lhe cumprimenta, temos a seguinte formação lógica:

Passei por uma pessoa na rua;

Esta pessoa é minha amiga;

Ela não me cumprimentou;

Logo, ela está com raiva de mim.

Essa é uma formação lógica. Ela contém afirmações que levam a um conclusão que atenda a tudo que é declarado. Por isso ela é considerada uma conclusão lógica.

Só que quando se estuda a lógica é dito o seguinte: se uma das informações não for verídica, a conclusão não é perfeita. Ou seja, se há um razão que não é real, a lógica obtida com a análise não é uma lógica perfeita. Como todas as informações que a mente usa para formar uma lógica não estão presas a uma realidade real, mas a uma realidade que possa levar a ganhar, a ter o prazer, a ser reconhecido e receber elogios, posso dizer que toda conclusão que ela chega é falsa.

Isso é fundamental para aquele que querem exercer o seu poder de ser feliz. Porque? Porque a sua mente cria ideias de que se você entender porque está sofrendo, será capaz de ser feliz. Se alguém já conseguiu isso, me desculpe, mas acho impossível que isso ocorra. O máximo que essa pessoa pode ter alcançado é ao prazer, ao prazer de ter entendido. Só que neste caso, quem teve o prazer foi a mente e não esta pessoa.

19. Liberte-se do saber para ser feliz

É preciso se libertar da busca de compreender, de entender, de querer saber.

Comentei a pouco que já tínhamos abordado este segundo tema de hoje anteriormente, o saber, mas quando o fizemos tocamos em outros saberes. Já falamos do saber como um dos assassinos do ser, ou seja, um daqueles que lhe tira a felicidade. Falamos do saber de normas e regras societárias, jurídico, científico, cultural, etc., mas sobre o saber que estamos abordando agora, não falamos naquela hora.

É por isso que ninguém compreendeu que a busca de saber o porquê as cosias acontecem é um suicídio para aquele que quer ser feliz. Saber o que está acontecendo, saber o que está se passando, ter certeza de que as consciências formadas pela mente é composta de algo real, de algo verdadeiro: isso mata o ser. Quem vivencia essas coisas, quem aceita a característica que a força de maya dá aos discursos mentais, jamais exercerá o seu poder de ser feliz.

Como ensinou Krishna, aquele que consegue viver com a felicidade, transita entre as coisas do mundo com cara de bobo: não sabe de nada, não compreende nada, tudo pode ser ou não ser. Esse transita livre, leve e solto pelas coisas do mundo porque não está preso às conclusões que a mente tira.

Só um detalhe. Como acabei de responder, isso é algo interno, é algo entre o ser e a mente, não se espelha nas ações ou nas palavras que são faladas. Por isso, ninguém consegue ver quem vive assim. Não consegue perceber quem vive assim. Esse, por dentro, é livre, leve e solto para suar o seu poder de ser feliz a hora que conseguir se libertar.

20. Arrancar o carnegão

Eis aí, então, dois elementos que, como disse na conversa anterior, precisava abordar antes de responder qualquer questão levantada por vocês.

Eu não podia, por exemplo, responder a uma pessoa que me diz que sofre neste mundo porque não consegue arrumar emprego, sem antes mostrar a ela que esse entendimento é a mente que está causando para que ela ganhe algo. Não posso, também, responder a uma pessoa sobre este mesmo assunto mostrando os motivos pelos quais ela está sem emprego. Sei que anteriormente já falei de muitos motivos pelos quais as coisas acontecem (carma, prova, encarnação, Deus Causa Primária), mas não adianta usá-los aqui, porque mesmo estes motivos, que são reais, a mente não conseguirá trabalhar dentro de uma profundidade que ajude o ser a alcançar a felicidade.

Se digo para uma pessoa que não tem emprego que aquilo é o seu carma, ou seja, que aquela é a prova que ele pediu porque em outras vidas precisou de alguma coisa e não fez, ela vai querer saber o que deixou de fazer antes para poder agora ter este carma. Ou seja, será sempre a mente investigando, mas ela nunca usará esses elementos para que haja felicidade, mas sim para criar mais dúvidas. Criando estes estados duvidosos, a mente não deixa você viver feliz.

Por isso, nesta hora que vamos conversar sobre o poder da felicidade, vamos agir da seguinte forma. Vocês vão me colocar seus problemas. Diante da narrativa de vocês, que na verdade é sua mente que fará, vou lhes mostrar o que está sendo criado como real, mas que não é, e mostrar o quanto estão apegados à ideia de realidade daquela consciência, para que possam se libertar desta ideia.

Para isso, vou falar e usar argumentos. Só que os argumentos que usarei não vão explicar porque você vive aquilo. Eles devem servir apenas como espada para você ferir a força de maya que está conferindo realidade àquilo.

Agora, quando fizer isso, podem ter certeza de uma coisa. Falarei coisas que a sua mente ao ler lhe dirá que não é verdade.

Ela não aceitará placidamente os meus argumentos. Ela usará argumentos para lhe dizer que você não está preocupado com determinados aspectos que vou dizer que está, que você não pensa da forma que vou falar. Para que fará isso? Para que você caia, para que se deixe levar pela realidade ela cria.

Não estou com isso dizer que sou o certo. Estou querendo apenas mostrar que vou olhar de um lado não hipócrita, ou seja, sem passar a mão na cabeça de ninguém.

Eu já disse por diversas vezes que não passo remédio na ferida de ninguém. Eu enfio o dedo e arranco o carnegão, se isso for permitido. Faço isso não para machucar, para acusar ou atacar, mas para lhe chocar. Só quando você se chocar com a hipocrisia e egoísmo que está na sua mente é que se libertará dela.

21. O bezerro de ouro

Estou falando isso porque tem um último detalhe que precisamos falar e que vocês ainda não se deram conta, apesar de já ter abordado esta questão algumas vezes.

Na última conversa que gravamos, depois que desligamos a gravação, continuamos por aqui falando sobre Deus. Neste momento me foi dito o seguinte: ‘Joaquim você quer que lutemos contra Deus?’. Eu respondi que sim, que meu trabalho é direcionado para que você lute contra Deus.

Sabe porque isso? Porque o seu deus é a sua mente. A sua mente é aquilo que você ama acima de todas as coisas. É aquilo ao qual você dá a causa primária de tudo que vive.

Muitos dizem que querem se aproximar de Deus, mas não entenderam que a sua mente criou um deus, que é ela, e por isso vivem grudados nela, grudados neste deus. São como os judeus que Moisés encontrou adorando o bezerro de ouro quando desceu do monte onde recebeu as tábuas da lei.

As respostas que darei irão ferir o seu deus, Mostrarão que o seu deu não é deus, não é o senhor do universo.

Como é dito na pergunta nove de O Livro dos Espíritos, por mais que uma inteligência seja capaz de fazer alguma coisa, acima dela há sempre uma Inteligência Maior. Essa inteligência maior é a Causa Primária de todas as coisas. Essa Inteligência Maior é aquilo que vocês chamam de Deus. Não é a inteligência menor, ou seja, não é a sua mente que é deus.

Por isso, quem se aproxima de Deus tem que abandonar o bezerro de ouro, aquilo que vocês idolatram que dizem que é o gerador de verdades, aquilo que lhe faz pensar que é autônomo no universo.

Se alguém depois de tudo o que falamos ainda tiver coragem de apresentar as situações onde vocês não conseguem usar o poder de serem felizes, fiquem à vontade. A partir de agora vamos responder tudo o que colocarem, mas usando os critérios que falamos tanto da vez anterior como desta.